Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu,
nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. João
15:5.
A vida cristã autêntica é uma existência inteiramente
relacional. Vemos pela afirmação categórica de Jesus que a subsistência dos
ramos depende da sua permanência na videira, e que a causa da frutificação dos
sarmentos é a sua intimidade com o caule da vide. Jesus declara que ele é a cepa
e que os seus discípulos são as ramas que se nutrem nele e frutificam por meio
dele. A vida cristã é uma questão da conexão pessoal e da dependência espiritual
do discípulo com Cristo. Naquele dia, vós conhecereis que eu estou em meu
Pai, e vós, em mim, e eu, em vós. João 14:20.
Jesus veio a este mundo inteiramente submisso à vontade do Pai,
e viveu aqui uma vida de perfeita dependência dos desígnios celestiais. Ele foi
um homem 100% obediente aos propósitos do seu Pai e sujeito às suas ordens. Ele
jamais reivindicou os seus direitos ou se rebelou com as determinações divinas.
Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim a
vontade daquele que me enviou. João 6:38.
Alguns estudiosos da Bíblia sustentam que a enxertia dos ramos
na videira é uma questão soberana da graça de Deus inserindo os pecadores na
pessoa de Cristo Jesus, crucificado. Assim como todos estavam em Adão quando ele
pecou, assim também os discípulos de Cristo foram enxertados em seu corpo na
cruz, a fim de morrerem juntamente com ele, e depois ressuscitar simultaneamente
em novidade de vida. Porque, se fomos unidos com ele na semelhança da sua
morte, certamente, o seremos também na semelhança de sua ressurreição. Romanos
6:5.
Parece clara a lógica das Escrituras. Se fomos enxertados na
sua morte, também seremos participantes de sua vida ressuscitada. Isso significa
que ganhamos a nossa morte para o pecado quando fomos incluídos em Cristo
crucificado e ganhamos também uma vida nova, por meio de sua ressurreição. Logo,
essa nova vida em nós é a comunhão relacional da vida de Jesus Cristo em nosso
interior. Ora, se estávamos nele na cruz e ele está em nós na ressurreição, uma
vida produtiva vai se manifestar em nosso modo de viver.
Nós em Cristo, significa a crucificação de nossa vontade
egoísta. Cristo em nós, significa a manifestação poderosa da vida ressuscitada
em nosso viver. Uma vez que estamos em Cristo, não temos mais direitos ou
privilégios pessoais a defender, e uma vez que Cristo está em nós, não podemos
deixar de dar frutos para a glória de Deus. O galho depende da seiva do caule
para poder dar fruto, e os discípulos de Cristo dependem da suficiência da graça
para serem frutíferos.
Do ponto de vista da realização, há duas maneiras diferentes de
encarar o fenômeno da ação: uma, é a prática religiosa que pode ser muito
laboriosa, a outra, é a prática evangélica que pode até ser menos executiva. Os
dois modos de ação podem ser semelhantes nos resultados externos, mas são bem
diferentes nas motivações interiores. Como podemos saber se a nossa práxis é
religiosa ou evangélica? É aqui que mora a incógnita da questão, pois
freqüentemente, nós só percebemos o exterior quando observarmos os atos
visíveis, sem levar em conta as atitudes internas.
Uma atividade qualquer pode estar sendo desempenhada
corretamente, porém a sua motivação encontra-se totalmente equivocada. Por outro
lado, um trabalho desacertado pode ter uma intenção honesta. Antes de avaliar a
tarefa em si mesma, vamos examinar os propósitos que emolduram o serviço, pois
no Reino de Deus não bastam os resultados mensuráveis, é preciso ver o motivador
do trabalho. Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa
qualquer, fazei tudo para a glória de Deus. 1 Coríntios 10:31.
Aqui estamos diante do quesito básico nessa investigação. Que
tal sugerir um exame das intenções do coração? Não tenho nada contra suas
realizações, gostaria de saber apenas para quem vão as glórias? Essa é a
pendência mais séria nos projetos e realizações na igreja. Muitos de nós ao
fazermos alguma coisa já garantimos no processo o tributo à nossa admiração
pessoal. A nossa carência psicológica muitas vezes impõe uma recompensa pelo
nosso desempenho no empreendimento.
O problema é mais sério do que podemos avaliar, pois
freqüentemente vem encapado por uma aparência espiritual de pseudo-exaltação a
Deus. Entretanto, a rotina religiosa se evidencia fortemente pelo esforço
valoroso do praticante, que exige nas entrelinhas o reconhecimento pelos seus
méritos pessoais, exibindo nos relatórios uma pitada pretensiosa de excelência,
que sempre acaba reivindicando o depósito da glória em sua conta particular.
Mas os sintomas ambiciosos do poder, as estratégias políticas
de manipulação e a autocomiseração incrustada de ressentimentos revelam o quanto
nosso serviço para Deus não passa de uma falsificação barata. Como disse Roy
Hession, pensamos que estamos trabalhando para Deus, mas o teste de quão pouco
do nosso serviço é para Ele, revela-se através do nosso ressentimento ou
autocompaixão, quando as ações de outros, as circunstâncias, ou a falta de
saúde, tiram-no de nossas mãos!
O cristão autêntico, entretanto, não é um parasita inerte ou
uma lesma molenga que negligencia qualquer labuta em nome da graça. No evangelho
não encontramos uma graça indolente que justifique esse marasmo paralisante que
alguns querem defender. Se estivermos em Cristo certamente seremos frutíferos.
Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto. A vida cristã
genuína é uma vida extremamente produtiva e a graça de Deus é na verdade uma
graça muito operante.
Jesus escolheu os seus discípulos para uma tarefa com
propósito. Andar em círculos não é a mesma coisa que obter progresso. A
religião coloca as pessoas num cavalinho de carrossel em que há muito movimento,
mas não há desenvolvimento significativo para o reino de Deus. Contudo, no
evangelho de Jesus Cristo todo o avanço é motivado pela graça de Cristo, que
resulta em toda glória, ao Deus de toda graça. Não fostes vós que me
escolhestes a mim; pelo contrário, eu vós escolhi a vós outros e vos designei
para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça. João 15:16a.
Todo cristão legítimo é um produtor de frutos, pois a vida de
Cristo em seu interior garante esse efeito, mas nenhum deles reclama qualquer
glória para si mesmo nem se ressente da menor desconsideração. Não há discípulos
de Cristo aspirando aos postos importantes segundo a consideração humana, nem
exigindo um tratamento diferenciado, nem mesmo sangrando com mágoas profundas,
uma vez que o único objetivo de um cristão verdadeiro é viver dependendo da
graça de Cristo, para a glória de Deus. Se alguém fala, fale de acordo com os
oráculos de Deus; se alguém serve, faça-o na força que Deus supre, para que, em
todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem
pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém! 1Pedro
4:11.
A práxis cristã não tem a praxe de exigir o reconhecimento em razão dessa comichão emocional de carência por glória. Já que Cristo é o suprimento completo e suficiente de nossa personalidade, nenhuma alternativa nos sobra senão fazer tudo em nome do Senhor, com profunda alegria, dando graças a Deus em poder participar no maior projeto do universo, pois o fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre. E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai. Colossenses 3:17.
Solo Deo Glória
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O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
quinta-feira, 10 de maio de 2012
A PRAXE DA PRÁXIS
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