No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o
medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no
amor. 1 João 4:18.
O primeiro sentimento que o cabeça da raça humana
experimentou depois do pecado foi o medo. Logo depois que Adão transgrediu o
mandamento divino, ele foi invadido por um clima de pavor. Ele respondeu:
Ouvi a tua voz no jardim, e, porque estava nu, tive medo, e me escondi. Gênesis
3:10.
Ao ouvir a palavra de Deus Adão teve medo. É
interessante observar este ponto com atenção. A Bíblia diz: Assim, a fé
vem pelo ouvir e o ouvir da palavra de Deus. Romanos 10:17. Mas, quando Adão ouviu a palavra de Deus no jardim, porque estava nu,
teve medo e se escondeu. Ao ouvir a palavra de Deus, em vez de fé, medo. O
pânico veio em conseqüência do pecado e da sua nudez. Adão e
Eva foram criados totalmente despidos. No Jardim do Éden não havia necessidade
de roupa, uma vez que a temperatura era agradável e as condições favoráveis para
uma vida sem cobertura. Eles eram imaculados, mas não ficavam acanhados nem
ruborizados de viverem desnudos. Ora, um e outro, o homem e sua mulher,
estavam nus e não se envergonhavam. Gênesis 2:25.
Todavia, logo depois da transgressão apareceu um
sentimento de terror quando Adão se percebeu pelado. Esse estado de desnudamento
evidencia a descompostura que o pecado causou na personalidade, produzindo todo
tipo de esconderijo. O medo é o promotor das máscaras e o aliciador dos agentes
que solicitam a aprovação externa. A partir do receio de não ser aceito
incondicionalmente, a história humana toma um outro rumo. Os
jardineiros viraram estilistas num instante. De uma hora para outra os
horticultores que cultivam o Paraíso foram transformados em modistas costurando
folhas. Adão e Eva agora estavam preocupados com o guarda-roupa, pois o medo da
rejeição exigia que eles bordassem complementos para a grife da tribo.
Adão, ao ouvir a voz de Deus, foi dominado pela paúra em seu
coração em razão do pecado e não deu lugar à fé. O medo teceu uma tanga com as
fibras da figueira porque a sua fibra moral foi atacada pelo sentimento de
deserção. A culpa afastou o casal da comunhão com o Criador e os dois se
enfiaram nas moitas tentando achar asilo na embaixada do faz de conta.
Desde aquele momento a raça humana passou a morar no casebre
do temor. Somos uma casta escrava do medo e temos muita dificuldade de entrar na
casa do amor. A timidez impede que vivamos com autenticidade. A culpa
existencial herdada dos nossos primeiros pais nos deixa sempre desconfiados e
com receio de não sermos recebidos como filhos na família do Pai. De modo geral
nós temos sintomas de senzala.
A história da raça adâmica é uma narrativa de
disfarces, fugas e esconderijos. O gênero humano vive escapando da aceitação
incondicional do Pai, usando, com freqüência, expedientes astutos que assegurem
o seu assentimento ao custo dos seus próprios esforços. Com medo de ser
rejeitado o sujeito procura ser aceito através daquilo que faz. Assim, a
religião se torna uma fábrica de executivos em busca da excelência. O temor é a
matriz da conduta e a sobreexcelência a raiz que suporta esta pose esnobe.
Porém, o apóstolo João procura nos mostrar que na casa do
amor não existe medo. A aceitação do Pai não computa valores, nem contabiliza
despesas. O pecador é recebido como filho, única e exclusivamente pelos méritos
do Cordeiro. O amor do Pai não está atrelado a excelência do
objeto do seu amor. Ele não é colecionador de obras raras e não me ama porque eu
sou digno do seu amor. A sua graça aposta apenas no desdouro da minha queda, já
que não posso me classificar com a minha justiça cheirando a carniça. Mas
todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da
imundícia; todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniqüidades, como um
vento, nos arrebatam. Isaías 64:6.
A verdade nua e crua é que o pecado me tornou
irrecuperável por mim mesmo. Não há solução para mim senão pelo amor de Pai. Mas
ele nos ama incondicionalmente. Isto significa que Deus não olha para as nossas
qualidades pessoais, tampouco para os nossos defeitos graves. Sendo assim, a
nossa adoção como filhos na casa do Pai não depende dos nossos méritos, mas da
expressão do seu amor revelado em Cristo.
O Cordeiro que tira o pecado foi imolado antes da
fundação do mundo. Adão e Eva perderam tempo cosendo aventais que murchariam
antes do fim da tarde. Os animais que foram sacrificados eram as únicas
expressões do amor de Deus para cobrir a nudez do casal. Fez o SENHOR Deus
vestimenta de peles para Adão e sua mulher e os vestiu. Gênesis
3:21. Jeová além de ser o alfaiate é também o
camareiro. Graça significa Deus dando e fazendo tudo a quem só tem
demérito.
O medo da rejeição exige aceitação a todo o custo,
mas no amor não existe medo. O amor lança fora toda apreensão, uma vez que o
indigente senta-se à mesa como um membro da estirpe real. O Pai nos aceitou em
Cristo em seu amor irrestrito e somos herdeiros do reino celestial. Porque
eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os
principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a
altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do
amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor. Romanos
8:38-39.
Brennan Manning
diz que
muitos cristãos permanecem temerosos, pois se apegam ainda à idéia de um Deus
muito diferente da que foi pregada por Jesus. O temor é a causa do aborto da
fé e esse medo do fracasso é um paralisante do progresso espiritual.
Contudo, aquele que sabe verdadeiramente que o Pai o aceitou
em Cristo com amor total, não teme se arriscar no seu testemunho de fé, ainda
que insipiente. A queda é parte do desenvolvimento no andar da criança e, na
caminhada cristã, só tem insucesso quem se atreve a andar. Quem confia no amor
do Pai não teme ser desaprovado porque depende apenas da sua aprovação na
suficiência de Cristo. Jesus disse aos discípulos que teriam
problemas nesse mundo, todavia ele assegurou que a sua vitória pessoal era a
garantia do nosso sucesso, isto é, o seu triunfo é o nosso troféu. Estas
coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por
aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo. João 16:33.
Como alguém disse com bom humor, Cristo
prometeu uma aterrissagem segura, mas não um vôo sem turbulência. Embora
tenhamos muitas tribulações nessa marcha aqui e agora, nada pode desbotar a
tonalidade do seu amor sem fronteira. Por isso, a fé se firma apenas na
imutabilidade do Pai amoroso, não ficando intimidada com as pressões deste mundo
e com as cobranças legalistas. Que diremos, pois, à vista destas coisas?
Se Deus é por nós, quem será contra nós? Romanos 8:31.
A pregação do medo promove uma obediência
encabrestada. Há muita gente dócil e flexível que preenche os seus requisitos
morais debaixo de apavoramento. São pessoas submissas enquanto reprimidas. Mas
os filhos amados do Pai obedecem simplesmente por amor. O medo produz tormenta e
os atormentados não são pessoas saudáveis, por isso mesmo, só o amor consegue
originar personalidades sadias. A casa do amor é o único lugar seguro onde as
pessoas não temem os habitantes do casebre do temor. Robert Hart dizia que o amor de Deus é sempre sobrenatural,
sempre um milagre, sempre a última coisa que podemos merecer. Esse milagre
sobrenatural e imerecido é a causa de nossa aceitação com confiança. Eu creio
que o Pai me aceitou em Cristo por causa do seu amor profundo e sem
arrependimento. Nada poderá me afastar do seu amor irrestrito. A fé que o Pai me
deu não teme ser descartada como um traste qualquer. Na casa
do Pai não há amedrontamento, nem pessoas alimentando-se com a síndrome do
pânico. Jesus foi muito evidente quando disse aos seus discípulos: Não
temais, ó pequenino rebanho; porque vosso Pai se agradou em dar-vos o seu reino.
Lucas 12:32. O rebanho pode ser pequeno, mas o reino
do Pai foi oferecido com prazer. Se nós vivermos com medo
não poderemos jamais viver pela fé. O medo é o avesso da fé. Quem teme não
consegue confiar, por esse motivo Jesus prontamente falou com firmeza aos
discípulos apavorados com medo de fantasma: Tende bom ânimo! Sou eu. Não
temais! Mateus 14:27.
O mundo está cheio de assombrações e as
tempestades são de arrepiar, mas quando o Pai está no comando e o seu amor é o
arrimo de nossa sorte, então não tem por que temer. Alguém disse que o medo é
o início da ansiedade, e esta, o fim da fé, mas a verdadeira fé varre a
ansiedade e apaga o medo. O medo veio com Adão e
paralisa as pessoas, mas em Jesus vem a fé que suscita o progresso espiritual.
Ele é o único agente e gerente da verdadeira fé. A vida cristã deve ser
conduzida, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o
qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo
caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus. Hebreus
12:2.
A teologia do medo é responsável por uma conduta
subserviente e bajuladora. Os escravos do temor só obedecem porque não há
alternativa. Entretanto, os filhos de Aba são pessoas livres que correspondem
livremente motivados pelo amor que estimula a fé. Na casa do amor, isto é, a
igreja do Deus vivo, ninguém é coagido com espantalhos apavorantes nem submetido
à tortura da punição. O Pai amoroso não é o deus do medo, também não é fobia, a
reverência a ele.
O filho de Aba crê no evangelho atraído pela boa notícia do amor revelado na cruz. O ico constrangimento que vemos aqui é a compulsão do amor incondicional demonstrado em Cristo, e isto é assunto de fé. Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo, todos morreram. 2 Coríntios 5:14.
Solo Deo Glória
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O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
domingo, 24 de junho de 2012
A FÉ É ANTÍTESE DO MEDO
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