Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e
este crucificado. I Coríntios 2:2.
Se há uma palavra para descrever o mundo atual, esta palavra
chama-se "crise". Ela afeta todos os segmentos da sociedade moderna. É a crise
na economia, a crise na política, a crise nas instituições, a crise familiar, a
crise existencial. A crise é o pano de fundo da realidade humana. Mas existe uma
instituição que, em certo ponto, não deveria estar em crise. É a igreja. A
igreja deveria ser o segmento da sociedade responsável em anunciar a "luz do
mundo" em meio às trevas. No entanto, a própria igreja padece de uma crise
intestina: uma crise de identidade. As igrejas deixaram de anunciar o Evangelho
para utilizar a Bíblia como um livro de "auto-ajuda".
Mas, então, o que há de errado? A resposta não é tão simples.
Uma das razões é a de que as igrejas deixaram de buscar a simplicidade que há em
Cristo, para ir atrás de modismos. O mundanismo entrou nas igrejas e as tem
influenciado. A pregação da verdadeira mensagem bíblica deixou de ocupar os
púlpitos. O Evangelho da genuína graça foi colocado de lado para dar espaço a
uma mensagem destinada a "evangélicos consumidores", atrás de seus direitos.
Evangelho significa "boas novas", isto é, a boa notícia. O
apóstolo Paulo definiu Evangelho como sendo o poder de Deus para a salvação
de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego. Romanos 1:16b.
A questão é que este evangelho, que é o poder de Deus para salvação, não atrai
multidões. O argumento atual, dentro do "marketing eclesiástico", é o de que,
para causar impacto sobre as pessoas, é necessário falar sobre coisas das quais
elas estejam interessadas.
Este fato, porém, não é uma novidade. Quando o apóstolo Paulo
esteve em Atenas pregando a respeito da morte e ressurreição de Cristo, as
pessoas questionavam: "Que quer dizer esse tagarela?" (Atos 17:18). E depois,
pregando no Areópago, disseram os atenienses: "Quando ouviram falar de
ressurreição de mortos, uns escarneceram, e outros disseram: A respeito disso te
ouviremos noutra ocasião". Atos 17:32. Após a pregação de Paulo, apenas
alguns poucos creram.
Na época de Jesus, o povo consistia, basicamente, de judeus e
gregos. E em que estavam eles mais interessados? Os judeus interessavam-se pela
lei, a lei dada por Deus através de Moisés. Nada agradava mais aos judeus do que
discutir acerca da lei. "e um deles, intérprete da Lei, experimentando-o, lhe
perguntou: Mestre, qual é o grande mandamento na Lei?". Mateus 22:35-36.
"disseram a Jesus: Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério. E
na lei nos mandou Moisés que tais mulheres sejam apedrejadas; tu, pois, que
dizes?". João 8:4-5.
Todavia, apesar de Paulo saber que os judeus importavam-se com
a lei, não gastou seu tempo discorrendo sobre a lei e seus detalhes. E por uma
razão bastante simples: visto que ninguém será justificado diante dele por
obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado.
Romanos 3:20. O apóstolo Paulo sabia muito bem qual é o propósito da lei. Ele
sabia que a lei não poderia fazer nada pelo homem, a não ser mostrar o seu
pecado. Mais à frente, Paulo reitera este ensinamento, em Romanos 8:3
Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso
fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no
tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado.
Por outro lado, os gregos interessavam-se por filosofia.
Atenas, naquela época, era a capital do conhecimento filosófico. E todos os
gregos e estrangeiros que ali viviam estavam interessados em "novidades". Mas
novidades que viessem acrescentar algo a sua filosofia, a sua cultura. A Grécia
foi a nação que mais produziu filósofos. A filosofia é uma tentativa de entender
a vida.
Todavia, o apóstolo Paulo sabia que a grande questão não se
resumia em "entender" a vida e a sociedade, mas, sim, em ter a vida e a
sociedade transformadas. No final do primeiro capítulo de Romanos, Paulo nos dá
uma pequena descrição do mundo de sua época, do estado da sociedade, apesar de
toda a filosofia e cultura, enfim, apesar de toda a sabedoria grega: E, por
haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma
disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes, cheios de
toda injustiça, malícia, avareza e maldade; possuídos de inveja, homicídio,
contenda, dolo e malignidade; sendo difamadores, caluniadores, aborrecidos de
Deus, insolentes, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos
pais, insensatos, pérfidos, sem afeição natural e sem misericórdia. Romanos
1:28-31.
Era assim que o povo vivia. E é assim que o povo vive até os
dias de hoje. Não houve qualquer mudança. Em mais de dois mil anos de
conhecimento filosófico, de sabedoria humana, a sociedade não melhorou, pelo
contrário, o ser humano está cada vez mais incompreensível. E a pergunta que se
faz é a seguinte: o homem vai continuar querendo "entender" a vida e a
sociedade? Ou vai querer ver a vida e a sociedade transformadas? Não devemos
confundir o avanço da ciência e da tecnologia, com os aspectos morais e éticos
do homem.
Paulo não pregou filosofia, não se deteve com a sabedoria
humana, porque tudo isto, para ele, era vão, sem significado algum.
Entretanto, expomos sabedoria entre os experimentados; não, porém, a
sabedoria deste século, nem a dos poderosos desta época, que se reduzem a
nada. I Coríntios 2:6. "Nada", é o que diz Paulo, ou seja, a sabedoria
humana é uma nulidade. A maior prova de que o apóstolo estava falando uma grande
verdade está no fato de que o homem de hoje continua tendo as mesmas reações e
condutas, senão piores, daquelas descritas por Paulo, no primeiro capítulo de
Romanos.
Tanto a lei, dada por Deus (não obstante a sua função de
denunciar o pecado), quanto a sabedoria humana, deixam o homem em total
desamparo. Como disse o Dr. Martyn Lloyd Jones, "as pessoas não darão ouvidos
ao evangelho até que tenham percebido a falácia e inutilidade de tudo o
mais", fazendo uma referência ao conhecimento da lei e à sabedoria
humana.
Foi por esta razão que o apóstolo Paulo tomou uma decisão
drástica: Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este
crucificado. I Coríntios 2:2. Nem a lei, nem a sabedoria humana, podem
transformar a vida do homem. Mas a graça de Deus, mediante Jesus Cristo, e este
crucificado, não só pode, como faz, de fato, uma transformação radical,
regenerando o ser humano. Trata-se de uma mudança de consequências eternas. Aqui
está o plano de Deus para a salvação dos indivíduos e da sociedade. Este, sim,
deveria ser o foco das igrejas.
Jesus Cristo, e este crucificado, é o fim e, ao mesmo tempo, o
início de tudo. A morte de Cristo na cruz põe fim ao nosso eu. A ressurreição de
Cristo gera vida dentro de nós, é o início de uma nova vida. Logo, já não sou
eu quem vive, mas Cristo vive em mim. Gálatas 2:20a. E somente esta nova
vida em nós, a vida de Cristo, é capaz de mudar o curso da nossa existência e da
nossa sociedade. Nem a lei, nem o conhecimento, nem a sabedoria, podem fazer tal
coisa. Porque tanto os judeus pedem sinais, como os gregos buscam sabedoria;
mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os
gentios. I Coríntios 1:22-23.
Em Adão, o homem rebelou-se contra Deus. E a sua maior
necessidade, agora, é a de ser reconciliado com o Pai celestial. Só que, por
causa do pecado, esta reconciliação somente é possível mediante a punição do
próprio pecado. Porque o salário do pecado é a morte. Romanos 6:23a. A
boa notícia é que Deus enviou seu Filho para receber esta punição pelo nosso
pecado. Jesus Cristo pagou o preço do nosso resgate, na Cruz do Calvário, com
seu sangue. A obra redentora de Jesus Cristo, e este crucificado, não representa
uma mudança apenas de comportamento humano, mas uma mudança de natureza.
Na cruz de Cristo, não há como se dissociar a morte da
ressurreição. Até porque Cristo morreu para ressuscitar. Não é a morte pela
morte em si mesma. Mas a morte para gerar vida. Em verdade, em verdade vos
digo: se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se
morrer, produz muito fruto. João 12:24. Na cruz, nossos pecados são
perdoados, somos reconciliados com Deus. Na ressurreição, nossa vida é
transformada. Porque, se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus
mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos
salvos pela sua vida. Romanos 5:10.
O que levou Paulo a tomar esta decisão tão drástica? Foi uma
experiência real e verdadeira com o Senhor Jesus Cristo, no caminho para
Damasco. Antes disto, Paulo era Saulo. E Saulo possuía duas características
marcantes. A primeira era a de ser um homem estudado e bastante culto: foi
instruído aos pés de Gamaliel, segundo a exatidão da lei dos judeus, sendo
zeloso para com Deus (Atos 22:3). A segunda era a de ser perseguidor da igreja:
assolava a igreja, entrando pelas casas, arrastando homens e mulheres e
colocando-os na prisão (Atos 8:3). Saulo dava seu voto quando matavam os
cristãos; castigava-os nas sinagogas, obrigando-os até a blasfemar (Atos
26:10-11). Mas foi Cristo, que é o poder de Deus e a sabedoria de Deus (I
Coríntios 1:24), que o fez abrir os olhos.
Estudou muito. Mas o que a sabedoria fez por Saulo? O que o
conhecimento da lei fez por Saulo? Nada, a não ser um perseguidor implacável dos
cristãos. No entanto, quando a graça de Deus o alcançou, e Saulo conheceu a
Cristo verdadeiramente, ele foi transformado. Conhecer Cristo é mais importante
do que saber explicar fatos a respeito dele.
Somente a graça de Deus, revelada na mensagem de Jesus Cristo,
e este crucificado, pode transformar vidas. Paulo escreveu aos Coríntios:
Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas
fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso
Deus. I Coríntios 6:11. De quem Paulo estava falando? De injustos, impuros,
idólatras, adúlteros, efeminados, sodomitas, ladrões, avarentos, bêbados,
maldizentes e roubadores, que foram transformados pelo poder de Deus.
Cristo crucificado deveria ser a identidade de toda a igreja,
como instituição. E não o que as suas bênçãos podem oferecer aos homens. Que
Deus tenha misericórdia de todos nós.
Solo Deo Glória.
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O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
sábado, 26 de maio de 2012
UMA DECISÃO RADICAL
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