E encontrou no templo os que vendiam bois, ovelhas e pombas, e
também os cambistas assentados: tendo feito um azorrague de cordas, expulsou a
todos do templo, bem como as ovelhas e os bois, derramou pelo chão o dinheiro
dos cambistas, virou as mesas e disse aos que vendiam as pombas: Tirai daqui
estas coisas; não façais da casa de meu Pai casa de negócio. João
2:14-16.
Jesus bateu de frente contra o comércio da religião. Ele foi duro com os mascates que traficavam como picaretas no altar. Profissionais do mercado infiltraram-se no templo e converteram o culto judaico num empreendimento lucrativo. Muitos adoradores viajavam de localidades distantes, ficando impossibilitados de trazer animais para o ritual do sacrifício e que acabavam caindo nas mãos dos exploradores do comércio da religião, que aproveitavam a situação de carência para levar vantagens na operação comercial e assim ganhar a vida. Era um negócio interessante que ocupava vendedores e banqueiros, mas que transformava a casa de Deus num empório, por isso Jesus repudiou este estabelecimento onde o comércio extorque o adorador e reduz o culto a uma feira de conveniências.
A religião sempre usou de expedientes proveitosos e atraentes com o objetivo
de usurpar algum benefício. Muitos espertalhões fomentam um jogo de mérito
tentando desenvolver a permuta das mercadorias e deste modo criar um vínculo de
dependência entre o crente e sua crença. A religião freqüentemente acaba
seduzindo as pessoas e tornando-as viciadas em tradições broncas ou absurdas.
Não foi sem razão que Karl Marx disse que a religião é o ópio do povo. Muita
gente fica entorpecida com a droga aliciante da religião mercantilista, perdendo
por completo a capacidade de análise e julgamento.
O evangelho de Jesus Cristo não é religião. O Deus
do evangelho não negocia com o homem nem faz da fé cristã uma quitanda de mercantilagem barata ou mera negociata de interesses. Jesus não veio vender salvação, tampouco agenciar traficantes de fé. A graça de Deus é gratuita. Não há pedágio na estrada celestial, nem imposto no reino de Deus. A contribuição no âmbito do evangelho tem obrigatoriamente a expressão de voluntariedade. Porque eles, testemunho eu, na medida de suas posses e mesmo acima delas, se mostraram voluntários, pedindo com muitos rogos, a graça de participarem da assistência aos santos. 2Coríntios 8:3-4. Deus nunca coage os seus filhos, mas os desperta pela sua graça a serem espontâneos no ministério da contribuição, pois toda obrigação bagunça o significado da vida espiritual autêntica.
Deus não precisa de dinheiro. Os dízimos e as ofertas apresentados na Bíblia
não são tributos exigidos para Deus. Ele se basta a si mesmo e não tem
necessidade de coisa alguma. O Senhor do universo não pede esmolas nem recebe
gorjetas. Antes de qualquer coisa esta contribuição é um tratamento de Deus para
conosco, a fim de nos libertar do poder do dinheiro e nos desenvolver no
território largo de sua dependência. Ninguém pode confiar em Deus segurando a
carteira, pois nenhum avarento conseguiu até hoje andar com Deus e ser feliz.
Porém, é bom salientar que Deus não é também um trombadinha batendo carteira de
sovinas.
Todos aqueles que foram alcançados pelo evangelho da graça são gentilmente
movidos pela soberana graça a participarem com liberdade da liberalidade no
ofertório cristão. Ninguém, neste mister, deve se sentir forçado a colaborar. O
constrangimento não faz parte de uma oferta generosa, pois a atitude desprendida
também revela a qualidade da doação. Não é saudável um donativo impelido por
interesses lucrativos ou uma oferenda constrangida pelo dever. A enerosidade
envolve tanto a quantidade da oferta como a qualidade emocional do contribuinte.
A contribuição dos cristãos legítimos sempre será: voluntária, liberal,
generosa, cheia de alegria, proporcional a renda, sem ostentação e regular. Tudo
o que foge a este padrão não corresponde ao programa de Deus com o trato da vida
financeira. Se não estamos contribuindo deste modo, não estamos contribuindo nos
moldes da graça de Deus. Ele não negocia bênçãos por dinheiro. Na verdade, ele
não negocia nada com o homem. Toda a obra de Deus em favor da humanidade é
absolutamente grátis. Deus nunca permuta os seus dons pela obediência
humana.
Sou daqueles que crêem que a obediência é um dom da graça. Todos os que
obedecem são apossados voluntariamente pela graça de Deus, a fim de procederem
desse modo. Não há obediência compelida ou obrigada, pois a violência não produz
obediência, mas coerção. Vassalagem é muito diferente de submissão voluntária,
uma vez que esta vem pela permissão da vontade, e aquela, pela coação do querer.
Jesus foi categórico com este enfoque: De graça recebeste, de graça daí. Mateus
10:8b. A operação da graça em nossos corações nos torna graciosos com nossas
contribuições.
Toda participação no ofertório da igreja de Cristo tem que ser uma expressão
voluntária de obediência desinteressada. O verdadeiro ofertante não deve
contribuir compelido pelo dever nem movido pelos interesses proveitosos. Temos
visto muitos fomentadores de coleta usando um expediente baixo para despertar o
interesse no colaborador. Sabemos que há uma lei natural na semeadura que se
multiplica na ceifa, mas nunca devemos usá-la como incentivo para promover a
contribuição. Não são os resultados vantajosos ou lucrativos que devem provocar
a participação do crente na contribuição da igreja, mas a submissão livre de um
coração que obedece pelo amor. Todos os vossos atos sejam feitos com amor.
1Coríntios 16:14.
É verdade que há uma recompensa magnífica na agricultura e que esta mesma lei
é acionada para o terreno bíblico da contribuição. A norma da seara nos mostra
que é natural se colher mais do que se planta. Um grão pode se multiplicar em
espigas com muitos grãos e assim o resultado da colheita é sempre compensador. A
Bíblia mostra que aquele que semeia pouco, pouco também ceifará e o que semeia
com fartura, com abundancia também ceifará. Cada um contribua segundo tiver
proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade, porque Deus ama a quem
dá com alegria. Deus pode fazer abundar em toda graça, a fim de que tendo
sempre, em tudo, ampla suficiência, superabundeis em toda boa obra. 2Coríntios
9:6-8. Contudo, mesmo sabendo que este é o saldo de uma boa messe, nunca devemos
contribuir olhando o lucro ou a recompensa desta atitude.
Todo cristão verdadeiro é um contribuinte sincero e comprometido com a missão
da igreja de Jesus Cristo, mas nenhum deles é traficante de vantagens ou
interesses pessoais. Não há militante no reino de Deus que não seja participante
voluntário e liberal do ofertório cristão. Ninguém precisa coagir uma mangueira
normal a dar frutos, pois sua natureza sempre vai culminar na produção de
mangas. Se formos filhos de Deus, iremos com alegria satisfazer aquilo que ele
decide para fazermos, pois a inclinação correspondente dos seus filhos sempre
será obedecer espontaneamente as suas determinações.
Jesus virou as mesas e expulsou os negociantes e cambistas da casa de seu Pai
porque haviam transformado o templo de Deus num negócio lucrativo traficando com
a crença das pessoas. Lutero virou a mesa na igreja católica do século XVI,
porque a venda das indulgências refletia o mesmo esquema dos comerciantes
inescrupulosos e gananciosos do tempo de Jesus. É preciso adotar o mesmo estilo
nos dias atuais, combatendo todos os exploradores da fé cristã que se aproveitam
de suas regalias de liderança para extorquir os crentes com seus apelos
enganadores e suas promessas infundadas.
Com isto não estamos dando corda aos mesquinhos e avarentos que gostam deste
tipo de argumentação para tirar o corpo fora de sua contribuição na igreja. Há
muitos unhas-de-fome que apreciam esta forma de abordagem, a fim de se eximir de
sua participação como ofertante regular no programa bíblico de colaboração. Mas
este tratamento não exclui os genuínos membros do corpo de tomar parte efetiva
como contribuinte natural e normal nos projetos da igreja de Cristo neste
mundo.
É possível alguém não ser um cristão verdadeiro e ainda assim ser um bom
contribuinte na obra de Cristo, mas é impossível ser cristão autêntico, trazendo
as marcas da cruz e a expressão da vida ressurrecta de Cristo em seu modo de
viver, e não ser contribuinte regular. Por isso mesmo, ninguém precisa traficar
bênçãos e privilégios especiais com os membros do corpo de Cristo para que sejam
ofertantes normais, já que isto faz parte do seu estilo obediente de vida
cristã. Se você é uma nova criatura em Cristo Jesus não encontrará brecha para
se escusar deste modelo bíblico de conduta cristã.
Solo Deo Glória
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O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
terça-feira, 1 de maio de 2012
TRAFICANTES DE FÉ
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PARABÉNS, meu querido amigo...! Suas reflexões são extremamente pertinentes para nossos dias, onde costumamos correr atras do ter e esquecemos de sermos mais humanos e solidários...
ResponderExcluirUsarei muitos desses textos para trabalhar em sala de aula, pois percebo nos jovens, essa carência de valores morais e religiosos...
DEUS continue a te iluminar para que nos privilegie com essas criações maravilhosas!
TE AMO, querido!