Ide, pois, e fazei discípulos de todas as nações,
batizando-os em o nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; instruindo-os a
observar todas as coisas que vos tenho mandado. Eis que eu estou convosco todos
os dias até o fim do mundo. Mateus 28:19-20
Este texto é geralmente conhecido pelo nome de “a grande
comissão”. Mas, qual é o sentido do termo comissão? Sejam quais forem os muitos
conceitos que a missiologia (estudo sobre a missão cristã) traz sobre a palavra
comissão, há um princípio que jamais poderá e deverá ser esquecido: toda missão
cristã não pode ser outra coisa senão o reflexo da ação de Deus em
e através do Seu povo adquirido!
Quem são os comissionados? Comissionados são as pessoas
conquistadas pelo amor do Pai presente na obra do Seu Filho e revelada pelo Seu
Espírito! São pessoas chamadas para viver, proclamar e
ensinar em nome Daquele que as chamou para partilhar da Sua glória. É por
esta razão que na igreja de Cristo não existem voluntários predispostos a “tapar
brechas” ou “cargos eclesiásticos” mas, chamados a exercer e suportar as cargas
de ministérios que foram dados e capacitados pelo Pai.
Através do texto bíblico em questão, podemos constatar que os
comissionados são toda a Sua igreja e em todas as épocas! A missão destes
comissionados consiste em glorificar a Deus, vivenciando,
proclamando e ensinando sobre a revelação da Pessoa e Obra de Deus em Cristo e
capacitados pela ação do Seu Espírito! Logo, na comissão dada pelo Pai Celestial
não há nada que possamos fazer por nós mesmos! Nossa nova vida (regeneração) e
comissão (ministérios) são somente e inteiramente o reflexo da
ação de Deus em Cristo!
Mergulhando neste texto bíblico podemos observar que o verso 19
traz uma forma verbal que sinaliza um tipo de ação inequívoca e certeira que
deveria ser praticada pelos discípulos de Cristo. É um modo verbal definido pela
realidade de um fato crido e praticado. Expressa a maneira como o
“ide” deveria ser praticado: eles deveriam “indo sempre”. É um sentido
imperativo (uma ordem) para se praticar uma ação de modo dinâmico e jamais
estático.
Aqui o ide de Jesus é uma ação que não transmite a ideia
de término ou cessação de atividade. Fazer discípulos a maneira de Deus em
Cristo deve ser encarado como atividade constante da igreja cristã e sem se
preocupar com a limitação de tempos na cronologia da história humana. O
pronunciamento de Jesus é direcionado àquelas pessoas que praticariam ação do
“ide” durante toda a trajetória terrena da igreja de Cristo.
A conjunção portanto nos dá uma ideia de continuidade
daquilo que Jesus havia falado com o ensinamento que virá a seguir. Aqui, a
palavra portanto tem a função de ligar enfaticamente a ordem inicial do
ide a outra ação subsequente, dando-lhe a conotação de continuidade dos
propósitos de Deus na e para a vida de Seus discípulos.
O verbo fazei discípulos também pode ser traduzido como
“façam com que sejam Meus discípulos”. Na verdade os discípulos são
feitos pala ação Divina e o mandado é dado aos discípulos no sentido de serem os
pregadores e ensinadores de um discipulado que só O Senhor pode fazer! Só Deus
faz discípulos em Cristo e pela ação do Seu Espírito. Neste caso a função da Sua
igreja é “sair a campo” com esta comissão.
Também é importante ressaltar que nos primórdios do
cristianismo não havia “classes de discipulado” por tempo determinado e com
direito a certificados de conclusão. Existiam discípulos e discípulas sendo
“moldados” à imagem do Filho de Deus! Muitas vezes importamos modelos criados
pela pedagogia humana e os incorporamos às atividades da igreja de Cristo sem
muito critério bíblico. É imprescindível que examinemos a essência, a sequência
e a maneira de Deus fazer Seus discípulos, para que não façamos nada que não
seja orientado pela Sua palavra revelada.
O discipulado é uma atividade que também envolve o treinamento
de pessoas por tempo “indeterminado”. Discipular é um imperativo ou uma ordem a
ser cumprida por toda a “era da evangelização” sem que haja a preocupação com a
sua cessação por parte da igreja.
Ninguém faz de ninguém um discípulo de Cristo. Também ninguém
nasce discípulo. Discípulos são feitos exclusivamente pela ação do Pai! O
discipulado de Cristo é um trabalho que enfatiza a extensão grandiosa e sem
fronteiras desta ação de Deus em alcançar e moldar pessoas de
todas as nações e povos do mundo. Por isso, é impossível à igreja medir ou
determinar o número de pessoas a serem alcançadas pelo evangelho e os limites
geográficos da sua comissão. Fica evidente que neste texto bíblico não existe a
ideia de que O Pai faça alguma distinção entre pessoas de qualquer nação
organizada ou grupo étnico isolado da suposta “civilização humana”.
O verbo batizando-os, também pode ser traduzido como
batizando esses seguidores. Isto dá uma ideia muito interessante sobre a
ordem das coisas. O batismo seria uma ordenança para tornar pública a
experiência de uma pessoa já conquistada pelo Espírito Santo! Ou seja, o
batismo seria ministrado somente aos que já eram discípulos de Cristo!
O batismo era uma cerimônia celebrada e repetida cada vez que
novos discípulos eram ganhos para Cristo. É como se fosse um ato de obediência
para com aqueles que já haviam respondido positivamente ao “ide” e ao
“fazei discípulos”. Batizando-os é um verbo particípio presente ativo,
denota uma ação de natureza contínua, devendo ser praticada sempre e em
obediência à comissão dada pelo Mestre.
O jogo de palavras em o nome traz-nos uma ideia que
salienta a instrumentalidade do “nome” ou da pessoa de Jesus como o
fundamento e agente do ato batismal mencionado acima. Todas estas
ações anteriores (ide, fazei discípulos e
batizando-os) seriam legitimadas pela participação da Trindade Santa:
em o nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. O batismo bíblico é uma
ação da Trindade! A sequência formada pela preposição, pelos artigos e
substantivos que identificam a Trindade enfatiza claramente de quem vem a
autoridade de quem comissiona a igreja para ir, fazer discípulos e batizá-los.
É importante deixar claro que a primeira palavra desta
sequência, a preposição em, dá-nos um sentido de “inclusão” numa nova
realidade. Tal batismo simbolizaria externamente uma realidade espiritual
interna de inclusão da pessoa discipulada e batizada na obra de Deus em Cristo e
pela ação do Espírito. Inclusão legitimada com a participação ativa de toda a
Trindade.
O verso 20 começa com o verbo instruindo-os que possui
também uma força “imperativa” em relação aos seus futuros seguidores, ou seja,
trata-se de outra ordem ou mandado expresso e enfático da parte de Jesus. A
ordem agora é que os Seus discípulos sejam encarregados da continuidade do
projeto evangelístico de Deus: instruir pessoas vivas para Deus que irão viver a
nova vida que receberam. É gente viva ensinando pessoas vivas a viverem a vida
de Cristo!
É uma “classe de gente que tem a vida do Filho”. Esta é a
instrução bíblica relacionada somente aos viventes seguidores, aptos a receber o
ensino sobre o evangelho de Cristo. A ação deveria ser contínua por causa do
modo particípio e do tempo presente. Também, fica claro que a ação de ensinar
deveria ser da responsabilidade dos que já fossem discípulos de Cristo.
Aqui temos também a ideia da obediência como forma de resposta
da parte da turma de novos discípulos de Cristo. Estes novos discípulos deveriam
refletir uma postura de contrapartida ativa àquilo que lhes fora ensinado sobre
as verdades concernentes ao evangelho. É uma questão de compartilhar do
evangelho através da vida de Cristo gerada nestes novos discípulos.
Instruindo-os a observar significa que a verdadeira vida
só se transmite através da Vida de Cristo. Observar não tem o sentido de mera
transmissão de conceitos sobre Deus. A expressão pode ser traduzida como
instruindo-os a conservar ou manter aquilo querendo ressaltar a
vida que já lhes foi implantada: a vida de Cristo!O tempo presente e a voz ativa
aplicada definem que a ação de discipular pessoas deveria ser uma prática
constante da parte dos discípulos.
A palavra toda ou todos significa que o ensino do
evangelho deveria ser observado em todas as suas implicações da vida humana. O
ensino de Cristo deveria invadir todas as dimensões da vida de Seus discípulos.
A expressão que é uma forma enfática de se falar de todas as coisas que
deveriam ser ensinadas, em outras palavras, os ensinos de Jesus deveria ser
transmitidos em sua “integralidade”. A revelação bíblica sobre o evangelho de
Cristo não aceita as fragmentações teológicas que somos capazes de produzir.
O verbo eu ordenei ou tenho ordenado nos dá a
ideia de uma ação sem tempo definido para acabar, ou melhor, de uma prática
ininterrupta até segunda ordem, de forma certeira e de uma maneira que
implicaria em benefício aos Seus discípulos. Ou seja, é como se Jesus estivesse
dizendo assim: “Eu ordeno que vocês certamente transmitam o Meu ensino, por
tempo indeterminado, como forma de benefício para vocês mesmos”.
E, por fim, o verbo eu estarei sempre convosco ou
estou sempre vocês menciona uma ação inerrante, certeira, constante e ativa
que tão logo estará sendo praticada por Jesus Cristo. Estou ou
estarei, são as possibilidades de se traduzir para a nossa língua uma
realidade (ação) constante da parte do nosso Mestre. As palavras todos os
dias já nos trazem uma dimensão temporal até o cumprimento previsto pelo Pai
e uma ênfase na segurança em relação à presença de Cristo em Seus discípulos.
A última palavra desta série merece uma atenção especial pelo
fato de ser um elemento determinante, indicando um tempo futuro e indefinido,
sendo traduzida por até e que tem a função de fechar o pronunciamento de
Jesus como últimas instruções aos Seus discípulos. Ressalta que a soberania
sobre o “tempo” pertence em última instância a Deus. Podemos traduzir este jogo
de palavras assim: o fim dos tempos ou até que os tempos sejam
completados.
Por aquilo que esse conjunto de palavras representa, temos a
nítida ideia de que o tempo de Deus está além da sequência e da medição da
cronologia humana. O tempo de Deus é um tempo sem tempo. É a eternidade
invadindo a finitude da história humana. Mais do que as dimensões de tempo, de
espaço e de matéria, Jesus se apresenta “a garantia da presença de sua Pessoa e
Obra” naqueles que foram conquistados pelo Seu amor e são reproduzidos através
da Sua vida! Amém!
Solo Deo Glória
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O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
domingo, 6 de maio de 2012
COMISSIONADOS
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