Segundo Jesus há dois tipos de nascimento: o ato de nascer
natural ou carnal e o novo nascimento sobrenatural ou espiritual. Todos os seres
humanos chegam nessa terra através de um corpo nascido da carne, mas para alguém
poder entrar no reino de Deus precisa nascer do Espírito. Aquele que nasceu da
carne necessita nascer do Espírito, a fim de ser feito filho de Deus, pois o
Espírito de Deus só se relaciona com o espírito do homem que foi
regenerado. O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos
filhos de Deus. Romanos 8:16.
O homem natural vive pelas leis da carne, uma vez que se
encontra dominado pelo sistema da carne, mas o homem espiritual tem uma outra
esfera de influência completamente diferente. Os dois princípios são divergentes
e antagônicos. Não há o menor acordo entre a carne e o Espírito nem uma aliança
entre o carnal e o espiritual. Porque a carne milita contra o Espírito, e
o Espírito contra a carne, porque são opostos entre si... Gálatas 5:17.
O homem natural não pode compreender a vida espiritual dos
filhos de Deus. A mente carnal tem tanto interesse pelas coisas espirituais,
como um urubu tem um apetite voraz por alpiste. A natureza da carne só se
preocupa com as coisas da carne, e não adianta forçar essa tendência primitiva
dos instintos carnais. Ora, o homem natural não aceita as coisas do
Espírito de Deus porque lhe são loucura, e não pode entendê-las porque elas se
discernem espiritualmente. 1Coríntios 2:14.
Tudo na vida é uma questão de pendor, por isso, nada pode ser
mais excêntrico do que um carnal tentando viver uma vida espiritual. A
extravagância das aparências patenteia a tremenda patetice da hipocrisia que
encobre a bicheira com o manto púrpura, para, de algum modo, pretender ocultar
as manchas de sangue, sem, contudo, poder disfarçar o fedor do tecido podre. A
conduta reflete sempre a disposição que norteia a natureza da vida. Porque
os que se inclinam para a carne cogitam das coisas da carne; mas os que se
inclinam para o Espírito, das coisas do Espírito. Romanos 8:5.
A origem do carnaval começa na idade média, quando a Igreja
oficial influenciada pelas tradições pagãs, procura esvaziar a tensão da carne
reprimida, com uma licença artificial, mas autorizada pela hierarquia do poder
eclesiástico. Já que a mensagem burocrática da religião não conseguia promover a
conversão do homem carnal em espiritual, o jeito foi permitir um tempo de vazão,
para deixar sair a libido reprimida pelas regras e regulamentos dessa camisa de
força legalista.
A etimologia da palavra carnaval é um tanto duvidosa. De acordo
com M Lübke, o vocábulo deriva dos termos latinos, carne e levare,
significando o tempo quando a Igreja suprimia o uso da carne no cotidiano;
todavia segundo Petrocchi, a origem vem das palavras latinas carne e vale,
significando: adeus, carne! Essa é possivelmente a acepção mais provável, pois
reflete a tendência do esvaziamento repressivo que caracterizava a religião
opressora e dominante da idade média.
O carnaval surgiu como uma associação complexa de três festas
pagãs: as saturnais, dedicadas ao deus Saturno, com toda a sua orgia, as festas
dionisíacas, oferecidas ao deus Dionísio, patrocinador das bacanais, e as festas
lupercais consagradas ao deus Luperco ou Pã, para assegurar a fertilidade, e se
caracterizava pela alegria desabrida, pela eliminação da repressão e da censura
e pela liberdade de atitudes críticas e eróticas. A receita foi na medida para a
propagação de um tempo de folguedo, de recreio desobrigado e desobediente,
depois de tanta angústia sufocando a carne.
O bloco religioso denominado evangélico vem espiritualizando,
hoje em dia, essa bagunça carnal, com o rótulo de cristoval, sob o pretexto de
evangelização dos pecadores e divertimento inocente para os jovens da igreja.
Com a aparência modificada, o festival da carne assume o controle dessa outra
banda do cristianismo, fomentando suas velhas estratégias de esvaziamento da
pressão moralista, de uma religiosidade opressora. A espiritualização dos
festejos da carne tem causado uma confusão na identificação do perfil da
verdadeira experiência cristã.
A religião é especialista na arte da santimônia, isto é: a arte
da simulação de santidade. Porém é impossível domar o homem velho, a ponto de
torná-lo um santo. A carne reprimida consegue por algum tempo portar-se com boa
aparência, mas é preciso um escape de vez em quando. A função do carnaval era
liberar o freio dos fiéis por três dias, pra que eles se tornassem foliões e
assim dessem expansão à carne, esvaziando a tensão contida pelo medo dos
castigos.
A carne refreada é uma tragédia. Não há cabresto capaz de
moderar os instintos da carne, nem educação religiosa suficientemente competente
para represar a força carnal. Por mais que o homem subjugue sua carne com
métodos repressores, nada tem conseguido no sentido do descanso espiritual.
Muita gente sincera tem procurado com todo empenho dominar com austeridade os
seus impulsos carnais, mas sem qualquer sossego na alma. O apóstolo Paulo diz
que tais coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si
mesmo, e falsa humildade, e rigor ascético; todavia, não tem valor algum contra
a sensualidade. Colossenses 2:23.
A carne sopeada, isto é, sofreada é só piada. É ridículo tentar
sufocar os arrebatamentos impulsivos da carne. A história da igreja tem
demonstrado o escárnio picante de uma multidão que se esforça para comportar-se
adequadamente sob o patrocínio legalista de uma conduta comedida. É impossível
alguém conseguir domesticar a carne, por outro lado, liberá-la é um horror. A
carne sem governo é tragédia sem limites, pois esse carnegão do carnaval é
realmente podre.
Ora, se refrear a carne é impossível, e dar permissão aos seus
instintos é uma loucura, qual é então a opção que temos diante do problema
carnal? Aqui entra o evangelho da graça realizando um milagre maravilhoso. Não
há outro meio capaz de cuidar profundamente do problema da carne, senão Cristo
Jesus crucificado. A obra eficiente de Cristo visa alcançar o pecador em toda a
sua abrangência. Primeiro, a inclusão do pecador em Cristo na cruz, depois a
participação efetiva do salvo na experiência de fé, diariamente.
Os dois lados experimentais da fé cristã se baseiam na verdade
bíblica da união do pecador com Cristo, e na confissão pessoal de fé sustentada
pela palavra de Deus. Inicialmente o pecador se vê em Cristo, sendo crucificado
com ele, e em seguida, os que estão em Cristo carregam diariamente no seu corpo
a mortificação do Senhor Jesus. Isso pode ser visto claramente nesse três
versículos das Escrituras: E assim, se alguém está em Cristo é nova
criação; as coisas antigas já passaram; eis que tudo foi feito novo. E os que
são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com suas paixões e concupiscências.
Levando sempre no corpo o morrer de Jesus para que a sua vida se manifeste em
nosso corpo. Gálatas 5:24, 2Coríntios 5:17 e 4:10.
Ninguém pode refrear a sua carne de modo satisfatório a ponto
de gozar perfeita tranqüilidade espiritual, tampouco pode dar vazão a sua carne
sem que sofra as conseqüências de uma vida culposa e descontente. O carnicão do
carnaval é a carniça de uma vida carnal sem o menor contentamento. Como afirma
J Blanchard, a felicidade superficial sem a santidade espiritual é um
dos principais produtos de exportação do inferno.
Entretanto, aquele que nasceu do Espírito mediante sua morte e ressurreição juntamente com Cristo pode, de fato, crucificar a carne com os seus desejos, carregando pela fé, sempre e por toda parte, a mortificação do Senhor Jesus em seu corpo. Não se trata de uma auto-extinção, nem de uma flagelação de si mesmo, mas da consciência espiritual de fé, que revela a morte de Jesus na cruz como sendo de fato a morte do pecador. Eu estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim. Gálatas 2:20.
A verdadeira vida cristã não sufoca a carne com expedientes de subjugação,
mas por outro lado, não dá vazão aos seus desejos e apelos obsessivos, uma vez
que a convicção profunda de fé adota uma postura de levar, sempre e por toda
parte, os efeitos da morte de Cristo em sua carne, andando sob a consciência
revelada pelo Espírito Santo de que é uma pessoa morta para o pecado.
Andemos dignamente, como em pleno dia, não em orgias e bebedices, não em
mpudicícias e dissoluções, não em contendas e ciúmes; mas revesti-vos do Senhor
Jesus Cristo, e nada disponhais para a carne, no tocante às suas
concupiscências. Andai no Espírito, e jamais satisfareis à concupiscência da
carne. Romanos 13:13-14 e Gálatas 5:16.
Soli Deo Glória.
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O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013
O CARNICÃO DO CARNAVAL
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