quarta-feira, 2 de maio de 2012

DE QUE IGREJA ESTAMOS FALANDO? 1ª PARTE.

...e perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão,no partir do pão e nas orações. Atos 2:42
O livro de Atos é um cuidadoso relato histórico do desenvolvimento da igreja primitiva. Embora não seja um livro doutrinário é, entretanto, cheio de informações doutrinárias sobre a igreja. Lucas em seu relato, enfatiza a prática da igreja primitiva e a essência da vida da igreja para todas as épocas. É necessário antes, entendermos que Lucas não pretende restringir a forma, mas enfatizar a função da Igreja. Devemos entender que a Igreja se reuniu em diferentes lugares tais como, no Templo (At 2.46), nas casas (At 5.42), na beira do rio (At 16.13), porém, sempre com os mesmos propósitos, sempre de acordo com a essência da fé cristã. Com este livro Lucas tinha o propósito, não somente de informar sobre a vida da igreja primitiva, mas também de encorajar a perseverança da igreja na fé cristã para todas as épocas seguintes.
Os apóstolos haviam aprendido de sua convivência com Jesus quatro elementos fundamentais: seu ensinamento a respeito de sua pessoa e obra (Mt 16.18-19, Lc 24.46-48), a comunhão de Cristo com seus discípulos (Jo 13.1-11), a Ceia do Senhor – partir do pão (Mt 26.17-30), e sua vida de oração com os discípulos e por eles (Mt 6.5-13, Jo 17). Lucas enfatiza então que, após o derramamento do Espírito Santo no dia de Pentecostes, a igreja de Jerusalém "perseverava na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações" (At 2.42). Perseverar significa permanecer firme, persistir em alguma coisa até o fim. A perseverança nesses fundamentos da fé foi o resultado da ação do Espírito Santo, e ao mesmo tempo caracteriza o padrão apostólico da adoração de uma verdadeira igreja de Cristo.
No entanto, é preciso de início repetir muitas vezes que o edifício não é a igreja; por força do hábito, constantemente dizemos do edifício usando o termo "igreja". Isto faz com que continuemos associando Igreja com as quatro paredes do edifício. Outro erro é pensar na igreja com ênfase na sua organização. Por isso, é comum pensar que, se somos da mesma denominação, somos um. A Igreja de Jesus Cristo se reúne no mundo inteiro em diferentes locais, e em muitos, essa reunião acontece às escuras, na madrugada, pois é proibida a reunião para adorar e comungar a fé cristã. Pela graça de Deus, apesar de nós, a Igreja tem sido preservada através dos tempos na vida dos santos que têm entendido a vida e função da mesma.
Doutrina dos Apóstolos
O primeiro elemento no alicerce da Igreja de Jesus Cristo é a doutrina dos apóstolos (do grego didachê, "instrução", não significa apenas adquirir informação). A doutrina dos apóstolos é a doutrina de Cristo. Durante sua vida aqui na terra, Jesus Cristo ensinou acerca de sua Pessoa e obra como Messias, seus mandamentos e a observância deles aos seus discípulos. Após a ressurreição, lhes deu a missão de pregar o evangelho a toda criatura e de ensinar a guardar todas as coisas que tinha ordenado (Mc 16.15; Mt 28.19,20). Agora os novos discípulos judeus que criam em Jesus Cristo eram ensinados pelos apóstolos, podiam fazer a leitura do AT a partir da revelação da pessoa de Jesus Cristo e viver em obediência às Escrituras segundo a graça e não mais segundo a Lei cerimonial. A igreja primitiva mantinha-se firmada na instrução dos apóstolos. O termo "apóstolo" significa "emissário", alguém enviado com a autoridade e a representatividade daquele que o enviou. "Os doze apóstolos foram escolhidos e enviados por Jesus, exatamente como o próprio Jesus foi preordenado e enviado pelo Pai" (Os Apóstolos – Bíblia de Genebra). Dessa maneira, não entendemos como apóstolos os autodenominados bispos e apóstolos da atualidade. Cremos que o ensino dos apóstolos deve ser mantido por pessoas que tem autoridade de vida e são separados (At 13.2) para essa tarefa. Esses requisitos são exigências das Escrituras como podemos observar em 1 Tm 3.2 e 2 Tm 2.24. Outra questão importante é que a doutrina dos apóstolos não é guiada por sonhos, visões, revelações subjetivas e antropocêntricas. Antes, o conteúdo do ensino é o que o Espírito Santo preservou até nossos dias, isto é, as Escrituras Sagradas.
No entanto, há uma crise teológica em nossos dias que tem levado muitos cristãos a um relativismo doutrinário, capaz de confundir muitíssimo tanto a própria igreja como também a sociedade. O liberalismo teológico, a falta de autoridade moral e espiritual segundo o modelo bíblico, líderes que se autodenominam pastores, bispos e apóstolos; a decadência da disciplina eclesiástica; a multiplicação de publicações "evangélicas" de "auto-ajuda", e elevada ênfase nos "shows gospels" em detrimento da adoração tem deteriorado as instituições evangélicas. A aceitação de valores mundanos e o ocultismo têm reforçado mais e mais a confusão no meio evangélico. Questões fundamentais como a Inerrância das Escrituras, a Soberania de Deus, assim como seus atributos tem sido solapados veementemente por uma teologia liberal que tem o propósito de relativizar valores centrais e inegociáveis da Palavra de Deus. Você crê nas Escrituras como Palavra de Deus, que de fato é?
O que fazer? Qual é a solução para tamanha descrença que crianças e jovens hoje tem demonstrado em relação à necessidade do novo nascimento e da santificação? O que precisamos fazer é: como discípulos de Jesus Cristo andarmos como Ele andou, conhecermos sua Palavra que temos recebido, pregá-la, ensiná-la e obedecê-la por amor, mesmo que isto nos custe muito caro. O que significa para você o reunir da igreja regularmente para estudar as Escrituras? O que significa para você participar ativamente dos estudos bíblicos, perseverar na leitura da palavra de Deus nas casas, na leitura individual? O que significa para você ensinar a doutrina de Cristo para seus filhos? Veja Hebreus 4.12. De que igreja temos falado ultimamente? Que possamos entender a importância do perseverar da Igreja na doutrina dos apóstolos, isto é, na doutrina de Cristo.

Comunhão
Comunhão é o ato ou efeito de comungar; ação de fazer alguma coisa em comum ou efeito dessa ação; sintonia de sentimentos, do modo de pensar, agir ou sentir; identificação; co-participação, união, ligação (Filipenses 2.1-11). A palavra usada por Lucas é koinonia, traduzida por comunhão e que, especificamente neste texto deve ser entendida como parte essencial da adoração e da vida da igreja. Por sua vez, a Igreja de Cristo é a comunidade da fé, chamada para viver em comunhão com Deus e com seu próximo como podemos ler em 1 João 1.5-7: E esta é a mensagem que dele ouvimos, e vos anunciamos: que Deus é luz, e nele não há trevas nenhumas. Se dissermos que temos comunhão com ele, e andarmos nas trevas, mentimos, e não praticamos a verdade; mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus seu Filho nos purifica de todo pecado. Os primeiros cristãos eram perseverantes na comunhão, fruto da comunhão com Deus. Não é um tipo de comunismo que o texto lido está nos mostrando. Os cristãos não eram obrigados a vender seus bens e repartir com os outros. Pelo contrário, a propriedade privada era normal e legal também naqueles dias (v.46 – "de casa em casa"; At 5.4). Havia perseverança na comunhão porque os irmãos eram motivados por uma atitude de amor que fluía de corações cheios do amor de Deus e do Espírito Santo. Por guardarem a doutrina de Cristo eles não se apegavam às riquezas materiais, mas vendiam seus bens voluntariamente para ajudar os necessitados. Veja 2 Coríntios 8.1-5.
A Palavra de Deus primeiramente nos ensina que, a nossa comunhão foi restaurada com o Pai (I João 1.3), pelo seu Filho Jesus Cristo (1 Coríntios 1.9 e 1 João 1.3), e revelada pelo Espírito Santo (Filipenses 2.1). Essa comunhão é expressa através da oração, do louvor, das Escrituras Sagradas e pela adoração em Espírito e em Verdade (João 4.23-24). Como povo da nova aliança, separado do mundo, nossa comunhão com Deus nos leva a viver em comunhão com os irmãos, participantes dessa mesma aliança de graça e misericórdia. O amor de Deus que é derramado em nossos corações nos leva a amar uns aos outros, porém a prática desse amor significa perseverar, permanecer, continuar buscando; é o exercício da graça e da misericórdia no meio da comunidade cristã. Só há uma restrição com relação à comunhão – quando uma pessoa que se diz irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; como diz 1 Coríntios 5.11.
Nessa época em que vivemos, um dia de 24 horas parece correr mais rápido do que quando éramos crianças, por isso as pessoas "não tem tempo" para quase nada a não ser, trabalhar e se divertir. Práticas como visitar um irmão, orar junto, louvar e adorar em um pequeno grupo, ser hospitaleiro, conhecer as necessidades de outros irmãos, parece ser tarefa quase impossível. Entretanto, uma comunhão profunda implica coração e bolso convertidos, que contribui com alegria, socorre com graça; ama, exorta, encoraja e edifica. Porém, a comunhão não é algo fácil quando a minha vontade quer prevalecer, quando os meus argumentos parecem ser melhores do que o do outro, quando minha maneira de pensar não é igual a do outro. O que fazer? De que Igreja estamos falando? É necessário que haja verdadeira comunhão de cada membro com Jesus Cristo para que a comunhão da Igreja possa acontecer de fato; é necessário o efeito constante da obra da cruz constrangendo-nos à obediência a Cristo, nos levando a ter maior comunhão com o Pai, afim de que a unidade do Corpo seja notória ao mundo e que Deus seja glorificado. Perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentavam o Senhor à igreja aqueles que iam sendo salvos. Atos 2.46-47.

Solo Deo Glória

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