quinta-feira, 10 de maio de 2012

A PRAXE DA PRÁXIS

Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. João 15:5.
A vida cristã autêntica é uma existência inteiramente relacional. Vemos pela afirmação categórica de Jesus que a subsistência dos ramos depende da sua permanência na videira, e que a causa da frutificação dos sarmentos é a sua intimidade com o caule da vide. Jesus declara que ele é a cepa e que os seus discípulos são as ramas que se nutrem nele e frutificam por meio dele. A vida cristã é uma questão da conexão pessoal e da dependência espiritual do discípulo com Cristo. Naquele dia, vós conhecereis que eu estou em meu Pai, e vós, em mim, e eu, em vós. João 14:20.
Jesus veio a este mundo inteiramente submisso à vontade do Pai, e viveu aqui uma vida de perfeita dependência dos desígnios celestiais. Ele foi um homem 100% obediente aos propósitos do seu Pai e sujeito às suas ordens. Ele jamais reivindicou os seus direitos ou se rebelou com as determinações divinas. Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim a vontade daquele que me enviou. João 6:38.
Alguns estudiosos da Bíblia sustentam que a enxertia dos ramos na videira é uma questão soberana da graça de Deus inserindo os pecadores na pessoa de Cristo Jesus, crucificado. Assim como todos estavam em Adão quando ele pecou, assim também os discípulos de Cristo foram enxertados em seu corpo na cruz, a fim de morrerem juntamente com ele, e depois ressuscitar simultaneamente em novidade de vida. Porque, se fomos unidos com ele na semelhança da sua morte, certamente, o seremos também na semelhança de sua ressurreição. Romanos 6:5.
Parece clara a lógica das Escrituras. Se fomos enxertados na sua morte, também seremos participantes de sua vida ressuscitada. Isso significa que ganhamos a nossa morte para o pecado quando fomos incluídos em Cristo crucificado e ganhamos também uma vida nova, por meio de sua ressurreição. Logo, essa nova vida em nós é a comunhão relacional da vida de Jesus Cristo em nosso interior. Ora, se estávamos nele na cruz e ele está em nós na ressurreição, uma vida produtiva vai se manifestar em nosso modo de viver.
Nós em Cristo, significa a crucificação de nossa vontade egoísta. Cristo em nós, significa a manifestação poderosa da vida ressuscitada em nosso viver. Uma vez que estamos em Cristo, não temos mais direitos ou privilégios pessoais a defender, e uma vez que Cristo está em nós, não podemos deixar de dar frutos para a glória de Deus. O galho depende da seiva do caule para poder dar fruto, e os discípulos de Cristo dependem da suficiência da graça para serem frutíferos.
Do ponto de vista da realização, há duas maneiras diferentes de encarar o fenômeno da ação: uma, é a prática religiosa que pode ser muito laboriosa, a outra, é a prática evangélica que pode até ser menos executiva. Os dois modos de ação podem ser semelhantes nos resultados externos, mas são bem diferentes nas motivações interiores. Como podemos saber se a nossa práxis é religiosa ou evangélica? É aqui que mora a incógnita da questão, pois freqüentemente, nós só percebemos o exterior quando observarmos os atos visíveis, sem levar em conta as atitudes internas.
Uma atividade qualquer pode estar sendo desempenhada corretamente, porém a sua motivação encontra-se totalmente equivocada. Por outro lado, um trabalho desacertado pode ter uma intenção honesta. Antes de avaliar a tarefa em si mesma, vamos examinar os propósitos que emolduram o serviço, pois no Reino de Deus não bastam os resultados mensuráveis, é preciso ver o motivador do trabalho. Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus. 1 Coríntios 10:31.
Aqui estamos diante do quesito básico nessa investigação. Que tal sugerir um exame das intenções do coração? Não tenho nada contra suas realizações, gostaria de saber apenas para quem vão as glórias? Essa é a pendência mais séria nos projetos e realizações na igreja. Muitos de nós ao fazermos alguma coisa já garantimos no processo o tributo à nossa admiração pessoal. A nossa carência psicológica muitas vezes impõe uma recompensa pelo nosso desempenho no empreendimento.
O problema é mais sério do que podemos avaliar, pois freqüentemente vem encapado por uma aparência espiritual de pseudo-exaltação a Deus. Entretanto, a rotina religiosa se evidencia fortemente pelo esforço valoroso do praticante, que exige nas entrelinhas o reconhecimento pelos seus méritos pessoais, exibindo nos relatórios uma pitada pretensiosa de excelência, que sempre acaba reivindicando o depósito da glória em sua conta particular.
Mas os sintomas ambiciosos do poder, as estratégias políticas de manipulação e a autocomiseração incrustada de ressentimentos revelam o quanto nosso serviço para Deus não passa de uma falsificação barata. Como disse Roy Hession, pensamos que estamos trabalhando para Deus, mas o teste de quão pouco do nosso serviço é para Ele, revela-se através do nosso ressentimento ou autocompaixão, quando as ações de outros, as circunstâncias, ou a falta de saúde, tiram-no de nossas mãos!
O cristão autêntico, entretanto, não é um parasita inerte ou uma lesma molenga que negligencia qualquer labuta em nome da graça. No evangelho não encontramos uma graça indolente que justifique esse marasmo paralisante que alguns querem defender. Se estivermos em Cristo certamente seremos frutíferos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto. A vida cristã genuína é uma vida extremamente produtiva e a graça de Deus é na verdade uma graça muito operante.
Jesus escolheu os seus discípulos para uma tarefa com propósito. Andar em círculos não é a mesma coisa que obter progresso. A religião coloca as pessoas num cavalinho de carrossel em que há muito movimento, mas não há desenvolvimento significativo para o reino de Deus. Contudo, no evangelho de Jesus Cristo todo o avanço é motivado pela graça de Cristo, que resulta em toda glória, ao Deus de toda graça. Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vós escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça. João 15:16a.
Todo cristão legítimo é um produtor de frutos, pois a vida de Cristo em seu interior garante esse efeito, mas nenhum deles reclama qualquer glória para si mesmo nem se ressente da menor desconsideração. Não há discípulos de Cristo aspirando aos postos importantes segundo a consideração humana, nem exigindo um tratamento diferenciado, nem mesmo sangrando com mágoas profundas, uma vez que o único objetivo de um cristão verdadeiro é viver dependendo da graça de Cristo, para a glória de Deus. Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus; se alguém serve, faça-o na força que Deus supre, para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém! 1Pedro 4:11.
A práxis cristã não tem a praxe de exigir o reconhecimento em razão dessa comichão emocional de carência por glória. Já que Cristo é o suprimento completo e suficiente de nossa personalidade, nenhuma alternativa nos sobra senão fazer tudo em nome do Senhor, com profunda alegria, dando graças a Deus em poder participar no maior projeto do universo, pois o fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre. E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai. Colossenses 3:17.

Solo Deo Glória

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