sábado, 23 de junho de 2012

SACIANDO A SEDE DO HOMEM

“Respondeu-lhe Jesus: Se conheceras o dom de Deus, e quem é que te pede: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, ele te daria água viva” João 4.10
O grande rio Amazonas lança uma torrente de água tão volumosa no Atlântico que, por muitos quilômetros em direção oposta à sua foz, a água do oceano é extraordinariamente fresca e doce. Conta-se que há muitos anos, um veleiro partiu da Europa vindo para um porto da América do Sul. Devido às tempestades e outros contratempos, encontrou-se tão afastado de sua rota que a água necessária à sobrevivência dos seus tripulantes começou a faltar. Apesar das providências de racionamento, logo viram-se desprovidos de água. Após um ou dois dias, quando se achavam numa calmaria e em clima muito quente, para grande alívio dos velejadores, avistaram outro barco não muito distante. Levantaram então a sua bandeira e fizeram sinais pedindo socorro: "Estamos morrendo por falta d'água!"
E para a surpresa deles, veio a desconcertante resposta: "Veja , água à sua volta! Mergulhe o cantil no mar!" Mal sabiam eles que estavam justamente cruzando a grande corrente de água doce do rio Amazonas, ao invés de estarem navegando nas águas salgadas do oceano Atlântico. Atualmente há milhões de pessoas com sede de vida. Pessoas sinceras que buscam algo que lhes mate a sede, mas o que elas encontram é apenas água insalubre. Centenas de anos antes de Jesus Cristo, o profeta Jeremias já havia transmitido o recado de Deus: “Porque dois males cometeu o meu povo: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas.” (Jr 2.13.). Porém, Deus nunca desistiu de seu plano de saciar totalmente a sede do homem. Jesus, o dom de Deus, veio ao nosso encontro para cumprir a profecia de Isaias: “Serás como um jardim regado, e como um manancial, cujas águas nunca faltam”. Isaias 58.11.
A Bíblia conta a história de uma mulher sedenta por significado e alegria. Conta também como ela veio a conhecer o segredo para uma existência plena de satisfação. Essa pessoa é a mulher samaritana do poço de Sicar. Entretanto, um olhar mais apurado nos textos de João 4 nos fará ver que não se trata apenas da história da mulher samaritana. Antes, trata-se da auto revelação de Jesus como o Messias, o Cristo, a fonte da vida eterna.
Dentro do plano gracioso de Redenção, Deus não se limitou a falar. Deus se fez gente e se misturou entre nós. Nos dias de sua encarnação, Jesus compreendeu as necessidades humanas e tratou com cada pessoa a partir de suas singularidades. Entre Nicodemos e a mulher samaritana há diferenças significativas. John F. MacArthur, Jr. traça algumas dessas diferenças: “Esta mulher é um contraste vívido com relação a Nicodemos. Os dois são extremos opostos. Nicodemos era judeu; ela samaritana. Ele era homem; ela, mulher. Ele era um líder religioso; ela, uma adúltera. Ele era culto; ela, ignorante. Ele era membro da classe mais distinta; ela, da mais baixa – mais baixa até do que a dos párias de Israel, pois ela era um pária de Samaria! Ele era rico; ela, pobre. Ele reconheceu que Jesus era Mestre vindo da parte de Deus; ela não fazia a menor idéia de quem Ele era.”
A grande questão é por que Jesus foi se revelar como o Messias primeiramente a uma mulher anônima e adúltera? Quem sabe, para confirmar que Deus escolheu as coisas loucas e desprezíveis deste mundo. Talvez para mostrar que o Evangelho das Boas Novas é para todos. Ou ainda para mostrar como a Graça Divina é extravagante. O certo é que a profecia de Isaías 42 estava se cumprindo. Eis aqui o meu servo, a quem sustenho; o meu escolhido, em quem a minha alma se compraz; pus sobre ele o meu Espírito, e ele promulgará o direito para os gentios. Não clamará, nem gritará, nem fará ouvir a sua voz na praça. Não esmagará a cana quebrada, nem apagará a torcida que fumega " (Isaías 42:1-4). Os judeus esmagavam a cana quebrada, Jesus não. Os judeus apagavam o pavio fumegante, Jesus não. Ele veio para restaurar o homem quebrado e fracassado. Os samaritanos eram considerados pelos judeus como um povo marginalizado e herege. Por esta razão, os judeus evitavam Samaria, Jesus não! Normalmente esta não era a rota escolhida pela maioria dos judeus, apesar de ser a mais curta. Contudo, Jesus tinha que cumprir sua agenda celestial. O texto bíblico diz: “E era-lhe necessário passar por Samaria” João 4.4. Ali havia um encontro marcado com uma triste mulher samaritana. Enquanto os discípulos vão até a cidade comprar comida, Jesus resolve ficar junto ao poço para descansar. Nisto veio uma mulher samaritana tirar água” (v.7). Jesus lança um pedido: “Dá-me de beber”. Ela ficou surpresa. Primeiro, porque estava acostumada a ser evitada por todo mundo, em face de sua própria história de vida. Segundo, porque em sua cultura, homens não conversavam com mulheres em publico – ainda que fossem suas esposas. Terceiro, porque havia uma barreira racial e religiosa entre judeus e samaritanos. Na verdade, ela desconhecia quem estava lhe pedindo água. Ela desconhecia Aquele que é Todo amor. Esta mulher já havia conhecido vários homens e frustrara-se com todos. Cinco casamentos e cinco divórcios, e outros tantos amantes. Porém, estava prestes a conhecer um homem que iria mudar definitivamente a sua vida, da forma como ela sonhara. Ele que era o Único digno de desprezá-la, escolheu acolhê-la. O Único digno de julgar escolheu defendê-la, respondendo: “Se conheceras o dom de Deus, e quem é o que te pede: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, ele te daria água viva”. João 4.10. Ao se revelar a ela como Cristo, Ele desejava tão somente mudar a sua história de vida. O dom de Deus, ou seja, a dádiva estava sendo oferecida àquela mulher. Esse presente, que é a Salvação, incluía o perdão dos pecados, a libertação do poder do pecado, a habitação do Espírito Santo e o desejo de viver para glorificar a Deus. Jesus oferece tudo isso como se lhe estivesse oferecendo um copo de água. A mulher pede água, pensando no plano físico, contudo, Jesus falava de uma realidade espiritual. “Afirmou-lhe Jesus: Quem beber desta água tornará a ter sede; aquele, porém, que beber da água que eu lhe der, nunca mais terá sede, para sempre; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna”. V.13,14). Antes de mais nada, Ele trata de dois assuntos: O pecado dela e a sua verdadeira identidade. Jesus a confronta com o seu passado. Ela não podia continuar fugindo de si mesma, fingindo estar tudo bem. Por mais doloroso que fosse, deveria reconhecer a sua real condição. Campbell Morgan diz: “Qual foi a resposta dEle? Vai, chama o teu marido. Por que? Porque se fosse para ela ter a água viva jorrando de si, seria necessário que primeiro houvesse investigação moral e correção”. “Não tenho marido”, foi a resposta da samaritana. “Disse-lhe Jesus: Tens razão em dizer que não tens marido, pois já tiveste cinco maridos, e o que agora tens não é teu marido.” João 4.18. Jesus estava tocando nas suas feridas. O médico só pode curar alguém que reconhece estar doente e quer ser curado. Constrangida pela compaixão de Jesus ela o reconhece como enviado de Deus. “Senhor, vejo que tu és profeta. A prontidão de confessar a realidade, e a aversão pelo pecado pessoal é uma manifestação essencial da sede espiritual genuína.
A samaritana viu em Jesus um profeta, porém Ele era mais do que um profeta. “Nossos pais adoravam neste monte; vós, entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar” diz a samaritana. João 4.20. Jesus inicia também a desconstrução de sua religiosidade A questão não era saber onde adorar, mas sim quando, a quem e como adorar. “ Mas vem a hora, e já chegou, quando os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade” V.23,24. O Pai busca pessoas que o adorem na própria dimensão da vida humana. A mulher demonstra a sua esperança messiânica. “Eu sei... que há de vir o Messias... quando Ele vier nos anunciará todas as cousas” (João 4.25). É neste momento que Jesus se dá a conhecer. O mistério é revelado. “Eu o sou, eu que falo contigo”. (v.26). Os seus olhos passaram a contemplar o Ungido do Senhor, o Messias, o Cristo prometido por Deus. O Libertador que foi anunciado pelos profetas e esperado por séculos estava diante dela, uma pobre mulher samaritana. Com certeza aquela revelação deixou-a impactada. “O dia da salvação havia chegado para ela. Ela iria tornar-se voluntariamente em adoradora verdadeira. Beberia da água da vida. A graça irresistível do Messias havia penetrado em seu coração. Passo a passo, Jesus foi abrindo aquele coração pecaminoso e revelando-se a ela. Aparentemente, ela reagiu com fé salvadora.” É o que afirma MacArthur Jr.
“Deixando ali o seu cântaro” João 4.28. O cântaro abandonado é sinal de conversão e de que as coisas velhas já se passaram. Morta para a velha natureza, encheu o cântaro do seu espírito com a Água da Vida, e sem perder tempo voltou à vida dando testemunho de Jesus aos seus patrícios “vinde e vede um homem que me disse tudo o que tenho feito” João 4.39. Os samaritanos vieram até Jesus e também o acolheram como o Salvador do mundo “Diziam à mulher: Já não é pelo teu dito que nós cremos; agora nós mesmos o ouvimos falar, e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo”. João 4.42. Enquanto os judeus rejeitam a Jesus, os gentios o acolhem.
Jesus confirmou e estendeu o convite a todos os sedentos: "Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva" (João 7.37,38). Jesus é a fonte de onde procede a água viva e vivificante. Porém, houve um dia, em um lugar chamado Gólgota que Jesus parecia contradizer todas estas palavras. Pendurado em uma cruz, a Fonte de águas vivas exclamou: “Tenho sede” João 19.20. Ele preferiu sentir sede em uma cruz para que pudéssemos saciar a nossa profunda sede de Deus, a partir da ressurreição. Sem o tormento da cruz não haveria salvação; não haveria mananciais de águas vivas; não haveria adoração em espírito e em verdade para os homens. Quando um homem ou uma mulher recebe a revelação da verdadeira identidade de Jesus Cristo, pela maravilhosa Graça de Deus, todo seu ser experimenta um poderoso milagre. Sua vida é transformada, seus pecados são perdoados, há libertação do poder do pecado e, no seu interior, seu espírito se transforma em uma torrente de vida e satisfação. Sua sede, ou seja, sua insatisfação espiritual desaparece. O sertão da alma é inundado pela Pessoa de Cristo. Este é o propósito de Deus para nós: Cristo exaltado e glorificado com toda sua graça e virtude, vivendo sem impedimentos dentro nós! “Quando Cristo que é a nossa vida ... Vivo não mais eu, mas Cristo vive em mim.” Cl 3.4 e Gl. 2,20. Madame Guyon, afirma que uma pessoa que conhece o Senhor Jesus Cristo, não é somente satisfeita, mas passa a saciar o mundo ao ser redor. Sua vida é comparada a um rio que faz o seu curso do alto das elevadas montanhas até o Oceano. Uma vida de devoção experimenta quatro estágios. O primeiro, é um filete de água que corta as montanhas, lugar de suas nascentes. Uma vida agitada sem profundidade. No segundo estágio, o rio é mais largo e um pouco mais suave. O terceiro, começa a ganhar corpo e é mais tranqüilo. No quarto estagio o rio é imenso e cheio de vida, muda a paisagem por onde passa até desembocar no Oceano da Trindade. Esta é a proposta de Deus para os homens: uma vida de satisfação em constante crescimento, seguindo em direção a Deus.

Solo Deo Glória.

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