Pode um etíope mudar a própria pele? Ou um leopardo apagar
as malhas de que se reveste? E vós, como podereis praticar o bem, se estais
impregnados de maldade? Jeremias13-23 (Versão Católica.)
Há algum tempo temos pensado e falado sobre uma questão muito
difícil de ser tratada no meio cristão contemporâneo, e que tem gerado muita
dificuldade para a igreja de Cristo. Trata-se da diferença que existe entre o
espírito do cristianismo vivido por fé, na dependência total da suficiência e
eficácia da vida ressurreta de Cristo e, a imitação proposta pelo espírito do
cristianismo religioso humanista, o qual tem seus representantes desde o Éden.
Estes depositam no homem e em sua capacidade, a esperança do seu sucesso, e não
na obra perfeita realizada por Cristo na Cruz.
Neste caso, dois questionamentos são importantes para um melhor
entendimento do que queremos dizer. O primeiro está relacionado à razão desta
dificuldade, e o segundo, com o seguinte fato: O que exatamente estamos dizendo
quando usamos a expressão “cristianismo religioso humanista”. A seguir,
tentaremos explicitar estes questionamentos no sentido de facilitar a
compreensão do nosso pensamento.
No primeiro aspecto, que diz respeito à dificuldade da
percepção da diferença entre um e outro, podemos identificar vários motivos.
Porém, vamos destacar apenas alguns. Um deles surge pelo simples fato de que a
chave para o entendimento destes assuntos transcende à razão. Tendo em vista que
o espírito humanista só leva em consideração aquilo que cabe na circunferência
de sua cabeça, fica inviável o entendimento daquilo que somente Deus pelo seu
Espírito pode nos revelar.
A revelação é algo que está em Deus e que por sua Graça ele nos
concede, e não na esfera da sabedoria humana, isto para que não haja orgulho.
Tentar fazer Deus caber dentro do chapéu humano é perversão, como bem ressaltou
um dos teólogos mais respeitados do século 20, nascido em 1886, o suíço, Karl
Bart: “Diante de Deus, não só o mundo, a história e a filosofia, mas
também a religião e a especulação religiosa que se desenvolve são problemáticas,
inautênticas e perversas, porque Deus não é e não pode ser nunca objeto das
faculdades cognitivas humanas...”
Pensar em assuntos relacionados ao Evangelho do Deus e Pai de
nosso Senhor Jesus Cristo é questão de revelação e não de cognição. Falando
sobre isto, tem coisas que podemos passar uma vida tentando explicar a alguém,
sem que o nosso ouvinte chegue ao entendimento do que estamos querendo dizer.
“Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque
lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem
espiritualmente” 1 Corintios 2:14.
Outro aspecto da questão - a dificuldade de fazer a distinção
entre Cristianismo e cristianismo, entre Evangelho e religião - é a mentalidade
do mundo em que vivemos. Mundo de superficialidades e de sincretismos, dominado
pela relativização tirânica da pós-modernidade que, quando extraído o seu sumo,
recolhe-se estricnina com gosto de refrigerante. Este veneno que nos é servido
aos goles, nada mais é do que a negação de Deus e o endeusamento do homem - uma
pretensão que permeia a mente do homem caído.
Onde o homem torna-se a referência, Deus não existe. O máximo
que pode existir, como por exemplo, nos contextos religiosos, é Deus como uma
ideia. E, onde não há Deus, perde-se a referência absoluta da vida. Mergulhamos
assim na proposta idiota e absurda deste mundo, de ser o individuo a referência
de si mesmo, que por sua vez, tem mergulhado a sociedade no caos.
Outro desdobramento disto é que, onde o homem sem Deus toma
para si o lugar de Deus, querendo ser ele a medida de todas as coisas, aí se
instala uma sucursal do inferno. Talvez seja por isto que Jesus chamou a Pedro
de satanás. Quando falava da via única para o homem que é a Cruz, algo que
remete à infâmia e ao fim do homem, foi repreendido por Pedro, que naquele
instante, se viu como referência para Jesus. E Pedro tomando-o de parte
começou a repreendê-lo, dizendo: Senhor tem compaixão de ti; de modo nenhum te
acontecerá isso. Ele porém, voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim
satanás, que me serves de escândalo; porque não compreende as coisas que são de
Deus, mas só as que são dos homens. Mateus 16:22-23.
Assim segue a religião humanista, compreendendo somente aquilo
que diz respeito ao homem e aos interesses humanos. Permeando nossas igrejas,
sendo contados no senso do IBGE como discípulos de Cristo, por chamar Jesus de
Senhor. Tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Foge também
destes. 2 Timóteo 3:5. Eles recorrem à autocomiseração, fugindo da cruz,
manifestando o instinto de autopreservação do homem, homem este que a Bíblia
chama de velho homem.
A religião humanista não admite a queda ou, sutilmente
desvia-se deste assunto, evitando assim confrontar os seus ouvintes com a
verdade, ou seja, que o pecado inutilizou o homem no que se refere ao Reino de
Deus. Sabem recitar Romanos 3:12, mas isto servirá apenas para demonstrar o
quanto foram esforçados na escola dominical, além de ficar evidente a sua
capacidade de decorar textos bíblicos. Na realidade, depois da queda todas as
relações sociais ficaram comprometidas. E este caos, permeia todas as esferas da
sociedade, “ O mundo jaz no maligno” .
A falta de discernimento faz com que este caos possa ser
percebido nas situações em que há uma explicita identificação com o rompimento
daquilo que é moral. Isto porque, depois da queda, o mundo tornou-se polarizado
entre o bem e o mal, e o homem sem Deus passou a ser aquele que determina tanto
um como outro.
Esta via é incompetente para distinguir o que é de Deus e o que
não é. Leiamos então o capitulo 7 de Mateus, a partir do verso 21 até o verso
23. Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas
aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele
dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não
expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes
direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a
iniquidade.
Jesus nos ensina através desta profecia que muitas pessoas que
irão se dirigir a Ele naquele dia, ainda que adequadamente chamando-o de Senhor,
porém vindo pela via das obras humanas e buscando nelas suas autenticações e o
penhor de seus direitos em relação a Deus e seu Reino, encontrão não mais do que
uma repreensão, e serão despedidas como desconhecidas.
O interessante é perceber também, que eles não tinham só um
discurso adequado, eles também traziam consigo muitas obras boas do ponto de
vista da religião cega, falsa e mentirosa, nada além de outras palavras para
significar religião humanista. Traziam a cura de enfermos, por exemplo. Imagine
você entrevado em uma cama com um câncer comendo suas vísceras e alguém vem na
sua direção em nome de Jesus Cristo e lhe restaura-se a saúde. Bom, diria você,
com relação a este.
Imagine também no dia da consumação de todas as coisas, a cara
de espanto de muitos ao ouvir da boca de Jesus com relação aos que lhe curaram,
um sonoro: “ sai de perto de mim seus praticantes de maldades, não sei nem
quem são vocês.” Isto nos ensina que nem mesmo o fato de Deus usar alguém
para o bem, não faz dela uma pessoa boa.“ ninguém há bom senão um, que é
Deus”
Pedro ratifica este ensino no texto de Atos quando, após ter
curado um aleijado de nascença, se viu cercado por pessoas a lhe admirar.
“E quando Pedro viu isto disse ao povo: Varões israelitas, por que vos
maravilhais disto? Ou, por que olhais tanto para nós, como se por nossa própria
virtude e santidade fizéssemos andar este homem? Atos 3:12. A diferença
esta no reconhecimento da impotência humana, e na exalação da gloria divina.
Podemos perceber que no caso dos humanistas, mesmo as obras
sendo boas, o que fica evidente é a cegueira produzida pelo pecado, de tal modo
que, em sua arrogância, não davam glória a Deus. Antes usurpavam a obra que só
Deus poderia ter feito. “Não fizemos nós maravilhas?”, e as
capitalizavam no intuito de requisitar seus direitos por seus serviços prestados
ao Reino de Deus. Como que dizendo: “Admirai-nos, Deus e suas criaturas!” “Vejam
o que por intermédio de nossas virtudes e santidade fizemos nós a estes
homens!”
Jesus deixa claro que não dá mais para usar a bondade moral
como disfarce para ser contado entre os bons, mesmo porque não há bons,
“Ninguém é bom senão um, que é Deus.” Marcos 10:18b. O disfarce é
inútil, a menos que você seja Deus, porém, neste caso você não necessitaria de
disfarce.
A lógica é simples, se você não é Deus, você é mau. Portanto,
carece da misericórdia Divina. E, se você sendo mau, quer se passar por bom
usando a moral religiosa ou aquilo que Deus fez através de sua vida, você é um
humanista. Isto define o que queremos dizer com a expressão “religião cristã
humanista”.
Entretanto, precisamos saber que a implicação por detrás disto
é o fato de que, em assim agindo, estamos querendo usurpar o lugar do único bom
que é Deus. Com isto nos associamos a satanás em sua rebelião quando desejou a
mesma coisa: ser o que não é. Ser Deus. E isto faz com que até as obras
realizadas por nosso intermédio que tenham referência na bondade sejam maldades,
iniquidade, ou seja, pecado.
Para finalizar, recorro mais uma vez à pena de Barth quando
escreve: “A religião é o esforço vão que fazem os hipócritas para se criar
uma verdade sem a graça. Trata-se evidentemente da falta de fé pecaminosa. A
religião cristã não é de fato uma religião e não é de nenhum modo comparável às
religiões pagãs: não se pode fazer outra coisa senão contrapô-la a elas. A fé
cristã verdadeira é fundada na revelação que Deus fez de si mesmo, não na
angustia do homem, em suas capacidades ou em suas experiências dos fenômenos
deste mundo. Tudo vem da fé e a fé vem de Deus; nada vem do homem, porque o
homem caiu: é pecador, é cego. Todas as práticas de piedade com que os que se
dizem cristãos transformam a fé em religião é abominação aos olhos de
Deus.”
Solo Deo Glória.
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O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
sábado, 16 de junho de 2012
PAU QUE PENSA QUE É RETO SÓ DEUS PARA ENTORTAR
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