sábado, 16 de fevereiro de 2013

FAMÍLIA: SACRIFÍCIO VIVO

Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. Romanos 12:1.
Vivemos em um mundo em constante transformação. A chamada “globalização” provoca a todo momento mudanças sociais, econômicas e políticas que exige grande mobilidade psicológica a fim de permitir uma rápida reorientação de identidades, comportamentos, sentimentos e relacionamentos.
Com tantas exigências do ambiente externo é na família que precisamos pensar como estamos preparados para enfrentar as manobras sociais do mundo moderno.
A família é o lugar onde se ouve as primeiras falas, com as quais o indivíduo constrói sua auto-imagem e a imagem do mundo exterior. É por meio da linguagem que aprendemos a ordenar e dar sentido às experiências vividas e por meio da família que começamos a ver e a significar o mundo.
A família é vista como uma realidade que se constitui pela linguagem-socialmente elaborada e internalizada pelos indivíduos-, portanto, torna-se um campo privilegiado para se pensar a relação entre o individual e o coletivo, entre mim e o outro.
As relações familiares constituem-se um emaranhado de situações complexas.
O antropólogo e sociólogo Da Mata diz que “não somos capazes de enxergar o outro e aceitá-lo se não conseguimos nos estranhar em relação ao que somos”.
A dificuldade desse movimento de enxergar o outro está no fato de que não representa um aspecto apenas de ordem intelectual ou emocional, mas principalmente de ordem espiritual.
Portanto, és indesculpável, ó homem, quando julgas, a quem quer que sejas; porque, no que julgas a outro, a ti mesmo te condenas; pois praticais as mesmas coisas que condenas. Romanos 2:1.
Muitas vezes o que está faltando e o que precisamos é olhar a família e os nossos processos já viciados e zangados através de uma nova ótica.
Vivemos em uma época em que o matrimônio deixou de ser um pacto entre duas pessoas que, motivadas pelo sentimento de amor e ternura uma pela outra, resolvem construir juntas suas vidas, apoiando-se mutuamente e tornando-se a âncora do desenvolvimento da autoestima da outra.
Ao nos apresentar as relações familiares, em particular a relação conjugal, precisamos enxergar que a família é um organismo vivo, que nasce, cresce, amadurece e morre e que para todas essas passagens existem conflitos e crises.
Carlos Catito nos diz que esses momentos de mudança são momentos doloridos, naturais e necessários uma vez que é através deles que “abandonamos a roupa que não serve mais, devido ao nosso natural crescimento”.
Catito chama essa ressignificação de “de-construção”, seguida de uma reconstrução.
O apóstolo Paulo nos fala em Romanos que apresenteis os vossos corpos (como um) sacrifício vivo. Ainda em Romanos 14:7 ele justifica: Porque nenhum de vós vive para si, e nenhum morre para si.
Quando nascemos de novo o que é vivificado é o espírito, “a vontade da carne e dos pensamentos” ainda permanece e precisa ser vigiada.
Porque vós fostes chamados à liberdade; porém, não useis da liberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor. Gálatas 5:13.
É na família, mais precisamente no relacionamento marido e mulher, que encontramos mais dificuldades em olhar para o outro com desprendimento. Se vós, porém, vos mordeis e devorais uns aos outros, vede que não sejais mutuamente destruídos. Gálatas 5:15.
Se vivemos para a glória de Deus, precisamos observar o que diz ainda o apóstolo Paulo escrevendo aos Filipenses: Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. Filipenses 2:3.
Para que eu possa considerar o outro superior a mim é preciso renúncia, entrega. Isso é sacrifício vivo.
Oferecer ao Senhor sacrifício de coisas e de animais sempre constituiu uma forma cômoda de viver a vida religiosa sem muitas dimensões éticas. Paulo contraria essa postura sem coerência com a prática quando escreve: oferecei a si mesmo como sacrifício vivo, Santo e agradável a Deus.
O relato bíblico de Levítico mostra como era feito o sacrifício. Arão recebeu nas mãos todas as coisas que foram movidas diante de Deus e tudo foi queimado no holocausto.
A Palavra “consagração” no Hebraico significa encher as mãos. As mãos de Arão ficaram tão cheias que ele não podia segurar mais nada. Tudo foi oferecido. Isso é consagração. A palavra “sacrifício” é a palavra “holocausto” do Velho Testamento; era um sacrifício inteiro para Deus.
No relacionamento familiar é imprescindível que nosso EU seja integralmente entregue para ser queimado. Marido e mulher estão no altar, somos oferta ao Senhor.
O Sacrifício é deixar nossa própria vontade para que a vontade do outro se cumpra em nós; é oferecer nosso corpo, que é tudo o que mais prezamos, em benefício do outro. Não oferecemos um animal morto, mas, sim um corpo vivo.
Sacrifício vivo é quando fazemos um esforço que nos custe algo por alguém ou por alguma coisa.
Quem tem todo poder para nos capacitar a abrir mão, abdicar, renunciar e sujeitar-se ao outro em amor é o Senhor.
Tudo que fazemos no altar (família) é para primeiramente glorificar ao Senhor e agradar ao outro.
Oferecer-se em sacrifício de amor no casamento é não esperar nada em troca. Vemos o exemplo de Jesus quando curava os enfermos e libertava os oprimidos. Ele não esperava nada em troca dizendo: “fica me devendo essa!”. Entretanto Ele dizia “vai e não conte para ninguém”, ou, “vai e não peques mais”.
Na carta aos Coríntios, Paulo exorta: Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus em vosso corpo. 1 Coríntios 6:20.
A mulher não tem poder sobre seu próprio corpo, e sim o marido; e também, semelhantemente, o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim a mulher. 1 Coríntios 7:4.
Esse poder que temos deve ser usado para promover auto-controle, não auto-indulgência; deve ser usado no relacionamento para alimentar a confiança, não a subserviência. Para reforçar a comunhão, não o isolamento.
Marido e mulher têm poder um sobre o outro e sabem disso. Todos nós exercemos poder sobre os outros e somos todos afetados pelo poder que os outros exercem sobre nós. Podemos usar esse poder para dominar e manipular, ou podemos escolher usá-lo para liderar e liberar. Andai em amor, como também Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave. Efésios 5:2.
É somente pela graça de Deus que somos capazes de tomar algo tão precioso quanto o poder e torná-lo criativo e vital.
Há uma carreira a correr e uma vitória a alcançar. Só podemos correr essa carreira e alcançar essa vitória através da Cruz. Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. Gálatas 2:19-20.
Estou habilitado a oferecer meu corpo em sacrifício vivo à minha esposa, à minha família e ao outro, somente pelas misericórdias de Deus. Rogo-vos pelas misericórdias de Deus.
São inúmeras as misericórdias que recebemos de Deus, sendo que a maior delas é a nossa salvação eterna na pessoa de seu Filho. É essa tão grande salvação que nos abriu as portas do amor não fingido.
Levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo. 2 Coríntios 4:10.
Que a misericórdia de Deus dispensada em meu e em teu favor na Cruz de Cristo seja manifestada diariamente em nossos relacionamentos.
 
Soli Deo Glória.

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