“Respondeu-lhe Jesus: Se conheceras
o dom de Deus, e quem é que te pede: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, ele te daria água viva” João
4.10
O
grande rio Amazonas lança uma torrente de água tão volumosa no Atlântico que,
por muitos quilômetros em direção oposta à sua foz, a água do oceano é
extraordinariamente fresca e doce. Conta-se que há muitos anos, um veleiro
partiu da Europa vindo para um porto da América do Sul. Devido às tempestades e
outros contratempos, encontrou-se tão afastado de sua rota que a água necessária
à sobrevivência dos seus tripulantes
começou a faltar. Apesar das providências de racionamento, logo viram-se
desprovidos de água. Após um ou dois dias, quando se achavam numa calmaria e em
clima muito quente, para grande alívio dos velejadores, avistaram outro barco
não muito distante. Levantaram então a sua bandeira e fizeram sinais pedindo
socorro: "Estamos morrendo por falta d'água!"
E para a surpresa deles,
veio a desconcertante resposta: "Veja , água à sua volta! Mergulhe o cantil no
mar!" Mal sabiam eles que estavam justamente cruzando a grande corrente de água
doce do rio Amazonas, ao invés de estarem navegando nas águas salgadas do oceano
Atlântico. Atualmente
há milhões de pessoas com sede de vida. Pessoas sinceras que buscam algo que
lhes mate a sede, mas o que elas encontram é apenas água insalubre. Centenas de
anos antes de Jesus Cristo, o profeta Jeremias já havia transmitido o recado de
Deus: “Porque dois males cometeu o meu povo: a mim me deixaram, o manancial
de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as
águas.” (Jr 2.13.). Porém, Deus nunca desistiu de seu plano de saciar
totalmente a sede do homem. Jesus, o dom
de Deus, veio ao nosso encontro para cumprir a profecia de Isaias: “Serás
como um jardim regado, e como um manancial, cujas águas nunca faltam”.
Isaias 58.11.
A Bíblia conta
a história de uma mulher sedenta por
significado e alegria. Conta também como ela veio a conhecer o segredo para uma
existência plena de satisfação. Essa pessoa é a mulher
samaritana do poço de Sicar. Entretanto, um olhar mais apurado nos textos de
João 4 nos fará ver que não se trata
apenas da história da mulher samaritana. Antes, trata-se da auto revelação de
Jesus como o Messias, o Cristo, a fonte
da vida eterna.
Dentro do
plano gracioso de Redenção, Deus não se limitou a falar. Deus se fez gente e se
misturou entre nós. Nos dias de sua encarnação, Jesus compreendeu as necessidades humanas e
tratou com cada pessoa a partir de suas
singularidades. Entre Nicodemos e a mulher samaritana há diferenças
significativas. John
F. MacArthur, Jr. traça algumas dessas diferenças: “Esta mulher é um contraste vívido
com relação a Nicodemos. Os dois são extremos opostos. Nicodemos era judeu; ela
samaritana. Ele era homem; ela, mulher. Ele era um líder religioso; ela, uma
adúltera. Ele era culto; ela, ignorante. Ele era membro da classe mais distinta;
ela, da mais baixa – mais baixa até do que a dos párias de Israel, pois ela era
um pária de Samaria! Ele era rico; ela, pobre. Ele reconheceu que Jesus era
Mestre vindo da parte de Deus; ela não fazia a menor idéia de quem Ele
era.”
A grande
questão é por que Jesus foi se revelar como o Messias primeiramente a uma mulher
anônima e adúltera? Quem sabe, para confirmar que Deus escolheu as coisas loucas
e desprezíveis deste mundo. Talvez para
mostrar que o Evangelho das Boas Novas é para todos. Ou ainda para mostrar como
a Graça Divina é extravagante. O certo é que a profecia de Isaías 42 estava se
cumprindo. Eis aqui o meu servo, a quem sustenho; o meu escolhido, em quem a
minha alma se compraz; pus sobre ele o meu Espírito, e ele promulgará o direito
para os gentios. Não clamará, nem gritará, nem fará ouvir a sua voz na praça.
Não esmagará a cana quebrada, nem apagará a torcida que fumega " (Isaías
42:1-4). Os judeus esmagavam a cana quebrada, Jesus não. Os judeus apagavam o
pavio fumegante, Jesus não. Ele veio para restaurar o homem quebrado e
fracassado.
Os
samaritanos eram considerados pelos judeus como um povo marginalizado e herege.
Por esta razão, os judeus evitavam Samaria,
Jesus não! Normalmente esta não era a rota escolhida pela maioria dos
judeus, apesar de ser a mais curta. Contudo,
Jesus tinha que cumprir sua agenda celestial. O texto bíblico diz: “E
era-lhe necessário passar por Samaria” João 4.4. Ali havia um encontro
marcado com uma triste mulher samaritana. Enquanto os discípulos vão até a
cidade comprar comida, Jesus resolve ficar junto ao poço para descansar.
Nisto veio uma mulher samaritana tirar água” (v.7). Jesus lança um pedido:
“Dá-me de beber”. Ela ficou surpresa. Primeiro, porque estava acostumada
a ser evitada por todo mundo, em face de sua própria história de vida. Segundo, porque em sua cultura, homens não
conversavam com mulheres em publico – ainda que fossem suas esposas. Terceiro,
porque havia uma barreira racial e religiosa entre judeus e samaritanos. Na
verdade, ela desconhecia quem estava lhe pedindo água. Ela desconhecia Aquele que é Todo amor. Esta
mulher já havia conhecido vários homens e frustrara-se com todos. Cinco
casamentos e cinco divórcios, e outros tantos
amantes. Porém, estava prestes a conhecer um homem que iria mudar
definitivamente a sua vida, da forma como ela sonhara. Ele que era o Único digno de desprezá-la,
escolheu acolhê-la. O Único digno de julgar escolheu defendê-la, respondendo:
“Se conheceras o dom de Deus, e quem é o que te pede: Dá-me de beber, tu lhe
pedirias, ele te daria água viva”. João 4.10. Ao se revelar a ela como
Cristo, Ele desejava tão somente mudar a sua história de vida. O dom de Deus, ou seja, a dádiva
estava sendo oferecida àquela mulher. Esse presente, que é a Salvação,
incluía o perdão dos pecados, a
libertação do poder do pecado, a habitação do Espírito Santo e o desejo de viver
para glorificar a Deus. Jesus oferece tudo isso como se lhe estivesse oferecendo
um copo de água. A mulher pede água,
pensando no plano físico, contudo, Jesus falava de uma realidade espiritual.
“Afirmou-lhe Jesus: Quem beber desta água tornará a ter sede; aquele, porém, que
beber da água que eu lhe der, nunca mais terá sede, para sempre; pelo contrário,
a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna”.
V.13,14). Antes de mais
nada, Ele trata de dois assuntos: O pecado dela e a sua verdadeira identidade.
Jesus a confronta com o seu passado. Ela não podia continuar fugindo de si
mesma, fingindo estar tudo bem. Por mais
doloroso que fosse, deveria
reconhecer a sua real condição.
Campbell Morgan diz: “Qual foi a resposta dEle? Vai, chama o teu marido.
Por que? Porque se fosse para ela ter a água viva jorrando de si, seria
necessário que primeiro houvesse investigação
moral e correção”. “Não tenho marido”, foi a resposta da samaritana.
“Disse-lhe Jesus: Tens razão em dizer que não tens marido, pois já tiveste
cinco maridos, e o que agora tens não é teu marido.” João 4.18. Jesus estava tocando nas suas feridas. O
médico só pode curar alguém que reconhece estar doente e quer ser curado.
Constrangida pela compaixão de Jesus ela o reconhece como enviado de Deus.
“Senhor, vejo que tu és profeta. A prontidão de confessar a realidade, e
a aversão pelo pecado pessoal é uma manifestação essencial da sede espiritual
genuína.
A samaritana viu em Jesus
um profeta, porém Ele era mais do que um profeta. “Nossos pais adoravam neste monte; vós, entretanto,
dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar” diz a
samaritana. João 4.20. Jesus inicia também a desconstrução de sua religiosidade A questão não era saber
onde adorar, mas sim quando, a quem e como adorar. “ Mas vem a hora, e já
chegou, quando os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em
verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é
espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em
verdade” V.23,24. O
Pai busca pessoas que o adorem na própria dimensão da vida humana. A mulher demonstra a sua esperança
messiânica. “Eu sei... que há de vir o Messias... quando Ele vier nos
anunciará todas as cousas” (João 4.25). É neste momento que Jesus se dá a
conhecer. O mistério é revelado. “Eu o sou, eu que falo contigo”. (v.26).
Os seus olhos passaram a contemplar o Ungido do Senhor, o Messias, o Cristo prometido por Deus. O Libertador que
foi anunciado pelos profetas e esperado por séculos estava diante dela, uma
pobre mulher samaritana. Com certeza aquela revelação deixou-a impactada. “O
dia da salvação havia chegado para ela. Ela iria tornar-se voluntariamente em
adoradora verdadeira. Beberia da água da vida. A graça irresistível do Messias
havia penetrado em seu coração. Passo a passo, Jesus foi abrindo aquele coração
pecaminoso e revelando-se a ela. Aparentemente, ela reagiu com fé salvadora.”
É o que afirma MacArthur Jr.
“Deixando
ali o seu cântaro” João 4.28. O
cântaro abandonado é sinal de conversão e de que as coisas velhas já se
passaram. Morta para a velha natureza, encheu o cântaro do seu espírito com a
Água da Vida, e sem perder tempo voltou à vida dando testemunho de Jesus aos
seus patrícios “vinde e vede um homem que me disse tudo o que tenho
feito” João 4.39. Os samaritanos vieram até Jesus e também o acolheram como
o Salvador do mundo “Diziam à mulher: Já não é pelo teu
dito que nós cremos; agora nós mesmos o ouvimos falar, e sabemos que este é
verdadeiramente o Salvador do mundo”. João 4.42. Enquanto os judeus
rejeitam a Jesus, os gentios o acolhem.
Jesus confirmou e estendeu o
convite a todos os sedentos: "Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem
crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água
viva" (João 7.37,38). Jesus é a fonte de onde procede a água viva e
vivificante. Porém, houve um dia, em um lugar chamado Gólgota que Jesus parecia
contradizer todas estas palavras. Pendurado em uma cruz, a Fonte de águas vivas
exclamou: “Tenho sede” João 19.20.
Ele preferiu sentir sede em uma cruz para que pudéssemos saciar a nossa profunda
sede de Deus, a partir da ressurreição. Sem
o tormento da cruz não haveria salvação; não haveria mananciais de águas vivas; não haveria
adoração em espírito e em verdade para os homens. Quando um homem ou uma mulher recebe a revelação da verdadeira
identidade de Jesus Cristo, pela maravilhosa Graça de Deus, todo seu ser
experimenta um poderoso milagre. Sua vida é transformada, seus pecados são
perdoados, há libertação do poder do pecado e, no seu interior, seu espírito se
transforma em uma torrente de vida e satisfação. Sua sede, ou seja, sua
insatisfação espiritual desaparece. O sertão da alma é inundado pela Pessoa de
Cristo. Este é o
propósito de Deus para nós: Cristo exaltado e glorificado com toda sua graça e
virtude, vivendo sem impedimentos dentro nós! “Quando Cristo que é a nossa vida ... Vivo não mais eu, mas Cristo vive
em mim.” Cl 3.4 e Gl.
2,20. Madame Guyon, afirma que uma pessoa que conhece o Senhor Jesus Cristo, não
é somente satisfeita, mas passa a saciar o mundo ao ser redor. Sua vida é
comparada a um rio que faz o seu curso do alto das elevadas montanhas até o
Oceano. Uma vida de devoção experimenta quatro
estágios. O primeiro, é um filete de água que corta as montanhas, lugar de suas
nascentes. Uma vida agitada sem profundidade. No segundo estágio, o rio é mais
largo e um pouco mais suave. O terceiro, começa a ganhar corpo e é mais
tranqüilo. No quarto estagio o rio é
imenso e cheio de vida, muda a paisagem
por onde passa até desembocar no Oceano da Trindade. Esta é a proposta de Deus
para os homens: uma vida de satisfação
em constante crescimento, seguindo em direção a
Deus.
Solo Deo Glória.
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