quinta-feira, 10 de maio de 2012

O MICO DO MITO CRISTÃO

O filho honra o pai, e o servo ao seu senhor. Se eu sou pai, onde está a minha honra? E se eu sou senhor, onde está o respeito para comigo? Diz o Senhor dos Exércitos a vós outros, ó sacerdotes, que desprezais o meu nome. Vós dizeis: Em que desprezamos nós o teu nome? Malaquias 1:6.

A massa do povo de Deus é misturada. Há os filhos legítimos de Deus e as cópias falsificadas. Muita gente que participa da história do povo de Israel não é israelita de fato, assim como uma multidão que compartilha da comunhão da igreja não é cristã de verdade. O populacho que saiu na época do êxodo, com Israel, do Egito, era uma mistura que provocou grandes conturbações na vida comunitária. Alguns estudiosos acreditam que essa gente fazia parte de uma miscigenação entre os judeus e os egípcios, sem uma identidade própria. Foi um cruzamento que gerou uma duplicidade de procedimento.
A falta de conformidade com um desses povos produziu uma gentalha confusa e sem um modelo íntegro para seguir. Essa mestiçagem acabou promovendo profunda hesitação na conduta e criando intensa inadequação no seu modo de convivência. As pessoas divididas emocionalmente são incapazes de coexistir bem com as diferenças que lutam no seu interior. Sendo assim, fica impossível sustentar a fusão da santidade do povo de Deus com a rebeldia da experiência do mundo.
Uma pessoa dividida entre o evangelho de Cristo e o domínio do mundo é uma figura patética. É ridículo alguém parecer aquilo que não pode ser. A esquizofrenia racha a personalidade e desequilibra a saúde emocional, por isso, todo aquele que vive em dobreza, vive em dissimulação e angústia. O sofrimento da alma dobre é asfixiante, uma vez que ela finge ser o que de fato não é. A imitação daquilo que é legítimo revela um preço insuportável para quem pretende empreender com a sua fraude.
Uma pessoa não pode gozar uma boa saúde psicológica vivendo com duas realidades contraditórias. Fingir o papel de cristão é a arte de impostura mais cruel da charlatanice humana. É preferível um ímpio assumido do que um pio embusteiro. O santarrão cheira o mofo da hipocrisia acre do enxofre infernal, tentando assemelhar-se à beatice idealizada com a maquiagem do disfarce. Na escola do diabo, mascarado de anjo de luz, driblando os mais incautos com seus ardis, o falsário também pretende passar-se por santo sem o menor recato.
Jesus falou de muitos que usam um discurso semelhante ao dos verdadeiros discípulos, mas têm uma postura de rebeldia diante da vontade de Deus. Uma coisa é a forma, outra bem diferente é a essência. Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Mateus 7:21. Não basta falarem com correção de linguagem, é preciso viver em submissão quando agem. A obediência à vontade de Deus é mais importante do que qualquer impressão que se possa demonstrar. Mas, diga-se de passagem, que é só pela graça que o homem pode obedecer.
Um cristão autêntico tem mais qualidades superiores do que normalmente costuma expressar, mas o falso sempre costuma propagar muito além dos valores que possui. Todas as vezes que focalizamos antes a fachada do que o interior, estamos nos aproximando rapidamente do terreno mais perigoso na vida cristã. É preciso avaliar bem fundo essa questão, para não cairmos nas teias sutis das aparências. Todos nós estamos sujeitos às ciladas da dissimulação, e muitas vezes gastamos tempo e esforço tentando ocultar com astúcia nosso artifício de simulação. Paulo resistiu a Pedro e um grupo de judeus cristãos na cidade de Antioquia, porque Pedro e também os demais judeus dissimularam com ele, a ponto de o próprio Barnabé ter-se deixado levar pela dissimulação deles. Gálatas 2:13.
A crise maior na experiência cristã fica sempre no âmbito da aparência, pois com freqüência temos a tendência de demonstrar muito mais do que evidencia a realidade. Dizer que amamos a Deus enquanto vivemos em rebeldia à sua vontade é uma falsidade marcante no comportamento de uma parcela considerável da igreja. Há hoje uma inclinação saliente para o modelo virtual que impressiona pela semelhança e que vende muito bem o projeto como se já fosse a coisa concreta.
A juventude de um modo geral detesta passar por ridículo em alguma circunstância em que está envolvida. Vemos muitas vezes os jovens caindo fora dessa saia justa naquilo que é grotesco com a expressão: não quero pagar esse mico. Mas muitos de nós vivemos pagando o mico do escárnio ao tentar viver uma imitação barata. Essa representação ordinária da fé cristã é um castigo cruel na vida dos palhaços no circo da religião. O mico do mito cristão é uma tragédia horrorosa. Veja o exemplo de Simão o mágico, uma amostra bíblica dessa espécie estúpida: Não tens parte nem sorte neste ministério, porque o teu coração não é reto diante de Deus. Atos 8:21.
A questão levantada por Deus é decisiva. Se eu sou pai onde está a minha honra e se eu sou senhor, onde está a obediência? Como podemos dizer que somos filhos de Deus se não temos amor pela sua palavra? Do ponto de vista ético, a natureza de um servo se encaixa muito bem com a obediência ao seu Senhor. A pergunta que Jesus fez a um grupo que se dizia discípulo dele é muito pertinente. Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando? Lucas 6:46.
Alguém certa vez disse para Jesus que sua mãe e seus irmãos estavam do lado de fora do recinto apinhado de gente, onde ele ensinava, procurando falar com ele. O Mestre deu uma resposta bem clara para esse assunto de família, mas foi um tanto duro ao quebrar com as formalidades da tradição de pura consangüinidade. Ele apontou para os discípulos e declarou: Eis minha mãe e meus irmãos. Porque qualquer que fizer a vontade de meu Pai celeste, esse é meu irmão, irmã e mãe. Mateus 12:49b-50.
Pela colocação de Jesus fica definida a relação de sua família na base da obediência à vontade do Pai. Os filhos de Deus não são meros publicitários de doutrinas ou confessores nominais. A declaração de um membro da família de Deus encontra-se fundamentada pelo cumprimento da vontade do Pai. O que autentica a legitimidade da linhagem celestial é a submissão voluntária às determinações paternas. Por isso, o melhor juízo para se avaliar a identidade de um participante da igreja de Cristo é a obediência amorosa que caracteriza o filho de Deus. Agrada-me fazer a tua vontade, ó Deus meu; dentro em meu coração, está a tua lei. Salmo 40:8.
Não é possível pertencer à família de Deus sem a obediência voluntária e cheia de amor, uma vez que essa obediência é a demonstração de que alguém realmente conhece a Deus. Os escravos comumente executam as suas tarefas, impulsionados pelo medo, enquanto os empresários se movem pelos interesses. Mas os filhos de Deus cumprem as deliberações do Pai, quando acionados pelo verdadeiro amor. F. F. Bruce assegurou com exatidão: O amor e a obediência a Deus estão de tal maneira entrelaçados um com o outro, que a existência de um implica a presença do outro.
Jesus Cristo veio a este mundo para transformar, mediante a co-crucificação com ele, os pecadores egoístas e rebeldes em filhos de Deus amorosos e obedientes. Nenhum homem natural consegue obedecer em amor a vontade Deus, mas todos os verdadeiros filhos de Deus o obedecem de todo coração, sabendo que os seus mandamentos não são pesados. Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; ora, os seus mandamentos não são penosos. 1 João 5:3. A questão ainda é a mesma. Você ama o Pai? O amor é a única resposta para a obediência dos filhos.
É verdade que nenhum ser humano consegue naturalmente viver a vida cristã em sua expressão mais autêntica. O cristianismo verdadeiro é um milagre da graça de Deus do começo ao fim. A fé cristã não é difícil, é simplesmente impossível. Só um prodígio gracioso de Deus pode garantir o êxito na experiência do cristão. O maior milagre que acontece no cristianismo é a transformação de um pecador rebelde num filho de Deus obediente, mediante a sua morte e ressurreição juntamente com Cristo.

Se pela misericórdia em Cristo fomos regenerados como filhos de Deus, pela graça de Cristo seremos sustentados para humildemente fazer a vontade do Pai celestial. O milagre da salvação assegura a miraculosa obediência na vida dos salvos, através da total suficiência de Cristo. Quando somos convencidos pela graça que não temos nenhum poder em nós mesmos, por meio da mesma graça podemos depender totalmente do poder de Deus para obedecer de coração. Mas graças a Deus porque, outrora, escravo do pecado, contudo, viestes a obedecer de coração à forma da doutrina a que fostes entregues; e, uma vez libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça. Romanos 6:17-18. Aleluia! Amém.

Solo Deo Glória

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