E havia entre os fariseus um homem, chamado
Nicodemos, príncipe dos judeus. João 3:1
A conversação de Nicodemos com Jesus no capítulo três do
evangelho de João, ocorreu em três movimentos. Nos versículos 2 e 3, nós temos o
primeiro movimento, no qual vemos Nicodemos e Jesus face a face. O
segundo movimento ocorreu entre os versículos 4 e 8, em que vemos Nicodemos e
Jesus mente a mente. E o terceiro movimento está entre os versículos 9 e
21, em que vemos Nicodemos e Jesus numa relação de coração para
coração.
Primeiro movimento: face a face. Nicodemos não se
contentava simplesmente em saber dos muitos testemunhos dos milagres do Senhor.
A sua consciência estava atenta, ele não conhecia nada acerca da Verdade, mas
sabia que ela estava em Jesus – e desejava-a. Todavia, ele tinha,
instintivamente, a consciência de que o mundo se lhe apresentava em oposição – e
veio de noite! Este foi ter de noite com Jesus. A amizade do mundo é
inimizade contra Deus.
No caso de Nicodemos, seu coração foi despertado para procurar
o Senhor Jesus. Ele tinha sido convencido, tal como outros, por isso disse:
Rabi, bem sabemos que és Mestre, vindo de Deus; porque ninguém pode fazer
estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele. Mas o Senhor
interrompeu-o imediatamente, por causa da verdadeira necessidade que se fazia
sentir na alma de Nicodemos. A obra de Deus não consiste em agir ensinando o
velho homem. Esse tem que dar lugar ao novo homem, sem o qual
ninguém verá o reino de Deus.
O que vemos na história deste homem é que ele vai além de todo
o pensamento humano, de toda teologia e de toda a sua religião para descobrir a
Verdade. Por isso, Jesus disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele
que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Não se pode ver o
reino de Deus sem a nova vida, a vida que vem do alto. Para Nicodemos, esta foi
uma resposta estranha.
Mas, eles são vistos face a face, Nicodemos permaneceu na
presença do Mestre, aguardando o ensinamento final e oficial, e o Mestre disse
que o que ele necessitava não era de graduação. Nenhum conhecimento produz
regeneração, exceto aquele que vem do alto. Para fazer parte ou entrar no reino
de Deus, então, é necessário nascer de novo. Mas Nicodemos nada mais viu além da
carne. Na realidade, o homem precisa nascer de novo para poder discernir o que
vem de Deus. Apesar de não ter compreendido, creu que havia no Senhor algo de
que estava necessitando. Por isso, não desistiu de continuar questionando o
Senhor.
Agora temos o segundo movimento: mente a mente.
Nicodemos pergunta: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura,
tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer? Ele não estava contradizendo
o Senhor. Nicodemos tentou entender esse novo nascimento no campo da mente,
visto que ele recorreu a uma ilustração no campo natural. Então, Jesus se voltou
para ele e disse: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da
água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.
O Senhor, de maneira maravilhosa, ilustrou o novo
nascimento falando que era preciso duas coisas: ser nascido da água e ser
nascido do Espírito. É provável que o Senhor estivesse se referindo à
passagem de Ezequiel, tão familiar a Nicodemos, para despertar a sua
consciência. Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de
todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei. Ezequiel
36:25.
A água lava e purifica o homem. Aplicando-a no sentido
espiritual, essa purificação tem lugar nos seus afetos, no seu coração, na sua
consciência, nos seus pensamentos e nos seus atos. A verdadeira água que
purifica o homem é a que saiu do lado de Cristo. Um soldado abriu o lado de
Jesus com a sua lança. Um dos soldados lhe furou o lado com uma lança, e logo
saiu sangue e água. João 19:34. Sangue e água saíram do
Salvador morto.
Pelo derramamento do sangue de Cristo, temos a redenção e
remissão dos pecados. Todos os que são sensíveis à vergonha e à hediondez do
pecado sentem-se agradecidos. Quão gratos somos a Deus porque o sangue do Senhor
Jesus nos purificou dos pecados e na Sua morte, nós libertou do poder da morte.
E ainda nos acrescentou o que nunca tivemos antes: A Sua presença em nossos
corações!
O terceiro movimento: de coração para coração. Este
movimento nos fala do relacionamento vivo com o Salvador. Aquilo que recebemos
na mente deve descer ao coração. O conhecimento que estaciona na mente e não
desce para o coração produz soberba. O salmista expressou assim o seu desejo por
Deus: ASSIM como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a
minha alma por ti, ó Deus! A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando
entrarei e me apresentarei ante a face de Deus? Salmo 42:1-2.
Esta alma não estava pensando ou especulando acerca de
Deus, mas no "Deus vivo", no Deus pessoal. Sua alma tinha sede do Deus vivo,
suspirava por esse conhecimento, um conhecimento vivo e direto de Deus, não um
conhecimento acerca de e sim um conhecimento pessoal. É necessário um
conhecimento vivo que resulte em verdadeiros adoradores, um conhecimento
semelhante ao do profeta Isaías: No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi
também ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e o seu séquito enchia
o templo. Isaías 6:1. Esse é o conhecimento que Deus quer nos dar de Si
mesmo: um conhecimento que produz vida.
Então, Nicodemos veio com a última pergunta: Como pode ser
isto? Ou qual é método ou o processo? Então, com ternura, Jesus disse:Tu
és mestre de Israel, e não sabes isto? A resposta de Jesus para o último
"como" de Nicodemos foi respondida em três momentos. O primeiro momento ou o
processo da resposta de Jesus a Nicodemos foi: E, como Moisés levantou a
serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado. Era
preciso que o Filho do homem fosse levantado como a serpente o tinha sido no
deserto para que a maldição que pesava sobre o homem fosse retirada.
O homem tinha que ser remido, o seu pecado devia ser expiado,
retirado, e ele mesmo tratado de acordo com a verdade do seu estado e o caráter
de Deus, que não poderia renegar-Se a Si próprio. Assim, Cristo tomou o lugar do
homem, em graça. O nosso Senhor veio com pleno conhecimento do que era o céu e a
glória divina. E para que o homem dela pudesse participar, era preciso que o
Filho do homem passasse pelo "vale da sombra da morte".
A morte é a porta para a vida. Co-crucificaçao abre a porta
para co-ressurreição. Identificação com Cristo em Sua morte e sepultamento é
apenas o começo da união do crente com Ele numa vida interminável,
Ruth
Paxon. No grande argumento do Espírito Santo sobre a nossa identificação com
Cristo, Ele disse que o nosso velho homem, esse homem oculto do coração, que
estava cheio de morte espiritual, foi pregado na cruz em Cristo. Sabendo
isto, que o nosso homem velho foi com ele crucificado, para que o corpo do
pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado. Romanos 6:6.
Ninguém pode participar da glória de Deus sem passar pela cruz.
Cristo levantado da terra atrai a Si todos os homens. Essa atração significa a
nossa completa união com Ele no Seu sacrifício. Morremos com Cristo, fomos
sepultados com Cristo, ressuscitamos em Cristo e estamos assentados nos lugares
celestiais em Cristo. Ninguém pode nascer de novo sem primeiro passar pela morte
em Cristo. Insensato! o que tu semeias não é vivificado, se primeiro não
morrer. I Coríntios 15:36.
O segundo momento ou processo da resposta de Jesus a Nicodemos:
Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para
que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. João 3:16.
Sob o ponto de vista espiritual, vê-se na cruz a necessidade da morte do
Filho do homem e vê-se o dom inefável do Filho de Deus. Estas duas verdades
reúnem-se num fim comum que é o dom da vida eterna a todo aquele que crer. O
amor de Deus pelos homens foi expresso pelo dom de Seu Filho para ser o Salvador
deles. O apóstolo Paulo se referiu ao amor de Deus como "grande". Mas Deus,
que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou. Efésios
2:4.
O terceiro momento: Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo,
não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. João
3:17. O nosso Senhor Jesus veio ao mundo para nos dar vida. Ele é a água e o
pão da vida, e veio para nos dar vida em abundância. É pela vida de Jesus que
vivemos uma vida provada pela morte. A luz do evangelho brilha, mas "o deus
deste século cegou o entendimento dos incrédulos", e o cego não reage ao
estímulo da luz. Como Cristo explicou a Nicodemos, Se alguém não nascer de
novo não pode ver o reino de Deus.
Assim, Deus salva não apenas para a sua glória, mas também para
sua satisfação. Isto nos ajuda a explicar porque há alegria quando um pecador se
arrepende, e porque haverá "grande alegria" quando nos colocar imaculados na Sua
santa presença no último dia. Essa revelação ultrapassa nosso entendimento, como
diz as Escrituras. Assim é o amor de Deus: Ora, àquele que é poderoso para
vos guardar de tropeçar, e apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, perante
a sua glória, Ao único Deus sábio, Salvador nosso, seja glória e majestade,
domínio e poder, agora, e para todo o sempre. Amém. Judas 24-25.
Que a nossa oração se assemelhe a esta feita por Henry Scougal,
no seu livro a Vida de Deus na Alma do Homem: Ó Jesus, meu Salvador, bendita
a Tua humildade! Imprime-a em meu coração, faze-me mais sensível face à Tua
dignidade infinita e face à minha vileza pessoal, para que eu seja capacitado a
odiar-me como uma nulidade e a aceitar ser desprezado e ser pisado por todos
como a mais torpe lama das ruas, e para que eu mantenha estas palavras: NÃO SOU
NADA, NÃO TENHO NADA, NÃO POSSO FAZER NADA, E NÃO DESEJO NADA, SENAO O MEU
SENHOR E SALVADOR.
Solo Deo Glória
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O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
domingo, 6 de maio de 2012
UM DIÁLOGO EM TRÊS MOVIMENTOS
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