domingo, 3 de junho de 2012

A CRUZ PRÉ-HISTÓRICA

A cruz é um assunto crucial para o cristianismo. Não há verdadeiro cristianismo sem os efeitos marcantes e permanentes da cruz. É uma grande crueldade para as pessoas, pregar uma mensagem que não focalize a cruz como essencial. O cristianismo sem cruz é mais cruel do que a cruz com sua crueza. Não podemos cruzar a Bíblia sem salientar essa tônica imposta pelos decretos divinos. É um crime atroz contra a humanidade e uma tática ardilosa do inferno procurar omitir a realidade incisiva dos feitos eternos da cruz. O sombrear a cruz, com palavras de sabedoria, é uma maneira de ofuscar a necessidade imperiosa de apresentá-la em sua singularidade. Muitos se referem à cruz, mas poucos a pregam com objetividade. Para uma grande multidão ela é apenas um símbolo, um sinal religioso para designar uma marca. A modernidade cristã vê neste emblema o rótulo de um sistema sem quaisquer das cicatrizes de sua mensagem. Mas essa diluição é um sinistro inominável.
A cruz é um assunto que antecede à criação. Ela faz parte dos planos originais e dos decretos eternos de Deus. Ela não é um incidente de percurso. Não é um fenômeno humano. A cruz faz parte da prancheta divina, antes que houvesse qualquer iniciativa criadora. O apóstolo Pedro mostra que o sangue de Cristo foi conhecido antes da fundação do mundo. Isso significa, que nos desígnios de Deus, a cruz já estava inserida como a certeza dos seus propósitos. A morte do Cordeiro de Deus era a alternativa escolhida na eternidade pretérita para satisfazer as condições da falência humana. Antes que existisse o mundo e o homem fosse criado, Deus já havia providenciado um meio de salvação tão bem projetado, que Ele pode ter misericórdia dos indignos e miseráveis pecadores, promover a paz com eles, sem nenhum prejuízo de sua verdade e justiça. A cruz não é um acidente na vida de Jesus de Nazaré. Ela foi determinada antes da criação, na pré-história do universo, no laboratório das intenções de Deus. O apóstolo Pedro, no seu discurso no dia de Pentecostes, disse: Sendo este entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos. Atos 2:23. Antes que os homens fossem os feitores, Deus era o autor desta crucificação. Não foram os romanos nem os judeus quem projetaram a morte de Jesus. Eles se tornaram meros executores dos intentos de Deus. O plano da cruz antecede a queda do homem. A escada para escapar dos incêndios deve ser projetada antes da construção do prédio. A graça preventiva já havia acionado a libertação do pecado, muito tempo antes que houvesse tempo. E o Cordeiro de Deus já havia sido sacrificado desde a fundação do mundo. Aqueles cujos nomes não foram escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo. Apocalipse 13:8b. Não há qualquer surpresa na trilha do Calvário. Tudo estava planejado desde os primórdios. Jesus não ficou sobressaltado com a idéia da cruz, ainda que, como homem, Ele não quisesse passar por aquele cálice.

Vemos claramente nas Escrituras que Jesus achava-se ciente de sua missão, e que jamais ocultou o objetivo de sua vinda ao mundo. Desde o momento que Pedro fez a confissão espantosa de que Ele era o Cristo, Filho do Deus vivo, Jesus começou a mostrar a seus discípulos que lhe era necessário seguir para Jerusalém e sofrer muitas coisas dos anciãos, dos principais sacerdotes e dos escribas, ser morto e ressuscitado ao terceiro dia. Mateus 16:21. E por várias vezes Ele reafirmou esta proposição. Tudo era muito evidente para Ele. A cruz não lhe era um assombro, ainda que lhe perturbasse. Cristo Jesus sabia muito bem a causa de sua encarnação. Mesmo que sentisse a opressão da cruz, reconhecia que para este momento havia vindo à terra. Agora está angustiada a minha alma, e que direi eu? Pai, salva-me desta hora? Mas precisamente com este propósito vim para esta hora. João 12:27. A cruz não era um tema da história. Era um assunto da agenda celestial. Jesus tinha consciência de sua missão determinada nas eras eternas. Ele sabia que Deus Pai estava por trás de cada detalhe pré-histórico da cruz. E Ele se achava envolvido em todos os pormenores relacionados com a vontade do Pai. Não havia escapatória. O que foi decidido no conselho soberano da Trindade Divina precisa ser executado na manifestação do Deus encarnado. Jesus exclama: É chegada a hora de ser glorificado o Filho do homem. Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto. João 12:23-24. Cristo viveu aqui na terra à sombra da cruz. Ele nunca perdeu de vista a missão salvadora que incluía a radicalidade da sua morte através da cruz, decretada nos anais eternos. Sua perspectiva histórica estava demarcada pelos valores absolutos que foram escolhidos antes da criação.
É preciso esclarecer bem: A crucificação de Cristo é um fato pré-histórico. Faz parte dos decretos eternos. E é uma decisão soberana do próprio Deus, registrada nas Escrituras. Quando Pedro, tomando da espada, tenta defender Jesus desferindo um golpe no servo do sumo sacerdote, o Senhor declara: Como, pois, se cumpririam as Escrituras, segundo as quais assim deve suceder? Mateus 26:54. O Antigo Testamento trazia os pormenores deste episódio nas palavras precisas do profeta Isaías, no capítulo 53. Só faltava a palavra cruz, mas todos os detalhes de sua morte foram bem configurados, desde quando foi levantado até o seu sepultamento. Não há qualquer indício de surpresa na crucificação de Cristo, nem a menor sombra de um evento puramente humano. Jesus foi crucificado por ordem expressa de Deus, a fim de sentenciar juntamente com Ele a humanidade. A crucificação de Cristo foi decretada no céu, antes dos tempos, para se concretizar na história, na plenitude dos tempos. A história apenas agasalhou o que a eternidade projetou.
A Bíblia descreve com exatidão as medidas divinas para a salvação do homem. Do mesmo modo que a raça humana tornou-se pecadora em Adão, assim também, Deus providenciou em Cristo um escape para todos os que nele crêem. Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos os homens, para a justificação que dá vida. Romanos 5:18. A ofensa de Adão recaiu na condenação de todos e este único ato de justiça afirmado aqui, se refere ao ato da crucificação de Cristo, que pela graça foi demonstrado em favor de todos, para que todo aquele que crê, receba plena justificação que produz vida. Somente um Deus justo poderia antes da criação providenciar um remédio capaz de salvar o homem do seu pecado, sem desconsiderar a sua justiça nem abandonar sua misericórdia. A verdade substancial do Evangelho está configurada no amor de Deus revelado antes da fundação do mundo. O pecado não imobilizou o plano de Deus, nem o deixou pasmo ante seu assalto. Deus não é o autor do pecado, mas este não o tornou perplexo. Não há espanto nos planos divinos. Muito antes do acidente Ele já havia providenciado a medicação. O Cordeiro de Deus foi imolado muito antes que o pecado tenha sido instaurado. A cruz antecede a criação e o surgimento do pecado. A salvação precede a queda. No Evangelho, a cura vem antes da doença. Deus tomou a iniciativa de garantir o hábeas corpus antes que houvesse a prisão. A alforria foi assinada antecedendo a escravidão. A cruz é uma dádiva da presciência de Deus para satisfazer o fracasso da desobediência humana. A cruz é atemporal. É eterna. Ela aponta para o caráter misericordioso de um Deus justo que propôs a solução antes que existisse o problema. Louvado seja o Deus da cruz, a fim de podermos nos gloriar na cruz de Cristo.

Solo Deo Glória.

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