O vale da sombra da morte pode ser uma garganta
estreita, profunda e escura, no território de Israel, onde ladrões cruéis e
feras vorazes aguardavam suas vítimas, para atacar. Era um lugar cavernoso,
apavorante e arriscado, em que cada ovelha corria o embaraço de um súbito ataque
exterminador. Era uma depressão estrangulada e fria que sufocava qualquer
viandante que tivesse de cruzá-la. Alguns sugerem que neste vale havia
precipícios íngremes e perigosos, grutas escuras e
traiçoeiras e desfiladeiros rigorosos por onde passaria
um animal por vez. Era um ermo desabitado e agreste que intimidava o mais afoito dos ovinos.
O vale da sombra da morte pode representar um tipo
da estrada íntima, isolada e individual que cada um de nós
tem que passar nesta nossa peregrinação. É um caminho limitado, rigoroso e
restrito, sem qualquer solidariedade humana, nem
companheiros de viagem. É o caminho do isolamento pessoal, da solidão profunda e
da responsabilidade intransferível. O seqüestro dos amigos nos segrega no pátio
particular da singularidade e temos que andar na trilha original de nossa
exclusiva decisão. Como dizia Kierkegaard, a solidão é necessária ao
recolhimento, ao aprofundamento de si, à transfiguração de si, à transfiguração
de toda a existência. Ainda que o nascimento seja
marcado por uma comitiva, não há séquito no vale da sombra da morte, ou, na
insulada decisão pessoal. Todos nós temos que passar sozinhos pelo deserto do encontro com Deus.
O vale da sobra da morte é um lugar de solidão,
para nos conduzir à solitude. Quando temos que ficar sozinhos, precisamos de um
verdadeiro companheiro. A solidão nos mantém fora da companhia de outras
pessoas; a solitude nos leva à comunhão íntima e isolada com Deus. Quando a
nossa agenda fica desocupada dos compromissos com as pessoas, ganhamos espaço
para a intimidade com Deus. Somente quando estamos a sós, podemos nos encontrar
face a face com Ele. As grandes elevações da alma só são possíveis na solitude e
no silêncio. Muitas vezes Deus nos conduz ao gargalo estreito das privações, a
fim de abrir uma porta larga à comunhão com Ele. Não temerei mal nenhum,
porque Tu estás comigo. Posso algumas vezes estar
sozinho, mas nunca solitário, porque Deus está comigo. A presença do Senhor transforma a solidão em
comunhão.
O vale da sombra da morte é uma experiência vital
para a intimidade pessoal com Deus. Parece mesmo que no reino de Deus não existe
ganho sem sofrimentos. Quando somos deixados em apuros temos a tendência de
correr para o colo que nos pareça mais seguro. A comunhão com Deus quase sempre
tem se desenvolvido a partir dos vales escuros e sombrios. O propósito das
provações da vida é a edificação, não o nosso prejuízo. O ostracismo surge
da irritação permanente de um grão de areia empurrando as ostras para o
isolamento. Quando a ostra é ainda muito pequena, flutua na superfície da água,
sem concha, como se fosse um pedaço de gelatina. Logo que a concha começa a
formar-se, a ostra torna-se demasiadamente pesada para boiar, sendo puxada para
o fundo do mar, agarrando-se a um rochedo, onde fica susceptível da penetração
de pequenos corpúsculos irritantes e difíceis de serem
expelidos. Uma vez impossi-bilitada de expulsar o corpo estranho, a ostra
come-ça a fabricar um fluído que vai cobrindo o corpo irritante e endurecendo em forma de camadas.
Assim surgem as pérolas de grande valor. No vale
sombrio das águas profundas e no agravamento enfadonho do grão de areia, a ostra
ferida segrega contínua substância, até a criação de uma formosa pérola. O vale
da sombra da morte freqüentemente se constitui num campo de tratamento de Deus
para o nosso progresso. A noite faz as estrelas brilharem e os vales sombrios
nos revelam a presença de Deus. Ainda que todos nos tenham abandonado, ainda que
as reservas se tenham esgotado, ainda que as pedras dificultem o caminhar, uma
coisa se torna cada vez mais certa: Deus é o nosso refúgio e fortaleza,
socorro bem presente nas tribulações. Portanto não temeremos... Salmo
46:1-2a. A presença marcante de Deus só pode ser
percebida adequadamente, quando estamos passando pelo vale apertado das
provações. Muitas vezes nós precisamos passar pelo sufoco para despertar da
sonolência. Quando Deus nos permite atravessar o vale da sombra da morte, Ele
quer nos salientar a sua presença bem real. Sempre que
houver escuridão em nosso redor, pensemos: O Senhor tem um propósito. Ele
deseja, antes de tudo, que tenhamos confiança
nele. Uma convicção permanente da
presença e cuidado de Deus deve constituir o equilíbrio de
uma ovelha experiente.
O vale é da sombra da morte, mas a presença é do
Senhor da vida. Se temos a consciência da companhia de Deus, mesmo que o vale
seja frio, escuro e apavorante, a serenidade assumirá o controle da situação.
Mesmo que a penúria esboce as suas garras, a segurança da Palavra de Deus
dominará o nosso espírito. Seja a vossa vida sem avareza. Contentai-vos
com as coisas que tendes; porque ele tem dito:
De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei. Assim,
afirmemos confiadamente: O Senhor é o meu auxílio, não temerei; que me poderá
fazer o homem? Hebreus 13:5-6. Ainda que a sombra do
vale manifeste o gelo da morte, a luz da presença de Deus acaba esquentando o
coração, com a certeza de sua Palavra imutável. Se há um vale sombrio a
transpor, vale a pena confiar totalmente naquele cuja Palavra vale eternamente.
E disseram um ao outro: Porventura, não nos ardia o coração, quando ele,
pelo caminho, nos falava, quando nos expunha as Escrituras? Lucas
24:32.
Quando o temor bater à porta do nosso coração,
nada melhor que pedir a Jesus para atendê-la, pois corajoso
é aquele que teme a Deus, mas não teme as circunstâncias, quando Deus está
presente. A ovelha sempre viaja tranqüila ouvindo a voz do
seu Pastor, uma vez que a turbulência do coração é acalmada pela suavidade de
sua voz e pela cur-vatura do cajado. Se houver escorregões no abismo, com
certeza, lá estará o Pastor encurvado na perambeira, tomando nos seus braços a
acidentada. Deixemos que Deus cuide de nossas necessidades. Nós não precisamos
de nada, a não ser dele. Não é o rebanho que cuida do
Pastor, mas o Pastor do rebanho. Ele nos proporciona refrigério quando
estamos cansados; cura-nos quando doentes; restaura-nos na caminhada; guia-nos a
caminhos retos, apesar de íngremes; acompanha-nos pelo vale com vara, para
defender-nos dos adversários e o cajado para retirar-nos de buracos; prepara-nos
uma mesa no meio do ódio; e nos protege com os anjos gêmeos, bondade e
misericórdia.
Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte,
não temerei mal nenhum, porque Tu estás comigo
. A
consciência da presença de Deus faz a diferença na hora da crise, pois os
propósitos de Deus sempre contam com sua provisão. Se estamos passando pelo vale
sombrio das grandes provações, consideremos este fato mais como uma bênção do
que uma omissão de Deus. A soberania de Deus não é arbitrária, como alguns a
julgam erroneamente, pois Deus tem suas razões, baseado em sua sabedoria
infinita, as quais nem sempre decide revelar. Jesus nunca prometeu
solucionar todos os nossos problemas, nem responder todos os nossos
questionamentos. Ele prometeu sim, estar presente em toda a nossa existência,
como garantia de sua graça. E eis que eu estou convosco todos os dias até
à consumação do século. Mateus 28:20b.
Soli Deo Glória.
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O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
sábado, 23 de fevereiro de 2013
AS BÊNÇÃOS DO VALE SOMBRIO
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