quinta-feira, 10 de maio de 2012

MOVIDOS PELA GRAÇA OPERANTE

Então ela falou aos serventes: Fazei tudo o que ele vos mandar. João 2:5.
Muita gente, na igreja, que ouve falar da graça plena supõe que essa vida graciosa é uma existência de profunda inércia. Muitos acreditam que a obra da graça remove qualquer esforço do homem, e sustentam uma indolência paralisante para garantir a autenticidade
da operação divina. Para essa gente, viver pela graça significa viver sem qualquer realização por parte do próprio homem. Alguém que queria se esquivar de sua responsabilidade pessoal, bradou certa vez: "Estou vivendo pela graça e não devo fazer nada".
Parece que há um equívoco aqui. Sabemos que a religião é uma estrutura humana de muitas atividades, mantendo sempre as pessoas ocupadas com excesso de ativismo para demonstrar o seu papel diante da divindade, e por isso, muitos pensam que é preciso fugir completamente de qualquer tipo de diligência que possa caracterizar esforço humano. Se religião é tudo aquilo que o homem faz para tentar alcançar a Deus com os seus méritos, logo, o evangelho não comporta qualquer atuação humana que corresponda algum valor pessoal para a aceitação do pecador diante de Deus.
É verdade que toda ação humana para conquistar o favor de Deus é um oficio religioso desnecessário, mas isso não significa que a vida cristã seja uma inação permanente. Fomos salvos pela graça, mas não somos salvos para a estagnação. No reino de Deus não há pensionistas, aposentados ou inativos. Ninguém foi salvo pelas suas obras, contudo, ninguém que é salvo vive sem manifestar as boas obras que caracterizam essa vida da salvação. Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que
andássemos nelas. Efésios 2:8-10
.
Por meio das Escrituras fica claro que a salvação é uma obra unilateral da graça de Deus em favor do pecador, porém o viver cristão é uma operação graciosa bilateral que implica na atividade humana em obediência voluntária ao Senhor Jesus Cristo. Maria diz aos serventes: Fazei tudo o que ele vos disser. Aqui está a base da presteza evangélica e o fundamento de qualquer atividade no reino de Deus. O cristão não é um empresário autônomo que patrocina o seu empreendimento por conta própria, mas é um operário padrão que executa voluntariamente com alegria aquilo que lhe foi determinado pelo seu Senhor.
Os servos obedientes de Jesus Cristo não são escravos obrigados a um trabalho forçado, nem empregados suarentos dependentes de salário, que executam suas tarefas por interesses econômicos ou movidos pelas ambições do poder. No reino de Deus não há lugar para desempregados, contudo não há trabalhador constrangido pelas imposições do dever, nem pela pressão do medo ou pelos interesses injustificáveis do egoísmo humano. Todos os servos de Cristo exercem seus serviços com liberdade e nobreza, pois a motivação de qualquer atividade é a gratidão de um coração plenamente aceito pela graça de Deus.
O serviço cristão autêntico visa sobretudo a glória de Deus e não o sucesso dos homens ou o progresso das estruturas. Há uma grande confusão quando não discernimos a pessoa de Deus da obra de Deus. Muitas vezes investimos nossos talentos na construção dos sistemas que representam a obra de Deus, sem perceber que deixamos o próprio Deus de lado. O nosso serviço como filhos de Deus não pode ficar desligado da pessoa sublime de Deus. Portanto, quer comais, quer bebais, ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus. 1Coríntios 10:31.
O que está em jogo na tarefa cristã não é o êxito maravilhoso da obra divina, mas a glória dedicada ao próprio Deus. Se a glória não pertence somente a Deus, então estamos envolvidos num seqüestro grave e de proporções eternas.
O cristão verdadeiro é um trabalhador gracioso que executa sua missão com um espírito prazenteiro. Trabalho obrigado é uma tortura insuportável. Qualquer pessoa que cumpre uma tarefa sob o comando do mero dever, sob o domínio do medo ou sob os impulsos dos interesses, acaba realizando um trabalho descontente e cheio de reclamações. Há muita gente reivindicando atenção especial ou reclamando direitos, como expressão do seu desgosto pessoal. A censura e o queixume sempre refletem o azedume da alma contrariada. Por isso a Bíblia diz: Fazei tudo sem murmuração nem contenda, para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo. Filipenses 2:14-15.
No centro desse labor gracioso do evangelho está o amor como a mola mestra que impulsiona todo o projeto criativo da vida cristã. A menos que o amor seja o motivo da causa evangélica, todo esforço não passa de um artifício mecânico destituído de significado eterno. Sabemos que as vigas estruturais da sustentação espiritual se apóiam nos três pilares básicos da experiência cristã: fé, esperança e amor, mas só o amor é eterno. Faltando o amor na labuta, o processo vira rotina, a ação converte-se em fadiga e o ideal transforma-se em lamúrias. O que de fato enobrece a tarefa é o amor que está intercalado em cada momento da ação. Todos os vossos atos sejam feitos com amor. 1Coríntios 16:14.
O cristão legítimo é aquele que faz tudo o que o Senhor lhe ordena. É aquele que faz tudo para a glória de Deus, sem lamentação nem conflito, acionado pelo amor. O mundo mede a grandeza de um homem pela quantidade de pessoas que o servem, enquanto no evangelho a nobreza de um servo é medida pela maneira agradável como ele serve a muitos. Se não há satisfação no serviço, não há significado na missão. Uma das maiores alegrias que o servo de Cristo pode ter aqui na terra é ter a consciência de que tudo o que ele faz é para a glória de Deus, e que por isso, nada pode roubar o seu momento de adoração.
O serviço cristão está sempre vinculado com a pessoa do Senhor. A prática do evangelho fica determinada pela relação pessoal que o servo tem com o seu Senhor, uma vez que o alvo do serviço cristão é o próprio Senhor Jesus Cristo. Nenhum cristão genuíno se preocupa em servir aos homens. Na verdade, o serviço do cristão que está voltado para o mundo é um serviço do cristão dirigido a Cristo. Quando um servo de Cristo está realizando uma missão em favor dos homens, os seus olhos estão voltados para a pessoa de Cristo. Tudo o que fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor, e não para os homens, cientes que recebereis do Senhor a recompensa da herança. A Cristo, o Senhor, é que estais servindo. Colossenses 3:23-24.
Muita gente se sente ofendida por causa da indiferença dos outros e por causa dos maus tratos que recebem quando estão de bom grado servindo aquelas pessoas. Nós freqüentemente ficamos melindrados com a falta de atenção, com as críticas e tantos outros expedientes descaridosos, porque focalizamos as pessoas erradas. Precisamos olhar para a pessoa certa uma vez que o nosso serviço está relacionado fundamentalmente com o Senhor Jesus Cristo. Se for Jesus que estamos servindo, ninguém pode nos aborrecer quando nos trata com indiferença.
Finalmente, todo o nosso serviço tem uma rubrica universal. O serviço de um cristão é o serviço de Cristo. Não estamos servindo em nosso nome, pois tudo o que fazemos tem a marca de Cristo. E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus Cristo, dando por ele graças a Deus Pai. Colossenses 3:17. Aqui está uma das revelações mais impressionantes da Bíblia: a identificação de Cristo com o pecador e a identificação do salvo com Cristo.
Quando Cristo morreu na cruz em nosso favor, ele nos levou a morrer juntamente com ele, para nos fazer participantes da sua morte. Quando Cristo ressuscitou dos mortos, ele nos ressuscitou juntamente com ele, para que nós fôssemos testemunhas de sua vida. Logo, tudo o que fazemos como cristãos no mundo, fazemos em nome de Jesus Cristo, pois a sua vida em nós abona a certeza de que não vivemos mais para a glória deste mundo, uma vez que ele vive em nós, para a glória de Deus Pai.

Aqui está a súmula da praxe cristã: Façamos tudo quanto o Senhor nos disser para a glória de Deus, sem reclamações nem disputas, inspirados pelo amor supremo. Façamos tudo, de todo o coração, para o Senhor, e não para os homens. Façamos tudo em nome do Senhor Jesus Cristo, dando glória ao nosso Deus e Pai. Amém.

Solo Deo Glória

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