segunda-feira, 15 de outubro de 2012

INDÍCIOS DE UM CAÇADOR

Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e, abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e a quem bate, abrir-se-lhe-á. Mateus 7:7-8.

Jesus escancarou aqui uma comporta para uma enxurrada de perguntas e nós ficamos querendo saber o que significa de fato esse todo aquele que pede, busca e bate, tendo êxito na sua empreitada! Será que Deus responde favoravelmente a qualquer pessoa que pede? Ele se deixa ser achado por qualquer um que o busca? Ele abre as portas para quem quer que bata? Ao meu ver, o que está por traz dessa profunda insistência seqüencial é alguma coisa muito importante para a nossa compreensão.

Sabemos que Deus sempre responde as orações, mas nem sempre de acordo com o suplicante. Há muitas petições que são respondidas negativamente e muitas outras têm um tempo de espera. A pausa no compasso da expectativa é uma metodologia no tratamento da ansiedade. A pedagogia divina é muito prática e, freqüentemente, é preciso um intervalo no processo da execução, a fim de tratar o problema da impaciência compulsiva. Alguém disse que Deus sempre responde com estas três palavras: Sim, não, espere.

Porém, a questão fica um pouco mais complicada com o enfoque dos outros dois verbos: buscar e abrir. Todo o que busca, acha? Todo o que bate, destranca? O contexto desse texto fala realmente de um tema de filiação. Jesus está abordando em particular o quesito de uma relação paternal bem adequada. Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai que está nos céus, dará boas coisas aos que lhe pedirem? Mateus 7:11. O que está em jogo nessa matéria é a conexão íntima de um envolvimento familiar. Sabemos também, que nem todos os homens são filhos de Deus.

As Escrituras mostram que o homem natural, isto é, o homem não regenerado pela graça em Cristo, jamais busca a Deus. Do céu olha o Senhor para os filhos dos homens, para ver se há quem entenda, se há quem busque a Deus. Salmo 14:2. Não há o menor interesse do homem pecador pelo Deus santo revelado na Bíblia. Os deuses que os homens se importam são aqueles que eles mesmos criam com a sua imaginação fértil, mesmo que esses deuses não se importem com os homens. Sendo assim, o apóstolo Paulo mostra claramente a aversão que o pecador tem pelo Deus verdadeiro. Não há justo, nem se quer um, não há quem entenda, não há quem busque a Deus. Romanos 3:10-11.

Não há uma ponta de simpatia proveniente do homem natural para com o Deus revelado através da Bíblia, por isso mesmo, ninguém o busca preferencialmente. Se alguém se encontra interessado pelo Deus das Escrituras Sagradas, foi porque este mesmo Deus o atraiu para Ele. Só é possível buscar o Senhor, aquele que foi buscado pelo Senhor. Primeiro Deus nos busca graciosamente, depois nós o buscamos correspondentemente. Jesus disse aos seus discípulos: Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós. João 15:16a. E o discípulo João acrescenta, dentro dessa ênfase, a verdade clara: Nós amamos porque ele nos amou primeiro. 1João 4:19.

O homem que busca a Deus revela que foi inicialmente buscado pelo próprio Deus. Se há uma coisa atestando que o ser humano foi despertado da morte espiritual é o seu interesse particular pela pessoa de Deus. Mas, nós somente o podemos buscar, quando ele se aproxima de nós para nos alcançar. Buscai o Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. Isaías 55:6. Ele precisou achegar-se ao desertor do Éden, a fim de atraí-lo para a sua intimidade pessoal. Jesus se encarnou para se aproximar da humanidade distanciada de Deus.

O velho coração de Adão não tem a menor predileção pela comunhão com Deus. O pecador rebelde sofre de anorexia de Deus, ou seja: ele não tem a mínima fome do Deus verdadeiro. Sua reação inata é um enjôo achacadiço das coisas de Deus. Por isso, antes de tudo, Deus precisa trocar o coração indisposto do velho homem do pecado, por um novo coração que o queira, acima de tudo. Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração. Jeremias 29:13. Aqui está patente a evidência de um transplante realizado por Deus, uma vez que o velho coração não tem apetite pela pessoa de Deus.

O faro que impulsiona o coração do homem para Deus é uma mostra notória que esse homem foi encontrado por Deus. O anseio do coração do homem por Deus é uma prova de que Deus mudou o antigo coração enfarado desse homem, por um outro que o busca de todo o coração. Ao meu coração me ocorre: Buscai a minha presença; buscarei, pois, Senhor, a tua presença. Salmo 27:8. Ora, se o pecador obstinado não era solícito em buscar a Deus e agora suspira pela sua presença, significa que ele foi atingido em cheio pela graça de Deus, para poder buscá-lo cordialmente.

A marca registrada de uma experiência autêntica de salvação é o anseio íntimo pela comunhão pessoal com o Senhor Jesus Cristo. Se não houver sede de Cristo nas entranhas do coração, certamente não há certeza de salvação. Alguém disse: Se você não é um caçador da amizade mais sublime com o Senhor, você evidentemente não faz parte das presas alcançadas pela graça. Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor. 1Coríntios 1:9. Se Cristo não se constitui no anseio principal de sua alma, é por que você não foi ainda renascido na família de Deus. Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza na terra. Salmo 73:25.

Todos aqueles que foram conquistados pela graça são membros dos procuradores do Reino que se empenham acima de tudo com a preferência secreta pela pessoa sublime do Rei dos reis. Mas recomenda-se que essa investigação seja reservada e discreta, sem sinal de passarela. O que interessa de fato numa pessoa salva pela graça é o convívio entranhado com Jesus Cristo.Você tem esse intenso anelo pela comunhão com o Senhor? Para você o reino de Deus recebe a proeminência? Jesus foi incisivo: Buscai em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Mateus 6:33. Lembre-se da expressão de um pensador: Não é suficiente ter comunhão com a verdade, pois esta é impessoal. Precisamos ter comunhão com o Deus da verdade.

O que vai definir a legitimidade de uma experiência de salvação é a profunda aspiração à amizade pessoal com Cristo. Se não existir esse anelo íntimo pela busca de Deus em Cristo, temos que estimar o descrédito de nossa aparente salvação. O que salienta a autenticidade da salvação em Cristo é o interesse incondicional pelas coisas celestiais dentro de um relacionamento preferencial por Cristo. Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Colossenses 3:1. Ora, o que comprova a autenticidade da salvação na primeira instância é a ambição subjetiva pela pessoa de Cristo. Digo ao Senhor: Tu és o meu Senhor; outro bem não possuo, senão a ti somente. Salmo 16:2.

Estamos vivendo os primeiros dias de um novo ano e é bom avaliarmos bem a nossa experiência. O apóstolo Paulo vai fundo quando apela: Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não reconheceis que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados. 2Coríntios 13:5. Você e eu temos gozado a alegria da comunhão profunda com a pessoa do Senhor Jesus Cristo? Temos nós buscado a presença do Senhor sobre tudo e acima de todos? Não nos enganemos! Se Cristo não for a primazia de nossa busca, verdadeiramente não pertencemos à família de Deus.

Joseph Parker
disse que as conversões precisam ser examinadas tanto quanto enumeradas. Somos mais propensos a contar as conversões do que sondá-las. Mas a certeza da salvação sempre requer uma investigação caprichada. Você tem uma profunda fome e sede de Cristo? Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim, como do pão, e beba do cálice; pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. 1Coríntios 11:28-29. A ceia do Senhor é muito mais que comer pão de trigo e beber o vinho da videira. Significa ingerir a intimidade relacional de fé na suficiência da pessoa de Cristo. Não se trata evidentemente de transubstanciação nem de consubstanciação, mas da comunhão viva e pessoal da presença do Senhor. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando irei e me verei perante a face de Deus? Buscai o Senhor e o seu poder; buscai perpetuamente a sua presença. Salmo 42:2 e 105:4.

Os indícios de um caçador fiel no reino de Deus se revelam na busca íntima do Senhor, ainda que venha concordar com o bispo J. C. Ryle: De todas as coisas que nos irão surpreender na manhã da ressurreição, esta, creio eu, é a que mais causará espanto: que amamos tão pouco a Cristo durante nossa vida. A comunhão reservada com Cristo é o principio do céu na terra. É bom conferir as palavras do sábio Martinho Lutero: Uma masmorra com Cristo é um trono, e um trono sem Cristo é um inferno. Pois assim diz o Senhor à casa de Israel: Buscai-me e vivei. Amós 5:4. Amém.
 
Solo Deo Glória.

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