domingo, 3 de junho de 2012

A HISTÓRIA DA CRUZ NA PERSEGUIÇÃO

Todos os que querem ostentar-se na carne, esses vos constrangem a vos circuncidardes, somente para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo. Gálatas 6:12.
A história da cruz é uma narração de maus tratos, sofrimentos e torturas. Não estamos nos referindo aos tormentos de uma crucificação, mas ao martírio causado por meio da obra e mensagem da cruz. O apóstolo Paulo salienta, neste texto, que a ostentação na carne prefere a deformação produzida com a mutilação do prepúcio do órgão masculino, às cicatrizes da cruz no caráter. É muito mais aceitável a dor de um corte externo que evidencia um sacrifício pessoal, do que o estigma da cruz esculpido nas entranhas do coração. Para aqueles que gostam de exibir suas qualidades pessoais, a pregação da cruz é uma afronta. Ela agride em cheio os nossos valores egoístas. Nada pode ser mais deprimente para um espírito esnobe do que essa mensagem frustradora da vaidade humana. Preferimos os vergões do auto-sacrifício às marcas da cruz em nossas vidas. Morrer para o nosso conforto, nossas ambições e nossos planos causa profundas perdas, quando ambicionamos um lugar de destaque no palco da existência. A proclamação da cruz é uma ofensa ao mérito e uma invasão inconveniente em nossos direitos. Entretanto, a fé produzida pelo Evangelho é entalhada no sofrimento das perseguições. Ora, todos os que querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos. 2Timóteo 3:12. Sendo assim, a perseguição não insultuosa é um dos sinais mais seguros da legitimidade da nossa experiência cristã com a cruz de Cristo, e não ser perseguido é sintoma grave.
Paulo mostra aqui, claramente, que a pregação da cruz de Cristo é causa de perseguição. Não que ela promova a perseguição, mas que sua proclamação acaba despertando todo o tipo de resistência. Examinando com mais cuidado as Escrituras, percebemos que a comunicação que provoca recusa não é propriamente aquela que trata da morte de Cristo na cruz. O inferno procurou dissuadir Jesus de ir para a cruz. Foram feitas várias tentativas com o fim de demover Jesus de ser crucificado. Satanás usou diferentes pessoas, inclusive discípulos, para retirar a cruz do caminho de Jesus. Ele fez de tudo. Quis até que Jesus se despregasse da cruz, demonstrando sua divindade. Mas sua ênfase, hoje em dia, não está voltada para o fato histórico da morte de Jesus na cruz. As forças ocultas das trevas se opõem, agora, à pregação da cruz que está relacionada com a experiência pessoal do pecador. A mensagem que provoca todo tipo de perseguição é aquela que fala da morte do pecador juntamente com Cristo. Inserir a morte do pecador no sacrifício de Cristo estimula os exércitos orgulhosos de religiosos fanáticos que se deleitam em terríveis ultrajes. É horrível a fúria dos adversários que se levantam contra o anúncio do atestado de óbito dos pecadores juntamente com Cristo. Pouca gente se exacerba com a publicação da morte de Jesus Cristo na cruz. Mas um grande contingente se levanta quando se apregoa a morte do pecador na cruz com Cristo. Isto pode ser comprovado por qualquer pregador. Você não terá grandes problemas se noticiar a morte de Cristo na cruz, porém, você será execrado se declarar que a morte de Jesus foi, de fato, a morte do pecador. Quando alguém se propuser a notificar a justiça plena de Deus por meio do sacrifício de Cristo, verá todas as forças do inferno se coligando com o desempenho humano para impedir a divulgação desta notícia. Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo; pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois co-participantes dos sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação de sua glória, vos alegreis exultando. 1Pedro 4:12-13. Parece que é a co-participação no sacrifício de Cristo que desencadeia toda e qualquer oposição à mensagem da cruz. A perseguição surgiu muito cedo no mundo e o primeiro homem a ser martirizado trazia as marcas da cruz em sua oferta. Abel não foi morto por ser melhor do que Caim, mas porque estava unido no sacrifício da ovelha, assim como os salvos que morreram juntamente com Cristo estão unidos na mesma oblação. O que faz um mártir não é o seu sangue derramado, mas a causa em que está identificado. Quem já morreu com Cristo jamais terá medo dos poderes da morte.
Quando alguém, mediante a revelação do Espírito Santo, chega à convicção de que a morte de Jesus Cristo foi realmente a sua morte, e que, deste modo, ele se encontra morto para o pecado e vivo para Deus, então uma avalanche de atormentação vem em seu encalço. Voltamos a salientar que este acossamento não é fruto da provocação do crente. Não se trata de inabilidade, insulto ou desafio. É pura inveja do perseguidor. A vida de Cristo manifestada no coração regenerado causa despeito na alma rebelde. Todos os importunadores relatados na Bíblia demonstram um caráter perverso, ciumento e descrente. Os santos normalmente são perseguidos, mas jamais se conheceu um santo perseguidor. A cruz anula a competição. Não há concorrência na harmonia da orquestra regida pelos efeitos eternos da cruz. Os mortos em Cristo não disputam postos nem se rivalizam por suas qualidades. Esmagar um salvo é como bombardear um átomo: libera-se a grande energia da vida de Cristo, que acaba por revelar a maravilhosa expressão da salvação: Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. É a qualidade da vida de Cristo e não a retórica do homem que faz a diferença.

Mas, precisamos ver um segundo ponto. Alguém disse: Jamais existiu um santo sem cicatrizes. Por outro lado, podemos afirmar: Jamais se viu um santo que viva com feridas abertas. Do mesmo modo que não temos santos perseguidores, também não temos santos vítimas. Os salvos louvam. A queixa faz parte de um coral monótono ou dissonante. Paulo e Silas não se sentiam prejudicados no porão interior do cárcere. Eles não viviam para se lastimar. Não podiam perder o tempo precioso com murmurações. Deus não havia perdido o roteiro. Todo o sofrimento que eles estavam passando continuava sob o controle da soberania divina. Nenhuma chicotada ficou registrada no livro das amarguras. Eles nunca foram reféns de ressentimentos. Tinham lanhos nas costas, mas não tinham chagas sangrando na alma. Eram homens cravados na cruz. As marcas que levavam foram gravadas no Calvário. Paulo e Silas não rumorejavam palavras de compadecimento, mas cantavam louvores de gratidão. Eles sabiam muito bem, como afirmou Maltibie Babcock, que o propósito das provações da vida é a edificação, não o nosso prejuízo. Muitas vezes as aflições e perseguições servem como diapasão para nos afinar com o tom da música celestial. Jesus mostrou que as perseguições têm uma importância fundamental no projeto da alegria dos santos. Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Mateus 5:10. Segundo Jesus, a verdadeira felicidade passa pelos muros da perseguição, dentro dos limites da sua justiça. E Ele vai mais longe, quando nos descortina esta realidade sublime na vida de uma pessoa regenerada. Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós. Mateus 5:11-12. Deus nos está trazendo para a sala dos seus tesouros mais valiosos quando, pela sua graça, nos motiva louvá-lo por todos os sofrimentos, bendizê-lo por todas as perseguições e cantar com alegria diante de todas as circunstâncias. Se as perseguições são sinais marcantes de uma verdadeira salvação, a nossa atitude de louvor e alegria ante estas perseguições é a prova interior de que, o mesmo Deus que controla o zodíaco, cuida do protozoário. Logo, não há acidentes nem casualidades na vida de um cristão conformado com a cruz de Cristo. Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Romanos 8:28. Aqui finalizamos com estas palavras de Santo Agostinho: Portanto, nada acontece, a não ser pela vontade do Onipotente; Ele permite que aconteça ou Ele mesmo o faz acontecer. Aleluia!

Solo Deo Glória.

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