...e perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão,no partir
do pão e nas orações. Atos 2:42
O livro de Atos é um cuidadoso relato histórico do desenvolvimento da igreja
primitiva. Embora não seja um livro doutrinário é, entretanto, cheio de
informações doutrinárias sobre a igreja. Lucas em seu relato, enfatiza a prática
da igreja primitiva e a essência da vida da igreja para todas as épocas. É
necessário antes, entendermos que Lucas não pretende restringir a forma, mas
enfatizar a função da Igreja. Devemos entender que a Igreja se reuniu em
diferentes lugares tais como, no Templo (At 2.46), nas casas (At 5.42), na beira
do rio (At 16.13), porém, sempre com os mesmos propósitos, sempre de acordo com
a essência da fé cristã. Com este livro Lucas tinha o propósito, não somente de
informar sobre a vida da igreja primitiva, mas também de encorajar a
perseverança da igreja na fé cristã para todas as épocas seguintes.
Os apóstolos haviam aprendido de sua convivência com Jesus quatro elementos
fundamentais: seu ensinamento a respeito de sua pessoa e obra (Mt 16.18-19, Lc
24.46-48), a comunhão de Cristo com seus discípulos (Jo 13.1-11), a Ceia do
Senhor – partir do pão (Mt 26.17-30), e sua vida de oração com os discípulos e
por eles (Mt 6.5-13, Jo 17). Lucas enfatiza então que, após o derramamento do
Espírito Santo no dia de Pentecostes, a igreja de Jerusalém "perseverava na
doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações" (At 2.42).
Perseverar significa permanecer firme, persistir em alguma coisa até o fim. A
perseverança nesses fundamentos da fé foi o resultado da ação do Espírito Santo,
e ao mesmo tempo caracteriza o padrão apostólico da adoração de uma verdadeira
igreja de Cristo.
No entanto, é preciso de início repetir muitas vezes que o edifício não é a
igreja; por força do hábito, constantemente dizemos do edifício usando o termo
"igreja". Isto faz com que continuemos associando Igreja com as quatro paredes
do edifício. Outro erro é pensar na igreja com ênfase na sua organização. Por
isso, é comum pensar que, se somos da mesma denominação, somos um. A Igreja de
Jesus Cristo se reúne no mundo inteiro em diferentes locais, e em muitos, essa
reunião acontece às escuras, na madrugada, pois é proibida a reunião para adorar
e comungar a fé cristã. Pela graça de Deus, apesar de nós, a Igreja tem sido
preservada através dos tempos na vida dos santos que têm entendido a vida e
função da mesma.
Doutrina dos Apóstolos
O primeiro elemento no alicerce da Igreja de Jesus Cristo é a doutrina dos
apóstolos (do grego didachê, "instrução", não significa apenas adquirir
informação). A doutrina dos apóstolos é a doutrina de Cristo. Durante sua vida
aqui na terra, Jesus Cristo ensinou acerca de sua Pessoa e obra como Messias,
seus mandamentos e a observância deles aos seus discípulos. Após a ressurreição,
lhes deu a missão de pregar o evangelho a toda criatura e de ensinar a guardar
todas as coisas que tinha ordenado (Mc 16.15; Mt 28.19,20). Agora os novos
discípulos judeus que criam em Jesus Cristo eram ensinados pelos apóstolos,
podiam fazer a leitura do AT a partir da revelação da pessoa de Jesus Cristo e
viver em obediência às Escrituras segundo a graça e não mais segundo a Lei
cerimonial. A igreja primitiva mantinha-se firmada na instrução dos apóstolos. O
termo "apóstolo" significa "emissário", alguém enviado com a autoridade e a
representatividade daquele que o enviou. "Os doze apóstolos foram escolhidos e
enviados por Jesus, exatamente como o próprio Jesus foi preordenado e enviado
pelo Pai" (Os Apóstolos – Bíblia de Genebra). Dessa maneira, não entendemos como
apóstolos os autodenominados bispos e apóstolos da atualidade. Cremos que o
ensino dos apóstolos deve ser mantido por pessoas que tem autoridade de vida e
são separados (At 13.2) para essa tarefa. Esses requisitos são exigências das
Escrituras como podemos observar em 1 Tm 3.2 e 2 Tm 2.24. Outra questão
importante é que a doutrina dos apóstolos não é guiada por sonhos, visões,
revelações subjetivas e antropocêntricas. Antes, o conteúdo do ensino é o que o
Espírito Santo preservou até nossos dias, isto é, as Escrituras Sagradas.
No entanto, há uma crise teológica em nossos dias que tem levado muitos
cristãos a um relativismo doutrinário, capaz de confundir muitíssimo tanto a
própria igreja como também a sociedade. O liberalismo teológico, a falta de
autoridade moral e espiritual segundo o modelo bíblico, líderes que se
autodenominam pastores, bispos e apóstolos; a decadência da disciplina
eclesiástica; a multiplicação de publicações "evangélicas" de "auto-ajuda", e
elevada ênfase nos "shows gospels" em detrimento da adoração tem deteriorado as
instituições evangélicas. A aceitação de valores mundanos e o ocultismo têm
reforçado mais e mais a confusão no meio evangélico. Questões fundamentais como
a Inerrância das Escrituras, a Soberania de Deus, assim como seus atributos tem
sido solapados veementemente por uma teologia liberal que tem o propósito de
relativizar valores centrais e inegociáveis da Palavra de Deus. Você crê nas
Escrituras como Palavra de Deus, que de fato é?
O que fazer? Qual é a solução para tamanha descrença que crianças e jovens
hoje tem demonstrado em relação à necessidade do novo nascimento e da
santificação? O que precisamos fazer é: como discípulos de Jesus Cristo andarmos
como Ele andou, conhecermos sua Palavra que temos recebido, pregá-la, ensiná-la
e obedecê-la por amor, mesmo que isto nos custe muito caro. O que significa para
você o reunir da igreja regularmente para estudar as Escrituras? O que significa
para você participar ativamente dos estudos bíblicos, perseverar na leitura da
palavra de Deus nas casas, na leitura individual? O que significa para você
ensinar a doutrina de Cristo para seus filhos? Veja Hebreus 4.12. De que igreja
temos falado ultimamente? Que possamos entender a importância do perseverar da
Igreja na doutrina dos apóstolos, isto é, na doutrina de Cristo.
Comunhão
Comunhão é o ato ou efeito de comungar; ação de fazer alguma coisa em comum
ou efeito dessa ação; sintonia de sentimentos, do modo de pensar, agir ou
sentir; identificação; co-participação, união, ligação (Filipenses 2.1-11). A
palavra usada por Lucas é koinonia, traduzida por comunhão e que,
especificamente neste texto deve ser entendida como parte essencial da adoração
e da vida da igreja. Por sua vez, a Igreja de Cristo é a comunidade da fé,
chamada para viver em comunhão com Deus e com seu próximo como podemos ler em 1
João 1.5-7: E esta é a mensagem que dele ouvimos, e vos anunciamos: que Deus é
luz, e nele não há trevas nenhumas. Se dissermos que temos comunhão com ele, e
andarmos nas trevas, mentimos, e não praticamos a verdade; mas, se andarmos na
luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus
seu Filho nos purifica de todo pecado. Os primeiros cristãos eram perseverantes
na comunhão, fruto da comunhão com Deus. Não é um tipo de comunismo que o texto
lido está nos mostrando. Os cristãos não eram obrigados a vender seus bens e
repartir com os outros. Pelo contrário, a propriedade privada era normal e legal
também naqueles dias (v.46 – "de casa em casa"; At 5.4). Havia perseverança na
comunhão porque os irmãos eram motivados por uma atitude de amor que fluía de
corações cheios do amor de Deus e do Espírito Santo. Por guardarem a doutrina de
Cristo eles não se apegavam às riquezas materiais, mas vendiam seus bens
voluntariamente para ajudar os necessitados. Veja 2 Coríntios 8.1-5.
A Palavra de Deus primeiramente nos ensina que, a nossa comunhão foi
restaurada com o Pai (I João 1.3), pelo seu Filho Jesus Cristo (1 Coríntios 1.9
e 1 João 1.3), e revelada pelo Espírito Santo (Filipenses 2.1). Essa comunhão é
expressa através da oração, do louvor, das Escrituras Sagradas e pela adoração
em Espírito e em Verdade (João 4.23-24). Como povo da nova aliança, separado do
mundo, nossa comunhão com Deus nos leva a viver em comunhão com os irmãos,
participantes dessa mesma aliança de graça e misericórdia. O amor de Deus que é
derramado em nossos corações nos leva a amar uns aos outros, porém a prática
desse amor significa perseverar, permanecer, continuar buscando; é o exercício
da graça e da misericórdia no meio da comunidade cristã. Só há uma restrição com
relação à comunhão – quando uma pessoa que se diz irmão, for impuro, ou
avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; como diz 1
Coríntios 5.11.
Nessa época em que vivemos, um dia de 24 horas parece correr mais rápido do
que quando éramos crianças, por isso as pessoas "não tem tempo" para quase nada
a não ser, trabalhar e se divertir. Práticas como visitar um irmão, orar junto,
louvar e adorar em um pequeno grupo, ser hospitaleiro, conhecer as necessidades
de outros irmãos, parece ser tarefa quase impossível. Entretanto, uma comunhão
profunda implica coração e bolso convertidos, que contribui com alegria, socorre
com graça; ama, exorta, encoraja e edifica. Porém, a comunhão não é algo fácil
quando a minha vontade quer prevalecer, quando os meus argumentos parecem ser
melhores do que o do outro, quando minha maneira de pensar não é igual a do
outro. O que fazer? De que Igreja estamos falando? É necessário que haja
verdadeira comunhão de cada membro com Jesus Cristo para que a comunhão da
Igreja possa acontecer de fato; é necessário o efeito constante da obra da cruz
constrangendo-nos à obediência a Cristo, nos levando a ter maior comunhão com o
Pai, afim de que a unidade do Corpo seja notória ao mundo e que Deus seja
glorificado. Perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em
casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e caindo
na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentavam o Senhor à igreja aqueles
que iam sendo salvos. Atos 2.46-47.
Solo Deo Glória
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O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
quarta-feira, 2 de maio de 2012
DE QUE IGREJA ESTAMOS FALANDO? 1ª PARTE.
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