Então ela falou aos serventes: Fazei tudo o que ele vos mandar.
João 2:5.
Muita gente, na igreja, que ouve falar da graça plena supõe que
essa vida graciosa é uma existência de profunda inércia. Muitos acreditam que a
obra da graça remove qualquer esforço do homem, e sustentam uma indolência
paralisante para garantir a autenticidade
da operação divina. Para essa gente, viver pela graça significa viver sem qualquer realização por parte do próprio homem. Alguém que queria se esquivar de sua responsabilidade pessoal, bradou certa vez: "Estou vivendo pela graça e não devo fazer nada".
Parece que há um equívoco aqui. Sabemos que a religião é uma
estrutura humana de muitas atividades, mantendo sempre as pessoas ocupadas com
excesso de ativismo para demonstrar o seu papel diante da divindade, e por isso,
muitos pensam que é preciso fugir completamente de qualquer tipo de diligência
que possa caracterizar esforço humano. Se religião é tudo aquilo que o homem faz
para tentar alcançar a Deus com os seus méritos, logo, o evangelho não comporta
qualquer atuação humana que corresponda algum valor pessoal para a aceitação do
pecador diante de Deus.
É verdade que toda ação humana para conquistar o favor de Deus
é um oficio religioso desnecessário, mas isso não significa que a vida cristã
seja uma inação permanente. Fomos salvos pela graça, mas não somos salvos para a
estagnação. No reino de Deus não há pensionistas, aposentados ou inativos.
Ninguém foi salvo pelas suas obras, contudo, ninguém que é salvo vive sem
manifestar as boas obras que caracterizam essa vida da salvação. Porque pela
graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não vem
das obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em
Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que
andássemos nelas. Efésios 2:8-10.
Por meio das Escrituras fica claro que a salvação é uma obra
unilateral da graça de Deus em favor do pecador, porém o viver cristão é uma
operação graciosa bilateral que implica na atividade humana em obediência
voluntária ao Senhor Jesus Cristo. Maria diz aos serventes: Fazei tudo o que
ele vos disser. Aqui está a base da presteza evangélica e o fundamento de
qualquer atividade no reino de Deus. O cristão não é um empresário autônomo que
patrocina o seu empreendimento por conta própria, mas é um operário padrão que
executa voluntariamente com alegria aquilo que lhe foi determinado pelo seu
Senhor.
Os servos obedientes de Jesus Cristo não são escravos obrigados
a um trabalho forçado, nem empregados suarentos dependentes de salário, que
executam suas tarefas por interesses econômicos ou movidos pelas ambições do
poder. No reino de Deus não há lugar para desempregados, contudo não há
trabalhador constrangido pelas imposições do dever, nem pela pressão do medo ou
pelos interesses injustificáveis do egoísmo humano. Todos os servos de Cristo
exercem seus serviços com liberdade e nobreza, pois a motivação de qualquer
atividade é a gratidão de um coração plenamente aceito pela graça de Deus.
O serviço cristão autêntico visa sobretudo a glória de Deus e
não o sucesso dos homens ou o progresso das estruturas. Há uma grande confusão
quando não discernimos a pessoa de Deus da obra de Deus. Muitas vezes investimos
nossos talentos na construção dos sistemas que representam a obra de Deus, sem
perceber que deixamos o próprio Deus de lado. O nosso serviço como filhos de
Deus não pode ficar desligado da pessoa sublime de Deus. Portanto, quer
comais, quer bebais, ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de
Deus. 1Coríntios 10:31.
O que está em jogo na tarefa cristã não é o êxito maravilhoso
da obra divina, mas a glória dedicada ao próprio Deus. Se a glória não pertence
somente a Deus, então estamos envolvidos num seqüestro grave e de proporções
eternas.
O cristão verdadeiro é um trabalhador gracioso que executa sua
missão com um espírito prazenteiro. Trabalho obrigado é uma tortura
insuportável. Qualquer pessoa que cumpre uma tarefa sob o comando do mero dever,
sob o domínio do medo ou sob os impulsos dos interesses, acaba realizando um
trabalho descontente e cheio de reclamações. Há muita gente reivindicando
atenção especial ou reclamando direitos, como expressão do seu desgosto pessoal.
A censura e o queixume sempre refletem o azedume da alma contrariada. Por isso a
Bíblia diz: Fazei tudo sem murmuração nem contenda, para que vos torneis
irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração
pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo. Filipenses
2:14-15.
No centro desse labor gracioso do evangelho está o amor como a
mola mestra que impulsiona todo o projeto criativo da vida cristã. A menos que o
amor seja o motivo da causa evangélica, todo esforço não passa de um artifício
mecânico destituído de significado eterno. Sabemos que as vigas estruturais da
sustentação espiritual se apóiam nos três pilares básicos da experiência cristã:
fé, esperança e amor, mas só o amor é eterno. Faltando o amor na labuta, o
processo vira rotina, a ação converte-se em fadiga e o ideal transforma-se em
lamúrias. O que de fato enobrece a tarefa é o amor que está intercalado em cada
momento da ação. Todos os vossos atos sejam feitos com amor. 1Coríntios
16:14.
O cristão legítimo é aquele que faz tudo o que o Senhor lhe
ordena. É aquele que faz tudo para a glória de Deus, sem lamentação nem
conflito, acionado pelo amor. O mundo mede a grandeza de um homem pela
quantidade de pessoas que o servem, enquanto no evangelho a nobreza de um servo
é medida pela maneira agradável como ele serve a muitos. Se não há satisfação no
serviço, não há significado na missão. Uma das maiores alegrias que o servo de
Cristo pode ter aqui na terra é ter a consciência de que tudo o que ele faz é
para a glória de Deus, e que por isso, nada pode roubar o seu momento de
adoração.
O serviço cristão está sempre vinculado com a pessoa do Senhor.
A prática do evangelho fica determinada pela relação pessoal que o servo tem com
o seu Senhor, uma vez que o alvo do serviço cristão é o próprio Senhor Jesus
Cristo. Nenhum cristão genuíno se preocupa em servir aos homens. Na verdade, o
serviço do cristão que está voltado para o mundo é um serviço do cristão
dirigido a Cristo. Quando um servo de Cristo está realizando uma missão em favor
dos homens, os seus olhos estão voltados para a pessoa de Cristo. Tudo o que
fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor, e não para os homens,
cientes que recebereis do Senhor a recompensa da herança. A Cristo, o Senhor, é
que estais servindo. Colossenses 3:23-24.
Muita gente se sente ofendida por causa da indiferença dos
outros e por causa dos maus tratos que recebem quando estão de bom grado
servindo aquelas pessoas. Nós freqüentemente ficamos melindrados com a falta de
atenção, com as críticas e tantos outros expedientes descaridosos, porque
focalizamos as pessoas erradas. Precisamos olhar para a pessoa certa uma vez que
o nosso serviço está relacionado fundamentalmente com o Senhor Jesus Cristo. Se
for Jesus que estamos servindo, ninguém pode nos aborrecer quando nos trata com
indiferença.
Finalmente, todo o nosso serviço tem uma rubrica universal. O
serviço de um cristão é o serviço de Cristo. Não estamos servindo em nosso nome,
pois tudo o que fazemos tem a marca de Cristo. E tudo o que fizerdes, seja em
palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus Cristo, dando por ele
graças a Deus Pai. Colossenses 3:17. Aqui está uma das revelações mais
impressionantes da Bíblia: a identificação de Cristo com o pecador e a
identificação do salvo com Cristo.
Quando Cristo morreu na cruz em nosso favor, ele nos levou a
morrer juntamente com ele, para nos fazer participantes da sua morte. Quando
Cristo ressuscitou dos mortos, ele nos ressuscitou juntamente com ele, para que
nós fôssemos testemunhas de sua vida. Logo, tudo o que fazemos como cristãos no
mundo, fazemos em nome de Jesus Cristo, pois a sua vida em nós abona a certeza
de que não vivemos mais para a glória deste mundo, uma vez que ele vive em nós,
para a glória de Deus Pai.
Aqui está a súmula da praxe cristã: Façamos tudo quanto o Senhor nos disser para a glória de Deus, sem reclamações nem disputas, inspirados pelo amor supremo. Façamos tudo, de todo o coração, para o Senhor, e não para os homens. Façamos tudo em nome do Senhor Jesus Cristo, dando glória ao nosso Deus e Pai. Amém.
Solo Deo Glória
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O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
quinta-feira, 10 de maio de 2012
MOVIDOS PELA GRAÇA OPERANTE
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