sábado, 26 de maio de 2012

UMA DECISÃO RADICAL


Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. I Coríntios 2:2.
Se há uma palavra para descrever o mundo atual, esta palavra chama-se "crise". Ela afeta todos os segmentos da sociedade moderna. É a crise na economia, a crise na política, a crise nas instituições, a crise familiar, a crise existencial. A crise é o pano de fundo da realidade humana. Mas existe uma instituição que, em certo ponto, não deveria estar em crise. É a igreja. A igreja deveria ser o segmento da sociedade responsável em anunciar a "luz do mundo" em meio às trevas. No entanto, a própria igreja padece de uma crise intestina: uma crise de identidade. As igrejas deixaram de anunciar o Evangelho para utilizar a Bíblia como um livro de "auto-ajuda".
Mas, então, o que há de errado? A resposta não é tão simples. Uma das razões é a de que as igrejas deixaram de buscar a simplicidade que há em Cristo, para ir atrás de modismos. O mundanismo entrou nas igrejas e as tem influenciado. A pregação da verdadeira mensagem bíblica deixou de ocupar os púlpitos. O Evangelho da genuína graça foi colocado de lado para dar espaço a uma mensagem destinada a "evangélicos consumidores", atrás de seus direitos.
Evangelho significa "boas novas", isto é, a boa notícia. O apóstolo Paulo definiu Evangelho como sendo o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego. Romanos 1:16b. A questão é que este evangelho, que é o poder de Deus para salvação, não atrai multidões. O argumento atual, dentro do "marketing eclesiástico", é o de que, para causar impacto sobre as pessoas, é necessário falar sobre coisas das quais elas estejam interessadas.
Este fato, porém, não é uma novidade. Quando o apóstolo Paulo esteve em Atenas pregando a respeito da morte e ressurreição de Cristo, as pessoas questionavam: "Que quer dizer esse tagarela?" (Atos 17:18). E depois, pregando no Areópago, disseram os atenienses: "Quando ouviram falar de ressurreição de mortos, uns escarneceram, e outros disseram: A respeito disso te ouviremos noutra ocasião". Atos 17:32. Após a pregação de Paulo, apenas alguns poucos creram.
Na época de Jesus, o povo consistia, basicamente, de judeus e gregos. E em que estavam eles mais interessados? Os judeus interessavam-se pela lei, a lei dada por Deus através de Moisés. Nada agradava mais aos judeus do que discutir acerca da lei. "e um deles, intérprete da Lei, experimentando-o, lhe perguntou: Mestre, qual é o grande mandamento na Lei?". Mateus 22:35-36. "disseram a Jesus: Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério. E na lei nos mandou Moisés que tais mulheres sejam apedrejadas; tu, pois, que dizes?". João 8:4-5.
Todavia, apesar de Paulo saber que os judeus importavam-se com a lei, não gastou seu tempo discorrendo sobre a lei e seus detalhes. E por uma razão bastante simples: visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado. Romanos 3:20. O apóstolo Paulo sabia muito bem qual é o propósito da lei. Ele sabia que a lei não poderia fazer nada pelo homem, a não ser mostrar o seu pecado. Mais à frente, Paulo reitera este ensinamento, em Romanos 8:3 Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado.
Por outro lado, os gregos interessavam-se por filosofia. Atenas, naquela época, era a capital do conhecimento filosófico. E todos os gregos e estrangeiros que ali viviam estavam interessados em "novidades". Mas novidades que viessem acrescentar algo a sua filosofia, a sua cultura. A Grécia foi a nação que mais produziu filósofos. A filosofia é uma tentativa de entender a vida.
Todavia, o apóstolo Paulo sabia que a grande questão não se resumia em "entender" a vida e a sociedade, mas, sim, em ter a vida e a sociedade transformadas. No final do primeiro capítulo de Romanos, Paulo nos dá uma pequena descrição do mundo de sua época, do estado da sociedade, apesar de toda a filosofia e cultura, enfim, apesar de toda a sabedoria grega: E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes, cheios de toda injustiça, malícia, avareza e maldade; possuídos de inveja, homicídio, contenda, dolo e malignidade; sendo difamadores, caluniadores, aborrecidos de Deus, insolentes, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais, insensatos, pérfidos, sem afeição natural e sem misericórdia. Romanos 1:28-31.
Era assim que o povo vivia. E é assim que o povo vive até os dias de hoje. Não houve qualquer mudança. Em mais de dois mil anos de conhecimento filosófico, de sabedoria humana, a sociedade não melhorou, pelo contrário, o ser humano está cada vez mais incompreensível. E a pergunta que se faz é a seguinte: o homem vai continuar querendo "entender" a vida e a sociedade? Ou vai querer ver a vida e a sociedade transformadas? Não devemos confundir o avanço da ciência e da tecnologia, com os aspectos morais e éticos do homem.
Paulo não pregou filosofia, não se deteve com a sabedoria humana, porque tudo isto, para ele, era vão, sem significado algum. Entretanto, expomos sabedoria entre os experimentados; não, porém, a sabedoria deste século, nem a dos poderosos desta época, que se reduzem a nada. I Coríntios 2:6. "Nada", é o que diz Paulo, ou seja, a sabedoria humana é uma nulidade. A maior prova de que o apóstolo estava falando uma grande verdade está no fato de que o homem de hoje continua tendo as mesmas reações e condutas, senão piores, daquelas descritas por Paulo, no primeiro capítulo de Romanos.
Tanto a lei, dada por Deus (não obstante a sua função de denunciar o pecado), quanto a sabedoria humana, deixam o homem em total desamparo. Como disse o Dr. Martyn Lloyd Jones, "as pessoas não darão ouvidos ao evangelho até que tenham percebido a falácia e inutilidade de tudo o mais", fazendo uma referência ao conhecimento da lei e à sabedoria humana.
Foi por esta razão que o apóstolo Paulo tomou uma decisão drástica: Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. I Coríntios 2:2. Nem a lei, nem a sabedoria humana, podem transformar a vida do homem. Mas a graça de Deus, mediante Jesus Cristo, e este crucificado, não só pode, como faz, de fato, uma transformação radical, regenerando o ser humano. Trata-se de uma mudança de consequências eternas. Aqui está o plano de Deus para a salvação dos indivíduos e da sociedade. Este, sim, deveria ser o foco das igrejas.
Jesus Cristo, e este crucificado, é o fim e, ao mesmo tempo, o início de tudo. A morte de Cristo na cruz põe fim ao nosso eu. A ressurreição de Cristo gera vida dentro de nós, é o início de uma nova vida. Logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. Gálatas 2:20a. E somente esta nova vida em nós, a vida de Cristo, é capaz de mudar o curso da nossa existência e da nossa sociedade. Nem a lei, nem o conhecimento, nem a sabedoria, podem fazer tal coisa. Porque tanto os judeus pedem sinais, como os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios. I Coríntios 1:22-23.
Em Adão, o homem rebelou-se contra Deus. E a sua maior necessidade, agora, é a de ser reconciliado com o Pai celestial. Só que, por causa do pecado, esta reconciliação somente é possível mediante a punição do próprio pecado. Porque o salário do pecado é a morte. Romanos 6:23a. A boa notícia é que Deus enviou seu Filho para receber esta punição pelo nosso pecado. Jesus Cristo pagou o preço do nosso resgate, na Cruz do Calvário, com seu sangue. A obra redentora de Jesus Cristo, e este crucificado, não representa uma mudança apenas de comportamento humano, mas uma mudança de natureza.
Na cruz de Cristo, não há como se dissociar a morte da ressurreição. Até porque Cristo morreu para ressuscitar. Não é a morte pela morte em si mesma. Mas a morte para gerar vida. Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto. João 12:24. Na cruz, nossos pecados são perdoados, somos reconciliados com Deus. Na ressurreição, nossa vida é transformada. Porque, se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida. Romanos 5:10.
O que levou Paulo a tomar esta decisão tão drástica? Foi uma experiência real e verdadeira com o Senhor Jesus Cristo, no caminho para Damasco. Antes disto, Paulo era Saulo. E Saulo possuía duas características marcantes. A primeira era a de ser um homem estudado e bastante culto: foi instruído aos pés de Gamaliel, segundo a exatidão da lei dos judeus, sendo zeloso para com Deus (Atos 22:3). A segunda era a de ser perseguidor da igreja: assolava a igreja, entrando pelas casas, arrastando homens e mulheres e colocando-os na prisão (Atos 8:3). Saulo dava seu voto quando matavam os cristãos; castigava-os nas sinagogas, obrigando-os até a blasfemar (Atos 26:10-11). Mas foi Cristo, que é o poder de Deus e a sabedoria de Deus (I Coríntios 1:24), que o fez abrir os olhos.
Estudou muito. Mas o que a sabedoria fez por Saulo? O que o conhecimento da lei fez por Saulo? Nada, a não ser um perseguidor implacável dos cristãos. No entanto, quando a graça de Deus o alcançou, e Saulo conheceu a Cristo verdadeiramente, ele foi transformado. Conhecer Cristo é mais importante do que saber explicar fatos a respeito dele.
Somente a graça de Deus, revelada na mensagem de Jesus Cristo, e este crucificado, pode transformar vidas. Paulo escreveu aos Coríntios: Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus. I Coríntios 6:11. De quem Paulo estava falando? De injustos, impuros, idólatras, adúlteros, efeminados, sodomitas, ladrões, avarentos, bêbados, maldizentes e roubadores, que foram transformados pelo poder de Deus.
Cristo crucificado deveria ser a identidade de toda a igreja, como instituição. E não o que as suas bênçãos podem oferecer aos homens. Que Deus tenha misericórdia de todos nós.

Solo Deo Glória.

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