terça-feira, 1 de maio de 2012

A FÔRMA DA REFORMA


Quem diz o povo ser o Filho do homem? ...Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Então, Jesus lhe afirmou: ...Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Mateus 16:13b, 16 e 18.
Alexander MacLaren
sustentava que uma igreja morna gera a incredulidade, tão certamente quanto um carvalho em decomposição gera cogumelos. E São Crisóstomo disse que nada obterá mais sucesso em dividir a igreja do que o amor ao poder. Este era o contorno que emoldurava a igreja no século XVI. D’Aubigné pontuava: A mercantilização das indulgências fizera do homem o seu próprio deus na esfera religiosa. Lutero gritava: Não tenho outro argumento mais vigoroso contra o governo do Papa do que o fato de ele reinar sem a cruz. A igreja havia perdido sua identidade. Negociantes habilidosos vendiam a consciência para comprar a coroa do poder papal. Janus mostrou que naqueles dias tristes, a Igreja de Roma descera ao último grau de abjeção. Rezavam as lendas populares que cada Papa não obtinha o trono senão vendendo a alma ao demônio, em troca da tiara. A tesouraria do mérito negociava o perdão dos pecados com um pedaço de pano. As indulgências se tornaram fonte de lucro para as construções do Vaticano. A igreja de Cristo havia se tornado uma máquina opressora de fazer hipócritas. Cristo pôs a igreja no mundo, mas Satanás não tem feito outra coisa senão esforçar-se para colocar o mundo na igreja. A igreja, que deveria ser edificada por Cristo, acabou virando um sistema de extorquir as pessoas crédulas.
Martinho Lutero, monge agostiniano, quando esteve em Roma, em 1510, ficou chocado com o mundanismo dos clérigos e desiludido com a indiferença religiosa deles. A falta de compromisso com a verdade, ou distanciamento da Palavra de Deus, levou a igreja longe demais no caminho da indecência moral e espiritual. Uma igreja sem a verdade não é uma igreja verdadeira, e uma igreja sem o Espírito não é uma verdadeira igreja. Foi neste contexto lamentável que, no dia 31 de outubro de 1517, o som de um martelo, em Wittenberg, foi o sinal para o começo de uma reforma que muitos já estavam esperando. A Reforma não se voltava contra a autoridade, mas contra a usurpação do poder. Lutero não investiu contra a igreja, mas contra a anarquia do seu conceito. O sistema religioso era político demais para ser santo e seus interesses egoístas demais para serem justos.
A Reforma foi um brado da graça na edificação da igreja de Cristo. Se Cristo é o construtor da igreja, nunca os homens, por mais astutos que sejam, conseguirão pervertê-la totalmente. Os dedos sujos dos religiosos não poderão toldar a santidade da igreja. Jesus sempre realizará alguma reforma na sua igreja, ao ponto de mantê-la o mais possível fiel aos seus princípios. A igreja é dele, e só Ele é competente para torná-la íntegra. Com grande certeza podemos depender de Cristo quanto à edificação de sua igreja. Aquele que morreu por ela, vive para a apresentar a si mesmo Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito. Efésios 5:27. Assim, como Cristo é a raiz pela qual o santo cresce, Ele é a regra pela qual o santo anda. O fato de haver muitas igrejas que negam o que Cristo fez não invalida o senhorio de Cristo sobre a sua igreja. A verdadeira igreja de Cristo é aquela que se submete totalmente ao governo soberano do seu único Senhor e está disposta a obedecer voluntariamente a sua vontade. Um Cristo suplementado é um Cristo suplantado, mas o senhorio de Cristo é soberano em sua igreja. Por isso, a igreja de Jesus Cristo, que está sempre crescendo, tem como axioma: Ecclesia reformata sed semper reformanda, isto é, uma igreja reformada, mas sempre aberta a mais reformas.
A igreja de Jesus Cristo é um corpo vivo, dinâmico e evolutivo. A igreja é uma comunidade cristocêntrica: as suas atividades devem ser inspiradas e dirigidas por Cristo. O motivo é Cristo. O modelo é Cristo. A meta é Cristo. Sendo assim, a igreja está sempre evoluindo nas dimensões da grandeza de Cristo. Mas a igreja que evolui é aquela que foi assinalada com as marcas da cruz. Não a cruz teológica de uma doutrina, ou um emblema decorativo. As marcas da cruz são aquelas que estão cravadas no caráter. Usar uma cruz não substitui o ato de fé de ser crucificado na cruz com Cristo. A fôrma da Reforma é a cruz. Cristão sem os efeitos da cruz no seu interior é falsificação da realidade. A cruz é a única escada suficientemente alta para alcançar a soleira dos céus. Só os crucificados pertencem à igreja de Cristo. A verdadeira igreja é aquela que brota da sepultura e que traz as evidências da vida ressurreta, que pode ser definida com as mesmas palavras que traçaram os fundamentos da Reforma do século XVI.
Soli Deo Gloria.
A glória pertence somente a Deus. Toda a glória do cristão autêntico é glorificar o Deus de toda a glória. Nenhuma faísca do brilho divino pode ser reivindicado por qualquer dos mortais. Fomos regenerados para glorificar unicamente ao Senhor da glória. Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus. 1 Coríntios 10:31. A vida marcada pela cruz é aquela que reconhece a trindade Divina como a única detentora de toda a glória.
Soli Gratia.
A salvação do ser humano é totalmente pela graça. No caminho para o Reino de Deus não tem pedágio. Deus não requer recompensas. Ele não faz permuta nem aceita gorjeta. Ninguém pode conquistar o céu, pois ele é uma dádiva da graça. Charles Hodge disse: Nada que não seja gratuito é seguro para os pecadores... A não ser que sejamos salvos pela graça, não podemos absolutamente ser salvos. Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Efésios 2:8-9. Se não fosse completamente pela graça, haveria o risco de suborno. Por esta razão, somente a graça pode nos fazer crer que a salvação é somente pela graça.
Sola Scriptura.
A Escritura Sagrada, a Bíblia, é a única fonte da revelação cristã. A única autoridade capaz de apontar os pensamentos fundamentais de Deus para o homem. A Bíblia é a bússola que aponta o rumo, e o mapa que orienta a viagem do cristão. É o roteiro que avalia suas experiências e a balança que pesa sua conduta. A não ser que a Palavra de Deus ilumine o caminho, toda a vida dos homens estará envolta em trevas e nevoeiro, de forma que eles inevitavelmente irão se perder. Somente as Escrituras podem dar certeza ao coração do homem. Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra. 2 Timóteo 3:16-17. A única reforma verdadeira é a que emana da Palavra de Deus. A Reforma ainda preconizava o sacerdócio de todos os crentes, a santidade de todos os regenerados e a igreja como povo de Deus, sem hierarquias ou castas especiais. Estas marcas da Reforma Protestante precisam ser atualizadas na Reforma atual. A igreja do nosso tempo passa pelas mesmas crises de poder e de manipulação que acometia a igreja de Roma, nos tempos de Lutero. Somos, pois, convocados a assumir a mesma postura do reformador, tomando a mesma fôrma da Reforma. A cruz de Cristo é a coisa mais revolucionária que já apareceu entre os homens. Sem cruz não se segue a Cristo. A reforma só será realidade para as pessoas que já foram crucificadas com Cristo e que, por isso, não têm mais nada a perder. Um reformador bradava: Deus cria a partir do nada. Portanto, enquanto o homem não for reduzido a nada, por meio da cruz de Cristo, Deus não poderá fazer nada com ele.

Solo Deo Glória

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