terça-feira, 1 de maio de 2012

A SUTILEZA CRUEL


Pois muitos andam entre nós, dos quais, repetidas vezes, eu vos dizia e, agora, vos digo, até chorando, que são inimigos da cruz de Cristo. O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia, visto que só se preocupam com as coisas terrenas.Filipenses 3:18-19.

A maior esperteza do inferno está na camuflagem. Não há estratégia mais eficiente para os caçadores do que o disfarce. O mimetismo faz parte da maquiavelice diabólica de caçar as almas. Os piores adversários não são aqueles que nos enfrentam frontalmente, mas aqueles que, dissimulados em santos, fingem gozar de uma experiência espiritual autêntica. O artifício da fé mascarada é muito mais sério do que a licença permissiva de uma vida aberrante. É preferível um pecador dissoluto do que um santo pintado. William Secker disse que, uma prostituta maquilada é menos perigosa do que um hipócrita disfarçado. No reino de Deus não há lugar para apócrifos.
A hipocrisia é muito mais prejudicial do que a devassidão, e o disfarce encapuzado mais ardiloso do que a nudez destampada. Os inimigos da cruz mais argutos são aqueles que melhor simulam espiritualidade elevada. É muito difícil perceber a esperteza de uma vida inautêntica, pois as profundezas do bersabum investem toda a sabença na sofisticação da maquiagem. Os produtos mais vendidos do inferno são os cosméticos da impostura que visam encobrir as feridas purulentas com a santimônia. Confundir rebeldia com beatice é matéria de especialização das galerias subterrâneas da universidade cavernosa das profundezas infernais. Mas há um provérbio alemão que ensina: Quando a raposa prega, observe os gansos. Por isso é muito importante verificar as características bíblicas dos inimigos da cruz de Cristo, para não sermos apanhados pelas sutilezas cruéis do formalismo enganoso. Muitos dizem: Eles pregam a Bíblia! Eles falam de Jesus! Eles anunciam a cruz! Lá eles pregam o novo nascimento! Para mim não importa, se prega a Bíblia, está bom. É aqui que mora o perigo.
A primeira observação do apóstolo Paulo com respeito aos inimigos da cruz de Cristo é que eles andam entre nós. Os adversários do Evangelho da graça de Cristo estão infiltrados no seio da Igreja. Eles não se encontram propriamente no mundo, mas no meio da Igreja, como líderes ou membros. Os vírus precisam se instalar no organismo para provocar a infecção. A astúcia do combate eficaz começa na infiltração mascarada e na implantação da arma mais eficiente para destruir uma comunidade, que é a subversão. Disfarçado em irmão, a hostilidade contra a mensagem da cruz vai sorrateiramente minando os fundamentos do cristianismo. O método da corrupção começa com a ênfase fundamental da fé sendo substituída por um acessório qualquer. Ninguém é propriamente contra a mensagem da cruz, simplesmente ameniza-se o seu enfoque. O transtorno começa pelo esvaziamento da pregação, através da mensagem sofisticada com a filosofia das palavras. Porque não me enviou Cristo para batizar, mas para pregar o Evangelho; não com sabedoria de palavra, para que se não anule a cruz de Cristo. 1 Coríntios 1:17. Com linguagem persuasiva de sabedoria humana, vai-se tecendo um esquema de empobrecimento da mensagem e agregando-se a ela outros assuntos que assumam a atenção dos ingênuos. Uma das marcas dos falsos profetas é pregar com sutileza apenas o que o povo quer ouvir. Prefiro ser plenamente compreendido por dez a ser admirado por dez mil, martelava Jonathan Edwards.
Uma segunda questão que podemos destacar, da abordagem do apóstolo, é que estes inimigos são muitos. Não se deve subestimar a contabilidade. Para Paulo, são muitos os opositores da cruz de Cristo. Não se trata de um grupinho inexpressivo de gentinha desqualificada. Havia um grande grupo de gente capaz, especialista em induzir, solapando a mensagem do Evangelho, esvaziando o enfoque da cruz e procurando implantar um sistema para valorizar a auto-estima. Por este motivo, suas constantes advertências contra a ameaça penetrante e o risco apurado de diluição do discurso do Evangelho, ao ponto de suas lágrimas serem convocadas como testemunho de sua apreensão. Mas por outro lado, este número expressivo de rivais vem corroborar com a importância fundamental da mensagem. Se a proclamação da cruz fosse um assunto de somenos importância, os antagonistas seriam poucos e sem a menor consideração. O fato de ter muita gente contrária à pregação dos efeitos da cruz em nossas vidas é sintoma do mérito e valor essencial desta mensagem.
Por estes motivos, é necessário distinguir os antagonistas da cruz com as características apontadas pelo apóstolo. É preciso ver, com a clareza das Escrituras, que muitos que podem até estar pregando a cruz, fazem parte do levantamento contra a cruz. Vamos analisar Filipenses 3:19 na forma invertida de sua construção. Visto que só se preocupam com as coisas terrenas, a glória deles está na infâmia, o deus deles é o ventre e o destino deles é a perdição. A ênfase dos adversários da cruz está nas coisas terrenas. Todas as pessoas que participam na igreja e que valorizam mais as coisas terrenas do que as celestiais estão englobadas na rebelião oposta à cruz. Muitos dos que pregam sobre a cruz vivem preocupados com as coisas deste mundo e prisioneiros de uma mentalidade mundana. Quando estimamos mais os bens e prazeres do que a santidade, o êxito e a prosperidade mais que a glória de Deus, estamos envolvidos numa sedição contrária à mensagem da cruz. Os maiores adversários do cristianismo não são os que o combatem de frente, mas são os falsos cristãos que fingem a mensagem, que a vida desmente. O estado celestial é organizado de forma a expressar visivelmente o que Deus pensa da cruz de Cristo, ensina J. A. Motyer. Somente aqueles que foram crucificados e ressuscitados juntamente com Cristo podem ser desarraigados do domínio das coisas rasteiras, para investir o pensamento nas coisas elevadas. Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra; porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus. Colossenses 3:1-3. A operação da cruz provoca uma revolução no pensamento e na maneira de encarar os valores da existência.
Entretanto, se o urubu aprecia carniça é uma questão de instinto e apetite, do mesmo modo, os adversários da cruz preferem salientar a sua glória naquilo que é infamante. Sabemos que uma pessoa nunca passou pelos efeitos da cruz quando ela se delicia com tudo aquilo que é desonroso. Quando a escolha preferencial da vida recai sobre os temas maculados pelo sujo da indignidade, constatamos que a glória desta pessoa é fruto de um coração torpe. O cardápio natural dos porcos é lavagem de chiqueiro. Isto leva consequentemente ao centro de sua adoração: as vísceras. Um indivíduo governado pelo suco gástrico tem uma ética muito ácida. O vômito do mau humor freqüentemente revela o azedume de um homem sem cruz. E o seu deus oco do estômago precisa sempre de miolo mole para abarrotar. É por isso que a propina, a bajulação e o servilismo fazem parte do esquema da religião sem cruz. A teologia dos inimigos da cruz é tão vazia e frívola como o seu deus sem um prato de comida para satisfazer seu instinto momentâneo. Os viscerotônicos inescrupulosos não hesitam em fazer qualquer coisa que lhes proporcione algum resultado favorável. Desde que haja lucro ou vantagem, há uma disposição para negociar sob qualquer custo. Isto leva os que só se preocupam com as coisas terrenas ao terceiro degrau de sua falência total: o destino deles é a perdição. Não era de se esperar outra coisa. Se Deus não existe, tudo é permitido, enfatizava Dostoievsky. Uma pessoa regulada pelas aspirações da infâmia, administrada pelo deus minúsculo dos apetites carnais não tem outra alternativa senão a confusão insegura de uma vida perdida. Só um homem perdido pode ter uma vida assim, tão inconseqüente.
Se você quer fugir de Deus, o diabo lhe emprestará tanto as esporas como o cavalo
, afirmava Thomas Adams. E o sábio pregador metodista E. M. Bounds insistia: Seria uma imitação burlesca da esperteza do diabo e uma calúnia contra seu caráter e reputação, se ele não empregasse suas maiores influências para adulterar o pregador e a pregação. Cuidado com toda pregação que minimiza o enfoque da cruz de Cristo e que desconsidera a nossa co-crucificação juntamente com Cristo. Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo. Gálatas 6:14.

Solo Deo Glória

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