sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A EXALTAÇÃO DA PALAVRA DE DEUS 9

O Senhor é a minha porção; eu disse que observaria as tuas palavras. Salmo 119:57
A Bíblia é totalmente Cristocêntrica! É a Sagrada Escritura do Pai que fala somente da Pessoa e Obra do Filho, revelada pelo processo hermenêutico do Espírito! Portanto, a Palavra de Deus deverá ser sempre exaltada por expressar esta realidade teológica da harmonia Divina.
O Salmo 119 é um poema de exaltação a Palavra de Deus. É um extenso poema de exaltação ao Logos Divino no contexto da história da redenção no período do Antigo Testamento. É um Salmo que exalta o Cristo revelado na Palavra de Deus! Este Salmo é um ensino sobre a Pessoa do Filho pré-encarnado e personificado através da Palavra de Yahweh.
Ao lermos o Salmo 119 devemos destacar dois aspectos teológicos imprescindíveis ao seu bom entendimento: (1) os termos hebraicos traduzidos por palavras, mandamentos, preceitos, estatutos, lei, juízos, testemunhos, “tipificam” a pessoa de Cristo pré-encarnado e (2) para a total impossibilidade humana de cumprir esta Palavra sem a revelação e a ação Divina. O Salmo 119 é um conjunto de “176 teses teológicas” sobre a revelação da Palavra de Deus que alimenta e norteia a vida das pessoas que dependem Dele.
O Senhor é a minha porção… Porção é dádiva. É o Bem maior que eu recebo e possuo sem ser ou ter feito nada para merecê-lo. A palavra porção pode ser mais bem traduzida pelo termo “herança”. O termo hebraico traduzido por herança tem, ao mesmo tempo, um sentido teológico de “lugar” e “foco”.
É lugar da manifestação pessoal plena de Yahweh. A Pessoa do Senhor é o próprio ambiente espiritual onde somos inseridos, tocados e ministrados pela Sua graça. Esta herança é um lugar onde habita a Pessoa Divina! A ideia transmitida pelo salmista não é a de que precisamos aprender a pensar em ou sobre Deus, mas, sermos encontrados e absorvidos Nele!
Quando o Senhor é a nossa herança, herdamos e possuímos um lote, campo ou terreno que está numa esfera espiritual onde Ele mesmo opera através do Seu amor redentor. É o ambiente onde a graça Divina é distribuída àqueles que se vêm sem nenhuma condição de apresentar-Lhe algo ou agradá-Lo por si mesmos. É o território onde é exercido o Seu amor incondicional e curador aos totalmente carentes em si mesmos.
Quando a nossa herança é o Senhor não existe a possibilidade de vislumbrarmos algo de valor em nós mesmos. Não somos e nem temos nada que possa atraí-Lo a nós, exceto o Seu olhar amoroso que vem ao nosso encontro por causa de nossa condição humana: caída e falida em relação à Sua misericórdia! Somente quando nos vemos sem nada Ele pode ser o nosso tudo. É somente através da experiência da desistência pessoal que a pessoa do Senhor se torna a minha herança.
Herança também fala do Senhor como o “foco” para onde somos levados a olhar. O fato de termos sido inseridos neste lugar, isto é, no Senhor, faz com que possamos lançar nossos olhares para a necessidade manifestação da Sua suficiência em todos os aspectos da existência humana.
Trata-se de experimentarmos a dimensão da total impossibilidade humana diante da total possibilidade Divina. Esta é a realidade do não mais eu, somente Ele. É a esfera terapêutica e curadora para o conflito existente entre duas pessoas: o eu e o Ele. Após termos sido colocados na dimensão espiritual do amor Divino, somos envolvidos e embebecidos neste ambiente da graça.
Quando o nosso foco está na Pessoa de Yahweh, mergulhamos numa relação de intimidade e desfrutamos da suficiência dos Seus cuidados. Perdemos o rumo de nossas potencialidades humanas. Nossa referência torna-se o Senhor e aquilo que Ele pode ser e fazer em nós. O Senhor por nossa herança significa nos perdermos Nele, no outro eu para que tenhamos a libertação do nosso próprio eu. Não há mais sentido para os referenciais e ideais enaltecidos e centrados na capacidade humana.
Quando Ele nos basta, já não encontramos mais satisfação em nós mesmos, em outras pessoas ou objetos materiais. Quando o Senhor é o nosso “Bem Maior” quaisquer outros bens ficam completamente ofuscados e desfocados. O foco na Pessoa do Senhor é uma herança que nos faz experimentar a verdadeira libertação das manias humanas herdadas de Adão.
Ao experimentarmos a herança bendita da Pessoa Divina a Sua suficiência exerce uma ação demolidora e desconstrutora em nossas vontades, emoções e racionalidades. A suficiência do Senhor decreta o fim das possibilidades do nosso eu. A ação santificadora da Divindade é desconcertante para a nossa humanidade. Nos “tira o chão” de nossas tentativas de fuga humanística da presença e dependência do nosso Criador e Redentor.
Eu disse que observaria as tuas palavras... Observar é praticar. Aqui não se trata de uma mera tentativa humana de praticar preceitos estipulados pela Lei Divina. Neste verso o “agir de Deus” se opõe totalmente às expectativas e tentativas do “desempenho humano”. A ação de Yahweh produz em nós o efeito da obediência a Ele. É uma reação produzida pelo Pai quanto ao cumprir da Sua própria Palavra. Falamos aqui do Deus que me faz fazer aquilo que lhe apraz! Nesta parte do versículo, fica claro que qualquer tentativa de “fazer algo para Deus” é pecaminosa quando vinda de nós mesmos. A observância da Palavra Divina só pode ser gerada pelo Seu Autor, em suas motivações e concretudes! A obediência a Palavra de Deus é produto da Sua ação em nos fazer pessoas focadas somente Nele.
Esta observação das palavras de Yahweh deve ser totalmente alimentada e demarcada pela capacidade espiritual Divina de nos fazer praticantes da Sua revelação. Não temos a competência de cumprir nem “as vírgulas” da Palavra do Senhor. Só podemos observar os ensinos da Palavra de Yahweh na medida em que as ações não sejam as nossas Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer João 15:5.
Cumprir a Palavra de Deus é uma questão de “contraste” claro e decisivo entre as potencialidades Divinas e as impossibilidades humanas. Não temos sequer a condição de entendermos a revelação do Pai sem a Sua intervenção Então abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras Lucas 24:45. Se até a possibilidade de entendermos a Palavra de Deus é uma concessão Dele, que dirá o fato de podermos observá-la ou cumpri-la sem a Sua intervenção? Sem a iluminação do Espírito tal coisa sempre foi, é e será impossível!
Guardar a Palavra também tem uma relação intrínseca com o fato de Deus “armazená-la em nossos corações”. Buscarmos em Sua Palavra o nosso alimento e alento espirituais. É fruto da ação sobrenatural de Yahweh fazer com que a Sua Palavra nos seja introjetada, mesmo em meio às agitações internas produzidas pela alma e as circunstâncias externas que nos advenham.
Portanto, a prática da Palavra de Deus é uma consequência sobrenatural que nasce da caminhada de intimidade pessoal com Ele. É um processo espiritual de “obediência causada”. Natural e humanamente falando, não sabemos, queremos ou sentimos a necessidade de obedecer a Deus. É um diagnóstico que só a revelação da Sua Palavra pode nos assegurar!
Quando Yahweh é de fato a nossa herança, apenas expressaremos o Seu agir em todas as dimensões da nossa existência. Somente assim poderemos ter “prazer” em viver de acordo com a Sua Palavra. Não podemos viver sob o peso de termos que observar a Palavra Divina pelo esforço humano. Só o Senhor pode cumprir a Sua Lei em nós! Que alívio, que sensação de liberdade espiritual promovida pela graça Divina sabermos que não precisamos do desastroso e ineficiente empenho humano para observar a Sua Palavra revelada. Que possamos celebrar a ineficiência e a completa ausência do esforço e da capacidade humana no cumprimento desta Palavra!
Este Salmo nos ensina, pela revelação da Palavra Divina, o quanto o “Espírito” que agia através da Lei é o mesmo que age pelo Evangelho. A Lei só poderia ser cumprida pela ação graciosa de Deus em Seu povo. Para tanto, precisavam assumir a sua total incapacidade de cumpri-la diante do Senhor.
O salmista entendeu que cumprir a Palavra do Senhor deveria ser um reflexo da Sua presença nele. É fruto da vida Divina na vida humana. Na ótica Divina, cumprir a Sua Palavra nunca foi (Antigo Testamento) ou é (Novo Testamento) uma pesada obrigação. Obrigação é coisa de religião.
Para Yahweh a nossa obediência a Ele é uma questão de reflexo do Seu próprio caráter revelado para, em e através de nós por intermédio da Sua Palavra. Só existe obediência a Deus quando a Sua vontade direciona as e transparece em nossas vidas. Quando a Palavra de Deus se torna “o único critério” da obediência a Ele, ou a nossa única regra de fé e prática, saímos do domínio da religião para trilharmos no território da graça.
Ele tem sido a nossa herança? Ele é o nosso lugar de descanso e a Sua glória o foco da nossa existência? Nosso “divã espiritual” tem sido unicamente a Pessoa Divina? Vivamos a suficiência do Deus que sacia toda a nossa fome de significado e nos consola em todas as encruzilhadas e dilemas armazenados em nossas almas agitadas por um mundo contrário e hostil a ação redentora e terapêutica do Criador da humanidade!
O Senhor só é verdadeiramente a nossa “herança” ou o nosso “tudo” quando nada mais do que está dentro ou fora de nóspode ser maior do que o contentamento produzido pela Sua presença e suficiência!
 
 
Solo Deo Glória.

Nenhum comentário:

Postar um comentário