Respondeu-lhe Jesus: Por que me chamas bom? Ninguém é bom, senão um, que é
Deus. Lucas 18:19.
Não parece que Jesus foi extremado com essa resposta? Afinal de
contas, a Bíblia não diz que a criação de Deus era muito boa. Por que ele faz
uma declaração tão exagerada como essa? Eu não me conformo com a radicalidade
desta afirmação de Jesus. Esse é um argumento muito comum quando se aborda o
assunto da bondade. É verdade que a criação de Deus era boa, mas o pecado a
contaminou com o mal. O ser humano e a natureza estão sob a calamidade e os
efeitos da transgressão maligna. Tudo nesse mundo sofre com a influência ruim da
catástrofe do Éden. Sabemos que somos de Deus e que o mundo inteiro jaz no
Maligno. 1 João 5:19.
Do ponto de vista essencial só Deus é bom. Ele é singularmente
bom. Nele não existe maldade e tudo que ele faz é bom. Mas a bondade da criação
é derivada do Criador, e por isso é contingente. Não é uma bondade inerente ao
ser, uma vez que foi criada. A bondade da criação é decorrente e, portanto,
sujeita a deterioração. Só Deus pode ser inteiramente bom, pois só ele é
eternamente bom. Leon Tolstoi disse que não se pode ser bom pela
metade. Se a minha bondade pode ser suspensa por algum interesse maléfico,
então a minha bondade não é de fato boa. Se eu sou bom em algum momento e não
sou em todos, logo não sou categoricamente bom e a minha bondade é, na verdade,
relativa. Quando Jesus disse que ninguém é bom, senão Deus, ele estava dizendo
que nenhuma pessoa é infinita nem invariavelmente boa. Além disso, a nossa
bondade circunstancial é sempre dependente de um conceito adequado daquilo que
admitimos ser o bem. Com isso, a minha opinião do que é bem vai falar bem do que
eu acho que é bom. Mas o bom é universal e eterno. O que é bom para um, tem que
ser rigorosamente bom para todos em todos os tempos. Sendo assim, só Deus é de
fato eterno e imutavelmente bom. Segundo Jesus, em conseqüência do pecado, o ser
humano é mau. Isso não significa que ele seja essencialmente mau, mas que ele
está contaminado pelo vírus da maldade. Um adoentado está enfermo mesmo que não
esteja inteiramente doente. Um dedo inflamado faz todo o corpo ficar doente,
ainda que outros órgãos estejam sadios, por isso, uma pessoa pode morrer por uma
picada de mosquito ou na trombada de uma jamanta.
O fato de Jesus dizer que somos maus, não significa que sejamos
totalmente imprestáveis para o bem. Ele também disse que mesmo sendo maus, ainda
éramos capazes de fazer algumas coisas boas para os outros. Ora, se vós,
que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai,
que está nos céus, dará boas coisas aos que lhe pedirem? Mateus
7:11.
Mesmo sendo mau, eu consigo fazer algumas coisas boas, desde
que sejam voltadas para satisfazer as minhas vantagens pessoais. Somos uma raça
que gravita em torno do egocentrismo, assim, todo bem relativo me impulsiona a
agir de acordo com os meus critérios interessantes. Mas isso não me habilita ao
titulo honorário de bom moço. Por causa do pecado a minha bondade fica
frequentemente condicionada à percepção egoísta de minha avaliação. O pecado me
tornou sujeito a uma vontade incapaz de fazer o bem que eu gostaria de fazer. O
apóstolo Paulo foi fundo quando tratou desse ponto cruciante da natureza humana.
Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço.
Romanos 7:19.
A bondade humana está sujeita às forças do egoísmo. O homem
natural sempre faz o que é bom segundo os padrões de sua própria escala de
valores, contaminada pelo proveito pessoal. Por esse motivo, o seu bem sempre
será determinado pelo seu umbigo. Ninguém é bom quando exerce sua bondade
atrelada a qualquer tipo de compensação ou conveniência particular. Fazer o bem
esperando um troco ou contrapartida é tráfico de influência na comercialização
das pessoas, tornando os sujeitos como escravos nas relações. Muita gente
pratica atos de bondade relativa visando o ressarcimento na sua carreira, ao
mesmo tempo em que deixa o favorecido com um débito
impagável.
No mercado dos escravos a bondade é usada como moeda de compra.
Enquanto eu faço o bem para uma pessoa, já passo a algema da gratidão
compulsória e ela fica me devendo um agradecimento inflexível. O benefício tem
um ar de exigência que deixa o paciente sem alternativa, por isso, essa bondade
como ultimato de reconhecimento é um ultraje ao conceito da verdadeira bondade
divina. Deus é bom para com todos e Jesus aponta esta bondade como o único
padrão dos filhos de Deus. Amai, porém, os vossos inimigos, fazei o bem e
emprestai, sem esperar nenhuma paga; será grande o vosso galardão, e sereis
filhos do Altíssimo. Pois ele é benigno até para com os ingratos e maus. Lucas
6:35.
A grande recompensa da bondade praticada é a alegria de ter
praticado a bondade. O filho de Deus exercita a bondade dependendo da
superabundante bondade divina. Como nenhuma pessoa é boa em si mesma, a bondade
dos filhos de Aba é abonada pela bondade de Aba. Só o Pai é bom em
si mesmo e só os seus filhos podem exercer a bondade garantida pela bondade do
Pai. O homem natural, isto é, aquele que ainda não nasceu de novo, é praticante
crônico das obras da justiça própria. Todas as suas obras têm um ranço de
autopromoção e uma fuligem de indenização. As obras do homem natural exigem
notificação, reconhecimento e aplausos da platéia. Isto caracteriza a
necessidade de ostentação pessoal que descaracteriza a identidade de filho de
Deus. Os filhos de Deus são praticantes das boas obras que o Pai armazenou para
que eles fossem distribuidores. Pois somos feitura dele, criados em Cristo
Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos
nelas. Efésios 2:10.
Antes da regeneração o ser humano exibe a sua justiça com a
astúcia dos relatórios, procurando mostrar o seu desempenho como prova de seu
caráter. Mas os filhos de Deus, embora devam ser vistos praticando boas obras,
eles nunca devem praticar boas obras para serem vistos, uma vez que estas boas
obras são para a glória do Pai. Assim brilhe também a vossa luz diante dos
homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está
nos céus. Mateus 5:16.
Deixe-me dizer algo muito importante que Jesus assegurou com a
maior exatidão. A frutificação sempre depende da qualidade da planta.
Assim, toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má produz frutos
maus. Não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir
frutos bons. Mateus 7:17-18.
O ser humano por causa do pecado não se encontra num estado
essencialmente bom. Ainda que ele demonstre alguma bondade, como vimos
anteriormente, essa bondade está infectada de egoísmo e orgulho. Ele precisa ser
convertido de erva daninha em cereal, de joio em verdadeiro trigo. Ou
fazei a árvore boa e o seu fruto bom ou a árvore má e o seu fruto mau; porque
pelo fruto se conhece a árvore. Mateus 12:33.
O fruto mau ou bom depende do predicado da planta. No reino de
Deus uma planta má pode ser transformada em uma planta boa. Esse é o grande
milagre que Jesus veio realizar, pois a vida espiritual boa é o efeito da vida
de Cristo no âmago do crente. A bondade do salvo depende da bondade divina que
habita nele. Quando a Trindade vem residir no íntimo dos crentes, o resultado é
a produção de bons frutos. Mas essa safra não é ceifada pela carne. O homem
velho não produz boas obras, ainda que produza obras disfarçadas de bondade. E
neste ponto, Jesus foi enfático: Não há árvore boa que dê mau fruto; nem
tampouco árvore má que dê bom fruto. Lucas 6:43.
A bondade do crente é a bondade de Deus. Só Deus é bom. Só ele pode produzir as boas obras em nosso ser. Quando o Pai nos regenera, somos enxertados no caule da videira. Jesus disse: Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele o corta; e todo o que dá fruto limpa, para que produza mais fruto ainda. João 15:1-2.
Segundo Jesus os salvos são os ramos ligados à cepa da vide.
Cristo é a cepa e nós somos os seus ramos. A cepa não produz nenhum fruto, mas
transmite a vida e os nutrientes para os sarmentos produzirem os frutos. A boa e
eterna vida de Cristo é a causa das boas obras dos crentes. Eu sou a
videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto;
porque sem mim nada podeis fazer. João 15:5.
Se os ramos estão dando bons frutos é porque estão unidos à
videira e dependem dela. As boas obras dos filhos de Deus decorrem da bondade do
próprio Filho de Deus que vive no coração dos seus filhos. Já que só o Deus
trino é bom, a única maneira de uma pessoa produzir bondade é ganhando a boa
natureza do Filho de Deus. Ninguém é bom por si mesmo, mas todos aqueles que são
regenerados pela graça em Cristo, ganham uma natureza boa de origem divina, que
é capaz de produzir as boas obras que o Pai preparou para que andássemos nelas.
A biografia de um cristão é a manifestação da vida de Cristo através dos seus
atos, portanto, toda a sua bondade é a expressão da bondade de Cristo que vive
nele.
Todas as pessoas que se consideram boas em si mesmas estão
redondamente enganadas. Além disso, essa fantasiosa bondade humana está
abarrotada de arrogância e direitos pessoais cheios de melindres. Não conheço
ninguém que se diga boa, que não faça apologia da sua bondade, reivindicando os
méritos do seu papel de bondosa. Todavia os filhos de Aba sabem que a sua
bondade é uma graça do seu Pai. Eles percebem que toda a sua bondade emana da
fonte eterna do único ser que é verdadeira e essencialmente bom. Toda boa
dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem
não pode existir variação ou sombra de mudança. Tiago
1:17.
Soli Deo Glória.
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O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
PORQUE NINGUÉM É BOM ?
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