sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

O CORO DO CAPETA OU O CORAL DOS SANTOS

"Porque este perfume poderia ser vendido por mais de trezentos denários e dar-se aos pobres. E murmuravam contra ela" Marcos 14:5
O colégio apostólico foi contaminado com esta nota dissonante. O espírito da censura é contagioso. E murmuravam contra ela. O oratório da adoração ficou maculado com a síncope funesta de uma marcha fúnebre. Ao invés de um giocoso movimento de aleluia, assistimos o réquiem sombrio da condenação.
O regente e compositor deste coro malfalante foi o maestro da traição, Judas, o dissimulado. O evangelista João diz que Judas foi quem compôs a música do lamento, instigou a cantiga e regeu o coro.
Mas Judas Iscariotes, um dos seus discípulos, o que estava para traí-lo, disse: Por que não se vendeu este perfume por trezentos denários e não se deu aos pobres? João 12:4-5.Pobres! Que pobres? Ele não tinha o menor interesse com os indigentes. Os pobres que se explodam, como bradava Justo Veríssimo, um personagem do comediante Chico Anísio. Judas era como alguns políticos profissionais, que nas vésperas das eleições fazem discursos eloqüentes em favor dos carentes, mas em seguida, esquecem as suas promessas de palanque. Ele era um ladrão de bolsa, e queria apenas embolsar os méritos com sua crítica ferina, diante daquele esbanjamento, que ele achava sem propósito. Há quem diga com certeza: Quem desfaz quer comprar.Uma das características dos cantadores do Hades é o seu canto fúnebre de queixume. Quando você estiver criticando alguma situação ou se lamentando de alguém, veja se não é uma partitura das trevas que você está ensaiando! A murmuração é uma ladainha proveniente da Caldeira de Pedro Botelho. Quando uma pessoa se põe a lastimar da vida ou da sorte, sua choradeira comumente vem encharcada de enxofre e misturada com a baba do dragão. Nada pode ser mais venenoso para o espírito do que o clamor dessa cantiga mesquinha da reclamação. Todo murmurante faz parte desse coro desafinado do inferno.Um dos antônimos do vocábulo louvor é blasfêmia. Por isso, quem se lamenta da vida, blasfema o Criador e afronta à soberania de Deus. A lamúria é um insulto contra o Altíssimo. Aquele que maldiz as circunstâncias permitidas pelo Senhor, acaba revelando um ânimo altivo e sua vontade de ser como Deus.
Quando o povo de Israel saiu do Egito, veio com ele uma gentalha, fruto de uma miscigenação descabida. Esse populacho foi o incentivador e responsável pelo desconcerto malsoante da murmuração. O povo deu um show de desafinação diante do perfeito desígnio de Deus. Ao invés de louvá-lo pela libertação da escravatura, ouve-se a lamentação por causa do menu do céu, que repetia sempre o mesmo cardápio, o maná.
E o povo falou contra Deus e contra Moisés: Por que nos fizestes subir do Egito, para que morramos neste deserto, onde não há pão nem água? E a nossa alma tem fastio deste pão vil. Números 21:5.O coro do maligno canta com um tom malquisto que denuncia sua maldição por onde os seus componentes dão o espetáculo dissonante. A voz malvada do murmurante reflete o seu estilo soberbo e o seu jeito malvisto. Toda pessoa fofoqueira evidencia sua participação nesse orfeão maluco dos habitantes inferiores do Tártaro. Não se iluda, o descontentamento é a característica marcante dos filhos do coisa-ruim e a murmuração é o linguajar preferido no seu império.
A primeira peça dessa apresentação é a ópera do mal-agradecimento. A falta de reconhecimento das misericórdias divinas denuncia um tipo muito ingrato. As pessoas que não sabem agradecer não são agradáveis para se conviver. A gratidão é a memória de um coração feliz e de sua linguagem tratada pela cruz de Cristo.
Alguém disse que a gratidão é a vibração das cordas da alma, sob o suave toque da benevolência divina, enquanto eu insisto que a ingratidão é o rufar agressivo dos tambores por causa das exigências de um coração pretensioso. Se a gratidão é a virtude das almas libertas e prósperas, a ingratidão é um tributo pesado que os escravos pagam pela sua insatisfação, que sempre deságua num estuário de mau-humor grudento. A enormidade do pecado aumenta na medida da ingratidão de quem o comete, pregava o teólogo católico Tomás de Aquino. Ser realmente grato é viver com qualidade de vida. Benjamin Franklin dizia que as pessoas descontentes nunca encontram uma cadeira confortável. A verdadeira felicidade sempre passa pelo caminho da gratulação. Porque todas as coisas existem por amor de vós, para que a graça, multiplicando-se, torne abundantes as ações de graças por meio de muitos, para glória de Deus. 2 Coríntios 4:15. A gratidão e a felicidade são coisas que andam de mãos dadas. Toda pessoa mal-agradecida, no fundo, é malfadada, miserável e maliciosa. Minha sogra costumava citar este provérbio bem apropriado: "o dia do benefício é a véspera da ingratidão". Os desagradecidos procuram desagradar àqueles que o favoreceram, na tentativa de eliminá-los da sua trajetória, para não dar crédito ao auxilio recebido. Eles pretendem demonstrar que não precisaram de ninguém para chegar aonde chegaram. O drama da malícia é o tema da peça: A Maledicência. Jacques Bossuet mostrou que a principal causa da maledicência é a inveja. O estímulo é a brasa que aquece o espírito da nobreza, mas a inveja é o veneno que aleija e suplicia as almas vis. O invejoso atesta no seu sentimento de olho gordo, que é um verme sofrendo com o êxito daqueles distintos, que o mantém no cárcere da inferioridade.
Mas os judeus, vendo as multidões, tomaram-se de inveja e, blasfemando, contradiziam o que Paulo falava. Atos 13:45.O invejoso é também, vulgarmente, um maledicente. Porém, o seu sotaque o condena. A sua voz soprada com fúria na ária bárbara dessa opereta cruel da difamação é o sinal de uma existência maligna. Quem maldiz dos outros desvenda a sua alma, expondo a podridão do seu íntimo de modo aterrorizante. Justino Mártir descreve: Examinando a língua dos pacientes, os médicos podem descobrir certas enfermidades do corpo; e os filósofos, as doenças da alma. A má-lingua do invejoso sempre fala trazendo o mau cheiro das entranhas, como bem comprova a palavra de Deus. O ânimo sereno é a vida do corpo, mas a inveja é a podridão dos ossos. Raça de víboras, como podeis falar coisas boas, sendo maus? Porque a boca fala do que está cheio o coração. Provérbios 14:30 e Mateus 12:34.O coro do maligno é composto pelos tipos malacafentos que gostam de carniça e se servem das distorções para alcançar alguma vantagem. Focalizar as deficiências dos outros para desenvolver o rítmo da sarabanda, enquanto dança a passo lento a fraqueza dos outros, é uma doença muito grave e uma perversão diabólica assustadora. Toda pessoa que é maledicente, bem como o auditório que se contenta com esse tipo de exibição, denuncia a sua identidade relacionada com as hostes do Averno. Judas era filho do Diabo. A murmuração é uma partitura do Érebo. Quem vive envolvido com esse tipo de conversa, encontra-se metido até o miolo no caldeirão do demo. As palavras acusam e comprovam o caráter de uma pessoa. Se você é um filho de Deus sua linguagem vai espelhar a sua filiação. Fazei tudo sem murmurações nem contendas, para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo. Filipenses 2:14-15.O coral dos filhos de Deus canta o cântico dos redimidos com a linguagem de louvor. A sinfonia celestial vibra com o allegro molto da redenção. Todos aqueles que foram alcançados pela graça de Deus em Cristo não podem ficar reféns dessas picuinhas e pirraças de uma mentalidade mesquinha, diante de uma tão grande salvação. Não há lugar para um tom menor, onde o afetuoso amor de Deus encheu o coração de alegria. O andamento allegro dos filhos de Deus é um destaque alegre do Espírito Santo. Com efeito, vos tornastes imitadores nossos e do Senhor, tendo recebido a palavra, posto que em meio de muita tribulação, com alegria do Espírito Santo. 1 Tessalonicenses 1:6.O júbilo da salvação se manifesta no festejo da vida. O cristianismo legítimo é uma celebração duradoura. Não é possível ser salvo por Cristo e ainda ser um ranzinza. A murmuração não faz parte do dialeto celestial, pois a libertação do pecador o torna celebrante permanente da graça. O idioma do regenerado prova a plenitude do evangelho. E todo aquele que foi salvo tem um linguajar inconfundível: E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito, falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais, dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Efésios 5:18-20. O canto dos redimidos encanta a todos os que o ouvem. Paulo e Silas faziam parte deste coral de Deus. Eles foram açoitados cruelmente e estavam presos na masmorra de um cárcere, mas eram livres para adorar. Ao invés de murmurarem pelos maus tratos que sofreram, cantavam louvores ao Deus que rege suas vidas no compasso da cruz. Por volta da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam louvores a Deus, e os demais companheiros de prisão escutavam. Atos 16:25.O coro do capeta é composto por todos os murmurantes, maldizentes, maledicentes, mal-agradecidos, que malham a vida dos outros, difamando a glória de Deus. O coral dos santos é formado por aqueles que foram crucificados com Cristo, e vivem para o louvor da sua glória. Eles cantam e falam com a dicção sublime do louvor. Aleluia! Cantai ao SENHOR um novo cântico e o seu louvor, na assembléia dos santos. Salmos 149:1.
 
Soli Deo Glória.

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