domingo, 27 de maio de 2012

AS BEM-AVENTURANÇAS - VI

Bem aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus. Mateus 5:9 
A palavra grega para paz em português é a tradução do vocábulo grego eirene, o qual reproduz conceitualmente o que está contido na palavra hebraica cuja ocorrência se dá por mais de 250 vezes no Antigo Testamento. O conceito de "paz", na visão hebraica é muito amplo, podendo significar: descanso, segurança, confiança, viver em paz, ter paz, fazer a paz, conduta pacífica, harmonia ou tranqüilidade. Na totalidade do Antigo Testamento, shalom abrange o bem-estar no sentido mais amplo da palavra. Parafraseando este versículo podemos dizer: Bem-aventurados aqueles que não se deixam levar pelo espírito de partidarismo, permitindo que Deus seja sua única porção.
Paz é o oposto de akatastasia, que significa "desordem". A paz é a ordem estabelecida por Deus como o Deus da paz. A paz origina-se Daquele que é, que era, e que há de vir. João, às sete igrejas que estão na Ásia: Graça e paz sejam convosco da parte daquele que é, e que era, e que há de vir, e da dos sete espíritos que estão diante do seu trono. Apocalipse 1:4. Assim, a paz é descrita como a paz de Cristo e como dádiva do Pai.
A palavra de Deus ressalta que paz, no sentido de concórdia e harmonia, deve ser praticada, não somente na Igreja, como também entre os homens de modo geral. Assim, a plenitude da paz deve existir entre os que estão ¨dentro¨ da Igreja e também na relação desta com os que estão ¨fora¨ dela. "Tende paz uns com os outros": Porque em Cristo Jesus nem a circuncisão, nem a incircuncisão tem virtude alguma, mas sim o ser uma nova criatura. E a todos quantos andarem conforme esta regra, paz e misericórdia sobre eles e sobre o Israel de Deus. Gálatas 6:15-16.
Cristo é o mediador da Paz. Ele inaugura o reino de Deus e traz reconciliação: Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo. Romanos 5:1. Ele próprio, na realidade, é a paz. Os pacificadores, na verdade são àqueles que foram justificados pela fé em Cristo. Dietrich Bonhoeffer contribuiu para que o conceito "graça barata" se tornasse familiar em nosso meio. Porém, devemos considerar que, ¨paz barata" também é uma realidade. Proclamar "paz, paz", onde não há paz, é obra do falso profeta: E curam a ferida da filha de meu povo levianamente, dizendo: Paz, paz; quando não há paz. Jeremias 8:11.
O verdadeiro fundamento da nossa paz está revelado nestas palavras: E que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus. Colossenses 1:20. Esta reconciliação de todas as coisas, tanto nos céus como na terra, foi realizada pelo sangue. Não há nenhum outro fundamento pelo qual podemos descansar. A paz foi conquistada pelo derramamento de sangue.
Éramos inimigos de Deus, hostis a Ele, mas também, num sentido real, éramos também alvos de Sua hostilidade, por causa do nosso pecado. Isto significa que a nossa restauração ao favor divino dependia inteiramente de Deus, a parte ofendida, tomar a iniciativa de reconciliar os pecadores consigo mesmo. E isto Ele fez removendo o pecado, a razão da inimizade, através da morte de Seu filho.
Cristo cumpriu a pena do pecado. Ele Se responsabilizou por tudo a favor do seu povo: foi pregado na cruz como seu substituto, levou os seus pecados no Seu corpo sobre a cruz, e baixou à sepultura sob o peso deles. Por isso, a libertação do pecador, de tudo o que era contra ele, deve ser considerada como algo já realizado, de modo completo e definitivo. O pecador é vivificado da sepultura de Cristo, onde a sua velha vida foi deixada. Agora, a vida que ele tem é uma vida tomada do outro lado da morte, depois de todas as exigências serem satisfeitas.
A obra perfeita que Cristo consumou no seu corpo foi suficiente para estabelecer definitivamente a paz. O Pai foi glorificado perfeitamente e segundo a eficácia dessa obra estamos em perfeita harmonia com Deus. Isto quer dizer que essa obra é eficaz para nos apresentar perfeitamente reconciliados, santos, sem mácula e irrepreensíveis perante a face de Deus Pai... Agora, contudo vos reconciliou no corpo da sua carne, pela morte, para perante ele vos apresentar santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis. Colossenses 1:21-22.
Seja qual for a profundidade da ruína do homem, o amor de Deus sempre será mais profunda para alcançá-lo. Por mais negra que seja a sua culpa, o sangue de Jesus pode lavá-lo. Por mais largo que seja o abismo a separar o homem de Deus, a cruz tem-no atravessado. Deus desceu ao ponto mais baixo da condição do pecador, de modo a poder elevá-lo a uma posição de infinito favor, em ligação eterna com Seu Filho. Bem podemos exclamar: Graça, graça!!
Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo. Agora Ele está procedendo à reconciliação. Agora é tudo graça; agora Deus perdoa o pecador por meio da sua morte em Cristo. Agora, Ele está dando uma mensagem da graça pura e abundante. Agora, fala aos pecadores de uma redenção já efetuada por meio do precioso sacrifício de Cristo. Declara que a questão da inimizade por causa do pecado foi resolvida.
Deus estabeleceu a paz. Em seu Filho, Deus Se humilhou, a fim de estabelecer a paz. Eis que os pacificadores são considerados "filhos de Deus". O que eles fazem é repetir o que Deus já fez. Ser pacificador é agir como Deus agiu. Nem todos os pacificadores são filhos de Deus, mas todos os filhos de Deus são pacificadores. Como é agradável ver que a paz dos filhos de Deus está inseparavelmente ligada com Cristo e a sua obra! Assim, os filhos de Deus gozam da paz que brota da justiça divina: Até que se derrame sobre nós o espírito lá do alto; então o deserto se tornará em campo fértil, e o campo fértil será reputado por um bosque. E o juízo habitará no deserto, e a justiça morará no campo fértil. E o efeito da justiça será paz, e a operação da justiça, repouso e segurança para sempre. E o meu povo habitará em morada de paz, e em moradas bem seguras, e em lugares quietos de descanso. Isaías 32:15-18.
"Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus". Que maravilhoso privilégio é este de poder ser chamados filhos de Deus! Eis o mistério da nossa redenção, da nossa regeneração, de nosso novo nascimento e da nova vida que nos coloca num relacionamento íntimo com o Pai celestial: Cristo nos livrando da maldição para que possamos nos tornar filhos de Deus. Que estupenda revelação! Agora, podemos chamar Deus de Pai. "Pai nosso, que estás nos céus!
Ouça as palavras de Tomas Kempis: Ó inefável graça! Ó admirável condescendência! Ó amor infinito, singularmente reservado para o homem! E que direi eu ao Senhor por esta graça, por tão exímio amor? Até então, o homem não tinha esta revelação dada por Jesus: que podemos nos dirigir a Deus, como Pai. Nos escritos do apóstolo Paulo o lugar de filho é aquele que pertence aos regenerados, lugar a que Cristo os conduziu pela redenção, ou seja: o mesmo lugar que Lhe pertence.
Portanto, podemos dizer Abba, Pai: Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus. Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes em temor, mas recebestes o Espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai. O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. Romanos 8:14 -16. Esta é a adoção proveniente da graça, este é o grande privilégio pelo qual podemos - como filhos de Deus - Chamá-lo Aba Pai. Não apenas a posição, mas também o coração de filhos, é que nos leva a clamá-Lo: Abba Pai.
Esta é a adoção segundo a Sua graça, mediante a qual aqueles que eram inimigos de Deus, não apenas foram feitos seus amigos, como também os elevou à condição de filhos. Aba é a palavra aramaica que Jesus usava para se dirigir a seu Pai em oração, e é provável que a oração que Ele ensinou aos seus discípulos começasse por esta palavra. Como esta era a maneira usual das crianças judias se dirigirem a seus pais terrenos, sua aplicação feita por Jesus a Deus foi revolucionária, sugerindo a intimidade de um relacionamento de Pai e Filho.
Inefável amor de Deus! Nada mais perfeito nem melhor, no céu e na terra, do que ser chamados filhos de Deus: Vede quão grande amor nos tem concedido o Pai, que fôssemos chamados filhos de Deus. Por isso o mundo não nos conhece; porque não o conhece a ele. Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos. I João 3:1-2. Por mais profunda que seja a ruína do homem, o amor de Deus é ainda mais profundo.
Nada podia sondar a ruína do homem senão o amor de Deus, e nada podia sobrepujar a culpa do homem senão o sangue de Cristo. Mas, agora a própria profundidade da ruína só engrandece o amor que a sondou, e a intensidade da culpa apenas exalta a eficácia do sangue que a purifica. Inexplicável amor! Éramos inimigos, agora, filhos de Deus.

Solo Deo Glória

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