Fez Davi casas
para si mesmo na Cidade de Davi; e preparou um lugar para a arca de Deus e lhe
armou uma tenda. 1 Crônicas 15:1.
Sião é um dos
três principais montes que sobressaem no tabuleiro onde está edificada a cidade
de Jerusalém. Este promontório era apelidado de Jebus no tempo dos jebuseus. O
rei Davi o conquistou e denominou-lhe de Sião, significando: lugar seco onde o
sol brilha. Nesta elevação o rei ergueu a sua cidade e construiu as casas da
coorte, armando também uma tenda para abrigar a arca do Senhor, que se
encontrava sem morada fixa.
A arca havia
sido retirada do tabernáculo de Moisés no tempo do sacerdote Eli e em seguida
fora tomada pelos filisteus para nunca mais retornar àquele tabernáculo. Durante
muitos anos o móvel sagrado, que na tipologia expressava a realidade espiritual
da presença de Deus, ficou vagando de cidade em cidade fora do seu verdadeiro
domicílio.
Por mais de
cinqüenta anos a arca, sem teto, gerava situações problemáticas nas cidades onde
permanecia, até chegar à sua antepenúltima parada, então Davi resolveu construir
uma tenda a fim de abrigar a arca. O curioso é que o tabernáculo de Moisés
continuava de pé em Siló, indo depois para Gibeom, mas a arca, desde que foi
retirada de lá, nunca mais voltou para aquele lugar. Por que será que Davi
resolveu construir uma tenda para a arca do Senhor, se o seu lugar continuava
vazio no tabernáculo de Moisés?
Alguma
revelação especial deve ter acontecido para o rei assumir essa iniciativa. O
Senhor não aceita modificações nos seus planos nem improvisações. Veja, por
exemplo, a questão do transporte da arca que deveria ser feito sempre em seus
varais pelos levitas consagrados e Davi tentou transportá-la por meio de um
carro de boi. E o que deu? Uma tragédia.
Certamente a mudança de endereço da arca tinha o dedo de Deus. Davi não
tomaria outra decisão sem a anuência do Senhor. Não iria ousar desobedecer ao
Senhor depois que Uzá meteu a mão onde não lhe era devido. Mas Davi
fizera subir a arca de Deus de Quiriate-Jearim ao lugar que lhe havia preparado,
porque lhe armou uma tenda em Jerusalém. 2 Crônicas
1:4.
Ainda que a
arca estivesse afastada do seu lugar de origem, esta transferência de residência
do tabernáculo de Moisés para a tenda de Davi tem algum significado espiritual
de importância para a história do povo de Deus. Isto aqui não é mero capricho de
um líder revolucionário, mas o eterno propósito de Deus em andamento através da
vida de um homem, que em suas três unções prefigurava aquele que viria para
estabelecer o tabernáculo permanente da Sião celestial.
Davi passou
por três unções que podem ser vistas como: profética, ministério da palavra;
real, ministério de autoridade ou governo e sacerdotal, ministério de
reconciliação, intercessão, adoração e louvor a Deus. As três unções de Davi
prefiguram a plenitude das funções de profeta, rei e sacerdote presentes em
Cristo e em sua igreja.
A tenda de
Davi era uma ‘ohel, palavra hebraica igual à tenda (‘ohel) do tabernáculo
(mishkan) de Moisés, mas a sua configuração era diferente. No tabernáculo de
Moisés, a tenda tinha dois cômodos, o Santo, onde ficavam três móveis, a mesa
dos pães da proposição, o candelabro e o altar de incenso, e, separado por um
véu, o Santíssimo, onde permanecia a arca. A tenda de Davi era um aposento único
e não havia cortina velando a arca.
No tabernáculo
de Moisés apenas o sumo sacerdote poderia entrar no Santíssimo lugar, no dia do
yom-kippur, isto é, o dia da expiação, levando o sangue de um animal para a
propiciação ou perdão dos pecados dele e do povo. No tabernáculo de Davi todos
os levitas que adoravam ao Senhor em seus serviços tinham acesso direto à arca.
Davi
construiu a sua tenda em Sião e trouxe a arca que estava na casa de Obede-Edom.
Introduziram, pois, a arca de Deus e a puseram no meio da tenda que lhe
armara Davi; e trouxeram holocaustos e ofertas pacíficas perante Deus.
1 Crônicas 16:1. Naquele dia houve o
sacrifício de sete novilhos e sete carneiros. Sete é o número que diz respeito à
perfeição, totalidade, plenitude e apontava para a suficiência no holocausto de
Cristo. O boi fala da força natural para o trabalho e da consagração dos
sacerdotes e o carneiro conta da substituição e consagração do
pecador.
É importante
observar que não há mais relato de sacrifício de animais na tenda de Sião. No
tabernáculo de Moisés os sacrifícios eram diários, enquanto no tabernáculo ou
tenda de Davi houve apenas um sacrifício no dia da introdução da arca na tenda.
Isto é significativo e profético em relação à obra do Calvário, que é a
realidade espiritual da nova aliança, como sacrifício definitivo.
Esta
tenda era mais uma etapa da revelação. Antes, no tabernáculo de Moisés, a arca
ficava escondida no escuro do Santo dos Santos, agora, no tabernáculo de Davi,
ela achava-se exposta para que todos os adoradores pudessem se aproximar. Depois
a arca voltaria para o espaço reservado no lugar Santíssimo do templo de
Salomão, que Davi pretendia construir, representando o descanso eterno.
Sucedeu que, habitando Davi em sua própria casa, disse ao profeta Natã:
Eis que moro em casa de cedros, mas a arca da Aliança do Senhor se acha em
tenda. 1 Crônicas 17:1.
O
Senhor, porém, mostrou que Davi não seria o construtor do templo. Quando
teus dias se cumprirem e descansares com teus pais, então, farei levantar depois
de ti o teu descendente, que procederá de ti, e estabelecerei o seu nome. Este
edificará casa ao meu nome, e eu estabelecerei para sempre o trono de seu reino.
2 Samuel 7:12-13. Aqui nós temos dois fatos
a considerar: um histórico, temporal e imediato ligado a Salomão e o outro
futuro e eterno relacionado a Jesus.
Salomão
seria o edificador de um templo de pedras, que na tipologia estaria apontando
para a realidade espiritual que é a igreja, um templo eterno do Senhor. Foi
assim que Estevão em sua exposição dos fatos de fé explicou as duas realidades,
a temporal e a eterna: Salomão construiu o templo, entretanto, não
habita o Altíssimo em casas feitas por mãos humanas; como diz o profeta: o céu é
o meu trono, e a terra, o estrado dos meus pés; que casa me edificareis, diz o
Senhor, ou qual é o lugar do meu repouso. Não foi, porventura, a minha mão que
fez todas estas coisas. Atos 7:48-50. A habitação firme e
estável de Deus é a igreja viva do Deus vivo. (1 Timóteo 3:15).
A casa
construída por Salomão era uma figura da verdadeira casa espiritual que é a
igreja de Deus em seu repouso permanente. No monte Sião Davi levantou dois
tabernáculos figuras da igreja em seu processo ou peregrinação. No primeiro
estava o seu trono e no segundo a arca do Senhor. Então, um trono se
firmará em benignidade, e sobre ele no tabernáculo de Davi se assentará com
fidelidade um que julgue, busque o juízo e não tarde em fazer justiça. Isaías
16:5.
Vemos
nesta moldura a obra perfeita de Cristo realizada na cruz como a operação que
aproxima todos os povos para a formação de um só templo espiritual. A tenda de
Davi é a crase maravilhosa da agregação de todos os povos num organismo vivo e
exclusivo na expressão do seu reino. Alegrem-se os céus e a terra
exulte; diga-se entre as nações: Reina o Senhor. 1Crônicas
15:31.
Segundo o Novo
Testamento que interpreta o Velho, o lugar da habitação do Senhor para todos os
povos é o tabernáculo de Davi que estava caído. Na ocasião em que Salomão
construiu o templo no monte Moriá, ele levou a arca que se encontrava na tenda
de Davi no monte Sião e colocou-a no seu descanso no lugar Santíssimo, deixando
a tenda de Davi sem utilidade. Essa tenda com o tempo caiu, mas Tiago cita uma
profecia que fala da sua reconstrução.
Quando a
igreja em Jerusalém, de concepção judaica, foi confrontada com a questão dos
gentios que se convertiam ao cristianismo, teve, por parte dos judaizantes, uma
reação de continuísmo do velho modelo mosaico. Em razão desta tentativa de
perpetuamento de algo que havia sido ultrapassado, foi convocado um concílio dos
irmãos para avaliar o assunto.
Houve
uma grande discussão da matéria e depois de Pedro, Barnabé e Paulo terem falado
sobre a aceitação dos gentios, Tiago tomando a palavra faz uma citação do
profeta Amós, no mínimo inusitada: cumpridas estas coisas, voltarei e
reedificarei o tabernáculo caído de Davi; e, levantando-o de sua ruínas,
restaurá-lo-ei. Para que os demais homens busquem o Senhor, e também todos os
gentios sobre os quais tem sido invocado o meu nome. Atos
15:16-17.
O templo de
Salomão que havia sido destruído pelos babilônios, na época de Nabucodonosor, já
fora reconstruído por Zorobabel e reformado por Herodes, o grande, estando pois,
de pé. A pendência agora é essa reconstrução do tabernáculo de Davi. O que isso
significa?
Como figura de
Cristo, Davi arquitetou um tabernáculo em que havia apenas um sacrifício de
sangue na inauguração do processo e um acesso permanente para a arca, onde todos
os levitas e sacerdotes poderiam prestar o seu culto de adoração e louvor diante
do Senhor.
O
apóstolo Pedro, explicando esta realidade espiritual, fala do sacerdócio
universal dos crentes e da comunhão de todos os povos na igreja de Deus, com
estas palavras: vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois
povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes
misericórdia. 1 Pedro 2:10.
Depois que o
Senhor rasgou o véu do templo de alto a baixo nunca mais ele providenciou a sua
costura. Nem o tabernáculo de Moisés que foi lugar da habitação de Deus, depois
que perdeu a sua função, nem o templo de Jerusalém que teve o seu íntimo
dilacerado e depois destruído pelo General Tito, têm planejamento de
reconstrução pelo Senhor. Mas o tabernáculo de Davi é uma realidade espiritual
que precisa ser analisada com mais atenção, pois ele nos fala da sua
reconstrução. Que o Senhor nos permita ver a riqueza da sua graça nesta tenda.
Amém.
Solo Deo Glória
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O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
segunda-feira, 7 de maio de 2012
A RECONSTRUÇÃO DO TABERNÁCULO DE DAVI I
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