Então, ele me disse: A minha graça te basta, (ou é
suficiente) porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais
me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. 2
Coríntios 12:9
Saulo, o perseguidor da Igreja, o religioso implacável, foi
transformado em um filho de Aba e servo de Jesus Cristo. Paulo, o filho-servo
convertido, passou pela escola do deserto, sendo preparado pelo Espírito Santo
para a obra do apostolado cristão. Tornou-se um baluarte da pregação do
evangelho e fez uma viagem particular à estância celestial, se no corpo ou fora
deste, ele não tem noção, mas sabe que esteve num ambiente denominado terceiro
céu. Foi uma realidade incomum.
Lá, Paulo, o apóstolo gracioso, ouviu coisas indizíveis para
qualquer mortal e, ao regressar como alguém fora de série, estava em perigo.
Talvez, ele seja a única pessoa que tenha tido este privilégio. Mas, agora, o
perigo rondava a sua alma. Ser especial é encontrar-se tendente à presunção.
Ninguém pode ser único em matéria de distinção, sem cair no risco da
vanglória.
A obra prima do pecado é nos perpetrar no nível dos
condecorados, com uma boa opinião de nós mesmos. Por isso, o Pai precisava
entrar neste assunto perigoso. Foi aí que Aba enviou um mensageiro de
Satanás para desmontar a altanaria deste super astronauta. O Manual do
Fabricante já prescrevia: A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito,
a queda. Provérbios 16:18.
Não há nada no coração do ser humano que mais se contraponha ao
Espírito de Deus do que a ostentação da glória pessoal. Desconstruir uma posição
privilegiada foi uma tarefa divina aos cuidados de um mensageiro maligno. O
projeto era de Deus, mas o desconstrutor foi Satanás.
O Soberano Deus pode usar qualquer uma das suas criaturas,
mesmo as mais rebeldes e malignas, para a execução de qualquer um dos seus
propósitos em benefício dos seus filhos. O Senhor é tão poderoso que até mesmo
os seus inimigos mais ferrenhos, quando são ordenados, o obedecem sem
controverter. Neste Universo não há dois soberanos coexistindo ao mesmo tempo.
Não existem dois Deuses, um do bem e outro do mal. Elohim, o Deus Triúno,
é o único Criador e todos os outros seres criados são apenas criaturas.
O apóstolo Paulo corria grande risco de ensoberbecer-se com a
grandeza das revelações. Então, o Senhor lhe designou um espinho na carne para
abatê-lo. Era um representante de Satanás, mas quem havia dado a ordem para o
mister foi o próprio Senhor. Paulo carecia de esvaziamento.
O orgulho é a principal plataforma do inferno para o lançamento
do pecado, enquanto a humildade é o manto que reveste os filhos de Deus. O Diabo
não tinha nenhum interesse em desensoberbecer o enfatuado viajante dos páramos
celestiais. Na verdade, a sua intenção era mantê-lo elevado e cheio de si mesmo.
Quem queria quebrantá-lo era o Pai, por isso a sua estratégia articulada para a
desocupação deste inquilino sorrateiro. Cuidado com a invisibilidade do
orgulho.
O pecado nos tornou teomaníacos. Somos uma raça aspirante ao
trono de Deus. Mesmo os santos sofrem deste mal do altar. Queremos ser vistos
como santos. Gostamos de ser reconhecidos como crentes maduros e evoluídos.
Temos prazer em contar aos outros das nossas aventuras espirituais exitosas e
apelamos para a platéia aprovar o modelo de nossa santidade.
Graças ao Pai por sua intervenção. O filho de Aba
precisa ser exaurido de sua presunção humanista. Os sofrimentos aparecem aqui
como instrumentos cirúrgicos para o enfraquecimento de nossa humanidade
prepotente. Enquanto no esporte os atletas tomam anabolizantes para super
fortalecer os músculos, na vida espiritual, o Pai envia espinhos satânicos para
nos fazer fracos. Astheneia é a palavra grega que nos habilita à
dependência divina. Ela é a instituição do fracasso.
No reino de Deus, a impotência é o verdadeiro caminho da graça
para a superpotência espiritual. Quanto mais eu decrescer em fraqueza, isto é,
quanto mais astênico eu estiver em minha alma, mais serei dependente do
Todo-Poderoso e, neste caso, ao chegar à total impotência, me tornaria
potentíssimo, através da onipotência divina. Paulo sabia do valor desta lição,
ao dizer: tudo posso naquele que me fortalece. Filipenses 4:13. No reino
de Deus, quando estou débil, então sou feito pujante. Quanto mais impotente em
mim mesmo, mais encouraçado pelo poder do alto.
A Escola do esvaziamento passa também pelo júbilo na lição da
húbris, outra palavra helênica que Paulo usou no seu texto e que
significa: insulto, injúria, repreensões, dano ou incômodo. É uma contradição
total você ter prazer nos ultrajes, mas esta é a tônica do seu aprendizado.
Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias,
nas necessidades, nas perseguições, nas
angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é
que sou forte. 2 Coríntios 12:10.
Suportar a afronta sem execrar o ultrajante é uma das matérias
básicas para a desconstrução da nossa altivez. O modelo é Cristo e a competência
é a sua Vida incriada, agindo em nós, administrada pelo Espírito Santo, pois
ele, (Cristo) quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não
fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente. 1 Pedro
2:23.
A graça de Deus é Cristo, e a graça de Deus, em Jesus Cristo,
nos é suficiente. Se Cristo é tudo e em todos, ele é a suficiência divina
suprindo a deficiência humana. Toda a suficiência onipotente de Deus encontra-se
provendo, em Cristo, toda a anagke, ou necessidade humana.
Fazer festa diante da carência é uma atitude imprevista na
prole de Adão. Se Paulo sentia prazer diante da indigência ou penúria, no seu
dia a dia, temos que admitir que se trate de outra espécie de ser humano. Ainda
que o cristão faça parte da humanidade, ele não é mais um humanista arrogante e
calculista. O seu egoísmo foi pregado na cruz com Cristo e ele agora vive numa
dimensão da abastança da Vida não criada do próprio Cristo ressurreto, no seu
interior.
Uma das coisas que me impressiona na vida cristã é a capacidade
de suportar as adversidades. Isto só vem confirmar que estamos diante de outra
realidade. Saulo, antes de sua conversão, foi um perseguidor implacável dos
cristãos. Depois do seu novo nascimento, Paulo foi um perseguido e sentia
alegria em suas diogmos ou perseguições. Aqui não se trata de um
masoquista que sente prazer no seu sofrimento, mas de alguém que tem prazer pela
causa do seu sofrimento.
Os cristãos sempre viram nas perseguições um motivo de júbilo
por estarem envolvidos em uma causa que tem um valor eterno. Foi Jesus quem
disse: Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o
reino dos céus. Mateus 5:10. Que felicidade mais curiosa!
É estranha, mas real. Quem é mais inocente do que Cristo? Quem
foi mais perseguido até agora do que ele, neste mundo? E, se Cristo vive em nós,
não há alternativa. Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo
Jesus serão perseguidos. 2 Timóteo 3:12. Está claro que não há vida piedosa
sem perseguição, mas também não haverá uma vida realmente piedosa sem o
contentamento em Cristo. É impossível Cristo ser a nossa Vida e não sermos
bem-aventurados.
A última palavra usada pelo velho apóstolo para definir o
método de sua educação espiritual avançada foi stenochoria, que
deve ser traduzida por angústia. O desenvolvimento espiritual não nos isenta da
participação das agonias em nosso íntimo. É na crise dolorosa que a alma se
apega à suficiência de Cristo. Quem nos separará do amor de Cristo? Será
tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou
espada? Romanos 8:35.
Não existe crescimento na Vida espiritual ou evolução em
santidade sem estas cinco lições especiais. O poder de Deus só se aperfeiçoa na
fraqueza. Tudo isto, todavia, por amor de Cristo.
John Owen afirmava no século XVII: "não teremos nenhum poder
de Deus, a não ser que sejamos convencidos de que não temos nenhum poder em nós
mesmos". Aquele que é totalmente fraco tem toda a chance de depender da
onipotência divina. Quem é perfeitamente deficiente traz a garantia de ser
suprido pela suficiência de Cristo.
O aprimoramento da fraqueza passa por estas quatro
etapas. Quando injuriado não revidar com insultos. Quando estiver
passando necessidade não chamar a atenção dos outros, mas confiar somente
em quem pode prover suas carências. Quando for perseguido por causa do
evangelho nunca se defender, ainda que possa explicar os fatos que estão movendo
o acossamento.
Por fim, quando estiver passando pelos vales sombrios da
angústia, lembre-se que o Senhor também cruzou estes vales, tornando-se,
em tudo, a nossa suficiência. Agora saiba que, em tudo somos atribulados,
porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados; perseguidos, porém não
desamparados; abatidos, porém não destruídos; levando sempre no corpo o morrer
de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo. 2 Coríntios
4:8-10.
Solo Deo Glória
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O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
domingo, 6 de maio de 2012
A SUFICIÊNICA DE CRISTO SUPRINDO A DEFICIÊNCIA HUMANA
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