Cumpridas estas coisas, voltarei e
reedificarei o tabernáculo caído de Davi; e, levantando-o das suas ruínas,
restaurá-lo-ei, para que os demais homens busquem o Senhor, e todos os gentios
sobre os quais tem sido invocado o meu nome, diz o Senhor que faz estas coisas
conhecidas desde séculos. Atos 15:16-18.
Cumpridas estas coisas
. Que
coisas? As evidências apontam para a obra que foi consumada por Cristo. O
tetelestai do Calvário é o brado conclusivo dum parto cósmico que deu
início a uma nova raça nascida da sepultura. Adão, o ancestral da espécie em
ruínas foi crucificado com Cristo e um segundo homem, cabeça de uma nova raça,
eclode da tumba. O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente. O último
Adão ressuscitado se tornou espírito que dá vida. 1 Cor 15:45.
PA
Preenchidas as condições divinas com
a exaltação de Jesus, abre-se o processo para a reconstrução da tenda de Davi
que havia sido substituída pelo templo de Salomão. O dia de Pentecostes é o
nascimento de uma realidade nova, a Igreja de Cristo, a tenda aberta para o
acolhimento salvador de todos os povos. O Senhor desnudou o seu santo
braço à vista de todas as nações; e todos os confins da terra verão a salvação
de Deus. Is 52:10.
O templo construído por Salomão não
foi uma proposta de Deus, mas uma permissão dele diante de um desejo do rei Davi
em edificar um templo ao Senhor. A idéia henoteista de fixação e localização da
divindade foi sempre um fantasma na história do povo de Deus.
Jacó já havia levantado uma coluna
em Betel, ungindo-a com óleo, supondo ser ali a casa de Deus. Porém o conceito
da revelação bíblica é da onipresença e mobilidade na manifestação divina. Javé
não pode ser contido num lugar. Assim diz o Senhor: o céu é o meu trono, e
a terra o estrado dos meus pés; que casa me edificaríeis vós? E qual é o lugar
do meu repouso? Is 66:1.
Voltarei. Quem voltará? A expressão verbal
do texto focalizado, também destaca a pessoa de Cristo, que enviando aos seus
discípulos o Espírito Santo, inicia o plano da reconstrução do tabernáculo de
Davi, que se encontrava derrubado. Desde a inauguração do templo, a tenda que
estivera erguida no monte Sião foi retirada e dobrada. A tenda havia se
deteriorado com o tempo.
E edificarei. Quem edificará?
Jesus tinha afirmado, numa conversa reservada com seu colegiado, que ele
era a pessoa que edificaria a sua Igreja. Por outro lado, ele afirmou,
igualmente, que não deixaria os seus discípulos sós, mas enviaria o Espírito
Santo, a fim de estar sempre com eles.
O Espírito só poderia ser dado
depois que Jesus fosse glorificado. Agora que foram cumpridas as cláusulas e
Cristo foi recebido no trono da glória, o Espírito Santo foi derramado e
principia a restauração do tabernáculo
Davi é um dos tipos mais adequados
de Cristo. Ele passou por três unções bem marcantes. Ele foi ungido por Samuel
com a unção profética como profeta de Javé, quando estava na casa de seu pai.
Depois ele foi ungido como rei de Judá, quando Saul ainda era o rei de Israel. E
finalmente foi ungido como rei e sacerdote ao assumir o reino de Israel, com a
unificação das doze tribos.
Na ocasião desta última unção Davi
percebeu que a arca da aliança se encontrava fora do seu lugar santíssimo no
tabernáculo do Senhor. Por quase cem anos a arca estivera afastada do seu
endereço permanente, mas Davi não promove a recondução da arca ao antigo
tabernáculo. Algo significativo deve ter acontecido, pois ao invés de levar o
móvel sagrado para o seu lugar de origem, ele constrói uma tenda nova para
colocar a arca.
No tabernáculo construído por
Moisés, a arca ficava no último aposento, num local fechado e sem luz de
candeeiro, só podendo ser contatada pelo sumo sacerdote uma vez por ano, no dia
da expiação. Todavia agora a arca iria para uma tenda aberta, sem véu e poderia
ser vista 24 horas, durante todos os dias, por todos os
adoradores.
Esta mudança de mentalidade assinala
uma mudança radical de paradigma. O velho tabernáculo já havia completado o seu
papel. O povo sem pátria agora tinha o seu chão. Davi conquistou os povos que
ainda prevaleciam contra Israel em seu tempo e ele começava a dinastia de onde
viria o Messias. O culto exclusivo de Israel, fechado para os outros povos,
precisava ser aberto, pois a salvação de Javé engloba mais do que uma
nação.
Davi foi um dos primeiros a enxergar
o ecumenismo da graça. O Deus de Israel é o Deus de todos os povos. Aquilo que
Isaias viu com nitidez na profecia, Davi percebeu no significado do seu
tabernáculo. A glória do Senhor se manifestará, e toda a carne a verá,
pois a boca do Senhor o disse. Isaias 40:4. A glória do Senhor é Cristo
que foi tipificado na arca sem véu.
Mas o povo de Israel se via como o
único povo eleito e não concordava com a misericórdia divina para com todos. A
atitude de Jonas fugindo num navio para Társis evidenciava o preconceito da sua
gente em relação à salvação de todos os povos. Ele não aceitava que Deus fosse
gracioso e bondoso com outras nações, principalmente uma nação perversa como a
Assíria. Vejam aqui a desculpa que Jonas deu para a sua fuga: pois sabia
que és Deus clemente, misericordioso, e tardio em irar-se, e grande em
benignidade, e que te arrependes do mal. Jonas
4:1b.
Esta mentalidade exclusivista se
arrastava no meio do povo de Deus, inclusive no tempo de Jesus, pois Israel
continuava se achando especial. Mateus quando escreveu o seu Evangelho, dedicado
à evangelização dos judeus, omitiu, na citação da profecia de Isaias, a
expressão: e toda carne verá a salvação de Deus. Alguns estudiosos
da Bíblia acham que essa supressão foi proposital, pois se ele a tivesse feito,
com certeza, os seus leitores fechariam o filtro para a mensagem de Cristo.
Lucas, entretanto, ao escrever o seu
Evangelho, visando à pregação de Cristo aos gregos, faz a citação do profeta na
íntegra, uma vez que o seu objetivo era levar o conhecimento de Cristo para
todas as pessoas. Aqui está um dos significados do tabernáculo de Davi, isto é,
a universalidade da salvação de Deus. A arca achava-se descoberta e visível a
todos. Na tipologia, a glória do Senhor encontrava-se manifesta aos
povos.
No tabernáculo de Davi tem-se apenas
um sacrifício no dia da inauguração. Sete novilhos e sete cordeiros são
sacrificados como símbolo de um holocausto perfeito e consumado. Durante todo o
tempo em que a arca permaneceu nesta tenda, no monte Sião, não houve qualquer
sacrifício neste local. Todas as ofertas e sacrifícios eram feitos no átrio do
tabernáculo do Senhor que se encontrava em Gibeão, sem a presença da arca.
Este sacrifício singular aponta para
o sacrifício universal de Cristo. Sete é um número completo e assinala uma obra
suficiente, eficiente e conclusiva realizada por Cristo no Calvário. Sete
novilhos falam do poder absoluto de Deus para cobrir a totalidade do pecado e os
sete cordeiros indicam a suficiência de Cristo como o Cordeiro de Deus que tira
o pecado do mundo.
Abiatar era o sumo sacerdote no
tabernáculo de Davi que se encontrava em Sião, enquanto Zadoque era o sumo
sacerdote no tabernáculo do Senhor no monte Gibeão. Dois sumos sacerdotes
ministravam em Israel em tabernáculos diferentes e com ministérios distintos.
Zadoque ministrava sob o enfoque dos sacrifícios, porém Abiatar cuidava do
sacerdócio do louvor, uma vez que na tenda de Davi não havia sacrifício de
animais, mas sacrifício vivo de adoração.
Por fim o sacerdócio. Abiatar foi o
último descendente da família de Eli, o único que restou no massacre de Saul
contra os sacerdotes e que se tornou sumo sacerdote no projeto estatal de Davi.
A linhagem de Eli foi amaldiçoada, porque este velho sacerdote havia perdido a
visão espiritual, deixando que seus filhos tripudiassem sobre o significado das
coisas sagradas. Por esta causa a arca foi arrancada do seu endereço,
tornando-se motivo de escárnio entre os povos.
Depois da morte de Davi, Salomão
edificou o templo e definiu o sumo sacerdócio com a casa de Zadoque, banindo
Abiatar da sua função em razão do seu apoio à rebelião de Adonias, bem como
demoliu o tabernáculo de Davi. A história deste tabernáculo parece ter chegado
ao fim.
Parece, mas não. Apesar de Abiatar
ter sido o primeiro e último sumo sacerdote da tenda em Sião, ele prefigura a
unicidade do sacerdócio universal dos crentes que viria se manifestar na
reconstrução do tabernáculo, profetizada por Amós e apresentada pelo apóstolo
Pedro: vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual
para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais,
agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo. 1 Pe
2:5.
A reconstrução do tabernáculo de
Davi fala de quatro alicerces importantes da Igreja de Cristo. Primeiro, a
unidade plena da salvação de Deus para todos; segundo, a exatidão do sacrifício
singular e completo como garantia eterna do perdão a todos; terceiro, a inclusão
de todos os povos na obra da redenção, que deságua em adoração viva e quarto, o
sacerdócio universal dos crentes.
A salvação de Deus é plena. O
sacrifício de Cristo é completo. A inclusão de todos é irrestrita. O sacerdócio
dos crentes é universal. Assim, todo aquele que recebe pela graça, através da
fé, a plena salvação de Deus cumprida pela obra completa de Cristo, que incluiu
a todos os pecadores na sua morte e ressurreição, torna-se um sacerdote do reino
da graça, a serviço do evangelho das insondáveis riquezas de Cristo. Esta é a
súmula do tabernáculo de Davi, a Igreja de Cristo.
Solo Deo Glória
| |
O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
segunda-feira, 7 de maio de 2012
A RECONSTRUÇÃO DO TABERNÁCULO DE DAVI IV
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Muito rico, inteligente, bíblico,instrutivo,revelador e nos faz entender o belíssimo plano da dádiva da graça livre de amarras ideológicas e culturais que se desenvolveram ao longo de nossa história.
ResponderExcluir