<>
>
Naquele dia, levantarei
o tabernáculo caído de Davi, repararei as suas brechas; e, levantando-o das suas
ruínas, restaurá-lo-ei como fora nos dias da antiguidade; para que possuam o
restante de Edom e de todas as nações que são chamadas pelo meu nome, diz o
Senhor, que faz estas coisas. Amós
9:11-12.
A aliança de Deus com Abraão envolve a
totalidade das linhagens humanas. Em ti serão benditas todas as famílias da
terra. Gênesis 12:3b. Deus prometeu que o descendente de Abraão seria o
abençoador de toda a humanidade. Ele não é Deus apenas de uma etnia, mas de toda
a raça humana. Ainda que ele seja Pai apenas dos seus filhos, isto é, aqueles
que crêem em seu Filho Jesus Cristo, ele é Deus de toda a humanidade.
Abraão teve dois
filhos tipológicos, Ismael e Isaque, com duas mulheres, a concubina Hagar, e a
esposa Sara, que representavam duas alianças, a terrena e a celestial, e mais
seis filhos naturais com Quetura, a outra esposa. Todavia, só um filho seria o
legítimo herdeiro da impotência pessoal, bem como da vida que nasce da morte, e
só um seria a raiz do descendente abençoador.
O herdeiro deveria
ser o filho da promessa e da impossibilidade humana, Isaque, um riso de
descrença e constrangimento de pais encanecidos e alquebrados, enquanto o
descendente procederia tão somente da semente da mulher ou do milagre da
encarnação do Verbo divino. Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu
descendente. Não diz: e aos descendentes, como se falando de muitos, porém como
de um só: e ao descendente, que é Cristo. Gálatas 3:16.
A descendência de
Abraão equivaler-se-ia às estrelas dos céus e à areia na praia. Uma é a geração
celestial, a outra é a estirpe terrena. A prole do chão, a areia, é uma multidão
incontável de judeus e árabes de todos os tempos e de todos os matizes, mas a
geração do céu é semelhante às estrelas iluminadas, que atravessou pela fé o
Jordão espiritual, como aquele que desce das altitudes do monte Hermon até ao
mar Morto, tornando-se assim um povo hebreu de verdade.
Há uma nação hebréia
constituída dos filhos de Jacó e um povo hebreu, o Israel de Deus, formado pelo
arraial da fé que desceu as elevações arrogantes do pecado mediante o sacrifício
do Cordeiro até aos limites da morte do ego. É a nova humanidade que descende do
holocausto de Isaque e da vida que nasce da sepultura, atravessando o rio da
ressurreição, pois, hebreu significa aquele que cruzou o rio. O Israel de Deus é
um povo que atravessou as correntes da incredulidade e vive na confiança plena
da plenitude de Deus em Cristo.
Deus não escolheu
Abraão para que os seus descendentes fossem exclusivos. Os judeus no tempo do
profeta Amós tinham se perdido na presunção da excelência, achando-se especiais
e únicos beneficiários do amor de Javé. Eles foram escolhidos sim, mas como
canais para a vinda do abençoador de todas as famílias da terra e não para serem
privativos da bênção. Foi neste contexto que o profeta evoca o tabernáculo de
Davi, a fim de trazer à tona o eterno propósito do Pai.
A cidade do grande
Rei é Sião onde a Arca da Aliança foi introduzida numa tenda aberta, bancando a
aceitação integral de todos os povos mediante a graça em Cristo. A figura pode
ser vista na realidade espiritual do reino futuro: Canta e exulta, ó filha de
Sião, porque eis que venho, e habitarei no meio de ti, diz o Senhor. Naquele dia
muitas nações se ajuntarão ao Senhor, e serão o meu povo; habitarei no meio de
ti, e saberás que o Senhor dos Exércitos é quem me enviou a ti. Zacarias
2:10-11. Aqui temos a universidade da graça para a universalidade das
raças.
Um dos perigos no
entendimento da eleição divina é a ufania de exclusividade. No sistema
educacional, nos esportes e em várias modalidades de seleção sempre se prima
pela escolha dos melhores. Isto nos faz pensar que Deus também nos elege na base
de alguma qualidade ou merecimento. Esse tipo de conceito costuma promover um
inchaço em nossa avaliação pessoal.
Volto a afirmar: o
povo judeu, naquela época, achava-se singular demais e supunha que a salvação
era patrimônio de sua origem. Então, o profeta reage, falando da reconstrução de
um tabernáculo que se encontrava em ruínas. Aliás, os dois tabernáculos, tanto o
de Moisés como o de Davi estavam sucedidos pelo templo e ambos caídos. A única
estrutura vigente naquele momento era o templo de Salomão como Casa de
Deus.
Todavia, Amós apela
para uma reconstrução inesperada. Quando a Arca do Senhor foi retirada do
tabernáculo de Moisés em Siló, nunca mais ela retornou para o seu lugar de
origem naquela tenda. Davi, anos depois, levantou uma tenda em Sião para receber
temporariamente a Arca. Fez também Davi casas para si mesmo, na cidade de
Davi; e preparou um lugar para a arca de Deus e lhe armou uma tenda. 1
Crônicas 15:1. Esta tenda é denominada de tabernáculo de Davi.
Durante mais de
trinta anos este tabernáculo esteve em funcionamento no monte Sião. Depois da
construção do templo por Salomão a Arca foi levada para o seu descanso no
oráculo, isto é, no Santo dos Santos e as suas varas foram retiradas e ali
permaneceram. Aí estão os varais até o dia de hoje. Nada havia na arca senão
as duas tábuas que Moisés ali pusera junto a Horebe, quando o Senhor fez aliança
com os filhos de Israel, ao saírem do Egito. 2 Crônicas 5:10.
O repouso da Arca em
um lugar estável fez com que os tabernáculos fossem descartados. Agora, que a
Arca terminou a jornada de peregrinação pelo deserto e de cidade em cidade na
Terra Prometida, ela permanecia fixa no templo, tipificando a obra completa e
perfeita de Cristo e o eterno descanso do seu povo, por isso os acontecimentos
dos tabernáculos ficaram sem razão de ser. O curioso é o profeta falar acerca da
reconstrução deste tabernáculo uns 200 anos depois da edificação do templo.
Naquela ocasião toda a vida religiosa dos judeus achava-se focalizada no templo
e não havia pretexto para se recuperar algo que fora ultrapassado. E por que
será que o tabernáculo de Davi deveria ser restaurado e o de Moisés não? O que
está por trás deste reparo?
Os dois tabernáculos
falam da pessoa e obra de Cristo em sua encarnação, mas o tabernáculo do Davi
apresenta uma obra consumada pelo único sacrifício de animais feito no dia da
introdução do móvel sagrado e um permanente estado de adoração, representado
pelos vinte e quatro turnos de adoradores diante da Arca. Além do que este
ambiente sem véu descortina o caminho comum da aproximação de todos os povos
diante do trono da graça. Tiago
entendeu através da revelação do Espírito, que a reconstrução do tabernáculo de
Davi tinha a ver com a presença dos gentios na realidade espiritual da igreja.
Cumpridas estas coisas, voltarei e reedificarei o tabernáculo caído de Davi;
e, levantando-o das suas ruínas, restaurá-lo-ei, para que os demais homens
busquem o Senhor, e todos os gentios sobre os quais tem sido invocado o meu
nome, diz o Senhor que faz estas coisas conhecidas desde séculos. Atos
15:16-18.
Está consumado.
Tetelestai, no grego, é a última palavra no discurso do julgamento na
cruz. Não há mais qualquer apelação no tribunal da justiça divina. A obra da
redenção está cumprida mediante o sacrifício do Cordeiro de Deus. A imolação de
animais foi abolida e os holocaustos foram eliminados pela suficiência da única
oferta proporcionada através do corpo de Cristo. Assim também Cristo, tendo
oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda
vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação. Hebreus
9:28.
Agora é o tempo da
reedificação da tenda que tipificava a assembléia ecumênica da família de Deus.
A reconstrução da tenda de Davi implicaria numa comunidade aberta, onde a
cortina que separava os povos da comunhão com o Pai fosse removida, além do que
fosse também aberto o caminho da intimidade que levaria ao trono. E destruirá
neste monte a face da cobertura, com que todos os povos andam cobertos, e o véu
com que todas as nações se cobrem. Isaías 25:7.
A igreja de Cristo é
a realidade espiritual que o tabernáculo de Davi apontava. Ela é a tenda do
testemunho sem véu onde Cristo habita. Todo o arraial de Deus advindo de todas
as tribos, povos e nações, atualmente se chegam ao trono da graça para adorar e
testemunhar do Cordeiro. O
tabernáculo de Davi fala da aliança da graça e não da aliança da lei como no
caso do tabernáculo de Moisés. Se Tiago tivesse abordado a restauração da tenda
de Moisés, não haveria dúvidas que os gentios deveriam entrar na aliança da lei.
Entretanto, ele enfatizou a reconstrução do tabernáculo de Davi que apontava
claramente para a arquitetura perfeita e consumada de Cristo
A Arca do Testemunho
na tenda de Davi encontrava-se sem qualquer cortina ou véu, uma vez que os
levitas e sacerdotes que ministravam diante dela eram os únicos que podiam
servir como véus, e, ao mesmo tempo, promotores de sua realidade espiritual
perante o povo. A evidência da Arca era o testemunho daqueles que adoravam ao
Senhor diante dela. Segundo o
entendimento do apóstolo Pedro, os gentios que antes não eram participantes do
Israel de Deus, hoje, mediante Jesus, são feitos membros da nação divina para
anunciar o testemunho de Cordeiro de Deus ao mundo. Vós, porém, sois raça
eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a
fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua
maravilhosa luz. 1 Pedro 2:9.
Escrevendo à igreja
de Filadélfia no Apocalipse, o Espírito Santo fala daquele que tem a chave de
Davi que abre e ninguém fechará, e fecha e ninguém abre. Pedro sabia que
esta chave lhe fora entregue pelo Senhor, por isso no dia do Pentecostes, entre
os judeus, e na casa de Cornélio, entre os gentios, foi ele quem abriu a porta
da pregação do evangelho para todos. O tabernáculo de Davi é uma sombra da igreja
de Deus, que em Sião, era vista como a casa de Deus, onde os sacrifícios foram
aceitos no altar de Deus, isto é, em Cristo: portanto, os seus holocaustos e
os seus sacrifícios serão aceitos no meu altar, porque a minha casa será chamada
casa de oração para todos os povos. Assim diz o Senhor Deus que congrega os
dispersos de Israel: Ainda congregarei outros aos que se acham reunidos.
Isaías 56:7b-8.
Solo Deo Glória
|
<>
Nenhum comentário:
Postar um comentário