Que todas estas palavras que hoje lhe ordeno estejam em
seu coração. Deuteronômio 6:6.
O que é a família na ótica Divina? A resposta a esta pergunta
começa pelo projeto original de Deus. O relacionamento humano foi originalmente
estabelecido entre duas pessoas criadas por Deus. A partir desta base, o Criador
formaria o que depois se convencionou chamar de família. A família foi a
primeira "estrutura social" criada por Deus. O primeiro propósito de Deus em
relação à criação da família era o do companheirismo diante do Criador! Então
o Senhor Deus declarou: "Não é bom que o homem esteja só; farei para ele alguém
que o auxilie e lhe corresponda"... Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e
se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne... O homem e sua mulher
viviam nus, e não sentiam vergonha. Gênesis 2:18, 24 e 25.
Portanto, deveria existir a solidariedade e a parceria entre o
primeiro casal. O texto hebraico nos traz literalmente o sentido de "como
face a face" (v.18). Na medida em que o propósito Divino fosse vivenciado, o
homem e a mulher estariam capacitados para atender às necessidades daqueles que
seriam o fruto do seu relacionamento diante do Criador: os seus filhos e filhas.
O texto bíblico mostra-nos que, apesar de toda a capacidade intelectual dada na
criação, o ser humano não poderia viver sem alguém que lhe estivesse em posição
de "conformidade". Por esta razão o casamento é uma união física que não pode
ser desfeita pelas dificuldades exteriores impostas pela vida. Disse então o
homem: "Esta, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será
chamada mulher, porque do homem foi tirada" Por essa razão, o homem deixará pai
e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne. Gênesis
2:23,24.
As características mais marcantes do primeiro casal são a
santidade, isto é, feitos para viver "sem medo e na dependência de Deus" e, a
pureza das intenções entre ambos (v.25). O primeiro casal foi criado com um
propósito definido: viver para e em comunhão com o Seu Criador.Do
ponto de vista bíblico a família tem duas conotações sociais básicas: o sentido
genealógico patriarcal (bet av) casa paterna, e o sentido sociológico
(mishpahah) clã – tribo – povo. As unidades familiares no Antigo
Testamento incluíam todos os seus membros, sem nenhuma distinção. As famílias
eram "pequenos reinos" que deveriam viver sob a orientação do Seu idealizador: O
Criador.
Porém, o que aconteceu com a família ao longo dos tempos? Será
que as pessoas já não têm mais a mesma necessidade de viver em família? Não
precisamos mais do outro/a para viver? O que aconteceu com a necessidade de se
pertencer a alguém? As imposições da vida social contemporânea nos têm
roubado o privilégio da vida familiar.
As grandes tensões que assolam a família contemporânea têm suas
causas diagnosticadas na própria natureza humana: Assim, eu lhes digo, e no
Senhor insisto, que não vivam mais como os gentios, que vivem na futilidade dos
seus pensamentos. Eles estão obscurecidos no entendimento e separados da vida de
Deus por causa da ignorância em que estão, devido ao endurecimento dos seus
corações. Tendo perdido toda a sensibilidade, eles se entregaram à
depravação, cometendo com avidez toda espécie de impureza. Todavia, não foi
assim que vocês aprenderam de Cristo. De fato, vocês ouviram falar dele, e nele
foram ensinados de acordo com a verdade que está em Jesus. Quanto à antiga
maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem, que se
corrompe por desejos enganosos, a serem renovados no modo de pensar e a
revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em
santidade provenientes da verdade. Efésios 4:17-24.
O processo de urbanização, que está se desenvolvendo no mundo
ao longo dos séculos, é crescente e irreversível. A tendência de que a maior
parte da população mundial deverá concentra-se em cidades com mais de 100.000
habitantes, é maior do que se pensava antes. O fenômeno da urbanização é de
extrema importância para a missão da igreja, por causa das rápidas mudanças
sociais e da pressão exercida por este mesmo fenômeno sobre a família
contemporânea. "A cidade é uma unidade humana e espacial onde floresce a vida
em toda a sua intensidade. Em seu interior, os seres humanos vão e vêm sem
cessar, produzindo e consumindo, criando e recriando". Raymond
Ledrut.
O ambiente urbano contribui poderosamente para que o ser humano
desenvolva e manifeste algumas características peculiares em sua personalidade.
Estas características são resultantes das tensões psicológicas, às quais
somos submetidos no cotidiano da vida urbana. Entre elas podemos apontar o
anonimato, o isolamento pessoal com suas consequências danosas e, a
agressividade
Existem as tensões sociais que submetem as pessoas a um
processo de desumanização por causa da massificação que normatiza suas
realizações pessoais mais íntimas e legítimas. Há também a tensão imposta pelo
consumismo devido às tentadoras ofertas da mídia. Outro vilão da vida
urbana é a tendência ao individualismo e ao medo em relação aos outros
seres humanos que estão à nossa volta. Cada vez mais pessoas revelam maior
interesse por grupos secundários (associações, grupos políticos, desportivos,
eclesiásticos, sindicais e cooperativos) do que pelos grupos primários que são
as suas próprias famílias. As pessoas estão ficando cada vez mais
secularizadas. As tensões da vida contemporânea, especificamente as da
vida urbana, nos conduzem a um estilo de vida dissociado dos laços
familiares.
Por outro lado, a tendência ao isolamento pessoal e
anti-familiar, produzida pelo mundo contemporâneo, nos impele a viver nossos
projetos pessoais ou "carreira-solo", que se tornam mais importantes do que as
pessoas com quem convivemos. A família segundo Deus começa por "corações
libertos" das nossas tendências pessoais egoístas e isolacionistas e das
"opressões sociais" que sofremos. O lar sob a orientação bíblica é a base da
vida de qualquer pessoa. O relacionamento familiar é construído primeiramente
pela ação de Deus em nossos corações (Dt 6:6). O nosso coração é o primeiro
cenário da vida familiar que agrada a Deus e está de acordo com o Seu projeto
original para a família.
O texto acima fala-nos daquilo que pode ser colocado somente
por Deus dentro do coração humano. Para que uma família experimente a orientação
de Deus é necessário que os corações das pessoas sejam transformados, e que este
mesmo princípio Divino seja compartilhado. A Palavra de Deus nos traz algumas
formas concretas deste compartilhar orientadas pelo Criador da família.
Ensine-as com persistência a seus filhos. Converse sobre elas
quando estiver sentado em casa, quando estiver andando pelo caminho, quando se
deitar e quando se levantar. Amarre-as como um sinal nos braços e
prenda-as na testa. Escreva-as nos batentes das portas de sua casa e em
seus portões. Deuteronômio 6:7-9.
As famílias que vivenciam a realidade do amor do Pai podem e
devem transmitir a sua fé viva no Criador da família. O ambiente familiar não é
lugar de impor a natureza egoísta e humana. A família não pode se ajustar às
regras de comportamento social determinadas pelo "modo de vida" das pessoas que
não conhecem a Deus. As famílias que absorvem a orientação bíblica são chamadas
para transmitir a vida de Cristo às pessoas de outras famílias. Em sentido
universal, a igreja é chamada para ser a família de Deus neste mundo despedaçado
pelo pecado.
Toda sorte de infelicidade ou degradação social nasce num
ambiente familiar desestruturado e desprovido de corações transformados pelo
poder do Criador da família. A destruição das famílias tem como objetivo atingir
pessoas que são, em última instância, alvos do amor de Deus em Cristo. Se as
famílias desestruturadas começam por pessoas que não crêem no Senhor, logo, a
desintegração das famílias se dá em face das propostas, sugestões e pressões
sociais exercidas pelo mundo sem Deus. O Projeto de Deus para a família sempre
começa "de dentro para fora"; a sugestão satânica personificada pelo mundo em
que vivemos sempre vem "de fora para dentro".
A única proteção ou segurança de qualquer família humana está
na esfera de atuação do amor de Deus e na restauração espiritual orientada em
Sua Palavra! Não há outro "porto seguro" para as famílias que querem viver o
projeto original do seu Criador. O propósito redentivo de Deus sempre foi, é e
será a Sua Glória, através da revelação do Seu amor! A família jamais esteve
fora dessa intenção Divina! O plano de Deus para a família é revelado, conhecido
e manifestado pela experiência, dependência, convivência e
transparência do seu amor em nossas vidas.
A experiência é o conhecimento vivencial de Deus,
traduzida na intimidade com Ele. A dependência é a caminhada
autodespojada de nós mesmos e, de nossos próprios interesses egoísticos diante
do nosso Senhor, em todas as situações da vida. A convivência é a troca
destas experiências em família, através das concessões que fazemos "por amor"
àqueles que o Senhor nos deu através de laços familiares. E, por fim, a
transparência é o testemunho do poder restaurador da família na qual o
Espírito Santo opera pela vida de Deus em Cristo e, por sermos portadores desta
vida, somos chamados a ser proclamadores!
Qual a importância dos fatos acima para a missão da igreja em
propagar e testemunhar sobre o projeto de Deus para a família? É que, mesmo na
condição de cristãos, somos, na maioria das vezes, fruto de tais
realidades sociais, isto por que, estamos inseridos nela. E se, na pior
das hipóteses, ela nada nos diz, inevitavelmente está à nossa volta e
alcance! Que possamos evidenciar o amor de Deus às famílias que não O conhecem e
não crêem nEle! A família segundo o coração de Deus é aquela que tem a sua
vivência em, para e por meio da Ação do Senhor!
Soli Deo Glória.
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O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
sábado, 16 de fevereiro de 2013
FAMÍLIA: AS TENSÕES CONTEMPORÂNEAS E A ORIENTAÇÃO BÍBLICA
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