sábado, 27 de outubro de 2012

A ESPERANÇA DOS QUE FORAM JUSTIFICADOS

Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo. Romanos 5:1.
O monge beneditino Anselm Grün escreveu: “Há muitas pessoas que buscam por uma espiritualidade que responda a suas aspirações mais profundas. Dentre os muitos caminhos espirituais questiona-se, na maioria das vezes, nossa ação. Como podemos nos abrir para Deus? Dificilmente se fala do agir de Deus em nós. É por isso que muitas pessoas, movidas pela busca espiritual, têm dificuldades de compreender a ideia de que fomos redimidos por Jesus Cristo. Elas se perguntam sobre o que poderá nos transformar hoje, mas não perguntam sobre o que fez Deus por nós em Jesus Cristo, no passado. As pessoas procuram por toda parte pontos de auxílio que as ajudem a viver. Percebem mais do que nunca ofertas psicológicas, ou procuram nas religiões orientais por técnicas que permitam viver de forma mais feliz e satisfeita. Muitos são os que não encontram qualquer caminho de redenção no cristianismo, não ouvem a mensagem redentora e libertadora de Jesus a partir do anúncio e da práxis cristã”.
Em seu caminho para o transcendente, as pessoas utilizam a mesma técnica de suas vidas atribuladas. O que posso fazer para estar mais próximo de Deus? Perguntam elas. Por esta razão que a mensagem da obra redentora de Jesus Cristo na cruz do calvário é tão essencial, não só para o homem natural, sem Deus, mas também para aquele que se diz cristão. Na verdade, o que o homem deveria fazer é crer que Deus já o redimiu, através do Filho, na cruz.Paulo assim afirma: Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas; justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos (e sobre todos) os que creem; porque não há distinção, pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus. Romanos 3:21-24.
A redenção de Cristo é importante porque tornou possível nossa justificação. É nela que a justiça de Cristo nos é imputada, a nós pecadores indignos, e toda nossa culpa pelo pecado é perdoada. Precisamos compreender que Deus, por sua infinita graça, nos declara e nos considera justos não porque somos merecedores, em razão da prática de boas obras ou por termos fé, mas única e exclusivamente em virtude do amor que Deus nutre por nós, mesmo ainda pecadores, manifestado no sacrifício de Cristo em nosso favor. Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores. Romanos 5:8.
Mas o homem ignora este fato e busca a “sua” própria redenção em lugares, práticas e crenças que jamais poderão redimi-lo. E quanto mais ele procura, mais necessidade tem, pois não há nada neste mundo que irá satisfazer plenamente o vazio da alma. Jesus nos alertou quanto a nossa ignorância da Palavra de Deus: Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus. Mateus 22:29.
Ao invés de buscar as bênçãos, deveríamos prestar mais atenção em nossa posição diante de Deus. Não se trata do que podemos fazer para nos aproximarmos de Deus, ou o que fazer para sermos “mais espirituais”, e, assim, alcançarmos Suas benesses. Em primeiro lugar, o que você e eu precisamos saber é que nos encontramos em uma posição de total inimizade com Deus, por causa do pecado (do primeiro homem Adão). Não podemos receber nada de Deus nesta posição de separados dEle. É nesta hora que a redenção de Cristo faz toda a diferença, pois quando somos justificados, somos reconciliados com Deus.
Muito daquilo que almejamos de bom para nossas vidas, somente alcançaremos, genuinamente, se crermos, pela fé, nesta redenção que há em Cristo Jesus. Por isto é tão importante saber o que Deus já fez por nós. E o que Ele já fez por nós, mediante o seu Filho, gera consequências práticas imediatas e eternas em nossas vidas.
Paulo assinala algumas dessas consequências práticas na vida daqueles que foram justificados mediante a fé: Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo; por meio de quem obtivemos acesso pela fé a esta graça na qual agora estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de Deus. Não só isso, mas também nos gloriamos nas tribulações, porque sabemos que a tribulação produz perseverança; a perseverança, um caráter aprovado; e o caráter aprovado, esperança. Romanos 5:1-4 (versão NVI).
A primeira e mais importante consequência: “paz com Deus”. É porque fomos (passado) justificados pela fé, por nosso Senhor Jesus Cristo, que temos “paz com Deus”. Portanto, a primeira lição que aprendemos é a de que tudo o que podemos receber de Deus, o recebemos por intermédio de Jesus Cristo. E a nossa reconciliação com Deus é o maior presente que poderíamos receber do Pai, por meio do Filho. A reconciliação é algo que Deus já efetuou mediante a morte de Cristo.
Por aqui, também se depreende uma outra grande confusão na qual incorremos com relação a esta questão da “paz”. Muitas pessoas buscam uma “paz interior” ou a paz “de” Deus para suas vidas, mas não sabem que, antes, precisam estar em paz “com” Deus. Somente tem a paz “de” Deus, quem está em paz “com” Deus.
E esta paz é fruto de nossa justificação pela fé, e não fruto de alguma ação de nossa parte em direção a Deus. Quem tem a paz “com” Deus, pode receber a paz “de” Deus, que trata Paulo na carta aos Filipenses: Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus. Filipenses 4:6-7 (versão NVI).
O Dr. Martyn Lloyd-Jones apresenta seis aspectos práticos, através dos quais podemos analisar se estamos gozando ou não desta paz com Deus: a)- aquele que tem paz com Deus é alguém cuja mente está em repouso quanto à sua relação com Deus; b)- aquele que tem paz com Deus é alguém que sabe que Deus o ama, a despeito do fato de que é pecador; c)- aquele que tem paz com Deus é alguém que pode responder às acusações da sua própria consciência; d)- aquele que tem paz com Deus é alguém que pode responder às acusações do diabo; e)- aquele que tem paz com Deus é alguém que deixa de ter medo da morte; e, f)- aquele que tem paz com Deus, mesmo quando cai em pecado, pode fazer tudo o que foi descrito anteriormente.
A segunda consequência de nossa justificação pela fé: “obtivemos acesso pela fé a esta graça na qual agora estamos firmes”. É por meio de Cristo que temos agora acesso à graça de Deus, a qual nos mantém firmes. Antes de sermos justificados, estávamos debaixo da ira de Deus (Romanos 1:18) e éramos tidos como rebeldes. Agora, justificados, Deus nos considera como filhos, como herdeiros (Romanos 5:9). Saber que Deus já nos aceitou em Cristo, apesar de nossos pecados, independentemente do que fazemos ou deixamos de fazer, só pode ser compreendido por meio da graça.
Tudo o que recebemos de Deus é absolutamente imerecido. Graça é algo que resulta do exercício do amor espontâneo de Deus por nós. Além de termos acesso a esta graça, é nela que somos firmados. Nossa segurança está na certeza da graça de Deus e não nas circunstâncias que envolvem nossa vida. É por isto que não devemos ficar ansiosos pelo dia de amanhã (Mateus 6:31/34). Não é pelo nosso mérito que Deus nos trata como filhos.
A terceira consequência de nossa justificação pela fé: “nos gloriamos na esperança da glória de Deus e nas tribulações”. Gloriar-se significa alegrar-se. Aquele que foi justificado pela fé pode agora alegrar-se na esperança de que, um dia, estará na presença gloriosa de Deus, vendo-o face a face. Também pode agora alegrar-se nas próprias provações e dificuldades da vida, pois sabe que elas têm um propósito divino para aquele que foi justificado.
Erroneamente, muitos acham que o oposto de sofrimento é graça, ou seja, se uma pessoa está sofrendo, é porque não está na graça. O oposto de graça é mérito. O sofrimento faz parte da vida de quem foi justificado, ou seja, de quem é filho de Deus. Aliás, se analisarmos cada um dos personagens bíblicos, veremos que todos eles foram servos sofredores.
Se você não quer sofrimento em sua vida, você ainda não entendeu o que é o Evangelho de Jesus Cristo. Evangelho é tratamento de Deus para um paciente chamado pecador, e não um anestésico ou alguma droga alucinógena. Paulo escreveu o seguinte aos cristãos de Corinto: Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação. 2 Coríntios 4:17. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte. 2 Coríntios 12:10. E aos de Filipos: pois a vocês foi dado o privilégio de não apenas crer em Cristo, mas também de sofrer por ele. Filipenses 1:29 (versão NVI).
E por que gloriar-se nas tribulações? Porque “sabemos que a tribulação produz perseverança; a perseverança, um caráter aprovado; e o caráter aprovado, esperança”. A tribulação, para aquele que foi justificado, não representa um ônus, mas a certeza do agir de Deus em sua vida. É na tribulação que podemos enxergar a nossa verdadeira condição de falidos.
Longe de atuarem contra a nossa esperança, as tribulações a promovem. Dentro do método de Deus, as dificuldades produzem resistência, a resistência produz caráter, e o caráter produz esperança. Que esperança é esta? Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisa do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor. Romanos 8:38-39.
A mesma esperança do profeta Habacuque: Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja gado, todavia, eu me alegro no SENHOR, exulto no Deus da minha salvação. Habacuque 3:17-18.
Lembre-se, o caminho para a verdadeira espiritualidade não precisa ser construído por nós, porque já nos foi dado por Deus, na redenção de Cristo Jesus. E uma vez justificados, gratuitamente, estamos em paz com Ele e temos alegria, até mesmo nas provações, pois elas vão produzir esperança. Portanto, procure enxergar sua vida com os olhos espirituais da fé recebidos em Cristo Jesus. Graças a Deus pelas tribulações, pois elas são prova do amor do Pai por nós e atestam que Ele está agindo em nossas vidas!
 
Solo Deo Glória.

sábado, 20 de outubro de 2012

A ILUMINAÇÃO DE NATAL

O povo que andava em trevas viu uma grande luz, e sobre os que habitavam na região da sombra da morte resplandeceu a luz. Isaías 9.2
A Bíblia diz que Deus é luz, e não há nele treva nenhuma. 1 João 1:5. Não há escuridão, por mais densa que seja, capaz de ofuscar a luz de uma simples candeia. Deus é luz em sua plenitude, e quando Ele criou o mundo, a primeira coisa que Ele manifestou foi a luz. E disse Deus: Haja luz. E houve luz. Gênesis 1:3. A energia da luz é a base de toda a criação. A matéria é energia condensada, e a luz é a fonte de toda energia. A luz vai além da visibilidade; sendo o raio X também luz, ultrapassa ao campo ocular. Deus criou a luz antes de criar os astros, pois da concentração da energia luminsosa, Deus criou os corpos celestes que resplandecem no firmamento. A luz do sol é uma das expressões luminosas que existe no universo. Há luz que é perceptível e há luz inatingível. Deus é o único poderoso Senhor, Rei dos reis e Senhor dos senhores; aquele que tem, Ele só, a imortalidade e habita na luz inacessível, a quem nenhum dos homens viu nem pode ver; ao qual seja honra e poder sempiterno. Amém. 1 Timóteo 6:15-16.

Jesus é a verdadeira luz que veio ao mundo para iluminar a todos os homens. Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens; e a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam. João 1:4-5. Jesus é a luz que resplandece nas trevas a fim de trazer iluminação perfeita aos corações de todos os homens. A luz mostra toda sujeira e desvenda qualquer imperfeição. Da luz apenas fogem os escaravelhos, os ladrões e os ignorantes. E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal aborrece a luz e não vem para a luz para que as suas obras não sejam reprovadas. Mas quem pratica a verdade vem para luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus. João 3:19-21. Jesus é apresentado no Velho Testamento como o sol que ilumina o dia. Ele é chamado de sol da justiça. Mas para vós que temeis o meu nome nascerá o sol da justiça e salvação trará debaixo das suas asas; e saireis e crescereis como os bezerros do cevadouro. Malaquias 4:2. Ele é a luz do mundo que permite a iluminação dos corações mais sombrios. Ele é a luz da vida que produz o calor nas almas mais geladas. Somente por Ele podemos perceber o caminho que devemos seguir. Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo. João 9:5.

A igreja primitiva enfatizava muito claramente a importância de Jesus como a única luz capaz de iluminar a vida dos homens. Mas, insidiosamente uma outra mensagem foi se incorporando no seio da igreja como uma cilada. Sem perceber o ardil, vagarosamente a idolatria da Babilônia foi tomando corpo no meio da igreja. A adoração ao deus sol chegou de modo astucioso na celebração do Natal. Nada mais justo do que relacionar o Sol da justiça, que no monte da transfiguração teve o seu rosto resplandescente como o sol, com a estrela solar adorada na mitologia. Assim, Jesus Cristo foi comparado como o sol e identificado com o deus mitológico. O dia 25 de dezembro comemorado como a festa que celebrava o solstício de inverno, o renascimento do sol, quando, no hemisfério norte do globo terrestre, os dias começam a tornar-se mais longos. Quando o sol começa a prover mais calor, a agricultura torna-se possível. Luz é vida. Por conseguinte, talvez tenha sido próprio para o império romano substituir a festa pagã por uma celebração que tinha mais sentido para os cristãos do que a celebração das meras forças da natureza. Foi dentro deste contexto político e mitológico que a festa pagã da adoração ao sol foi implantada no coração da igreja com todas as suas representações. Durante aquelas festividades pagãs fogueiras eram acesas em homangem ao deus sol e permaneciam queimando por alguns dias. Durante este período as pessoas comiam e bebiam fartamente para tentar exorcizar a tristeza provocada pela ausência de luminosidade. As fogueiras natalinas foram mantidas por muitos anos no perímetro da igreja romana. Depois as velas foram tomando conta do cenário e mais recentemente as lâmpadas elétricas assumem o fascínio do embelezamento natalino. Só que pouca gente sabe que estas luzes que exercem tanto encantamento no espírito de Natal é uma representação moderna de uma antiga adoração ao deus sol. Sendo a luz algo cativante, a sedução de sua magia vem logo nos distrair da verdadeira luz que é Cristo.

A adoração ao sol é uma das mais antigas formas de misticismo, que a Bíblia condena veementemente. Quando no meio de ti, em alguma das tuas portas que te dá o Senhor teu Deus, se achar algum homem ou mulher que fizer mal aos olhos do Senhor teu Deus, traspassando o seu concerto, que for, e servir a outros deuses, e se encurvar a eles, ou ao sol, ou à lua, ou a todo o exército do céu, o que eu não ordenei, ... então levarás o homem ou a mulher que fez este malefício às tuas portas, sim, o tal homem ou mulher, e os apedrejarás com pedras até que morram. Deuteronômio 17:2-5. A essência da idolatria está em ter pensamentos indignos acerca de Deus. Tornar Deus como um objeto é uma afronta ao seu caráter. Fazer o Criador semelhante a uma criatura é algo ofensivo e indigno de um ser pensante. Um deus fabricado não é Deus.

Jesus Cristo é a encarnação de Deus ao nível do homem, mas não é um deus criado pelo homem. Ele é o Criador encarnado e não uma criatura divinizada. Jesus Cristo não pode ser entendido adequadamente em termos de qualquer categoria aplicável ao homem. Ele é por si mesmo, uma categoria. Ele não é apenas grande; é o único. Ele não pode ser comparado com nenhuma criatura. Ele é singular. Thomas Brooks dizia: Cristo é admirável, Cristo é muito admirável, Cristo é o mais admirável, Cristo é sempre admirável, Cristo é totalmente admirável. Ele não pode ser equiparado a qualquer outro, nem é análogo a nenhum símbolo que possamos confrontar. Ele é a Luz, que a luz se ofusca. Ele é o Sol, que o sol se apaga. Ele é a Vida, que a vida fenece. Ele é incomparável, extraordinário, invulgar, único, singular, insigne, admirável e só Ele merece o nosso reconhecimento, respeito e adoração.

Jesus é a Luz que não carece de iluminação. Ele brilha nos nossos corações com o fulgor resplandecente capaz de enceguecer. E indo Paulo no caminho, aconteceu que, chegando perto de Damasco, subitamente o cercou um resplendor de luz do céu. E, caindo em terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? E ele disse: Quem és, Senhor? E disso o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Atos 9:3-5. O apóstolo Paulo ficou três dias sem ver nada, e alguns anos mais tarde quando ele falava perante o rei Agripa disse: Ao meio dia, ó rei, vi no caminho uma luz do céu, que excedia o esplendor do sol, cuja claridade me envolveu a mim e aos que iam comigo. Atos 26:13. Jesus é a luz que não precisa de fogueira, nem de vela, nem de pisca-pisca ou qualquer outro material incandescente.

Todos estes expedientes humanísticos têm servido para distrair os olhos de contemplarem a beleza da luz interior refletida pelo caráter singular de Cristo. Contudo, o risco deste procedimento fica muito definido nas palavras do profeta: Mas todos vós que acendeis fogo, e vos cingis com tições acesos, andai entre as labaredas do vosso fogo, e entre os tições que acendestes. Isto é o que recebereis da minhão mão: Em tormentos jazereis. Isaías 50:11. Tirar os olhos da verdadeira luz para contemplar os vaga-lumes representativos da idolatria solar pode ser um prejuízo irreparável no caminho da vida cristã. Jesus é a única luz que nos pode iluminar e atrair. A Bíblia mostra que na Nova Jerusalém não há qualquer forma de iluminação pois o Cordeiro é a sua luz. E a cidade não necessita de sol nem de lua, para que nela resplandeçam, porque a glória de Deus a tem alumiado, e o Cordeiro é a sua lâmpada. E as nações andarão à sua luz; e os reis da terra trarão para ela a sua glória e honra. E ali não haverá mais noite, e não necessitarão de lâmpada nem de luz do sol, porque o Senhor Deus os alumia; e reinarão para todo o sempre. Apocalipse 21:23-24 e 22:5. Assim, podemos dizer que em qualquer tempo e para todos os tempos a verdadeira luz do Natal e do Reino eterno é Cristo. As luzes que enfeitam as nossas cidades são apenas efeitos visuais que causam um êxtase momentâneo. Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito. Provérbios 4:18.
 
 
Solo Deo Glória.

O CHAMADO DE ABRAÃO

“Ora, disse o Senhor a Abraão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma benção! Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra.” Gênesis 12.1-3
Wilbert Shenk, professor de cultura contemporânea do Seminário Teológico Fuller, escreveu que “vida, liberdade e busca de felicidade” tornaram-se marcas da cultura moderna. Comentando sobre a cultura ocidental, ele observa que é uma cultura pressionada pela busca de auto-estima, e que a tentação de “ser como Deus” assumiu na cultura moderna a forma de fazer de si próprio o alvo. No que se refere a sociedade brasileira, segundo Rubem Amorese, consultor legislativo do Senado Federal do Brasil e secretário nacional da Associação Evangélica Brasileira, a ética brasileira desenvolveu traços em que as pessoas não querem fazer sacrifício algum, e nem mesmo serem disciplinadas. Vantagens, jeitinho brasileiro, prestigio e poder são valores que caracterizam o caráter do brasileiro. A Igreja de nossos dias tem espelhado a sociedade na qual está inserida. Vivemos em uma sociedade hedonista e narcisista. A tendência cultural é valorizar o prazer, a realização pessoal e o sucesso a qualquer custo. A Igreja nem sempre tem discernido o seu cativeiro cultural e, muitas vezes, tem reproduzido valores incompatíveis com os princípios divinos. Tal como o povo de Israel, no cativeiro, incorporava os valores da nação dominante, também a Igreja tem recebido o impacto da cultura moderna sobre o seu pensamento e a sua prática. Poucos dias atrás um missionário, após ter relatado as experiências e os desafios do trabalho entre os indígenas, foi abordado por um crente com a seguinte afirmação. “Para fazer tudo isso, é porque você é um herói”. O missionário humildemente balançou a cabeça de um lado para o outro e respondeu: “Eu, herói? Não! Sou apenas obediente.” Este acontecimento revela compreensões distintas sobre o chamado de Deus em Cristo para o seu povo. Ao escrever à igreja de Èfeso, o apóstolo Paulo expressa o seu anseio em ver a Igreja compreendendo qual é “ a esperança da vocação de Deus e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos”. Ef. 1.15-22. Pois o apostolo Paulo sabia que uma compreensão equivocada do chamado da Igreja, implicaria em um sério comprometimento no“andar como é digno” de sua vocação.
“A esperança do Seu chamamento” é o maravilhoso propósito de Deus para todos os santos, tanto individual como corporativamente. No livro de Gênesis, capítulo 12, encontramos Deus chamando Abraão dentre os habitantes de Ur dos Caldeus para participar do Seu propósito eterno em relação à humanidade. Um olhar mais atento sobre a fidelidade e a graça de Deus chamando Abraão, com certeza nos ajuda a redefinir a nossa compreensão e a nossa resposta ao chamado de Deus. A Bíblia apresenta Abraão como um exemplo do que a graça pode fazer, e de como atua silenciosamente, de dentro para fora, infundindo fé na alma humana e a desenvolvendo em meio aos embates da vida. Em Gênesis capitulo 12 encontramos o que se chama de Aliança Abraâmica. Ela está ligada ao plano redentor apresentado em Gênesis 3.15. O Redentor deveria vir do descendente da mulher, depois dos descendentes de Sete, de Noé e agora de Abraão. Aproximadamente um quarto do livro de Gênesis é devotado à vida deste homem. São feitas mais de 40 referências a Abraão no Velho Testamento. O Novo Testamento de forma nenhuma diminui a importância da vida e do caráter de Abraão. Há aproximadamente 75 referências a ele no Novo Testamento. Paulo escolheu Abraão como o melhor exemplo do homem que é justificado diante de Deus pela fé e não pelas obras (Romanos 4). Já o escritor aos Hebreus aponta Abraão como exemplo de um homem que andava pela fé, dedicando mais espaço a ele do que a qualquer outro indivíduo no capítulo onze (Hebreus 11:8-19).
Nas férteis terras da Mesopotâmia havia uma bela cidade. Era a cidade capital de nome Ur, também conhecida como “Ur dos Caldeus”. A sua população vivia mergulhada em idolatria. Em Ur estava o santuário à deusa lua. Seus sacerdotes guardavam o templo, observando cuidadosamente o movimento das estrelas. Também o sol e as estrelas eram adorados, num sistema politeísta dos mais desenvolvidos. Ur era um lugar cheio de ídolos, alguns estudos indicam que, no tempo de Abraão, existiam, no mínimo, 2000 tipos de ídolos. Foi neste ambiente que nasceu e cresceu Abrão. Possivelmente o próprio pai de Abrão era fabricante de ídolos. Josué, em suas palavras no final de sua vida, nos dá uma compreensão melhor do caráter de Terá, pai de Abrão.Então, disse Josué a todo o povo: Assim diz o Senhor, Deus de Israel: Antigamente, vossos pais, Terá, pai de Abraão e de Naor, habitaram dalém do Eufrates e serviram a outros deuses.” Josué 24.2 Durante mais de 70 anos Abrão viveu no meio pagão, uma vida como a de qualquer outro. Até o dia em que viu e ouviu o Deus Altíssimo. “Ora, disse o Senhor a Abrão: “Sai da tua terra, e da tua parentela, e da casa de teu pai e vem para a terra que eu te mostrar. E eu farei de ti um grande povo, e te abençoarei, e engrandecerei o teu nome, e serás bendito. Abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as nações da Terra” (Gen. 12,1-3).
Abrão era mais um na multidão, um anônimo para o mundo. Todavia a Graça de Deus o alcançou. Não é de se estranhar que Deus ordenasse a Abrão para deixar a sua terra, a sua parentela e a casa de seus pais (Gênesis 12:1)! Era preciso romper o cordão umbilical com qualquer mentalidade corrompida pela ausência de Deus. Assim também é conosco. Antes de conhecermos o verdadeiro Deus, podíamos buscar consolo, sentido e proteção em muitas outras coisas ou pessoas - ídolos de nossa devoção. Porém, quando nos é revelado a Glória de Deus no rosto de Jesus, o Espírito Santo inicia um processo de iconoclastia em nosso viver, fazendo com que nada possa receber maior devoção do que o Senhor Jesus Cristo.
O chamado de Deus envolve renúncia. Muitas vezes significa ser desalojado da zona de conforto, deixar a estabilidade e a segurança, para trilhar o caminho da fé onde a provisão e o cuidado vêm direto das mãos de Deus. A partir de relatos paralelos de Gênesis 12 podemos concluir que Abrão teve dificuldades em obedecer prontamente o chamado divino. De acordo com o descrição de Estevão, o primeiro mártir cristão, Abrão teve uma visão celestial.“O Deus da glória apareceu a nosso pai Abraão, estando na Mesopotâmia, antes de habitar em Harã, e disse-lhe: Sai da tua terra e de entre a tua parentela, e dirige-te á terra que eu te mostrar. Então saiu da terra dos caldeus, e habitou em Harã. E dali, depois que seu pai faleceu, Deus o trouxe para esta terra em que habitais agora”. Atos 7.2-4.
O resultado desta comunicação é apresentado em Gênesis capitulo 11.31. “E tomou Terá a Abrão seu filho, e a Lo filho de Harã, filho do seu filho, e a Sarai sua nora, mulher de seu filho Abrão, e saiu com eles de Ur dos Caldeus, para ir à terra de Canaã; e vieram até Harã e habitaram ali... e morreu Terá em Harã.” Podemos concluir que os laços de família impediram a resposta plena da alma de Abraão à chamada de Deus. Embora chamado para Canaã, contudo, demora-se em Harã, até que os laços da natureza sejam quebrados pela morte. Depois disso é que toma o seu caminho para o lugar que Deus o convocara. Isto é cheio de significação. As influências da natureza são sempre hostis à plena realização do poder prático da “chamada de Deus”. É necessário muita simplicidade e integridade de fé para obedecer o Senhor prontamente.
Abraão somente se pôs a caminho depois da morte de seu pai. Foi a morte que quebrou o laço pelo qual a natureza o prendia à terra de Harã. Do mesmo modo, no nosso caso, foi a morte de Cristo que operou a nossa separação deste mundo. “... o qual se entregou a si mesmo pelos nossos pecados, para nos desarraigar deste mundo perverso.” Gálatas 1.4 Portanto, devemos compreender a verdade que, a morte de Jesus significou a nossa morte e que a sua ressurreição é a nossa vivificação. O Filho de Deus suspenso na cruz, entre o céu e a terra, foi a forma que Deus usou para atrair os pecadores para Si mesmo, removendo o pecado e os colocando dentro dos seus propósitos eternos. Jesus crucificado é a maior benção de Deus para os pecadores.
O chamado de Deus em Cristo inicia com a cruz e continua sob a cruz. Segundo C. H. Mackintosh, a cruz é a base de nossa adoração e a base do nosso discipulado, da nossa paz e do nosso testemunho, da nossa afinidade com Deus, e da nossa relação com o Mundo. A Cruz de Cristo está presente nas duas grandes fases fundamentais do supremo chamado. A primeira fase é a obra da cruz, a qual estabelece a paz com Deus. Pela cruz Deus tratou com o pecado de tal maneira que Se glorifica a Si Próprio, infinitamente. Nesta primeira fase da vida cristã, a cruz aparece como o fundamento da paz do pecador, a base de sua adoração, e do seu eterno parentesco com Deus.
Na segunda fase, a cruz aparece como base de nosso discipulado prático e testemunho. Tão perfeita como o primeiro momento, a mesma cruz que me liga com Deus separou-me do mundo. Um homem morto está morto para o mundo, porém, ressuscitado com Cristo, está ligado com Deus no poder de uma nova vida, uma nova natureza. As duas coisas andam juntas. A primeira faz dele um adorador e cidadão do céu, a segunda torna-o uma testemunha e um estrangeiro na terra. A cruz opera a separação entre mim e os meus pecados, e também opera separação do mesmo modo entre mim e o mundo. O apostolo Paulo dizia que a sua glória repousava somente “... na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo” Gálatas 6.14 Como seria diferente se todos os cristãos compreendessem o poder prático destes dois aspectos da cruz de Cristo.
Andar pelo caminho da fé foi um aprendizado para Abraão . Não sabemos por quanto tempo Abraão se demorou em Harã, mas sabemos que Deus esperou pacientemente pelo seu servo. Deus queria aperfeiçoar a fé de Abraão e não poderia fazer isto se não lhe desse liberdade para ele fracassar. C.H. Mackintosh escreveu. Deus nunca nos arrastará ao longo do caminho do verdadeiro discipulado. Isto não estaria de conformidade com a excelência moral que caracteriza todos os caminhos de Deus. Ele não nos arrasta, mas atrai-nos ao longo do caminho que conduz á bem-aventurança inefável nEle Próprio”.
Nós normalmente calculamos os sacrifícios, impedimentos, e as dificuldades em vez de corrermos ao longo do caminho, com alegria e vivacidade de alma, como aqueles que conhecem e amam Aquele cujo chamado tocou os seus corações. Existe verdadeira benção para a alma em cada ato de obediência, pois a obediência é o fruto da fé, e a fé liga-nos a Deus e leva-nos a uma comunhão viva com Ele. A fé à qual somos chamados não é uma fé em um projeto, mas numa Pessoa. “ Pela fé, Abraão, quando chamado obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança; e partiu sem saber onde ia” Hebreus 11.8.Mas, o que é viver pela fé? Viver pela fé é saber onde começa a jornada , mas não onde termina. Ter que depender de Deus a cada passo e a cada momento. Abraão andou por fé e não por vista.
Deus prometeu a Abraão uma terra, uma grande nação através dos seus descendentes e uma bênção que alcançaria todas as nações da terra (12.2,3). “... em ti serão benditas todas as famílias da terra”. Essa é a maior de todas as promessas dadas a Abraão porque diz respeito ao Senhor Jesus Cristo. Deus estava prometendo que um dos descendentes de Abraão seria o Messias, e que todas as famílias de todas as nações seriam abençoadas através do seu descendente. O Novo Testamento ensina claramente que a última parte dessa promessa cumpre-se hoje na proclamação missionária do evangelho de Cristo. “Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abraão: Em ti serão abençoados todos os povos.” Gl 3.8.

Além disso, o chamado de Abraão envolvia não somente uma pátria terrestre, mas principalmente uma celestial. Sua visão do Deus da Glória fez com que enxergasse as coisas da terra como mera ilusões. “Pela fé peregrinou na terra da promessa como em terra alheia, habitando em tendas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa; porque aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador.” Hb. 11.9-10. A vida cristã não é conhecer exatamente o que o futuro reserva mas conhecer Àquele que reserva o futuro. Ao analisarmos a vida de Abraão percebemos que o seu chamado constituiu um processo de crescimento na graça e no conhecimento de Deus, caracterizada por atitudes de obediência e fé. O restante do relato de Gênesis demonstra que Abraão em sua caminhada especializou- se em duas coisas: construção de altares e armação de tendas. “E edificou ali um altar ao Senhor, que lhe aparecera. Passando dali para o monte ao oriente de Betel, armou a sua tenda.” Gênesis 12.7. O altar e a tenda dão-nos dois grandes traços do caráter de Abraão: uma vida de adoração e consciência de ser um peregrino na terra. Estes dois símbolos revelam que Abraão aprendeu a se render e se entregar à vontade Daquele que o chamou. Na caminhada da Igreja não pode ser diferente. Tal foi realidade na vida de Abraão, tal é o caso de todos que experimentam o chamado e a benção de Abraão concretizados em Cristo.
 
Solo Deo Glória.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

A VELHA E A NOVA CRIAÇÃO

No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. João 1:1
Existem dois livros na Bíblia que começam com a frase: ”no principio”. Uma das frases está em Gênesis, e a outra está no Evangelho de João. Se Gênesis fala da antiga criação, o Evangelho de João fala da nova criação. Em Gênesis temos os 6 primeiros dias da criação, mais 1 dia do descanso de Deus, totalizando 7 dias.
No Evangelho de João encontramos também os 7 dias da nova criação, demonstrados tipologicamente desta forma: Em João, no verso 29 do primeiro capítulo encontramos a frase “no dia seguinte”. A partir dessa frase vemos como tudo se iniciou. “No dia seguinte” nos remete ao dia anterior. E, o que aconteceu no dia anterior? Como iniciar a contagem de 7 dias da nova criação?
Como contar esses dias? Por causa do Evangelho de João podemos ver o Senhor de uma maneira muito mais ampla. É muito interessante que, quando João diz “no dia “seguinte”, cremos que o Espírito Santo desenhou de forma maravilhosa estes 7 dias da novo criação revelado neste Evangelho.
Assim ficamos sabendo que no primeiro dia o nosso Senhor Jesus já estava no meio deles, mas eles não O conheciam: “Respondeu-lhes João: eu vos batizo com água; mas, no meio de vós, está quem vós não conheceis” (Jo 1:26). Isso marca o primeiro dia.
O primeiro dia é o dia da encarnação. O Verbo se fez carne e tabernaculou entre os homens. Por isso, a história da nova criação começa com o Verbo que se fez carne, Deus-Homem entre os homens. Quando olhamos de maneira externa, Ele é homem, mas quando olhamos de maneira interna, Ele é Deus.
O primeiro dia é a presença do Senhor na Terra, este é o início do Céu na Terra. Quando o Céu toca a Terra é o início da nova criação. Agora, vem o “dia seguinte” quando João Batista viu Jesus que vinha para ele. Este é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. (Jo 1:29).
O dia seguinte corresponde ao “segundo dia”. Neste dia nos é dado a visão do Cordeiro de Deus. O que significa para nós este segundo dia? Ao vermos Jesus como o Cordeiro de Deus, lembramos que somos pecadores e necessitamos de um Salvador. Necessitamos de um substituto.
A presença de Jesus aqui na Terra nos mostra que como Cordeiro de Deus, Ele veio para remover o pecado do homem. Neste segundo dia vemos o começo de nossa história. Não só o começo, mas também o fim de velha criação.
. No primeiro dia vemos o Verbo, que se fez carne. No segundo dia vemos o Cordeiro que tira o pecado do mundo; vemos a historia de nossa restauração. Vemos que neste dia, morremos, ressuscitamos e estamos “assentados nos lugares celestiais em Cristo.(Ef 2:6).
Nenhum pecador é capaz de ser salvo pelas obras que pratica. Um dia, ele compreenderá que a salvação está fundamentada no que Cristo fez. Este é o descanso. Depender inteiramente e completamente de Cristo. Isto é graça! Este é o descanso!
O que o Senhor Jesus realizou naquela Cruz foi suficiente para nos fazer aceitos diante de Deus Pai. O Espírito Santo nos conduzirá para dentro desta verdade. Jesus não apenas morreu, mas também ressuscitou.
Quando Cristo morreu, nós também morremos, quando foi ressuscitado, também fomos ressuscitados; quando ascendeu, também ascendemos. A herança que temos Nele é, na verdade, muito superior ao que esperamos e imaginamos.
Nós morremos com Cristo. Isto é verdade quanto à morte no sentido Judicial. Mas, isto não é suficiente. É necessário que haja uma “unidade experimental com Cristo na Sua morte”. O fato histórico tem que se tornar uma realidade experimental. O que é verdade “para nós” tem que se tornar verdade “em nós” (Evan. H. Hopkins).Este é a nossa história na nova criação.
Quando chegamos ao terceiro dia, encontramos a mesma palavra. Eis o Cordeiro de Deus (Jo 1:35). Aqui não vemos mais “o Cordeiro que tira o pecado do mundo”. Isto significa que neste estágio não estamos mais sob o peso do pecado.
É neste ponto que nos esquecemos de nós mesmos, porque estamos ocupados com o Senhor. Agora, na posição de filhos, queremos andar com o nosso Pai. Esta experiência simplesmente significa que vamos até o nosso espírito e ali nos assentamos aos pés do Senhor para desfrutarmos de Sua comunhão.
Esta é a experiência revelada em nossa história, no terceiro dia: comunhão; andar com Deus. Este é o terceiro estágio da nossa vida cristã. Esta é a verdadeira entrada na vida cristã. Começamos com nossa união com Cristo, e seguimos num relacionamento ininterrupto, de Pai e filho.
No quarto dia, Eles encontram Pedro, e Jesus disse: Tu és Simão, o filho de João; tu serás chamado Cefas. (Jo 1:42). Neste episódio o Senhor muda o nome de Simão, isto é significativo porque antes de Pedro trabalhar para Deus, ele teve que ser trabalhado por Deus.
Muitos querem trabalhar para Deus, mas, se esquecem de que precisam ser trabalhados por Ele. Antes mesmo de alguém ser enviado por Deus para anunciar a boa nova do Evangelho é necessário a troca de vida. É preciso ser substituído, isto é, o velho homem precisa dar lugar ao novo homem.
Agora vamos para o quinto dia. É neste dia que podemos seguir o Senhor, por termos uma nova natureza. Agora, podemos seguir o Senhor, não mais como um fardo, mas sim, num caminhar prazeroso. Jesus “encontra com Felipe e Natanael, Ele disse a Felipe: ‘segue-me”.
No dia imediato, resolveu Jesus partir para a Galiléia e encontrou a Felipe, a quem disse: Segue-me (Jo 1:43). Segue-me que significa no grego: acompanha-me na minha jornada; é como Jesus estivesse dizendo para Felipe: “você não tem caminho, você não sabe por onde anda, mas eu sei por onde você deve seguir”, vem e segue-me Eu Sou o seu Caminho”.
É muito amplo o convite de Jesus, Ele está nos chamando para andarmos com Ele, isto quer dizer: venha jornadear comigo. Este é o conhecimento gradual do Senhor. Um relacionamento vivo com a Pessoa do Senhor Jesus. Não é um relacionamento submetido a regras: do que temos ou não temos que fazer.
Agora chegamos ao sexto dia. Jesus se encontra com Natanael, este estava sob uma figueira, isto significa que Natanael estava em um lugar muito secreto. Neste lugar ninguém poderia penetrar na alma de Natanael, mas teve um olho que penetrou ali, o olho de Jesus que o viu a distância. Porque te disse que te vi debaixo da figueira, crês? (Jo 1:50).
O Senhor Jesus não é apenas o nosso mestre, mas Aquele que tudo perscruta. É Aquele que vê o coração. Por causa do Seu olhar penetrante a operação da Cruz vai nos cortar profundamente o nosso ser. Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração (Hb 4:12).
Somos rápidos para julgar, condenar, aceitar e rejeitar o outro pela sua aparência. Não entendemos que o nosso olhar só alcança o envelope, nunca o que está em seu interior. Só existe um que pode ir além das aparências, o Senhor: Porém o Senhor disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a sua altura, porque o rejeitei; porque o Senhor não vê como vê o homem. O homem vê o exterior, porem o Senhor, o coração. ( 1 Sm 16:7).
Natanael representa a vida em secreto, uma vida escondida em Deus. A vida em oculto deve ser o estilo de vida dos filhos do reino. Diametralmente oposto ao estilo de vida dos fariseus, que só se preocupam em exibir os seus feitos publicamente, os filhos do reino visam a glória de Deus.
Esta é a experiência da recâmara interior. Quando oramos, devemos entrar no nosso quarto e o nosso espírito é o nosso quarto interior, porque no grego, esta recâmara interior é onde guardamos o tesouro. Cristo é o nosso tesouro celestial. O nosso espírito regenerado se tornou habitação do Espírito Santo: leva-me após ti, apressemo-nos. O Rei me introduziu nas suas recâmaras (Ct 1:4).
No primeiro dia da história da nova criação vemos a presença do Senhor aqui na terra. Nos dias subsequentes vemos a nossa história em Cristo. No segundo dia Ele é o nosso redentor. No terceiro dia, ganhamos a posição de filhos, no quarto dia, o Senhor trabalha em nós. No quinto dia, Ele nos convida para a Sua companhia. No sexto dia, vemos que o estilo de vida dos Seus filhos é a gloria de Deus.
Agora, entramos no sétimo e último dia da história da nova criação. A princípio, o propósito final da redenção não é o homem, mas sim a glória de Deus. Cristo é a glória de Deus, Ele é centro de todas as coisas: Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste (Cl 1:17).
O sétimo dia está representado pelo milagre da transformação da água em vinho: E disse-lhe: Todos costumam pôr primeiro o bom vinho e, quando já beberam fartamente, servem o inferior; porém, guardaste o bom vinho até agora (Jo 2:19). Este é o milagre que em sua totalidade tipifica o descanso.
Tudo o que Deus fez foi muito bom. O bom vinho tipifica a nova criação, e, esta nova criação descansa no que Deus fez. E nós Descansamos na obra consumada; realizada Cruz.
Cristo toma de direito uma posição que lhe é própria na Criação. Ele tem a supremacia sem contestação e sem controvérsia. Portanto, Ele tudo criou, tudo é para Ele – e Ele é o primogênito de tudo o que foi criado. E nós descansamos na Sua suficiência. Deus descansou no sétimo dia da criação e nós descansamos em Cristo.
Foi na Pessoa do Filho que Deus atuou quando, pelo Seu poder, criou todas as coisas, quer nos céus, quer na Terra, visíveis e invisíveis. Tudo o que é poderoso e elevado é obra da Sua mão, tudo foi criado por Ele e para Ele. Tudo está consumado!
Assim, quando Ele toma esse todo, toma-o como Sua herança de direito. Que maravilhosa verdade é esta: Aquele que nos resgatou; que se fez homem, como um de nós quanto à natureza, para nos dar o descanso, é o Criador! Senhor absoluto sobre todas as coisas. E, tudo que Ele fez é para Sua glória! Este é o fundamento do nosso descanso.
 
Solo Deo Glória.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

F2TS, A FÓRMULA DIÁBOLICA DA CRISE ESPIRITUAL


Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá? Jeremias 17:9

Estamos vivendo uma crise. Porém, de conseqüências muito mais catastróficas do que a crise econômica mundial, que temos presenciado todos os dias, estampada nas primeiras páginas dos jornais, no rádio e na televisão. Ao contrário da crise econômica que é visível e atinge nações pelos quatro cantos da Terra, esta outra crise é quase que imperceptível e tem atingido o povo de Deus, individualmente. Agindo vagarosa e sorrateiramente, vem solapando a nossa fé, corroendo os alicerces da nossa vida e nos distanciando, cada vez mais, do foco de um cristianismo autêntico, que é ter uma vida que glorifique a Deus e não que envergonhe a Deus.
São três os aspectos que caracterizam esta crise, os quais merecem nossa especial atenção.
O primeiro aspecto diz respeito à falta do temor de Deus. Mesmo regeneradas, as pessoas parecem reconhecer Cristo apenas como seu salvador pessoal, esquecendo-se de que Ele é também Senhor de suas vidas. Um dos comentários mais tristes que ouvimos é o de pessoas que não querem fazer negócios com cristãos ou não querem ter um cristão como patrão ou empregado. Qual a razão disto? Não há temor de Deus. As pessoas se autodenominam cristãs, mas a vida delas está longe de Cristo. O que fala mais alto não são palavras, mas o nosso testemunho de vida. E quando não há temor de Deus, não há testemunho e, sim, "tristemunho".
Quando Moisés matou o egípcio, ele olhou para a direita e depois para a esquerda, mas esqueceu-se de olhar para cima. Êxodo 2:12: Olhou de um e de outro lado, e, vendo que não havia ali ninguém, matou o egípcio, e o escondeu na areia. Bill Gothard diz que temer a Deus é: a consciência deliberada de que Deus está observando todas as coisas e avaliando todas as coisas que eu penso, digo e faço. Deus vê tudo. Ele sabe de tudo. Ele está avaliando tudo.
Temor de Deus significa reverência. Significa ter senso da grandeza de Deus, da glória de Deus e da majestade de Deus. É ter a consciência de que Deus é o Juiz de toda a terra e de que todos nós estamos em suas mãos. Hebreus 10:31: Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo.
Quanto mais você teme a Deus, quanto mais você permanece em sua presença, mais você tem receio de desagradar a Deus. Sua presença em nossas vidas não deve significar uma espada de Dâmocles (perigo iminente), mas um receio saudável de não magoar ou de não desapontar a Deus. Nossas decisões devem ser tomadas não com base no que nos agrade, mas no que agrada a Deus.
O segundo aspecto diz respeito às tradições religiosas que vão se formando durante nossa caminhada cristã. Quanto mais tempo temos de vida cristã, mais corremos o risco de nos acomodar em nossos hábitos. Todavia, o próprio apóstolo Paulo nos adverte para esta acomodação, para não tomarmos a forma deste mundo, renovando sempre a nossa mente. Romanos 12:2: E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
No capítulo 2 de Romanos, o apóstolo Paulo está argumentando que tanto judeus como gregos estão debaixo da ira de Deus e que precisam da salvação em Cristo Jesus. Só que os judeus eram os primeiros a se justificarem, sempre tinham algum argumento. Os judeus não aceitavam a salvação em Jesus, porque entendiam que já eram salvos, por causa de suas tradições, consubstanciadas em três elementos: a)- porque faziam parte da nação escolhida por Deus; b)- porque tinham um sinal de fato e exterior da aliança: a circuncisão; e, c)- porque tinham recebido de Deus a sua lei.
Existem muitas pessoas, hoje, agindo como os judeus, fundamentando sua salvação em tudo, menos na pessoa de Jesus Cristo e sua obra de morte e ressurreição. Pessoas que estão justificando inconscientemente uma vida de pecado, em tradições religiosas. Vivem dissolutamente, achando que porque são membros de uma igreja, ou porque detém a revelação desta ou daquela palavra, ou porque foram curados disto ou daquilo, — podem viver segundo seus padrões pessoais de conduta. Só que o único padrão de conduta autêntico e verdadeiro é o de Cristo, segundo a Graça de Deus e o seu Evangelho, e a partir de nossa inclusão na obra da cruz.
O principal erro dos judeus era fazer a separação entre a doutrina e a vida. O judeu não levava em consideração a vida diária. O que fazia não tinha importância porque, afinal de contas, era judeu. Há muitas pessoas interessadas na doutrina, inclusive da cruz, mas que se esquecem da vida prática. João 13:17: Ora, se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes.
O terceiro aspecto diz respeito à soberba espiritual. Esta é uma característica que pode aparecer quando se busca apenas conhecimento, sem a sabedoria e a revelação divinas. O conhecimento em si é bom, mas se o objetivo final deste conhecimento não for o de alcançar uma vida transformada pelo Espírito, que produza frutos no Espírito e que edifique outras pessoas, ele, então, se torna estéril e de nenhum valor.
O apóstolo Paulo nos ensina em 1º Coríntios 8:1: ... O saber ensoberbece, mas o amor edifica. Comentando este versículo, Russell Champlin escreve: Essa variedade errada de conhecimento servia somente para deixá-los orgulhosos, altivos, destruindo o vínculo da paz e a comunhão no seio daquela igreja. Seja como for, o conhecimento, até mesmo quando é da melhor qualidade, não pode dar solução a todos os problemas. O amor cristão é o grande meio para resolver os problemas e regular a conduta dos crentes. Paulo fala em 1º. Coríntios 13:4: O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece.
Precisamos de sabedoria divina e não deste conhecimento incorreto que incha a pessoa intelectualmente. O oposto da soberba é a humildade. E a humildade é uma das características do cristão autêntico. Disse Jesus em Mateus 11:29: Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma.
A essência do saber não é o conhecimento, mas o temor do Senhor, conforme diz o Salmos 111:10: O temor do SENHOR é o princípio da sabedoria; revelam prudência todos os que o praticam. O seu louvor permanece para sempre.
Por que estes três aspectos são tão nocivos para o cristão? Porque, agindo assim, o homem acaba se tornando independente de Deus, quando deveria viver para Ele e tornando-se dependente Dele. Vida cristã é vida na dependência de Cristo e não independência Dele. Todos estes três aspectos que acabamos de mencionar decorrem do fato de que, paradoxalmente ao que afirmamos crer, vivemos inconscientemente à margem de Deus, desligados Dele, como se fôssemos pequenos deuses para nós mesmos.
Muitos de nós passamos nossas vidas tentando evitar a verdade da Palavra de Deus, porque não queremos andar de acordo com ela. Isto é rebeldia. Não confunda a liberdade que Deus te deu em Cristo Jesus, livrando-o das amarras do pecado, com a possibilidade de, agora, levar uma vida segundo a sua própria vontade, a fim de satisfazer seus desejos pessoais egoístas. Gálatas 5:13: Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne ... Nem uma vida dissociada da direção de Deus. Provérbios 16:9: O coração do homem traça o seu caminho, mas o SENHOR lhe dirige os passos. Na verdade, precisamos nos libertar de nós mesmos.
O único conhecimento que pode nos libertar verdadeiramente é o conhecimento de Cristo, da sua pessoa. Na verdade, é a própria vida Dele em nós. João 8:32: e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. João 14:6: Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim. Jesus é a verdade que nos liberta de fato. Não é o conhecimento bíblico que liberta, mas a própria pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo, revelada pelo Espírito Santo.
Como, então, podemos corrigir o curso de nossas vidas, livrando-nos da falta do temor de Deus, das tradições religiosas e da soberba espiritual? Somente pela graça e pela misericórdia de Deus, temendo a Ele e praticando a sua presença em nossas vidas. Precisamos clamar ao Pai para que venha perscrutar o nosso coração, revelando-nos estas verdades e guiando-nos pelo caminho certo. Salmos 139:23-24 Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno.
Quando você tem uma consciência limpa, você é capaz de desfrutar de seu amor e liberdade. Que Deus nos dê graça para enxergar e nos livrar de toda altivez, a fim de termos uma vida que verdadeiramente glorifique ao Pai, não segundo o nosso padrão deformado, mas segundo o padrão de Cristo.
 
Solo Deo Glória.

INDÍCIOS DE UM CAÇADOR

Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e, abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e a quem bate, abrir-se-lhe-á. Mateus 7:7-8.

Jesus escancarou aqui uma comporta para uma enxurrada de perguntas e nós ficamos querendo saber o que significa de fato esse todo aquele que pede, busca e bate, tendo êxito na sua empreitada! Será que Deus responde favoravelmente a qualquer pessoa que pede? Ele se deixa ser achado por qualquer um que o busca? Ele abre as portas para quem quer que bata? Ao meu ver, o que está por traz dessa profunda insistência seqüencial é alguma coisa muito importante para a nossa compreensão.

Sabemos que Deus sempre responde as orações, mas nem sempre de acordo com o suplicante. Há muitas petições que são respondidas negativamente e muitas outras têm um tempo de espera. A pausa no compasso da expectativa é uma metodologia no tratamento da ansiedade. A pedagogia divina é muito prática e, freqüentemente, é preciso um intervalo no processo da execução, a fim de tratar o problema da impaciência compulsiva. Alguém disse que Deus sempre responde com estas três palavras: Sim, não, espere.

Porém, a questão fica um pouco mais complicada com o enfoque dos outros dois verbos: buscar e abrir. Todo o que busca, acha? Todo o que bate, destranca? O contexto desse texto fala realmente de um tema de filiação. Jesus está abordando em particular o quesito de uma relação paternal bem adequada. Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai que está nos céus, dará boas coisas aos que lhe pedirem? Mateus 7:11. O que está em jogo nessa matéria é a conexão íntima de um envolvimento familiar. Sabemos também, que nem todos os homens são filhos de Deus.

As Escrituras mostram que o homem natural, isto é, o homem não regenerado pela graça em Cristo, jamais busca a Deus. Do céu olha o Senhor para os filhos dos homens, para ver se há quem entenda, se há quem busque a Deus. Salmo 14:2. Não há o menor interesse do homem pecador pelo Deus santo revelado na Bíblia. Os deuses que os homens se importam são aqueles que eles mesmos criam com a sua imaginação fértil, mesmo que esses deuses não se importem com os homens. Sendo assim, o apóstolo Paulo mostra claramente a aversão que o pecador tem pelo Deus verdadeiro. Não há justo, nem se quer um, não há quem entenda, não há quem busque a Deus. Romanos 3:10-11.

Não há uma ponta de simpatia proveniente do homem natural para com o Deus revelado através da Bíblia, por isso mesmo, ninguém o busca preferencialmente. Se alguém se encontra interessado pelo Deus das Escrituras Sagradas, foi porque este mesmo Deus o atraiu para Ele. Só é possível buscar o Senhor, aquele que foi buscado pelo Senhor. Primeiro Deus nos busca graciosamente, depois nós o buscamos correspondentemente. Jesus disse aos seus discípulos: Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós. João 15:16a. E o discípulo João acrescenta, dentro dessa ênfase, a verdade clara: Nós amamos porque ele nos amou primeiro. 1João 4:19.

O homem que busca a Deus revela que foi inicialmente buscado pelo próprio Deus. Se há uma coisa atestando que o ser humano foi despertado da morte espiritual é o seu interesse particular pela pessoa de Deus. Mas, nós somente o podemos buscar, quando ele se aproxima de nós para nos alcançar. Buscai o Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. Isaías 55:6. Ele precisou achegar-se ao desertor do Éden, a fim de atraí-lo para a sua intimidade pessoal. Jesus se encarnou para se aproximar da humanidade distanciada de Deus.

O velho coração de Adão não tem a menor predileção pela comunhão com Deus. O pecador rebelde sofre de anorexia de Deus, ou seja: ele não tem a mínima fome do Deus verdadeiro. Sua reação inata é um enjôo achacadiço das coisas de Deus. Por isso, antes de tudo, Deus precisa trocar o coração indisposto do velho homem do pecado, por um novo coração que o queira, acima de tudo. Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração. Jeremias 29:13. Aqui está patente a evidência de um transplante realizado por Deus, uma vez que o velho coração não tem apetite pela pessoa de Deus.

O faro que impulsiona o coração do homem para Deus é uma mostra notória que esse homem foi encontrado por Deus. O anseio do coração do homem por Deus é uma prova de que Deus mudou o antigo coração enfarado desse homem, por um outro que o busca de todo o coração. Ao meu coração me ocorre: Buscai a minha presença; buscarei, pois, Senhor, a tua presença. Salmo 27:8. Ora, se o pecador obstinado não era solícito em buscar a Deus e agora suspira pela sua presença, significa que ele foi atingido em cheio pela graça de Deus, para poder buscá-lo cordialmente.

A marca registrada de uma experiência autêntica de salvação é o anseio íntimo pela comunhão pessoal com o Senhor Jesus Cristo. Se não houver sede de Cristo nas entranhas do coração, certamente não há certeza de salvação. Alguém disse: Se você não é um caçador da amizade mais sublime com o Senhor, você evidentemente não faz parte das presas alcançadas pela graça. Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor. 1Coríntios 1:9. Se Cristo não se constitui no anseio principal de sua alma, é por que você não foi ainda renascido na família de Deus. Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza na terra. Salmo 73:25.

Todos aqueles que foram conquistados pela graça são membros dos procuradores do Reino que se empenham acima de tudo com a preferência secreta pela pessoa sublime do Rei dos reis. Mas recomenda-se que essa investigação seja reservada e discreta, sem sinal de passarela. O que interessa de fato numa pessoa salva pela graça é o convívio entranhado com Jesus Cristo.Você tem esse intenso anelo pela comunhão com o Senhor? Para você o reino de Deus recebe a proeminência? Jesus foi incisivo: Buscai em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Mateus 6:33. Lembre-se da expressão de um pensador: Não é suficiente ter comunhão com a verdade, pois esta é impessoal. Precisamos ter comunhão com o Deus da verdade.

O que vai definir a legitimidade de uma experiência de salvação é a profunda aspiração à amizade pessoal com Cristo. Se não existir esse anelo íntimo pela busca de Deus em Cristo, temos que estimar o descrédito de nossa aparente salvação. O que salienta a autenticidade da salvação em Cristo é o interesse incondicional pelas coisas celestiais dentro de um relacionamento preferencial por Cristo. Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Colossenses 3:1. Ora, o que comprova a autenticidade da salvação na primeira instância é a ambição subjetiva pela pessoa de Cristo. Digo ao Senhor: Tu és o meu Senhor; outro bem não possuo, senão a ti somente. Salmo 16:2.

Estamos vivendo os primeiros dias de um novo ano e é bom avaliarmos bem a nossa experiência. O apóstolo Paulo vai fundo quando apela: Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não reconheceis que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados. 2Coríntios 13:5. Você e eu temos gozado a alegria da comunhão profunda com a pessoa do Senhor Jesus Cristo? Temos nós buscado a presença do Senhor sobre tudo e acima de todos? Não nos enganemos! Se Cristo não for a primazia de nossa busca, verdadeiramente não pertencemos à família de Deus.

Joseph Parker
disse que as conversões precisam ser examinadas tanto quanto enumeradas. Somos mais propensos a contar as conversões do que sondá-las. Mas a certeza da salvação sempre requer uma investigação caprichada. Você tem uma profunda fome e sede de Cristo? Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim, como do pão, e beba do cálice; pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. 1Coríntios 11:28-29. A ceia do Senhor é muito mais que comer pão de trigo e beber o vinho da videira. Significa ingerir a intimidade relacional de fé na suficiência da pessoa de Cristo. Não se trata evidentemente de transubstanciação nem de consubstanciação, mas da comunhão viva e pessoal da presença do Senhor. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando irei e me verei perante a face de Deus? Buscai o Senhor e o seu poder; buscai perpetuamente a sua presença. Salmo 42:2 e 105:4.

Os indícios de um caçador fiel no reino de Deus se revelam na busca íntima do Senhor, ainda que venha concordar com o bispo J. C. Ryle: De todas as coisas que nos irão surpreender na manhã da ressurreição, esta, creio eu, é a que mais causará espanto: que amamos tão pouco a Cristo durante nossa vida. A comunhão reservada com Cristo é o principio do céu na terra. É bom conferir as palavras do sábio Martinho Lutero: Uma masmorra com Cristo é um trono, e um trono sem Cristo é um inferno. Pois assim diz o Senhor à casa de Israel: Buscai-me e vivei. Amós 5:4. Amém.
 
Solo Deo Glória.

O DESCANSO PARA ALMA

Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas.
Mateus 11:28-29.
Aqui temos um imperativo estimulante. É uma convocação indiscutível que ao mesmo tempo se torna num convite cordial. Jesus ordena aos cansados que venham a ele, contudo o seu chamamento não é cogente. Ele não está exigindo desempenho forçoso, embora o apelo nos pareça irrecusável. O Senhor abre a porta aos executivos exaustos e faculta o ingresso aos oprimidos.
O evangelho é uma proposta para os esforçados que se encontram agora esgotados. Sabemos que muita gente, ainda que exaurida, não aceita repouso, pois são orgulhosas demais para ter uma vida de feriado. A religião não tolera folga, por isso os israelitas não acolheram o convite de Javé. Porque assim diz o Senhor Deus, o Santo de Israel: em vos converterdes e em sossegardes, está a vossa salvação; na tranqüilidade e na confiança, a vossa força, mas não o quisestes. Isaias 30:15. Essa turma possante e laboriosa não admite de modo algum entrar em férias.
Retirar o ser humano do controle e governo de suas atividades é a tarefa mais difícil que existe para qualquer outro membro da raça. Aliás, não é difícil, é impossível. Esta empreitada só poderá ser feita de modo eficaz pelo Deus, Todo-Poderoso, e será sempre um grande milagre.
O gênero adâmico vive a ditadura da autonomia e não se conforma quando não tem a supervisão da situação. Com isto a canseira não fica por conta do trabalho, mas da falta de comando da conjuntura e da ansiedade pela governabilidade do processo. No fundo de toda atividade humana existe uma grande tensão em manter o ritmo dos acontecimentos sob o domínio pessoal.
A Bíblia exibe uma galeria de chefes de tribos ou caciques de conduta, gente que vive se remoendo e se intrometendo na vida alheia com o propósito de exercer o controle sob a situação. Veja por exemplo como Marta ficou estressada porque a sua irmã a deixou sozinha lidando com as coisas da casa, enquanto usufruía da comunhão com o Senhor.
A vida de Marta nos sugere que ela era uma criatura muito prestativa, mas apresentava uma mentalidade serviçal conduzida pelos resultados, não conseguindo ver a importância de um convívio amistoso e descontraído com o Senhor. O seu nível de cobrança repousava em pontos muito elevados e sua atuação requeria uma maior visibilidade pública.
Talvez, para ela, o que se devia agendar como mais relevante seria o papel em favor de sua própria imagem e não o relacionamento íntimo e pessoal com Jesus. Foi neste contexto complexo de implicância doméstica que respondeu-lhe o Senhor: Marta! Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. Entretanto, pouco é necessário ou mesmo uma só coisa; Maria, pois escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada. Lucas 10:41-42.
Somos uma casta encasacada com auto-estima e blindada por uma alta arrogância que nos impede de investigar a nossa própria realidade, mas mesmo assim, pode-se ver em cada casa neste planeta algo intrigante e curioso que nos permite perceber a martirização generalizada, sob os efeitos da exigência que cobra um maior desempenho para a aprovação.
O sistema pedagógico deste mundo aprova apenas os melhores que tiveram a mais perfeita atuação. A busca pela excelência tem um lado positivo válido, todavia passa por uma auto-estrada com excesso de perigos. Ser sempre mais, maior e melhor é o sintoma de uma doença extremamente grave e um vício terrível do ego. O egoísta não suporta perder o domínio dos acontecimentos, mas segundo o irmão Christian Chen, "no reino de Deus ganhar é perder e perder é ganhar".
O sexto dia da criação foi um período de grande atividade por parte do Criador, dando origem aos seres viventes. No final daquele dia Deus fez o homem a sua imagem e semelhança como o último elemento do seu projeto. Adão não surgiu no meio do processo criador, mas ao término de tudo. No dia seguinte, o sétimo, Deus descansou de todo o seu trabalho.
O descanso de Deus é o primeiro dia da existência de Adão. A humanidade não começou a sua história antes de tudo estar concluído. O seu início é exatamente no período que se denomina o repouso do Criador. O dia sabático de Deus é o começo da jornada do homem na terra, apontando para um fato muito importante: sem descanso ninguém consegue trabalhar com prazer.
Depois que surgiu o pecado vemos uma mudança de parâmetro na estimativa do repouso. O acordo do Sinai mostra que houve uma reviravolta nas condições de ajuizamento do sábado. No principio o homem via o ócio antes do negócio e as férias vinham na frente do trabalho. Tudo dependia da obra perfeita e realizada exclusivamente pela Trindade. Contudo, após a rebelião promovida pela serpente, o descanso do executivo deriva dos resultados de seu bom desempenho e o lazer é uma recompensa pelos esforços desprendidos.
O sábado da lei vem em seguida ao batente na semana transpirada que se expira. Seis dias se trabalhará, porém o sétimo dia é o sábado do repouso solene, santo ao Senhor. Êxodo 31:15a. Agora era preciso atuação para se chegar à trégua. O descanso é conseqüência do empenho. Não se trata mais de uma mesada antecipada para um filho amado, mas de um salário posposto para um servo suado que precisa preencher os requisitos de sua aceitação a contento.
No princípio Deus fez tudo em seis dias para depois descansar no sétimo. O homem foi criado no fim do sexto dia e o primeiro lance na sua vida após ter sido criado foi repousar, não foi trabalhar. Posteriormente à transgressão, o descanso só viria como uma implicação do trabalho realizado pelo homem. Isto significava um câmbio na aliança. Antes do pecado o descanso decorria como resultado da obra totalizada da criação. Depois do pecado o sábado na vida do ser humano é um produto do seu esforço, pois vem no fim da semana do seu trabalho.
O descanso da lei é uma proposta inatingível. Por mais que o homem faça as suas tarefas morais com esmero e se aplique ao máximo em seu desempenho, ele nunca conseguirá alcançar o padrão exigido pela lei. Assim a humanidade vive cansada e enfastiada por causa do peso da responsabilidade e das exigências éticas procedentes da perfeição legal. A lei é santa, espiritual e boa, eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado. Romanos 7:14b.
O conflito da lei do pecado com a lei divina, que é perfeita, gera uma guerra puxada e cansativa que exaure a alma. O fracasso no descumprimento da lei ou o orgulho na prática de algum mandamento acabam produzindo um rombo de energia em nosso ser que, em última análise, vai se refletir num estado de esfalfamento e enfado em nosso interior.
A ordem convidativa do Senhor tinha como pano de fundo este estado de sobrecarga. Havia uma multidão de cansados e oprimidos sem qualquer chance de alívio sob o peso intolerável do legalismo e Jesus apela para a alternativa do sábado da redenção. Adão foi criado no sexto dia e Jesus foi crucificado na sexta-feira pascal, a fim de desconstruir o modelo exigente de contrapartida e estabelecer o novo padrão de aceitação do pecador pela suficiência da graça incondicional.
O sábado da redenção fala da obra consumada do justificador e do descanso duradouro que o devedor experimenta pela liquidação permanente do seu débito. Agora já não há mais prestações a serem pagas nem o seu nome vai igualmente para algum Serasa ou Seproc beatificado.
Porém o descanso da alma tem ainda a ver com a peregrinação. A questão não é apenas atual, mas processual. A vida de intimidade com o Senhor é um convite ao descanso na comunhão. Os judeus também tiveram essa oportunidade e não aceitaram. Assim diz o Senhor: ponde-vos à margem no caminho e vede, perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho; andai por ele e achareis descanso para as vossas almas; mas eles dizem: não andaremos. Jeremias 6:16.
Cristo não é apenas o justificador. É também o santificador. A via da santidade é um acesso de permanência reservada e contínua com o tronco da Videira. O sossego da alma nas entranhas da árvore da vida gera um estado de bem-aventurança que desemboca num gozo inalterável. Tenho-vos dito estas coisas para que o meu gozo esteja em vós, e o vosso gozo seja completo. João 15:11. Vida de Cristo com mau humor e descontentamento é uma aberração.
Ser um ramo permanente e silencioso na Videira é usufruir as riquezas fertilizadoras e insondáveis da própria Planta. Uma santidade sem o contentamento que se rende no descanso da alma não tem qualquer semelhança com a vida em Cristo. Como diz Osmar Ludovico: "o secreto não é um local, mas um estado de consciência. No secreto não estamos sozinhos, pois nossa alma encontra o Deus vivo e verdadeiro".
A quietude da alma no relacionamento particular com Cristo é a fonte de sua maior atividade espiritual. Quando a alma se aquieta como uma criança amamentada no colo de sua mãe, então a vida espiritual mais profunda começa a jorrar através de suas expressões visíveis. Eis que Deus é a minha salvação; confiarei e não temerei, porque o Senhor Deus é a minha força e o meu cântico; ele se tornou a minha salvação. Isaías 12:2.
A vida espiritual autêntica é a vazão da vida de Cristo do nosso espírito para a nossa alma suscitando descanso e familiaridade como o Senhor e motivando um ambiente de paz e afeto com os irmãos. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva. João 7:38. Não existe descanso onde houver comparação, competição e complicação.
Essa vida de descanso da alma é a existência permanente da comunhão íntima e silente do ramo com a fonte eterna da vida que brota da Videira verdadeira. Somente em Deus, ó minha alma, espera silenciosa, porque dele vem a minha salvação (esperança). Salmos 62:1 e 5. O sábado da redenção é a entrada e permanência festiva no repouso do Senhor. Aquele que se satisfaz plenamente em Cristo tem uma alma bem-aventurada que vive serena e confiadamente no Senhor.
 
Solo Deo Glória.