sábado, 16 de fevereiro de 2013

A EXALTAÇÃO DA PALAVRA DE DEUS 10

Imploro-te de todo o coração a tua graça; compadece-te de mim, segundo a tua palavra. Salmo 119:58
Nenhuma porção da Palavra de Deus é fruto das teorias produzidas pela religiosidade humana. Não é um mero conjunto de formulações teológicas produzidas na história da religiosidade judaica, perpetuadas e reformuladas com o nascimento da cristandade primitiva. Toda a Bíblia é o registro da ação Divina na história humana. Portanto, a Palavra jamais poderá ser encarada, mesmo que por pretensos teólogos em busca de novas “teorias teológicas” sobre a revelação do Pai, como uma realidade produzida pelo gênero humano.
O princípio hermenêutico de que “toda a Bíblia é Cristocêntrica em sua interpretação” é mantido e ensinado nos dias atuais e nos foi legado pela voz profética reformada de todos os grupos, considerados como minorias, desde os discípulos de Jesus até a igreja contemporânea. Esta chave interpretativa das Escrituras deve ser aplicada ao Salmo 119, considerando-o como uma parte da revelação da Palavra de Deus pré-encarnada: Cristo!
O Salmo119 é um poema de exaltação ao Logos Divino no contexto histórico da redenção e localizado no período do Antigo Testamento. Trata-se de um Salmo onde o Filho é personificado e exaltado como a Palavra do Pai, pré-encarnada na história da Sua redenção e revelada somente pela obra do Espírito! A dinâmica teológica do Salmo 119 é anunciar O Deus que age, Se revela e provoca o convencimento humano diante do impacto da revelação de Sua Pessoa e Obra.
Os princípios contidos no Salmo 119 são imutáveis e vão além de um conjunto de leis esporádicas e ritualísticas. Não são meras orientações passageiras com um “prazo de validade” vencido com a cessação da Antiga Aliança. Este Salmo nos fala de princípios, ensinados por Yahweh, aplicáveis nas mais variadas situações concretas da vida humana e tipificados na Pessoa e nos ensinos do Filho. Portanto, com origem e validade eternas.
Neste Salmo a revelação da Palavra de Deus é apresentada na forma de um processo que envolve os questionamentos e as inquietações humanas provocadas e respondidas pela revelação exclusiva dos ensinamentos Divinos. Este magnífico poema sálmico traz em seu bojo a suficiência da Palavra do Pai alimentando com saciedade a vida daqueles que Nele criam. Este princípio nunca foi, é ou será diferente em nenhum momento da historicidade da redenção!
Outro aspecto precioso ensinado no Salmo 119 está no fato de apontar que a revelação de Yahweh só acontece na medida em que Ele nos convence da Sua vontade em meio às situações concretas e práticas da vida humana. A revelação do Pai, mediante a Sua Palavra, só acontece porque é da Sua vontade soberana vir ao nosso encontro, nos amparando em nossas necessidades, dúvidas e angústias e com a consciência de que não temos nenhum merecimento em relação à Sua graça.
Todas as situações vivenciais do Salmo 119 são como “respostas do Deus que ama” e “quer consolar” aqueles que são convencidos a viver segundo a revelação da Sua Palavra. As únicas respostas às ansiedades humanas só podem vir da origem Divina. Não acontecem pela busca humana, mas, pela bondade do Pai celestial e amoroso. O Salmo 119 revela princípios da Sabedoria Eterna, que é personificada e vem do alto. Há muitos planos no coração do homem, mas o propósito do Senhor prevalecerá. Provérbios 19:21. Daí a necessidade de “implorarmos” pela manifestação da Sua graça em todos os detalhes de nossas vidas!
O Salmo 119:58 poderia ser traduzido assim: “Ó Deus, de todo o coração eu te suplico, por favor, ajuda-me como Teu amor, embora eu não mereça. Mostra o Teu cuidado e proteção carinhosa por mim, conforme aquilo que é ensinado em Tua Palavra”. Quando o amor Divino nos é revelado somos capacitados a depender da Sua graça! Só podem implorar de todo coração pelos cuidados Divinos aqueles que já foram alcançados pelo Seu amor.
Imploro-Te… Qual é o verdadeiro sentido deste implorar ou suplicar no contexto do salmista? Implorar seria uma atitude inevitável na vida daqueles que foram humilhados e por não se verem como merecedores da misericórdia de Yahweh? Assim como ocorreu na vida do salmista, esta súplica só acontece conosco na medida em que reconhecemos que sofremos de uma doença humanamente incurável: a nossa autossuficiência, que nos leva a catastrófica postura de autodependência em relação ao nosso Criador.
O salmista só pôde implorar por graça porque a revelação da Palavra de Yahweh lhe gerou uma espécie de enfermidade, que o fez sentir-se débil, exausto e afligido diante Dele. A única reação possível ao salmista foi prostrar-se em humilhação diante do Senhor, por causa da dor e da aflição causada pela revelação do seu próprio pecado. Desde os tempos do Antigo Testamento o processo Divino de nos mostrar quem somos é o mesmo: produzir a consciência da nossa miserabilidade causada pelo pecado e o desejo pela intervenção graciosa em nosso favor.
Há um texto profético que utiliza a mesma palavra relacionada a uma ferida causada por Deus, que reforça este princípio redentor e cristocêntrico, identificando e fazendo uma analogia deste fato com a nossa experiência em Cristo: Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades e levou sobre si as nossas dores; e nós o consideramos aflito, ferido por Deus e oprimido. Isaías 53:4.
Imploro-Te… é uma expressão idiomática do hebraico que traz uma conotação de colocar uma pessoa em condição de inferioridade diante de alguém numa condição de superioridade ou soberania. Representa um tipo de carícia feita no rosto de outra pessoa. O implorar aqui é como se o salmista quisesse acarinhar o rosto de um Pai que está próximo e presente em qualquer situação, onde este Pai responde com ternura.
É como se Deus olhasse para cada um de nós e manifestasse a Sua ternura como a “melhor resposta” às nossas mais profundas súplicas. Implorar é uma oração relacional por misericórdia ou por socorro Divino. Isto só é possível na vida de pessoas que estão sendo constantemente quebrantadas.
O sentido sálmico de implorar não tem uma conotação negativa ou sem esperança e que se amolde aos conceitos e padrões humanos. É antes, a única postura que podemos ter diante de Deus. Só pode implorar pela graça Divina quem já foi “convencido” pela ação do Seu Espírito a buscar somente o favor do Pai como se nada merecesse.
É uma oração de que se vê como “mendigo espiritual”. De quem se vê totalmente indigno de qualquer favor Divino. Quem implora está com o seu coração aplicado em depender totalmente do Pai Celeste porque sabe que nada merece além de sua própria e justa condenação e banimento da presença Divina. Quando somos convencidos de que nada somos podemos experimentar Deus sendo quem Ele quer ser em nós.
De todo coração… o coração é a totalidade do ser humano. É tudo o que queremos, sentimos e pensamos. A expressão de todo coração faz cair por terra qualquer distinção entre a vida espiritual, de devoção a Deus e a chamada vida secular onde trabalhamos, estudamos, temos relacionamentos familiares, ou onde geralmente nos sociabilizamos. A noção bíblica de coração representa a inteireza do ser humano sem nenhum tipo de cisão entre o que somos e fazemos ou o desempenho de ações de acordo com os lugares onde estamos inseridos.
Deus não atua nas pessoas de modo esquizofrênico ou dividido. O coração, uma vez trocado é o centro da atuação Divina, apesar da imperfeição de nossas personalidades. Neste sentido não há lugar para as dissimulações e papéis representados superficialmente. Quando as nossas vontades, sentimentos e pensamentos são moldados pela vontade soberana do Pai, podemos realmente entender o que significa a experiência bíblica de confiar Nele “de todo coração”.
Há uma ótima tradução espanhola do Salmo 119:58 que diz: “tua presença eu suplico”. Implorar é fruto de uma “sede provocada”; é sede pela Pessoa de Deus manifestando a Sua graça totalmente imerecida por nós. A graça de Yahweh é uma realidade sem a qual o salmista não suportaria vier. Poderíamos dizer o mesmo? Suportaríamos viver sem a ação graciosa do Deus que nos amou em Cristo? Se alguém achar que pode viver sem a graça do Pai aplicada a qualquer aspecto de sua vida ainda não foi convencido de sua “real condição humana” diante do Criador e Redentor.
Deus age no sentido de revelar quem realmente somos e então podermos suplicar a Ele pela única alternativa que nos resta: a Sua graça! Só implora a graça quem foi afligido, desfalecido, enfraquecido ou adoecido pelo Espírito de Deus, sendo levado a enxergar a sua encruzilhada e clausura existencial. As pessoas que receberam a revelação da sua própria enfermidade espiritual suplicam pelo Médico Divino. Implorar significa “concordar com Deus” sobre a nossa verdadeira condição de carentes perante Ele!
Só quem foi verdadeiramente humilhado pelo Senhor poderá buscá-Lo com autenticidade e recorrer a Sua graça. A força apelativa do verbo hebraico “implorar” está na intensidade da humilhação que Deus “já produziu” em alguém. Somente quem já passou por esta experiência está apto para implorar por graça. Significa assinar o atestado de incompetência humana até para buscá-Lo.
Uma lição maravilhosa que podemos aprender desta porção da Palavra de Yahweh é o que o salmista nunca vislumbra ou vê a possibilidade de mérito próprio. Ele jamais exige de Deus; ele suplica a Ele. Esta é a verdadeira atitude que nos faz verdadeiramente conhecer quem é o Pai que se revela no Filho pela ação do Espírito.
É somente pela ação do Espírito que somos convencidos de que não temos chance alguma de termos uma vida que faça algum sentido sem que tenhamos sido alcançados por este amor invencível da graça do Pai. Só podemos viver a verdadeira dimensão da graça Divina quando somos vencidos pela revelação deste tipo de “amor que vem do alto” e é único. Ninguém jamais foi contentado por viver ancorado apenas numa “ideia sobre a graça de Deus”. A única coisa que realmente satisfaz a nossa existência é sermos impactados, imergidos e saciados por esta graça que desce do alto, vem em nossa direção e sem que haja nenhum merecimento nosso.
Só imploramos a Deus quando “de fato” não vemos mais nenhuma saída em, por e para nós mesmos, a não ser pela Sua graça, totalmente imerecida por nós, operante em nosso favor e motivada pelo Seu amor! Que possamos ser ensinados a implorar pela graça deste Pai Amoroso e a permitir que somente Ele nos ensine sobre a Sua vontade em todas as coisas pela revelação da Sua Palavra!
 
Soli Deo Glória.

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