sábado, 21 de junho de 2014

A COMPAIXÃO DE CRISTO OU A ESPADA DO EGO

Simão Pedro, que trazia uma espada, tirou-a e feriu o servo do sumo sacerdote, decepando-lhe a orelha direita. Jesus, porém, ordenou a Pedro: Guarde a espada! João 18:10 e 11 - nvi
É bem verdade que o caminho do Getsêmani era muitíssimo tenso, soldados romanos cercavam Jesus e os seus discípulos. Jesus estava para ser preso brutalmente e julgado injustamente por autoridades inescrupulosas. E Pedro ainda portava seu instrumento de ataque e defesa, sua arma que era uma espada, por isso não pensou duas vezes quando os soldados deram a voz de prisão a Jesus. Pedro achou que a sua arma carnal era a sua solução, por isso instintivamente desembaiou-a rapidamente. Mesmo tanto tempo andando bem próximo de Jesus, não soube recordar como Jesus tratou com os problemas e como ensinou a lidar com seus adversários.
Podemos deduzir o que levou de fato Pedro agir tão precipitadamente daquele modo sanguíneo, a falta de entendimento, uma mente confusa e a falta de compreensão de Jesus e do seu ministério. E em face disso outras idéias, atitudes e formas egoístas tomaram conta do seu ser no modelo terreno e não no modelo divino. Quanto prejuízo temos contabilizado por agir do nosso próprio jeito grosseiro, mundano como Pedro, e não segundo a Palavra de Deus. “ Respondeu-lhes Jesus: Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus”. Mateus 22:29.
Fica claro que, mesmo Pedro fazendo parte da equipe de Jesus e presenciando tantos milagres, ele ainda não tinha experimentado a sua verdadeira identificação. “ Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo! Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; tu, pois quando te converteres fortalece os teus irmãos”. Lucas 22:31,32.
Se realmente queremos a manifestação da vida de Cristo e da sua compaixão em nós, creio que, não basta sermos apenas simpatizantes dos ensinamentos de Jesus, é necessário vivê-los por sua graça. Por isso que, por fé, podemos experimentar a nossa identificação de morte para o pecado, para a maldade e violência, para que o amor e a misericórdia reine em nossas vidas, supridos unicamente pela fonte da graça. E isso sim glorifica a Deus.
Infelizmente há muitos que professam uma nova vida em Cristo, mas tem temperamento bruto, um jeito muito rude de tratar as pessoas, sempre com a espada na mão prontos a ferir e cortar a orelha. Sabemos que muitos não regenerados tem atitudes de regenerados, e muitos regenerados tem atitude de não regenerados.
Não pregamos impecabilidade, e sim o poder operante do Evangelho da nossa morte e ressurreição nos sustentado para um novo viver. “ Se é que, de fato, o tendes ouvido e nele fostes instruídos, segundo é a verdade em Jesus, no sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano, e vos renoveis no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade”. Efésios 4;24.
Não podemos nos esquecer que só podemos despojar do velho homem porque o velho homem já morreu com Cristo lá na cruz. Esta experiência de despojamento é só para quem já nasceu de novo , para o filho e a filha de Deus. Despojar é retirar tudo do morto. “ Despojando-vos, portanto, de toda maldade e dolo, de hipocrisias e inveja e de toda sorte de maledicências”. 1Pedro 2:1. “ Aparte-se do mal, pratique o que é bom, busque a paz e empenhe-se por alcançá-la”. 1Pedro 3:11.
É verdade que o Evangelho é muito mais que moral e comportamentos. É substituição de vida para o estilo de viver de Cristo. “Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor. Porque toda lei se cumpre em um só preceito, a saber: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Se vós, porém, vos mordeis e devorais uns aos outros, vede que não sejais mutuamente destruídos”. Gálatas 5:13-15.
Creio que com a nova vida de Cristo em nós não podemos continuar com tanta falta de amor, e muito menos nos mordendo. Que, por graça e misericórdia, possamos ser levados ao arrependimento e clamarmos por um coração cheio de compaixão e pelas manifestações visíveis de amor e bondade uns para com os outros. Pelo poder do Evangelho somos chamados para sermos instrumentos de cura e não de ferimento, de amor e não de ódio, de vida e não de morte, de alegria e não de tristeza.
É do ser humano, por natureza, ser bravo, truculento, violento e que acaba avançando na maldade de tal forma a ponto de ferir tão agressivamente a si mesmo. “ Andava sempre, de noite e de dia, clamando por entre os sepulcros e pelos montes, ferindo-se com pedras”. Marcos 5:5. Podemos ver também o desespero de alguém sem Cristo ao ponto de querer tirar a própria vida, ao sentir-se pressionado pela a situação . “ O carcereiro despertou do sono e, vendo abertas as portas do cárcere, puxando da espada, ia suicidar-se, supondo que os presos tivessem fugido”. Atos 16:27.
E também é especialidade do egoísta, ferir e machucar. Esta atitude foi vista quando mataram Estevão por pregar o Evangelho . “E, lançando-o fora da cidade, o apedrejaram”. Atos 7:57.
Os irmãos invejosos de José tramaram contra a sua vida, chegando ao absurdo e a crueldade de o jogarem em uma cisterna e o venderem como escravo. (Genesis 37). Que agonia o seu pai enfrentou, ao receber a notícia de que o seu filho havia sido morto por um animal selvagem, mas a verdade, é que os irmãos que agiram como animais selvagens.
Um coração endurecido pelo pecado faz do ser humano um psicopata frio, calculista e insensível capaz de tanta barbárie.Quantas famílias estão
amarguradas no ódio e na disputa por coisas insignificantes. “ Insensatos, pérfidos, sem afeição natural e sem misericórdia... São os seus pés velozes para derramar sangue, nos seus caminhos há destruição e miséria.”. Romanos 1:31- 3:15,16. O pecado trouxe uma grande tragédia para vida do ser humano e é o causador de toda desordem no mundo, que leva a relacionamentos cada vez mais distantes , dominados por brigas e violência.
Diante daquela situação difícil no Getsemani, Pedro utilizou da sua espada como arma terrena, e prontamente atacou. Mas essa atitude nos mostra aquilo que está dentro do coração. Este é o grande principio que leva as pessoas a cometerem todo tipo de maldade e violência, uma realidade muito mais séria, que é o pecado
Deus não escondeu a sua ira no período de Noé por conta da multiplicação da maldade do homem, ao contrario trouxe o dilúvio e a destruição. “ Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na terra, e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração; então se arrependeu o Senhor de ter feito o homem na terra, e isso lhe pesou no coração. Disse o Senhor: Farei desaparecer da face da terra o homem que criei, o homem e o animal, os répteis e as aves dos céus; porque me arrependo de os haver feito”. Gênesis 6:5-7.
Assim como Deus em sua graça salvou Noé e a sua família daquele mundo mau, Ele também quer nos salvar do pecado, da natureza raivosa, e nos encher da Sua compaixão. O Deus que é amor, encarnado em Jesus, se revelou cheio de compaixão em um ambiente hostil, adverso e confuso. E não se blindou contra a violência. Ele sofreu toda maldade humana do pecado para nos libertar e arrancar de nós a espada da violência, que é encontrada no velho homem , no coração de pedra, e também é vista na natureza terrena que temos que fazer morrer diariamente.
A vida de Jesus aqui na Terra foi agredida por seres que a Bíblia define como homens violentos, arrogantes que se achavam o máximo, e cometeram tanta brutalidade, violência verbal e física contra ele. “Então, Pilatos, querendo contentar a multidão, soltou-lhe Barrabás; e, após mandar açoitar a Jesus, entregou-o para ser crucificado. Davam-lhe na cabeça com caniço, cuspiram nele e, o vestiram com as suas próprias vestes. Então, conduziram Jesus para fora, com o fim de o crucificarem”. Marcos 15;15,19 e 20.
Mesmo sendo o Todo Poderoso, digno de honra e glória, manso e humilde por natureza, sofreu sem nada merecer, suportando a dor de tanta humilhação, porque o seu Reino é o reino da compaixão. Não merecia nada que sofreu, tinha todo poder, mas não quis usar da sua força, e prevaleceu pelo amor do Pai.
Por nossa causa, Jesus padeceu sanguinariamente na mão dos malfeitores. “Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que é padecer; e, como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele não fizemos caso. Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, pelas suas pisaduras fomos sarados. Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca”. Isaías 53:5 e 7.
Salvos em Cristo somos chamados e enviados a ser ovelhas no meio de lobos. Esta salvação custou um preço alto demais: O Filho. Só o milagre da regeneração é capaz de pegar agressores como eu e você e arrancar a espada violenta do coração e das mais terríveis atitudes que machucam, e encher-nos de amor e compaixão uns para com os outros em Cristo Jesus. “Mas, sobretudo, tende ardente amor uns para com os outros; porque o amor cobrirá a multidão de pecados.” 1 Pedro 4:8.
“Se vocês receberam algo bom por seguir a Cristo; se o amor dele fez alguma diferença na vida de vocês; se estar numa comunidade do Espírito significa algo para vocês; se vocês têm um coração; se vocês se importam uns com os outros - façam um favor: concordem um com o outro, amem um ao outro, sejam amigos de verdade. Não joguem sujo; não bajulem ninguém só para conseguir o que desejam. Ponham o interesse próprio de lado e ajudem os outros em sua jornada. Não fiquem obcecados em tirar vantagens. Esqueçam-se de vocês o suficiente para estender a mão e ajudar”.Filipenses 2:1-4. A mensagem.

Soli Deo Glória

quarta-feira, 18 de junho de 2014

O CAMINHO DA ADORAÇÃO: A ADORAÇÃO NA HUMILHAÇÃO

Recordar-te-ás de todo o caminho pelo qual o SENHOR, teu Deus, te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar, para te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias ou não os seus mandamentos.Deuteronômio 8:2
Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus.Mateus 5.3
O caminho da Adoração nos conduz por lugares não muito agradáveis à natureza humana que, pelo medo da dor, não queremos percorrer. A natureza humana rejeita qualquer tipo de ação que tenha por objetivo tirar sua autoconfiança, algo de valor que pensa ter em si mesmo.
O povo de Israel foi por Deus tirado do Egito, onde por mais de 400 anos viveu como escravo, sob opressão. Deus então faz uma aliança com Israel e promete ter o povo como propriedade exclusiva Sua, de ser o seu Deus abençoador, amoroso e misericordioso. Yahweh libertou o povo do Egito, mas o povo ainda não havia sido liberto de si mesmo. Havia soberba no coração que precisava ser exposta para que entendessem a profundidade e a amplitude da separação que tinham de Deus assim como a profundidade e a amplitude do amor de Deus por eles. No deserto Deus provou e humilhou a Israel para saber/mostrar o que estava em seu coração.
Segundo a Enciclopédia Wikipédia, “humilhação é literalmente o ato de ser tornado humilde, ou diminuído de posição ou prestígio”. A humilhação não é geralmente uma experiência agradável, visto que diminui o ego. A humilhação não precisa envolver outra pessoa; ela pode ser um reconhecimento da própria posição de alguém, e pode ser um modo de lançar fora o falso orgulho.
O século XVIII foi chamado de século de luzes. O Iluminismo, que já estava surgindo desde o fim da Idade Média, foi baseado nas ideias de filósofos da época tais como: Francis Bacon, René Descartes, Isaac Newton (cientista), Thomas Hobbes, John Locke e Benedito Espinosa. As questões mais debatidas nessa época foram o racionalismo, empirismo, a lei natural e ainda, o liberalismo, direitos naturais e democracia. Afirmava-se que a razão é capaz de produzir evolução e progresso sendo o homem um ser perfectível. “O homem é o centro do Universo”.
René Descartes disse: “só se pode dizer daquilo que for provado”. No Discurso do Método, Descartes cunhou a frase Cogito ergo sum – penso, logo existo – a afirmação da fé no poder da razão humana. Filósofos e economistas procuraram novas maneiras de dar felicidade ao homem. O princípio organizador da sociedade deveria ser a busca da felicidade; ao governo caberia garantir direitos naturais: a liberdade individual e a livre posse de bens. Para encontrar Deus, bastaria levar uma vida piedosa e virtuosa. Nesse período há um grande interesse pelas artes, pois elas revelam o que o homem tem de “melhor” em si. O doutor David Martyn Lloyd-Jones, teólogo protestante do século XX disse: “Por toda a parte manifesta-se essa trágica confiança no poder do conhecimento e da esmerada educação como tais, como se fossem meios de salvação do ser humano, meios capazes de transformá-lo e torná-lo um indivíduo decente”.
Mesmo em deplorável situação o orgulho faz com que o homem não se dobre e clame por misericórdia. O intolerável egocentrismo alavanca o pensamento positivo para a altivez, de tal modo que prefere executar o Harakiri do código de honra do Samurai, de que ser liberto pela misericórdia. O Iluminismo, chamado de Era da Razão, colocou o homem numa posição de exaltação, contrária à que o Deus encarnado, Jesus Cristo, assumiu. O homem por natureza não quer ser humilde e quando quer mostrar por si só algo diferente, oculta o real desejo de ser exaltado.
Vemos na Palavra de Deus que não é possível ser humilde sem humilhação. Jesus Cristo disse em Mateus 5.3 Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus. Temos nesta verdade alguma coisa que o mundo não somente não admira como também despreza. Pelo contrário, a autodependência, autoconfiança e auto-expressão controlam os aspectos da vida fora da pessoa de Cristo. Friedrich Wilhelm Nietzsche, um filósofo do século XIX, filho de família Luterana, coloca a humilhação como um jogo político religioso repressor. Ele não entendeu que a religião não humilha, mas exalta o ego. A religião escraviza e subjuga o homem na sua própria ambição, por isso quando a Igreja falhou em libertar o homem, esse buscou sua libertação na Razão. Então Nietzsche disse “Deus morreu”. Sim, se o seu deus morreu o homem precisa se virar sozinho! Se Deus não é o centro de todas as coisas, o homem será o centro de todas as coisas, adorado e exaltado. Esse é o pensamento filosófico Iluminista antropocêntrico. Protágoras de Abdera - (Abdera, 480 a.C. - Sicília, 410 a.C.) foi um filósofo da Grécia Antiga, responsável por cunhar a frase: "O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são."
Entretanto, contrariando a arrogância iluminista, a Palavra de Deus afirma: Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz. Filipenses 2.5-8. Os judeus esperavam um Salvador exaltado e não humilhado. A religião sem nenhum Salvador insultado e humilhado não suportará insultos e humilhação. A religião está destinada a tentar realizar a impossível tarefa de defender uma honra sem a humilhação da morte de Cruz. Mas, ser cristão significa que os seguidores de Cristo devem ser desejosos de ter a “participação dos seus sofrimentos, conformando-se a Ele na sua morte” (Filipenses 3:10)
Quem a si mesmo se exaltar será humilhado; e quem a si mesmo se humilhar será exaltado. Mateus 23.12. Porém a humilhação de Cristo tem sido sutilmente rejeitada pela igreja contemporânea. A “humildade de espírito” não é popular nem mesmo dentro da igreja. No entanto, o Caminho da Adoração começa quando somos solapados pelo fracasso do desempenho de nossa vida. Deus sabe o que está no meu e no teu coração e precisa nos expor para nos rendermos a sua Justiça. Somente podemos ser cheios do Espírito de gratidão e louvor ao Senhor, se somos esvaziados da arrogância, do senso de direito da justiça própria. Queremos nossos direitos, nossas vontades realizadas, o nosso EU no trono. Enquanto o EU estiver no trono, é o EU que será adorado e não o Senhor Jesus Cristo.
O que significa ser “humilde de espírito”? Ser “humilde de espírito” não significa ser retraído ou covarde. Também não significa reprimir sua verdadeira personalidade, fazendo coisas para parecer humilde. A falsa humildade se revela no desejo de exaltação pessoal, mascarada pela modéstia. Tende o mesmo sentimento uns para com os outros; em lugar de serdes orgulhosos, condescendei com o que é humilde; não sejais sábios aos vossos próprios olhos. Romanos 12:16. Humilhação é ser categorizado abaixo de outros que são honrados ou recompensados. Que tipo de sentimento cresce em nosso coração quando isto acontece conosco? Que tipo de sentimento temos quando isso acontece com os outros? Se tivermos a perspectiva da Cruz, veremos que ser humilhado e tratado por Deus produz posterior honra e também glórias a Deus, mas se veladamente alimentamos o desejo de exaltação, estamos no centro e Deus não está sendo glorificado.
Não há humildade sem humilhação. A humildade autêntica parte do coração tratado pela Cruz; parte da convicção íntima e profunda da própria insignificância diante de Deus. Enquanto Jesus se humilhou, esquecendo sua dignidade de Filho de Deus, o homem, para ser humilde, deve considerar o que é: criatura subsistente não por virtude própria, mas somente pela graça de Deus. Criatura que, por causa do pecado, se tornou um miserável moral. Só a graça proveniente da humilhação de Cristo pode tornar-nos humildes de espírito.
O deserto é algo inevitável quando Deus trata com a motivação do nosso coração. Enquanto resistirmos ao trato de Deus, mais doloroso será o tratamento. Quanto mais obstinado for o nosso coração, maior será a aflição. João Batista entendeu que embora sendo o enviado por Deus para anunciar a vinda do Senhor Jesus Cristo, não deveria se gabar disso. O qual vem após mim, do qual não sou digno de desatar-lhe as correias das sandálias. João 1:27. O verdadeiro adorador é conduzido pelo Pai amoroso no mesmo caminho percorrido por Jesus. O caminho da adoração é o caminho do esvaziamento (Fp 2.7), da humilhação (Fp 2.8), de quebrantamento e da exaltação divina (Fp 2.9).
Não somos capazes de produzir humildade. Humilhai-vos (ou seja, tenha uma correta visão de si mesmo a partir de Cristo), portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte. 1 Pedro 5:6.Somente um coração quebrantado que clama ao Senhor reconhecendo sua indignidade, pode ser feito humilde.
Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Mateus 11:29. Se o meu Jesus deixou-se humilhar se fazendo homem e assumindo o meu pecado; logo Ele que tinha todas as prerrogativas para não aceitar tal humilhação, por que eu, que creio ser um cristão, tento defender a todo custo minha reputação?
Compartilho os versos de Lloyd-Jones:“Nada trago em minha mão. Só na tua cruz me agarro. Vazio, desamparado, nu e vil. Entretanto, Ele é o Todo-suficiente – Sim, tudo quanto me falta em Ti encontro. Oh, Cordeiro de Deus venho a Ti”. Somente quando chegamos ao fim de nós mesmos, podemos nos prostrar e adorar ao Cordeiro, o único digno de toda adoração.

Soli Deo Glória

terça-feira, 17 de junho de 2014

NATUREZA TERRENA E VELHO HOMEM


 
Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena:Colessenses 3:5.
Se você é um filho de Deus, nascido de novo, você sabe muito bem que todos os seus pecados foram, totalmente, justificados pela morte de Cristo Jesus, na cruz - que seus pecados foram todos lavados pelo sangue precioso do Cordeiro. Mas você sabia que você também morreu na cruz com Cristo? Isto é imprescindível para a libertação.
Para poder trazer os Seus eleitos à comunhão com Ele, e para quebrar o poder do vil pecado na vida dos Seus, havia dois aspectos desse pecado que Deus tinha de lidar, Ele mesmo. Um desses aspectos: os nossos próprios pecados individuais, os pensamentos injustos, palavras e atos que cometemos e, o outro, a fonte dos pecados, a natureza pecaminosa que herdamos do cabeça da raça, Adão.
A Bíblia, por vezes, refere-se ao primeiro como os "pecados" (no plural), e ao último, o pecado (no singular). Tivemos que ser salvos da culpa dos nossos pecados pessoais por meio do sangue. Mas também, tínhamos que ser libertos da nossa velha natureza caída e pecaminosa, o nosso velho homem (Vh), o escravo do pecado. E, a única maneira de nós sermos libertos dessa natureza do pecado é a morte. A nossa morte na cruz com Cristo.
Nós todos estávamos em Adão quando ele pecou. Seu pecado fez com que toda a raça e toda a natureza fossem contaminadas com o vírus da morte, percebido na matéria, na lei da entropia. Vivemos num mundo caído e envelhecendo-se. Paulo o viu assim: Pois a natureza foi submetida à depravação, não por sua própria escolha, mas por causa da vontade daquele que a sujeitou, Romanos 8:20. E quem a sujeitou? Adão.
Assim, todos nós, em Adão, herdamos dele uma natureza terrena (NT) caída, sujeita ao pecado, bem como, o Vh, escravo do pecado. Quando lemos a Bíblia com cuidado, fica claro que há uma NT, sujeita ao pecado e algo que pode ser denominado como o Vh, o escravo do pecado, que age na pessoa irregenerada.
O que faz o pecador viver no pecado de modo natural e deliberadamente é o seu Vh. Ele é a matriz da iniquidade, o servo viciado pelo pecado, que se nutre de pecar e existe para o pecado. Tudo nele cheira a pecado do nascimento à morte.
Mas a Bíblia diz que o Vh já foi julgado e sentenciado. Esse Vh já morreu na cruz. Sabendo isto: que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos; porquanto quem morreu está justificado do pecado. Romanos 6:6-7. Não há dúvida no tempo verbal: foi, é passado, logo, não há chance para dizer que o Vh continua vivo.
O problema é que a Bíblia ordena: Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena. Então, será que eu posso fazer morrer quem já morreu? Ou será que o Vh, de fato, não morreu? E agora? O Vh e a NT são a mesma realidade na vida espiritual? Precisamos de alguma luz para compreender essa questão.
Não acredito que estejamos diante de um enigma escriturístico para pegar “tonto”. Na Bíblia não existe pegadinha, nem o Vh e a NT são os mesmos.
Quando Adão foi feito do pó da terra, tinha sua NT pura, sem a menor corrupção do pecado. Ele era um homem perfeito. Com a queda, porém, toda a criação foi envolvida numa perversão caótica e a NT de Adão ficou conspurcada e suja radicalmente pela total corrupção do pecado e, daí em diante a perversão passou à raça humana integralmente.
Além da NT caída, herdamos um espírito de rebeldia egoísta e desobediente como o vassalo do pecado. Este espírito/ânima incrédulo e anárquico é o nosso Vh, o servo vil do pecado, que mantêm o pecador sob o domínio da escravatura pecaminosa.
Jesus, sendo 100% homem, por exemplo, tinha uma NT, ainda que não possuísse o Vh. Como provinha do óvulo da mulher, era portador dessa natureza caída e enferma, na carne pelo pecado, embora não tivesse o Vh, o servo do pecado, proveniente do esperma de Adão. Jesus nunca pecou mesmo sendo sujeito a pecar. Ele não tinha o Vh nEle.
Vejamos como diz o Espírito: portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram. Romanos 5:12. Foi o pecado de um só homem que contaminou a humanidade inteira. Todos nós fomos transformados em pecadores, não por meio da transgressão de Eva, mas pelo pecado de Adão.
O pecado entrou por um só homem, Adão. Ainda que a mulher também tenha caído em pecado, tendo uma NT pecadora, não é ela quem transmite essa perversão do Vh, pois, se ela transmitisse, Jesus teria vindo contaminado com a vida do Vh, o escravo do pecado. Ele teria nascido em pecado como um pecador.
Para tentar resolver o impasse, a igreja romana decretou em 1854, pelo Papa Pio IX, um dogma em que Maria foi concebida sem pecado. Porém, não há qualquer base bíblica que sustente esse arranjo. É mais sensato admitir que o Vh é algo espiritual inato, de índole rebelde e incrédula que veio e se instalou na raça humana por meio de Adão.
Jesus tinha uma NT humana sujeita ao pecado, porqueele foi tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado. Hebreus 4:15b, e –não vem qualquer tentação que não seja humana,1Coríntios 10:13a, embora, Ele não tivesse o Vh, o tal servo do pecado, como fábrica de fazer pecado, pois, Ele nunca pecou, ainda que tivesse sido tentado, em todas as coisas, só foi tentado por ser um ser humano com NT.
Se Jesus tivesse o Vh agindo nEle, então seria um pecador por natureza. Ele nunca seria capaz de não pecar. Mas apesar de Sua NT sujeita ao pecado, Ele jamais pecou.
Adão, como o primeiro homem, era mais adequado para não pecar, do que Jesus, o último Adão, para pecar. O primeiro Adão foi criado com a NT incontaminada de pecado, e pecou. Jesus, o último Adão, veio com uma natureza sujeita ao pecado, mas não pecou.
O primeiro Adão era sem pecado; sua NT era pura, mas, por causa de sua vontade em querer ser como Deus, ele veio a cair no pecado e sujeitou toda a criação à queda, e, a sua raça à sua imagem depravada, tornando-se o genearca do Vh.
Jesus, ainda que membro de uma raça portadora da NT caída, não foi gerado de um esperma adâmico, por isso não foi concebido portando o Vh. Ele não era pecador.
O primeiro Adão, antes do pecado, tinha a sua NT sem os efeitos do pecado, porém, pecou, e, assim, se tornou um Vh, contaminando toda a sua descendência com o vírus do Vh. Jesus nasceu num mundo caído com Sua NT sujeita ao pecado, mas nunca pecou, porque não foi gerado de Adão. Jesus não era portador do Vh e Sua vontade terrena se satisfazia da plenitude da vontade do Seu Pai celestial.
O Vh é o servo do pecado. A NT encontra-se sujeita ao pecado. Aquele que nasceu de novo teve o seu Vh crucificado com Cristo, por isso, pode fazer morrer sua NT, pela fé. Porém, se o Vh não for de uma vez para sempre morto, na cruz com Cristo, não existe a menor condição de alguém fazer morrer a sua NT.
O Vh, o servo do pecado, se alimenta diariamente da NT, sujeita ao pecado. Mas o novo homem, (NH) - criado em Jesus Cristo é capaz de fazer morrer, diariamente, a sua NT, levando o morrer de Jesus em seu modo de viver, dia a dia. Trazemos sempre em nosso corpo o morrer de Jesus, para que a vida de Jesus também seja revelada em nosso corpo. 2 Coríntios 4:10. NVI.
Para crucificar o Vh em Seus eleitos, o Verbo se fez carne e habitou entre eles. A carne é a realidade física dessa NT. Quando Jesus foi à cruz, Ele levou sobre si todos os pecados de Suas ovelhas, bem como, o Vh, ou a natureza iníqua de cada uma delas.
Por esse motivo o NH, criado em Jesus Cristo, tem a capacidade doada pelo poder do Espírito Santo de fazer morrer os feitos da sua carne: Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo, certamente, vivereis.Romanos 8:13. Só as novas criaturas em Cristo podem, de fato, fazer morrer a NT em que todos habitam.
Resumindo: Adão foi feito com a NT pura. Depois do pecado original, a sua NT foi corrompida, passando, ainda, a ser governado por aquilo que a Bíblia denomina de Vh, o servo do pecado. Cristo ao encarnar-se em Jesus teve uma NT sujeita ao pecado, mas, não sendo gerado de esperma adâmico, não era portador do Vh. Na cruz, Cristo atraiu-nos a Si e crucificou o nosso Vh. Por isso, apenas o NH pode fazer morrer a sua NT.

Soli Deo Glória

segunda-feira, 16 de junho de 2014

OS PURITANOS E O QUARTO MANDAMENTO

Por J.I. Packer

O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado. (Mc 2:27)

Neste ponto, os puritanos iam à frente dos reformadores. Estes últimos tinham seguido Agostinho e o ensino medieval em geral, negando que o domingo fosse, em qualquer sentido, um dia de descanso. Eles afiançavam que o sábado, prescrito pelo quarto mandamento, era um mandamento tipicamente judaico, prefiguração do “descanso” da relação da graça-fé com Cristo.

Eis a explicação de Calvino:


“...é extremamente apta a analogia entre o sinal externo e a realidade simbolizada, visto que a nossa santificação consiste na mortificação de nossa própria vontade... Devemos desistir de todos os atos de nossa própria mente a fim de que, operando Deus em nós, possamos descansar nEle, conforme ensina o apóstolo (Hb.3:13;4:3,9). Mas agora que Cristo já veio, o tipo foi cancelado, e seria um erro perpetuá-lo, tal como seria um equívoco continuar a oferecer os sacrifícios levíticos.

Calvino apelava aqui para Colossenses 2:16, que ele interpretava como alusão ao dia semanal de descanso. Ele admitia que, além e acima de sua significação típica, o quarto mandamento também ensina o princípio que deve haver adoração pública e privada, além de servir de dia de descanso para os servos e empregados, pelo que a plena interpretação cristã seria:


Primeiro, por toda a nossa vida podemos ter por alvo um descanso constante de nossas próprias obras, a fim de que o Senhor possa operar em nós por meio do Seu Santo Espírito; segundo, cada indivíduo deveria se exercitar com diligência em meditação devota nas obras de Deus, e... todos devem observar a ordem legal determinada pela Igreja para que se ouça a Palavra, administrando as ordenanças e a oração pública; terceiro, devemos evitar oprimir àqueles que nos estiveram sujeitos.

Mas Calvino falava como se isso fosse tudo quanto aquele mandamento agora prescreve, nada encontrando no mesmo, em seu sentido cristão, que proíba trabalho ou diversão no domingo, com prejuízo do tempo de culto. A maior parte dos reformadores falava no mesmo tom. O que há de notável é que suas declarações, em outros contextos, mostram que “os reformadores, como um grupo, defendiam a autoridade divina e a obrigação de se observar o quarto mandamento, requerendo que um dia em cada sete fosse empregado na adoração e serviço de Deus, admitindo somente as obras de necessidade e de misericórdia, em favor dos pobres e aflitos”. É um quebra cabeça, porém, porque eles nunca perceberam a incoerência entre afirmar isso, em termos gerais, ao mesmo tempo em que defendiam a exegese de Agostinho sobre o domingo cristão. Podemos apenas supor que isso se deve ao fato que não queriam entreter a idéia de que Agostinho poderia estar enganado, razão que os cegava para o fato que estavam montando dois cavalos ao mesmo tempo.

Os puritanos, contudo, corrigiram essa incoerência. Eles insistiam, de forma virtualmente unânime que, embora os reformadores estivessem certos ao enxergarem apenas um sentido típico e temporário em algumas das prescrições detalhadas no sábado judaico, contudo, eles também percebiam o princípio de um dia de descanso, para efeito de adoração pública e privada a Deus, no fim de cada seis dias de trabalho, como uma lei da criação, estabelecida em benefício do homem, e, portanto, obrigatória para o homem, enquanto ele viver neste mundo. Também destacavam que, figurando entre nove leis indubitavelmente morais e permanentes do decálogo, o quarto mandamento dificilmente teria uma natureza apenas típica e temporária.

De fato, eles viam esse mandamento como parte integral da primeira tábua da lei, que aborda sistematicamente a questão da adoração: “O primeiro mandamento fixa o objetivo, o segundo, o meio, o terceiro, a maneira, e o quarto, o tempo”. Também observaram que o quarto mandamento começa com as palavras “lembra-te...”. E isso nos faz recuar até antes da instituição mosaica. Observaram que o trecho de Gênesis 2:1 ss. representa o sétimo dia de descanso como o próprio descanso de Deus, terminada a criação, e que a sanção atrelada ao quarto mandamento, em Êxodo 20:8 ss., olha de volta para aquele fato, retratando o dia como um memorial semanal da criação, “para ser observado para a glória do Criador, como dever que temos de servi-Lo, e como um encorajamento para confiarmos naquele que criou os céus e a terra. Por meio da santificação do sábado, os judeus declaravam que eles adoravam ao Deus que criou a terra...”. Assim falou Matthew Henry, exegeta de um período posterior aos puritanos, mas que os representou em sua própria época ao comentar sobre Êxodo 20:11. Henry também frisou que o mandamento afirma que Deus santificou o sétimo dia (ou seja, apropriou-o para Si mesmo) e o abençoou (isto é, “injetou bênçãos no mesmo, encorajando-nos a esperar bênçãos da parte Dele, na observância religiosa daquele dia”); e também frisou que Cristo, embora tivesse reinterpretado a lei sobre o sábado, não o cancelou, mas antes, firmou-o, observando-o Ele mesmo, e mostrando que esperava que seus discípulos continuassem a observá-lo (cf. Mt.24:20).

Tudo isso, argumentavam os puritanos, mostra que o descanso do sétimo dia, era mais que um mandamento judaico; antes, era um memorial da criação, parte da lei moral (primeira tábua que prescreve a adoração apropriada ao Criador), e, como tal, era perpetuamente obrigatória para todos os homens. Assim, quando o Novo Testamento diz-nos que os cristãos se reuniam para adorar no primeiro dia da semana (ver Atos 20:7; cf. I Co.16:1), guardando aquele dia como “o dia do Senhor” (Ap.1:10), isso só pode significar uma coisa: por preceito apostólico, e, provavelmente, de fato, por injunção dominical durante os quarenta dias antes da ascensão, esse tornara-se o dia em que os homens, doravante, deveriam guardar o dia de descanso prescrito pelo quarto mandamento. Os puritanos notavam que essa mudança, do sétimo dia da semana (o dia que assinalara o fim da antiga criação) para o primeiro (o dia da ressurreição de Cristo, que assinala o início da nova criação), não excluía pelas palavras do quarto mandamento, meramente determina que “devemos descansar e guardar, como descanso, cada sétimo dia... mas... de modo algum determina onde deve começar a sequência de dias... Não há no quarto mandamento, qualquer orientação sobre como computar o tempo...”. Portanto, coisa alguma impede-nos de supor que o Novo Testamento parece requerer que foram os apóstolos que fizeram a alteração. Nesse caso, tornara-se claro que a condenação (em Cl.2:16) do sabatismo judaico nada tem a ver com a observância do dia do Senhor. Essas, em esboço, eram as considerações feitas pelos puritanos, com base na doutrina do dia do Senhor, a qual é bem sintetizada na Confissão de Fé de Westminster (XXI: vii-viii):

vii. Como é lei da natureza que, em geral, uma devida proporção do tempo seja destinada ao culto de Deus, assim também em sua palavra, por um preceito positivo, moral e perpétuo, preceito que obriga a todos os homens em todos os séculos, Deus designou particularmente um dia em sete para ser um sábado (descanso) santificado por Ele; desde o princípio do mundo, até a ressurreição de Cristo, esse dia foi o último da semana; e desde a ressurreição de Cristo foi mudado para o primeiro dia da semana, dia que na Escritura é chamado Domingo, ou dia do Senhor, e que há de continuar até ao fim do mundo como o sábado cristão. Ref. Ex. 20:8-11; Gen. 2:3; I Cor. 16:1-2; At. 20:7; Apoc.1:10; Mat. 5: 17-18
viii. Este sábado é santificado ao Senhor quando os homens, tendo devidamente preparado os seus corações e de antemão ordenado os seus negócios ordinários, não só guardam, durante todo o dia, um santo descanso das suas próprias obras, palavras e pensamentos a respeito dos seus empregos seculares e das suas recreações, mas também ocupam todo o tempo em exercícios públicos e particulares de culto e nos deveres de necessidade e misericórdia. Ref. Ex. 16:23-26,29:30, e 31:15-16; Isa.58:13.


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domingo, 15 de junho de 2014

A CRUZ E A FRUTIFICAÇÃO


 
Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda (João 15:16).
A Cruz é a chave que destranca todo o mistério da vida cristã. Na Cruz Deus julgou a raça adâmica; naquela Cruz encontramos o segredo da nossa vitória sobre o pecado e de uma frutífera.
Dr. Andrew Murray disse uma vez: Ninguém sabe o que é fruto, até que tenha aprendido a morrer para tudo que é simplesmente humano. Mas, o que é o fruto? O fruto é o resultado de uma vida em Cristo.
Quando uma árvore está produzindo o seu fruto, ela nem sequer está consciente do que está produzindo. Ela produz fruto porque nela há vida. Podemos observar um abacateiro: ele produz abacates como decorrência espontânea de sua própria natureza. Assim também, a “natureza” do regenerado produz fruto, uma vez que foi para isto que Jesus nos designou.
Por outro lado, ainda que um experto em genética vegetal se esforce, ele não vai conseguir fazer um abacateiro produzir laranja, e nem tampouco fazer uma laranjeira produzir abacate. Isto seria contrário à natureza de ambos.

Mas, não é assim que muitas vezes fazemos? Substituímos o fruto pelo trabalho, numa tentativa inútil de produzir fruto com o nosso esforço.
É bom lembrar que Jesus nos designou para produzir Fruto. A esse respeito, o Apóstolo Paulo revela ao nosso entendimento a diferença abismal que há entre o que é realizado com o nosso esforço – obras da carne – e, o Fruto do Espírito(Gálatas 5:19-22).
O fato é que quando estamos fazendo algo, é lógico que estamos conscientes. Depositamos muitos esforços nisso e, se houver resultado, ficamos orgulhosos de nós mesmos.
Não só nos apreciamos por aquilo que estamos fazendo, mas também, queremos que outras pessoas apreciem e validem o nosso trabalho. Muito do que fazemos é para obtermos a aprovação dos homens.
Na verdade, estamos pensando em nós mesmos. Se for algo que fazemos por nós mesmos, com a nossa capacidade, com os nossos planos, com o poder da nossa vontade, com a nossa força “natural”, o resultado não será Fruto. Tudo isto pode até ter uma aparência boa nesse mundo. Contudo, não satisfaz o coração faminto dos homens e não glorifica a Deus.
Gordon Watt disse: Como é difícil morrer para a dependência que temos do nosso próprio intelecto ou para o orgulho que temos de nossas capacidades, morrer para nossa reputação, para o nosso desejo natural por sucesso ou para os nossos próprios planos Mas o fruto só vem quando você está disposto a entregar tudo isso à cruz, e Cristo passa a ser o nosso tudo e dependemos totalmente do Espírito Santo para cada palavra que falamos cada trabalho que fazemos e cada passo que damos na vida.
É uma luta que se trava em nosso íntimo. Quão difícil é morrer para a dependência de nosso próprio intelecto. É muito difícil morrer para o orgulho de nossas supostas capacidades.
Pensamos que somos capazes. Arquitetamos planos e os chamamos de “serviços para o Senhor”. E, quando “realizamos” na força da carne nos enchemos de orgulho. Se a Cruz não nos cortar, tudo isto não passa de “obras mortas”.
Se o que estamos fazendo não for, de fato, no espírito da Cruz, não poderemos produzir nenhum fruto, porque o Fruto tem que ser do Espírito. Tem que ser da vida de Cristo em nós.
Um homem pode estar realizando um silencioso, humilde e modesto serviço - desconhecido e não noticiado. Seu nome pode nunca ser ouvido, seu trabalho nunca reconhecido, porém, feito no espírito da Cruz, por amor a Cristo. Ele serve aos olhos de Deus. Para ele o sorriso do seu Senhor e a Sua aprovação é o suficiente. Ele não pensa em receber ou ser reconhecido pelos homens. Ao contrário, ele simplesmente olha para Cristo. Ele carrega o espírito da Cruz.. Seu fruto permanecerá para sempre.

Na verdade, somos canais ou vasos por onde passa a fragrância de Cristo: Ó Efraim, que tenho eu com os ídolos? Eu te ouvirei e cuidarei de ti; sou como o cipreste verde; de mim procede o teu fruto (Oséias 14:8). Todos nós somos vasos de barro. Nenhum homem guardaria seu tesouro em vasos de barro.
Mas, Deus colocou em vasos de barro o Seu tesouro. E o tesouro, é claro, é o nosso Senhor Jesus. Há um brilho, uma resplandecência, a glória de Deus, que é Cristo, fluindo de dentro do vaso de barro: Porque Deus, que disse: Das trevas resplandecerá a luz, ele mesmo resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo (2 Corintios 4:6).
Porém, muitas vezes tentamos produzir frutos pelo “poder” do vaso de barro e alguns vasos de barro até que são bem ornamentados. Eles têm esperteza, uma personalidade dinâmica e até impressionam as pessoas com uma bonita “folhagem”.
Porém, uma vida frutífera só é possível pela operação da Cruz. Porque é a Cruz que quebra o vaso de barro. Se o homem não passar pela Cruz não há como ser frutífero para Deus.
Podemos estar cheios de energia, cheios de idéias. Podemos até usar a nossa inteligência para persuadir as pessoas, mas não seremos capazes de transmitir vida a estes. Precisamos de Cruz para ser frutíferos.
O poder da frutificação está na seiva que vem do tronco. Esta seiva é Cristo: Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele o corta; e todo o que dá fruto limpa, para que produza mais fruto ainda. Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado; permanecei em mim, e eu permanecerei em vós.
Como não pode o ramo produzir fruto de si mesmo, se não permanecer na videira, assim, nem vós o podeis dar, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer (João 15: 1-5).
Cristo é, pois, a Videira verdadeira; o Pai, agricultor. E, os que lhe pertencem, isto é, aqueles que estão unidos ou ligados na Videira dá fruto, mais fruto e muito fruto. Há uma crescente produção.
Nós somos as varas e, permanecendo Nele, numa atitude de dependência, olhando sempre para Ele, aceitamos o fato de que não somos capazes de produzir nenhum fruto, senão unidos a Ele.
Permanecer em Cristo significa estar ligado a Ele numa confiança e dependência prática e habitual do coração. E, nesta permanência de fé, Cristo será em nós uma fonte constante de força e de frutos.

A história que iremos contar mostra claramente o que significa o fruto de uma vida crucificada. Conta-se a história de uma senhora chinesa que não era lá muito educada e praticamente sem instrução. Ela era muito rude e não media esforços para soltar palavrões e falar mal. Naquela vila todos tinham medo dela porque ela era muito violenta. Um dia Deus a alcançou, ela foi verdadeiramente salva. Alguns jovens ao saber do ocorrido resolveram provocá-la, então, foram ao encontro dela e lançaram sobre ela batatas. Para surpresa dos jovens ela não reagiu às agressões. Ela, por sua vez, ao invés amaldiçoá-los, pegou aquelas batatas e as plantou.
Um ano depois, ela foi ao encontro de um daqueles jovens com dois cestos de batatas e disse: “Lembra-se de mim? No ano passado, você usou aquelas batatas para me agredir, pois olhe, aquelas batatas transformou-se nestes cestos cheios, agora são todas suas”. Do livro, “Primeiro a Erva, Depois a Espiga” de Christian Chen. Esse foi o resultado de alguém que experimentou a operação da Cruz. Aqui está o fruto de uma pessoa crucificada. Ela seguiu o curso do rio da vida, e a beleza de Cristo se manifestou através dela.
Como estamos reagindo quando somos agredidos, criticados e perseguidos? Se a Cruz for um fato real em nossas vidas, reagiremos de acordo o espírito da Cruz: Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós (Mateus 5:10-12).
Ao orarmos pedindo para que o nome do Senhor seja santificado e que a Sua vontade seja feita, primeiramente, precisamos saber que esta oração está inserida no contexto do primeiro discurso do nosso Senhor Jesus.
Encontramos em Mateus cinco discursos do Senhor Jesus. O primeiro discurso pronunciado por Jesus no monte fala do modo de vida dos filhos do reino. Isto é, o primeiro discurso fala da realidade do reino de Deus, o reino em oculto (capítulos 5,6,7).
O segundo discurso fala dos discípulos e o reino dos céus (capítulo 10). O terceiro discurso fala dos mistérios do reino dos céus (capítulo 13). O quarto discurso fala da Igreja e o reino dos céus (capítulos 16,18). O quinto discurso fala da manifestação do reino (capítulos 23,24,25),
Olhando para o contexto do primeiro discurso vemos quão difícil ou impossível é viver o modo de vida exposto por Jesus, caso não tivermos o espírito da Cruz. Isto porque tais princípios não fazem parte do velho homem, ao contrario, o denuncia.
Como reagiremos diante das injúrias, quando alguém fere a nossa face, quando somos forçados a fazer aquilo que não gostamos e quando alguém tira os nossos bens? Eu, porém, vos digo: não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra; e, ao que quer demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe também a capa.
Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas. Dá a quem te pede e não voltes as costas ao que deseja que lhe emprestes. Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem (Mateus 5:39-44).

Aqui está o verdadeiro espírito da Cruz na oração do Pai nosso. De que maneira o nome Senhor será santificado e a Sua vontade será cumprida aqui na terra? Quando o perseguido se alegrar, quando o ferido na face oferecer a outra.
Quando forçados a fazer aquilo que não gostamos, nos submeter. Quando odiados, amarmos o inimigo. É dessa maneira que santificaremos o nome do Senhor. Esse é um estilo de vida incomum, sobrenatural. Nosso fruto procede de Deus como providencia espiritual. Amém!

Soli Deo Gloria

sexta-feira, 13 de junho de 2014

O PESCADOR DE ALMAS



Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto. João 12:24.
Quando o Senhor nos pescou, Ele nos pescou pela Sua palavra. A palavra é a isca de Deus para pescar homens. Agora, aquele que foi capturado pelo Senhor, foi capturado para pescar outros peixes. Não pescamos para nós mesmos, mas para Cristo. O alvo do pescador é pescar o peixe, não pra si, mas para o Senhor.
Os discípulos do Senhor precisam saber: paraque foram salvos e de que maneira foram salvos. Este é o fundamento dos pescadores de homens. Os discípulos aprendem que eram pecadores e que o pecado os afastou de Deus. Mas, agora, foram reconciliados mediante a morte de Jesus.
Por causa do pecado o céu se fechou para nós. O pecado não só danificou o homem, como também o universo inteiro. O pecado não só nos separou de Deus, como também separou o céu da terra. As melhores filosofias jamais abrirão os céus para o homem entrar.
A mensagem a ser pregada é a mensagem que nos foi anunciada: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!” (João 1:29). Antes de nos tornamos pescadores de homens, devemos conhecer o Pescador e a mensagem a ser pregada. Muitos têm pressa para cumprir o Ide, mas fogem do chamado para vir: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me. Mateus 16:24.
Depois de irmos a Ele, a nossa vida por inteiro passa a ser o resultado de um milagre de substituição - da vida velha para uma Nova vida. Agora temos uma verdadeira historia para contar. A Cruz pôs fim na velha vida. A nossa historia antiga foi para a Cruz. Uma nova historia começou a ser escrita em nós.
O Espírito Santo bordará em cada filho de Deus a beleza de Cristo. Ele escreverá a biografia de Cristo em nossas vidas. Toda ligação com a vida do passado foi destruída na Cruz. “O escrito de dívida que era contra nós foi cancelado na Cruz”. (Rm 6:6 ;Col 3:9; 2 Cor 5:17) Agora, vamos contar para o mundo a história de Cristo, que vive em nós.
Não há necessidade de discussões acerca da lei ou de pontos teológicos. As discussões só afastam as pessoas. Filipe nos deixa um pequeno segredo de como evangelizar: Vem e vê. Filipe encontrou a Natanael e disse-lhe: Achamos aquele de quem Moisés escreveu na lei, e a quem se referiram os profetas: Jesus, o Nazareno, filho de José. Perguntou-lhe Natanael: De Nazaré pode sair alguma coisa boa? Respondeu-lhe Filipe: Vem e vê. Jo 1:45-46. Se alguém perguntasse para Filipe, qual era a sua teologia, ele diria “Não tenho; encontrei o Senhor”.
Antes a vida estava Neleagora, porém, esta Vida está em nós: A vida estava nele e a vida era a luz dos homens. João 1:4. A menos que tenhamos a Vida de Cristo, mesmo que tenhamos sido limpos dos pecados, estaremos vazios por dentro. A plenitude da salvação é que a Vida de Cristo esteja dentro de nós. “Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gálatas 2:19).
Na pescaria, o pescador sabe que qualquer movimento ou barulho só vai contribuir para afugentar os peixes. Então, o silêncio é a matéria prima para uma boa pescaria. O pescador também deve ser bastante discreto, o peixe foge ao perceber a presença de alguém.
Outro fator importante que o pescador precisa saber é a natureza de cada peixe, para poder usar a isca certa. O pescador de almas para o reino de Deus deve ter conhecimento de que, cada homem é possuidor de uma natureza pecaminosa, por isso, tem que buscar em Deus a Palavra certa para fisgá-lo.
Muitas vezes pregamos o Evangelho, mas nos projetamos na mensagem. Queremos pescar com as nossas estratégias, ou com a isca inadequada. Assim como na pescaria, o peixe, ao perceber a presença do pescador foge, do mesmo modo, o pecador, ao perceber a “presença” do pregador acaba fugindo. Quando o pescador se projeta, os peixes percebem, e vão embora.
É de suma importância que na pregação o mensageiro não apareça. Não é somente a mensagem que é importante, mas também o mensageiro. O mensageiro não tem historia própria para contar, a única historia que ele tem é a historia de Cristo.
Vida frutífera ou pescar almas para o reino de Deus, não será realidade se o “Vivo não mais eu, mas Cristo vive em mim” não for a realidade de nossa vida. Enquanto o pregador estiver pregando algo de si mesmo, não haverá frutos. Lembre-se da inutilidade das nossas obras. Precisamos ouvir o Senhor dizendo: Eu te ouvirei e cuidarei de ti; sou como o cipreste verde; de mim procede o teu fruto. Oséias 14:8. Ao ser levantado naquela Cruz, o Senhor Jesus atraiu todos os homens para Si. A Sua morte produziu muitos frutos. E, aquele que morreu em Cristo torna-se canal de vida para outros.
Assim como o Senhor produziu muitos frutos pela Sua morte, o princípio é o mesmo para aquele que quer produzir frutos: é necessário morrer. Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto. João 12:24.
A vida de Deus flui através de nós e flui do nosso interior. Tornamos-nos canais por onde o Espírito Santo nos usará para fluir a Vida de Cruz para aqueles que vivem ao nosso redor.
Esse fluir é algo muito natural; não é por meio de manobras, pelo tom de voz, pela eloquência discursiva, por doutrinas ou por conhecimento. Queremos dizer com tudo isto que esse fluir dispensa qualquer labor humano. Pelo contrário, tudo flui de maneira muito natural: Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva. João 7:38. Essa vida que flui de dentro de nós, nada mais é do que a Vida de Cristo.
Devemos, não apenas ter a experiência de morte com Cristo, mas, além disso, ter o espírito de Cruz operando em nosso viver diário. Isso significa que manifestamos no viver diário o Espírito do Senhor Jesus.
A Cruz que levamos diariamente, não só se aplica ao nosso viver diário, mas também, para que outros possam conhecê-la: Levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo. Porque nós, que vivemos, somos sempre entregues à morte por causa de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal. De modo que, em nós, opera a morte, mas, em vós, a vida. 2 Coríntios 4:10-12.
O que significa o processo de morte de Jesus? Significa a Cruz, isto é, tudo o que está envolvido no princípio da Cruz. A palavra de Deus diz que a morte opera em nós. Isto significa que o processo de morte de Jesus, é o princípio da Cruz que está se movendo dentro de nós.
Quando o Apóstolo Paulo diz aos crentes de Corinto: De modo que em nós opera a morte; mas em vós, a vida, ele está se referindo a ele mesmo e ao seu irmão Timóteo, os quais levavam sempre no corpo o morrer de Jesus (v 10), para que a Vida transbordasse a favor dos corintos. Assim, quando o princípio da Cruz está operando em nós ele, de alguma forma, se manifestará na vida de outras pessoas.O Espírito Santo estará trabalhando em nós, pela instrumentalidade da Cruz, como uma espada de dois gumes, cortando e separando o que é da alma e o que é do espírito.
A palavra “vida” nesse versículo é zoe, que na língua original significa a vida espiritual. É essa Vida que precisa fluir de cada um dos filhos de Deus.
É o espírito da Cruz que trabalhará mesmo quando insultados, perseguidos, abatidos, isto é, sob quaisquer circunstancias há um único propósito em tudo isto, forjar a imagem de Seu Filho, na vida dos Seus.
Sempre que a Cruz opera em nós, nos cortando, nos moendo e nos quebrando tem como finalidade nos curar. É neste processo que Deus estará nos curando do excesso de “gordura” de nossas almas. Gordura na Bíblia significa força natural.
Essa cura não está em nós mesmos. O fundamento da cura de todas as nossas dificuldades emocionais está baseada na obra consumada de Cristo. O Espírito Santo está aplicando em nós o princípio da Cruz para nos tornar “inativos”.
Inativos quanto à força que se origina na alma. Porque, mesmos depois de nascido de novo, descobriremos o quanto somos “fortes”, força essa que a chamamos de “força natural”, da alma que tenta viver a vida cristã.
Cada um de nós tem dons naturais. Alguns podem ter mais; outros menos. Após ter passado pela experiência de morte de Cruz, temos a tendência de confiar na força natural, ou nos valer dela para anunciar a Cruz que acabamos de experimentar.
O poder da manifestação da vida de Cristo em nós está na proporção do “quanto” somos fracos: Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte. 2 Coríntios 12:10.
Então, a parte que nos cabe para que a vida de Cristo se manifeste é “levar sempre” o morrer de Jesus. Na medida em que confessamos o nosso morrer em Jesus, a vida Dele fluirá naturalmente.
Por causa desse processo, a vida de Cristo se manifesta. Assim, podemos ver a vida ressurreta na vida dos filhos de Deus. Ele está sofrendo, está sendo moído, mas podemos ver Cristo em suas vidas.
Podemos ver o quanto Deus é gracioso. A vida de ressurreição está em seus filhos, e está sendo revelada através deles. Quando isto acontece, então outros serão abençoados. Quando nascemos de novo, não só a Cruz vai nos transformar à imagem de Cristo, mas também, o mundo “verá” Cristo em nós.
“De mim procede o teu fruto”. Podemos nos perguntar: É a vida de Cristo que está se manifestando ou, é a nossa própria vida? Se for a nossa vida, é a nós que as pessoas estarão vendo, e não Cristo.
Mas, se for a vida de Cristo que estiver se manifestando, Cristo será engrandecido e glorificado. É dessa forma que este mundo vai ser evangelizado: não somente pela pregação, mas também por meio do viver cristão. Vem e vêAmém.

Soli Deo Glória

quarta-feira, 11 de junho de 2014

CRISTIANISMO DENOREX. PARECE MAS NÃO É!

                                            
Ora, havia certo homem, chamado Simão, que ali praticava a arte mágica, iludindo o povo de Samaria, insinuando ser ele grande vulto; ao qual todos davam ouvidos, do menor ao maior, dizendo: Este é o poder de Deus, chamado o Grande Poder. Atos 8:9-10
Se fosse possível, na linha do tempo, aproximar momentos históricos distantes entre si, quantas atividades e realizações que hoje para nós não passam de banalidades, em outras épocas causariam espanto e admiração? Quantas coisas que hoje são comuns poderiam, em tempos passados, serem consideradas impossíveis e admitidas tão somente como milagres realizados por um ser divino ou, por alguém muito próximo da divindade?
Quanta perplexidade causaria no século primeiro uma simples lâmpada elétrica ou até mesmo um isqueiro, que hoje é comprado em qualquer botequim de esquina, cuspindo fogo e sustentando sua chama, sem que tenha nada visível para consumir e alimentá-lo? Tais coisas poderiam lembrar a sarça ardente da visão de Moisés, que mantinha o fogo sem se consumir.
Voltando um pouco mais no tempo, quanto assombro causaria Salomão aos seus visitantes se, em seu palácio, existisse um forno de microondas capaz de aquecer, cozinhar e até assar os alimentos, sem que para isto fosse necessário o fogo? Divinizado seria Salomão, com certeza. Milagre, diriam todos!
Como cidadãos do século vinte e um, comparando-nos com os povos que viviam no século primeiro, constatamos que certas coisas que para eles causavam espanto, sendo admitidas apenas pela imaginação ou como ações de Deus, hoje fazem parte do nosso cotidiano. Após séculos, o que para eles eram fenômenos inexplicáveis, para nós, não passam de banalidades que qualquer criança razoavelmente instruída saberá explicar a sua lógica e o seu mecanismo de funcionamento!
O que pode explicar todas essas diferenças? A resposta esta na árvore do conhecimento do bem e do mal, no conhecimento e no saber humano. Aquilo que não se podia explicar e nem realizar, tendo em vista a falta de conhecimento, hoje, a partir do conhecimento acumulado pela ciência é perfeitamente possível controlar e manipular. Nada de errado com o conhecimento ou com o saber, se isto é fruto da vida de Cristo, Em quem todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos. Colossenses 2:3.
O problema é quando o conhecimento e o saber resultam da busca humana por ser Deus. Envolto em boas intenções, o homem esconde o desejo real que está por detrás de sua busca, ou seja, servir como via para usurpar o lugar de Deus. O gênero humano caído segue a trilha de morte proposta pela serpente no Éden, de usurpar o lugar de Deus, através do conhecimento.Porque Deus sabe que no dia em dele comerdes se abrirão os vossos olhos e, como Deus, sereis CONHECEDORES do bem e do mal. Gênesis 3:5.
O incrível é perceber que muitos daqueles que deveriam ser testemunhas de Deus aos homens, avisando-os do perigo que se encontra nesta trilha, e das implicações que estão por detrás desta atitude, hoje, conscientemente ou inconscientemente, são na verdade, agentes da serpente, perpetuadores da tentação que diz: “Seja como Deus! usurpe seu lugar! Para tanto, basta saber”.
Para muitos cristãos, atualmente, tem sido ensinado que a vida cristã, ou a vida eterna, é uma questão de conhecimento e não de revelação. Os “mestres” que ensinam tais coisas são aqueles que fecham o reino de Deus a qualquer pessoa sem um título de pós ou posses. Os candidatos têm que saber pelo menos um pouco de quadrado semiótico, pois, sem o MBI da religião, jamais poderão ser plenos. Insinuam com isto, que a causa de suas vidas fracassadas está no fato de não saberem o bem e nem o mal, o certo e o errado, e não na sua incredulidade na palavra de Deus.
Isto não é novo, já nos tempos de Jesus este pensamento vigorava. Os religiosos eruditos costumavam rejeitar as pessoas menos instruídas, chamando-as de plebe maldita. Por isso, quando o cego de nascença expôs aquilo que tinha vivido, coisas que ele não conseguia explicar, mas podia testemunhar dizendo: “Eu era cego agora vejo”, o injuriaram.
Diante do testemunho do cego, o saber só serviu para uma coisa: inchar ainda mais os sábios religiosos do sinédrio. A resposta deles é cheia de soberba e desprezo, diante do testemunho da vida. Tu és nascido todo em pecado e nos ensina a nós? E o expulsaram. João 9:34.
Como é difícil para a religião crer na resposta simples, que tem como chão a Rocha que é a palavra de Deus! Parece que tudo tem que ter uma explicação, que no fundo, servirá para o controle do homem sobre o processo e seu comercio, além de promover a exaltação humana e, ao mesmo tempo, negar Deus. Isto é a evidência de um espírito humanista, que quer fazer do homem o centro, que pretende fazer do homem um deus.
Diante de uma explicação simples como: “Eu era torto agora sou reto”, sustentada simplesmente na graça de Deus e na fé, ou seja, pelo milagre da vida de Deus atuando em alguém - algo que não tem explicação e que só pode ser recebido por fé - a religião humanista manifesta desprezo.
A religião expulsa os que ousam dizer: “a minha vida mudou porque eu fui alvo da bondade e da graça divina”. É mal visto, todo aquele que atribui a Deus e somente a Deus, o milagre de uma vida que dá testemunho de Deus, pelo simples fato que está implícito neste testemunho: “só a Deus glória”.
Para o ser humano caído, que não experimentou a obra do novo nascimento, é inadmissível o fato de não ter glória nenhuma em si mesmo. Olhar para alguém que não merecia e nem sabia como obter o favor divino, e vê-lo testemunhando de Deus como um milagre irrefutável é algo que o homem natural repudia. Pois, para admitir tal coisa teria que abrir mão de si mesmo e reconhecer a verdade de Deus que diz: Não há um justo, nenhum sequer. Não há ninguém que entenda; não a ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nenhum só. Romanos 3:10-12.
Mais uma vez quero reiterar que o problema não está no saber, e sim em fazer do saber um meio para a plenitude: “Cristo é tudo em todos”. A Bíblia nos ensina que: Nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade. E recebestes esta plenitude Nele. Colossenses 2:9-10. Quando agimos assim, tentamos fazer do conhecimento um meio capaz de proporcionar ao homem, o poder de determinar os rumos da vida e, assim, negando a Cristo.
Esta mentalidade leva em conta que um ladrão pode deixar de roubar, pelo simples fato de ter feito um curso no qual aprendeu os malefícios do ato de roubar e sobre os danos que isso causa à sua reputação. O problema não é de conhecimento e nem a falta dele, mas sim, a cobiça e a avareza, próprias do velho homem, que só a cruz põe fim.
Neste espírito, e inspirado pelo Espírito, Paulo também nos deixou escrito na carta aos gálatas que o saber religioso das práticas corretas, representado pela circuncisão, e nem a ausência desta, representado pela incircuncisão, tem valor algum. O importante é a experiência de fé de estar unido a Cristo e, as implicações deste fato, que culmina no novo ser, como está escrito: Porque, em Cristo Jesus, nem a circuncisão nem a incircuncisão tem valor algum, mais sim o ser uma nova criatura. Gálatas 6:15.
Esta fala vem em decorrência do enunciado exposto por Paulo no versículo anterior, o qual, expressa qual deve ser a relação do crente, por fé, com toda esta estrutura mundana que quer fazer do homem um ser independente e autossuficiente, tendo como alimento principal em sua dieta anticristo: os frutos da árvore do conhecimento do bem e do mal, quando escreve: Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo esta crucificado para mim e eu, para o mundo. Gálatas 6:14.
Quanta diferença entre aquilo que só Deus poderia fazer, e que hoje qualquer criança pode? Como a simples passagem do tempo, pode transformar um milagre em banalidade? Hoje, para o mundo como sistema, e para homem degradado pelo pecado e governado pelo egoísmo e que não se contenta com nada menos que o trono de Deus, para este homem, Deus foi infantilizado. Para ele, Deus não passa de um menino diante de suas pretensões soberbas.
Hoje, sem nos darmos conta, é assim que muitos agem na vida cristã. Buscando um conhecimento para imitar a obra de Deus em suas vidas, tendo como origem a capacidade e a sabedoria humana, como fizeram Janes e Jambres diante de Moisés, ou como pensou poder fazer Simão, diante de Pedro e João. Agindo assim, não só promovem a farsa como também impedem as pessoas de experimentarem o milagre do dom de Deus sendo, inexplicavelmente, manifestado em suas vidas pela ação sobrenatural de Deus.
O homem pode imitar a prática Cristã, mas, vida de Cristo, só Cristo pode manifestar. E isto só acontece de modo sobrenatural quando, pela fé, eu entendo que de fato, estou morto, e levo isto em todo tempo e em todo lugar, de modo que não viva mais eu, mas Cristo viva em mim. Levando sempre e por todo lugar o morrer do Senhor Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossos corpos. 2 Coríntios 4:10.
Que Deus nos livre de confiar na carne, posto que:Todos os que querem mostrar boa aparência na carne, esses vos obrigam a circuncidar-vos, somente para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo. Gálatas 6:12. Que isto esteja longe de nós, e que nossa glória esteja na cruz de Cristo.

Soli Deo Gloria