domingo, 13 de maio de 2012

QUANDO DEUS DIZ: MEU; EIS AÍ A SANTIFICAÇÃO.

Tomar-vos-ei de entre as nações, e vos congregarei de todos os países, e vos trarei para a vossa terra. Então, aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei. Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós coração de pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis. Habitareis na terra que eu dei a vossos pais; vós sereis o meu povo, e eu serei o vosso Deus. Ezequiel 36:24-28
Santidade é uma palavra que surge em ambiente religioso. Todas as religiões possuem uma visão de “vida certa” ou de vida ideal. Se há Deus, ele deseja que vivamos de um modo que o agrade e que o satisfaça quanto às suas exigências. Numa linguagem filosófica, isto é, fora do ambiente religioso, o pensamento humano chama isso de Ética. Nos dois pontos de vista, está implícita a ideia de que não se pode viver de qualquer jeito, e que há uma maneira correta ou ideal de viver a vida. Esta é a famosa constatação feita de forma precisa por Dostoiévski em sua obra, Os Irmãos Karamázov: “Se não há Deus, tudo é permitido!”
Na visão mais popular, na qual os pontos de vista são formados pela cultura massificada e, portanto, de maneira menos reflexiva, a santidade tem necessariamente uma conotação de pureza ascética, sempre ligada à mortificação do corpo, ao refreamento dos instintos e à privação de prazeres. Assim, santidade é tomada por uma vida de profunda abstinência quanto aos desejos relacionados ao corpo – restrição tanto alimentar quanto frequência a determinados lugares. Nesse sentido, podemos dizer que santidade é uma conduta pautada no legalismo. Não pratique, não faça, não vá, não beba, não toque, não manuseie, não assista, não ouça. Enfim, se prive! Tudo isso para alguns, dá um sabor de prisão, já para outros, de diferenciação dos demais e sensação de aproximação do divino. Conforme o texto de Colossenses 2:20-23: Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis ainda no mundo, vos sujeitais a ordenanças: Não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro, segundo os preceitos de doutrinas dos homens? Pois que todas estas coisas, com o uso, se destroem. Tais coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor algum contra a sensualidade.
Por outro lado, não se pode ignorar a sinceridade que muitos possuem em relação ao desejo genuíno de ruptura com as velhas práticas, que outrora sob o pecado viviam de forma intensa, e que depois de uma experiência com o Evangelho, passam a abominá-las. No entanto, não se pode perder de vista que tais experiências devem estar sujeitas a uma análise mais profunda e a uma investigação mais intensa à luz do Evangelho de Jesus Cristo, pois como em todo decorrer histórico, o falso sempre pareceu demais com o verdadeiro e, muitas vezes, é até igual, contudo, ocupando o lugar errado na pregação, causa grande tribulação e transtorno na igreja. Como por exemplo, o papel das obras no processo da salvação. Somos salvos pela graça, por meio da fé, para as boas obras. Mas, já nos tempos do apóstolo Paulo, muitos ensinavam outra coisa. Ensinavam: Não para, mas, pelas obras. Note. Claro que as obras estão presentes na vida de todo salvo, mas é necessário atentarmos para o papel que elas ocupam: causa ou consequência?
Este princípio se aplica também sobre a questão da santificação. É causa ou consequência? Muitos acreditam ser a causa, mas também não é questão de ser uma simples consequência enquadrada numa questão lógica racional. Trata-se de um valor espiritual muito sério e pouco compreendido, sobretudo porque, não é somente necessário destruir as concepções equivocadas, há que se retirar também todo entulho decorrente da demolição. Santidade é assunto que exige discernimento espiritual, uma vez que estamos entre muitas sutilezas.
A sedução quase irresistível é a de colocar a santificação como meio para se alcançar a salvação. O homem, vendo o que deveria ser, é impelido pela ansiedade de perder-se e, por isso, acaba por acreditar em sua força para atualizar-se, transformando a conduta santa num mecanismo de autossalvação. A sutileza aqui é a escravidão da vontade que induz o ser humano a atingir aquilo que perdeu. Iludido com o conhecimento da lei, faz de tal conhecimento um delírio, supondo superar seu estado de pecado pelo cumprimento da norma. O fracasso reside no fato de que não é o novo atuar que precede o novo ser, mas sim, o contrário.
Outra terrível sutileza é aceitar o fato apenas doutrinariamente. Desenvolver uma capacidade de articular a doutrina e com habilidade encaixar o significado da letra sempre que a mente for acionada em relação à culpa, e neste mecanismo, a repetição gera o vício de se apelar a uma verdade apenas racionalmente, confundindo a expressão verbal da fé com a realidade da fé. É o tipo de pessoa que analisa as coisas de fora, como Ananias e Safira ; que querem se fazer filhos de Deus pelo conhecimento e repetição das informações decoradas, como também é o caso do Mágico Simão. Em todos estes casos eles não querem identificação com os legalistas, mas também não avançam além da letra. No tocante a Deus, professam conhecê-lo; entretanto, o negam por suas obras. Tito 1:16a.
Para falar de santificação é necessário antes de qualquer coisa conhecer a verdade acerca de nós próprios. É necessário se reconhecer no assertivo diagnóstico da Palavra - somos todos pecadores. Não há boa vontade em nós. A razão não é um meio válido para conhecer a Deus. Não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, e de uma vez só se fizeram inúteis. Romanos 3:12. Isto que está em pé e que com algum conhecimento de causa dou o nome de EU, é o que a Bíblia chama de velho homem - corpo do pecado. Isso que acho ser EU é a rebelião contra Deus e que de alguma forma incompreensível o Senhor prefere redimir. Isto que denomino de EU, é a carne que para nada mais presta, cujo único destino possível é a morte.
O velho homem é o velho Adão com o mesmo instinto de sobrevivência. Ele de fato acredita na cinta de folhagem que fizera para si. É como o louco que vê seu corpo como sendo de vidro e que não se cansa de lustrá-lo. Há uma patologia visceral no ser humano que compromete seu juízo. Essa patologia na Bíblia é conhecida como sarks. É o si mesmo, o qual quer se salvar, sendo que nesse empreendimento de salvar-se, perde a verdadeira vida. É o si mesmo que se ocupa de ganhar o mundo inteiro e que acaba por perder a alma, cuja cura é o tomar sobre si a sentença de morte. É o tomar da cruz (Mateus 16: 24-25).
Jesus não veio trazer uma nova lei, Jesus não veio apresentar um novo conhecimento, Jesus veio realizar uma obra perfeita. Obra esta que ninguém poderia fazer. Ele veio libertar-me de mim mesmo, de tudo isso que eu sou. As minhas máscaras e as minhas crostas estão de tal forma em mim incorporadas e, numa quantidade tão absurda, que impedem que Eu me reconheça. E, aquilo que chamamos de vida, na verdade, é relação de fantasias, de pecado encontrando e se nutrindo do curso deste mundo, pois quando apresentamos o melhor de nossas intenções a Jesus, apresentamos a proposta de fazê-lo desistir da cruz, ou seja, acreditamos que o melhor a fazer é aderir à ideia do diabo, evidenciando o tamanho de nossa chaga. E Pedro, chamando-o à parte, começou a reprová-lo, dizendo: Tem compaixão de ti, Senhor; isso de modo algum te acontecerá. Mas Jesus, voltando-se, disse a Pedro: Arreda, Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, por que não cogita das coisas de Deus, e sim das dos homens. Mateus 16:22-23.
Fazer? O que fazer? Nada pode ser feito! Creia na sentença de morte sobre você. Creia que no corpo de Cristo moído na cruz do calvário fomos todos atraídos no Seu corpo, para que na Sua morte, experimentássemos o nosso morrer. Porque, não é verdade que Ele apenas substituiu o pecador, antes, também o incluiu, pois se somente o substituísse, seria semelhante ao pecador comer da árvore da vida no jardim do Éden, o qual viveria eternamente como pecador. Jesus na Cruz não somente perdoa, mas também desfaz a velha criatura, faz morrer a fonte do pecado, da transgressão e da incredulidade. Na cruz Jesus nos mostra uma graça preciosa, não uma graça barata, pois a graça barata ensina que o pecado é que morreu, mas a graça preciosa de Jesus assevera que, se um morreu por todos logo todos morreram. 2 Coríntios 5:14b.
Somente quando pela revelação do Senhor recebemos o veredicto de morte é que sobre nós atua o Espírito de santidade, pela ressurreição dos mortos, a saber, o Espírito do poder da vida indestrutível que está em Cristo Jesus nosso Senhor. Quando sentenciados pelo morrer de Jesus na cruz e mortos para o pecado, é que atua sobre nós a Lei do Espírito da vida, que é o Espírito da Lei já cumprida em Cristo Jesus.
Santificação é a vida de Cristo em nós, que age dando liberdade; que nos conduz a um lugar amplo diante dele. Uma vida de intimidade desde as entranhas, não de estética religiosa, mas de verdade relacional com Ele. Vivendo por Ele, através da Sua vida que agora é a nossa vida; não pautada em doutrinas, nem em expediente religioso, mas em justiça, paz e alegria no Espírito Santo. Vida santa é aquela vida que caminha diante de Deus com alegria e gratidão, porque Aquele, e somente Aquele que poderia me condenar, resolveu me absolver. Ele mesmo faz morrer o velho homem e faz ressurgir a nova vida que é a de Cristo. Santificação é o fruto legítimo da vida de Cristo em nós. Caso contrário, ou seja, caso a santificação seja uma obra que eu possa desempenhar depois da redenção, isto seria semelhante ao empreendimento de se colocar rosas sobre a cruz, ou ainda, de se interpretar o grito agonizante de Jesus: “tudo está consumado!” como uma encenação teatral, pois assim intentaram os gnósticos do primeiro século e que inspiram alguns ainda hoje, os quais não desistiram de tal concepção.
Santificação começa com a libertação de mim mesmo da escravatura, o que possibilita a manifestação da vida reconciliada em meu ser. Portanto, santificação está mais relacionada com o agir de Deus em nós, do que a um estado das coisas em si. É o que Lutero, o grande reformador nos ensinou: “O que Deus ama isto é santo, qualquer que seja a constituição de sua natureza”. É o que aprendemos com a oração ensinada por Jesus: “Santificado seja o teu nome”. Santificação, então, designa o agir de Deus, pelo qual Ele escolhe algo para si, para Sua propriedade. Que Deus santifique Seu nome em nossas vidas. Que Deus nos abençoe.

Solo Deo Glória

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