sábado, 23 de fevereiro de 2013

CHAMADOS, ESCOLHIDOS E ENVIADOS

A vida cristã começa com um convite. Não há intrometidos ou abelhudos no convívio autêntico da igreja de Jesus Cristo. Todos os participantes da comunhão dos santos foram convidados. Ninguém se converte a Cristo Jesus porque deseja, mas deseja se converter porque Deus o chamou. A convocação da graça antecede a toda decisão humana, contudo, você está começando de modo errado se discutir primeiro acerca de sua eleição. Prove sua conversão e nunca mais duvide de sua eleição, insistia o puritano Joseph Alleine. Não há salvação genuína sem a chamada de Deus. Os atrevidos são dispensados, postos fora da festa e todo enxerido lançado nas trevas exteriores. Então, ordenou o rei aos serventes: Amarrai-o de pés e mãos e lançai-o para fora, nas trevas; ali haverá choro e ranger de dentes. Mateus 22:13. Os salvos são favorecidos pela misericórdia de Deus e convocados pelos méritos graciosos do Mediador, por isso, o homem deve ir para a escola primária da fé e do arrependimento antes de freqüentar a universidade da eleição e da predestinação, gritava George Whitefield. Nenhum salvo pode reivindicar seus direitos ou qualidades espirituais para este convite. A chamada não é conseqüência da fé ou do arrependimento, mas estes são resultantes desta convocação. Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero e não holocaustos; pois não vim chamar justo e sim pecadores ao arrependimento. Mateus 9:13. Como cristãos, devemos sempre nos lembrar de que o Senhor nos chamou para si mesmo, não por causa de nossas virtudes, mas a despeito dos nossos defeitos.

Somente quando Deus nos procura é que podemos ser achados. Foi Ele quem nos buscou em Cristo Jesus e nos selecionou mediante a sua graça para sermos santos diante do seu trono de amor. C. S. Lewis pôde discernir com clareza esta posição: Agnósticos amáveis falarão alegremente de como o homem procura a Deus. Para mim, eles podem também falar sobre como o rato procura o gato... Deus encostou-me na parede. A vocação de Deus está fundamentada na sua graça e nunca jamais em nossas qualidades ou virtudes pessoais; por isso, o seu convite está dirigido àqueles que já fizeram tudo o que podiam, encontrando-se exaustos, tiranizados, violentados e oprimidos. Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve. Mateus 11:28-30. O convite se destina aos que realizaram grandes esforços e ainda assim foram desqualificados. Aos atribulados de todos os sistemas religiosos e opressos de todo o peso do pecado. John Newton afirmou certa vez: Quando chegar ao céu, verei ali três coisas impressionantes: a primeira será encontrar muita gente que não esperava ver ali; a segunda será não encontrar muita gente que esperava ali encontrar; e a terceira e mais maravilhosa de todas será encontrar a mim mesmo ali. A salvação não depende de nossas virtudes, mas da soberana graça de Deus. Não seremos impedidos pelos nossos defeitos, mas pela soberba de nossa incredulidade, diante do sacrifício de Cristo. E a descrença não é um problema do intelecto, mas da vontade. Então, Jesus disse aos seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me. Mateus 16:24. O querer é humano; querer o que é meu é próprio da natureza decaída, mas querer o que é bom é próprio da graça, pontuava João Calvino.

Jesus convida ao descanso, os cansados, e à pescaria de homens, os pescadores. Ele viu Simão e André lançando as redes ao mar e disse-lhes: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens. Mateus 4:19. O primeiro chamado visa à salvação da alma exausta. É preciso antes gozar do refrigério espiritual, para depois realizar o ministério da pregação do Evangelho. Jesus convida a todos os entediados e esgotados para repousar na suficiência de sua graça. E uma vez sossegados, convida a participar de uma pescaria desafiante. A vocação cristã é um chamado comissionado. Deus tira o peso do pecado de nossos corações e coloca a responsabilidade sobre os nossos ombros. Não há lugar para indolentes no reino de Deus. Quando somos convidados para o bem-estar e alívio do coração, somos também convocados para o desempenho eficiente dos encargos missionários. No cristianismo não existe colônia de férias. Não há aposentados nem desocupados. A igreja não é um clube de iates, mas uma frota de barcos de pesca. Fomos chamados para ser pescadores de homens e isto envolve determinação. Cada cristão é um agente de evangelização ordenado por Deus. O apostolo Paulo vê muito nitidamente esta realidade: Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho! 1 Coríntios 9:16.

Jesus chamou, capacitou e enviou os seus discípulos, para uma missão empolgante no mundo. Para os primeiros cristãos, a evangelização não era algo que eles isolavam das outras áreas da vida cristã a fim de nela se especializar, para analisá-la, teorizá-la e organizá-la. Eles simplesmente a praticavam. Jesus chama os pecadores entediados para encontrar descanso nEle. Chama os discípulos descansados para se tornarem pescadores com Ele. E depois os envia para sua missão no mundo. Disse Jesus: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Marcos 16:15. Quando Jesus diz: Vinde! É porque Ele já veio ao nosso encontro. Quando ele diz: Ide! É porque Ele garante o nosso êxito. É impossível ser um verdadeiro discípulo e não se empenhar com a salvação dos pecadores. Tudo faz crer que a autenticidade da experiência cristã se fundamenta no desejo efetivo da salvação eterna dos pecadores. Podemos desconfiar de um salvo que não se interessa pela salvação dos perdidos. Aqueles que amam se preocupam com a condição permanente das almas enganadas. O amor cristão é a marca registrada da vida cristã. É possível pregar sem amor, mas é impossível amar sem evangelizar. Nisto conhecererão todos que sois meus discípulos: Se tiverdes amor uns aos outros. João 13:35. Não há prova de maior amor do que a importância radical pela salvação eterna daqueles que se encontram perdidos. Se não formos intensamente fiéis e profundamente amorosos corremos o risco de estarmos garimpando vidas valiosas para as chamas do inferno. Quantas almas se têm perdido por falta de seriedade, solenidade, amor do pregador, mesmo quando as palavras pronunciadas eram preciosas e verdadeiras.

Jesus nos chamou ao descanso da alma, mas não para viver uma vida descuidosa. Fomos convidados à tranqüilidade do espírito e não à apatia negligente. Se Jesus desceu do seu trono de glória para realizar a nossa salvação, por que não nos dispomos a ser instrumentos de pregação do Evangelho em favor daqueles que se encontram cansados? Alguma coisa está errada. Ou não fomos salvos ou não sabemos o que é a perdição eterna. É impossível salvar uma vida do incêndio e evitar o ardor do fogo.
 
Soli Deo Glória.

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