domingo, 24 de fevereiro de 2013

TEOLOGIA DO DESPERDÍCIO

Maria, irmã de Lázaro, foi uma pessoa que reconheceu em Jesus os atributos gloriosos de Deus. Ela demonstrou através de suas atitudes, ter crido em Jesus, como Messias, o Cristo. Quando Jesus ia até Betânia, Maria preferia estar aos pés do Senhor a ficar correndo de um lado para outro, preocupada em servir, como fazia Marta. O próprio Senhor elogiou Maria ao dizer que ela escolhia a boa parte. Por ocasião da morte de Lázaro, Maria, ao ver Jesus, prostra-se aos seus pés e exclama: Senhor, se estivesses aqui meu irmão não teria morrido. João 11.32b. Porém, é ao ungir a cabeça de Jesus com um valioso perfume de nardo puro, que Maria demonstrou estar disposta a se sacrificar para satisfazê-lo.

Diante do gesto de Maria, Jesus pronunciou as seguintes palavras: Eu lhes asseguro que onde quer que o evangelho for anunciado, em todo o mundo, também o que ela fez será contado em sua memória. Marcos 14.9. Por que será que Jesus exalta tanto a atitude de Maria? Para ilustrar o estilo de vida que o Evangelho tende a produzir em uma pessoa, ou seja, uma vida que busca satisfazer a Jesus em tudo. Maria revela o perfil de uma pessoa que experimenta o Evangelho em sua vida. Maria conhecia a dimensão do amor de Cristo. Pois o amor de Cristo nos constrange, porque estamos convencidos de que um morreu por todos; logo, todos morreram. E ele morreu por todos para que aqueles que vivem já não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou. 2 Coríntios 5.14-15. Somente quem tem uma experiência com Cristo crucificado pode ter uma vida capaz de satisfazer ao Senhor. Caso contrário, a vida natural prevalece, e esta, não pode agradar a Deus.

Maria manifestou um gesto sublime de adoração ao entrar na casa de Simão, o leproso, levando consigo um vaso de alabastro contendo um caríssimo perfume, feito de nardo puro. Então ela quebrou o vaso e derramou o perfume sobre a cabeça de Jesus. Marcos 14.3b. Jesus havia restaurado a vida de Lázaro, episódio que ilustra o poder do Evangelho que dá vida aos mortos. Então, ela gasta todas as suas economias para comprar um dos perfumes mais caros da época. Tudo indica que a família de Betânia não era de muitas posses. É possível até imaginarmos Maria na loja de perfumes, pedindo o que havia de melhor. Para ela não servia qualquer perfume, devia ser o melhor, mais fino, e mais requintado. Provavelmente, o vendedor não tinha o produto para pronta entrega, necessitando fazer um pedido especial.

Maria gastou trezentos denários, o equivalente a trezentos dias de um trabalhador braçal. O salário integral de um ano de muito trabalho. Era muito dinheiro, mas ela não hesitou e pagou o preço. No entanto, a atitude de Maria não teve boa acolhida, pelo contrário, foi duramente criticada pelos discípulos de Jesus. Por que este desperdício de perfume? Ele poderia ser vendido por trezentos denários, e o dinheiro ser dado aos pobres? E a repreendiam severamente. Marcos 14.5. Houve uma reclamação geral em relação à ação de Maria, pois, no julgamento dos que estavam presentes, aquela atitude representava grande desperdício. Chegaram mesmo a argumentar que teria sido mais proveitoso vender aquela iguaria para que o dinheiro fosse doado aos pobres.

A palavra desperdício significa o mesmo que gastar sem proveito, esbanjar ou perder. Ou ainda, dar mais do que o necessário. O que os discípulos de Jesus estavam dizendo, em outras palavras, era: por que não empregar este dinheiro de uma forma melhor? Por que gastar tanto com Jesus? Porém, o gesto de Maria foi de adoração. Ela renunciou bens e momentos agradáveis para doá-los a Jesus. Diante das criticas, Jesus dá o seu parecer: Deixem-na em paz, disse Jesus. Por que a estão perturbando? Ela praticou uma boa ação para comigo. Ela fez o que pode. Derramou o perfume em meu corpo antecipadamente, preparando-o para o sepultamento. Marcos 14.6-8. Aquilo que era aos olhos humanos um desperdício, para Jesus foi um ato de adoração.

Jesus associou aquele acontecimento ao seu sepultamento. Maria, sem perceber, estava participando diretamente do maior evento da história. Estava preparando Jesus para o dia glorioso da ressurreição. Maria foi a única que conseguiu ungir a Jesus, pois quando as mulheres foram ao sepulcro no primeiro dia da semana, ele já havia ressuscitado. Aquilo era demasiadamente especial para Jesus, pois ele sabia estar preste a resgatar a humanidade da sua vã maneira de viver. Estava a poucos dias de transformar o mundo por meio da graça. Esta graça nos foi dada em Cristo desde os tempos eternos, sendo agora revelada pela manifestação de nosso Salvador, Cristo Jesus. Ele tornou inoperante a morte e trouxe a luz à vida e a imortalidade por meio do evangelho. 2 Timóteo 1.9b e 10. Segundo o apoótolo Paulo, o evangelho é: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e ressuscitou no terceiro dia, segundo as Escrituras. 1Coríntios 15.3b-4.

Somente quem morreu para si mesmo pode agradar ao Senhor. Uma pessoa regenerada não se importa com as críticas que recebe por estar praticando "desperdício" para satisfazer a Jesus. O que lhe importa é a opinião do Senhor e não a dos homens. Motivada pelo amor do Senhor demonstrado primeiramente a ela, Maria refletia seu louvor ao Senhor, através de seus gestos e atitudes.Ouvi certa vez, lindo testemunho de uma pessoa de nossa igreja. Ela foi convidada a visitar um ex-presidiário debilitado pela Aids, em estado terminal. Ela viu a necessidade de evangelizar aquela pessoa, e passou a fazer visitas constantes para anunciar-lhe o Evangelho de Cristo. Um dia, ele disse que estava com desejo de comer costela assada. Ela ficou preocupada, pois o seu estado poderia piorar em face da difícil digestão, mesmo assim, ela atendeu ao seu pedido. Dias depois ele fez um estranho pedido: Queria ganhar rosas vermelhas. A nossa irmãzinha em Cristo, então, comprou rosas vermelhas e levou-as a ele. Foi o último dia que ela falou de Jesus para aquele homem, pois, faleceu no dia seguinte, e as rosas cobriram o seu caixão. Esse também é um testemunho de desperdício. Desperdício de tempo, de dinheiro e de vida, porém, com toda a certeza, Jesus foi glorificado.
Vivemos numa época de racionalização do tempo, das nossas economias e de cuidadoso planejamento de nossas vidas. Nesse cenário, a palavra desperdício não é bem vista. Na verdade as palavras que gostamos são: ganhar e aproveitar. Porém, esta não é a lógica do Reino de Deus. Jesus disse: Aquele que aproveita a sua vida, a perderá; ao passo que aquele que gasta a sua vida neste mundo, conservará para a vida eterna. João 12.25. A nossa vida pode ser comparada a uma vela. Ao se gastar, ela clareia o ambiente, mas se permanecer intacta, para pouco se aproveita, a não ser para enfeite. A nossa vida é uma atribuição temporária para ser gasta em favor do Senhor. Somente aquele que vive sob a perspectiva da cruz, pode viver intensamente para o Senhor.

O pastor Antonio Abuchain contava a experiência de um missionário que descobriu o verdadeiro sentido da existência. Era uma pessoa muito bem preparada, poliglota, mas que estava evangelizando indígenas nas selvas da fronteira da Venezuela com o Brasil. Certa ocasião, enquanto conduzia uma manada de bois para o Brasil, parou em uma clareira, e passou a reclamar de sua situação: "Jesus, me tire daqui. A minha vida é um desperdício por aqui. Eu poderia muito bem estar te servindo em qualquer outro lugar do mundo. Então, por que aqui?" Depois de expor suas reclamações ao Senhor, correu os olhos para debaixo do tronco onde estava sentado, e viu uma pequenina flor roxa. Era uma singular e solitária florzinha. Então, perguntou a si mesmo: o que uma única flor, tão bonita, faz neste lugar, onde ninguém pode ver? Na mesma hora, ouviu uma voz em seu íntimo: Deus vê. Assim ele entendeu que o mais importante da vida é agradar a Deus, não a homens e nem a si mesmo.

Somente a cruz nos faz perfeitos adoradores. Adorar significa apreciar Jesus acima de qualquer outra coisa. Adorar é muito mais do que louvar, cantar e orar a Deus. É um estilo de vida na qual há dedicação e doação de si mesmo ao Senhor Jesus. Será que estamos dispostos a "desperdiçar" o nosso tempo, nossos bens, nossa reputação e nossa realização pessoal para agradar a Jesus, ou nos contentamos em dar a Ele o que nos sobra?

O propósito do Evangelho não é somente a salvação dos homens, mas a formação de pessoas que se gastem por causa de Jesus Cristo. O objetivo de Deus através do Evangelho é propiciar vidas que se consomem em amor a ele. Uma vida que vive sob a perspectiva da cruz, que sabe que tudo o que existe é Dele, por ele e para ele. Romanos 11.36a. Uma vida centrada em Cristo e não em si mesma, movida pelo Espírito Santo. Isto tem sérias implicações, pois exigirá um estilo de vida sacrificial com mudanças de prioridades, de agenda e de relacionamentos. Significará pegar o caminho de Nínive e não de Társis. O caminho que Deus indicar, e não aquele que queremos seguir.

Quando Maria quebrou o vaso de alabastro, o ambiente foi invadido pelo delicioso perfume de nardo puro. O mesmo acontece conosco quando oferecemos ao Senhor o que temos de mais precioso, o perfume de Cristo toma conta do ambiente. Como um perfume que se espalha por todos os lugares, somos usados por Deus para que Cristo seja conhecido por todas as pessoas. 2 Coríntios 2.15. Jesus associou a atitude de Maria ao evangelho, e assim, demonstrou o resultado final na vida de uma pessoa: Uma vida de "desperdício". Uma vida usada para satisfazer ao Senhor Jesus e aos seus interesses. Não é o nosso fazer que agrada ao Senhor, mas a afeição por ele. O mundo não consegue entender quando nos doamos intensamente ao Senhor, e muitas vezes, os próprios discípulos de Jesus não entendem. Porém, a atitude de Maria tem muito a nos ensinar. A verdadeira vida é uma vida de "desperdício" para satisfazer a Jesus, em outras palavras, viver para sua glorificação. Isto não é algo para acontecer somente no céu, mas, para ocorrer aqui, na presente vida.
 
Soli Deo Glória.

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