“Ora,
disse o Senhor a Abraão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai
e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te
abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma benção! Abençoarei os que te
abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as
famílias da terra.” Gênesis
12.1-3
Wilbert Shenk,
professor de cultura contemporânea do Seminário Teológico Fuller, escreveu que
“vida, liberdade e busca de felicidade” tornaram-se marcas da cultura moderna.
Comentando sobre a cultura ocidental, ele observa que é uma cultura pressionada
pela busca de auto-estima, e que a tentação de “ser como Deus” assumiu na
cultura moderna a forma de fazer de si próprio o alvo. No que se refere a sociedade brasileira,
segundo Rubem Amorese, consultor legislativo do Senado Federal do Brasil e
secretário nacional da Associação Evangélica Brasileira, a ética brasileira
desenvolveu traços em que as pessoas não querem fazer sacrifício algum, e nem
mesmo serem disciplinadas. Vantagens, jeitinho brasileiro, prestigio e poder são
valores que caracterizam o caráter do brasileiro. A Igreja de
nossos dias tem espelhado a sociedade na qual está inserida. Vivemos em uma
sociedade hedonista e narcisista. A tendência cultural é valorizar o prazer, a
realização pessoal e o sucesso a qualquer custo. A Igreja nem sempre tem
discernido o seu cativeiro cultural e, muitas vezes, tem reproduzido valores
incompatíveis com os princípios divinos. Tal como o povo de Israel, no
cativeiro, incorporava os valores da nação dominante, também a Igreja tem
recebido o impacto da cultura moderna sobre o seu pensamento e a sua
prática. Poucos dias atrás um
missionário, após ter relatado as experiências e os desafios do trabalho entre
os indígenas, foi abordado por um crente com a seguinte afirmação. “Para fazer
tudo isso, é porque você é um herói”. O missionário humildemente balançou a
cabeça de um lado para o outro e respondeu: “Eu, herói? Não! Sou apenas
obediente.” Este acontecimento revela
compreensões distintas sobre o chamado de Deus em Cristo para o seu povo.
Ao escrever à igreja de Èfeso, o apóstolo Paulo expressa o seu anseio em ver a
Igreja compreendendo qual é
“ a esperança
da vocação de Deus e quais as riquezas da glória da sua herança nos
santos”. Ef.
1.15-22. Pois o apostolo Paulo sabia que uma compreensão equivocada do chamado
da Igreja, implicaria em um sério comprometimento no“andar como é digno”
de sua vocação.
“A esperança do Seu
chamamento” é o
maravilhoso propósito de Deus para todos os santos, tanto individual como
corporativamente. No livro de Gênesis, capítulo 12, encontramos Deus chamando
Abraão dentre os habitantes de Ur dos Caldeus para participar do Seu propósito
eterno em relação à humanidade. Um olhar mais atento sobre a fidelidade e a
graça de Deus chamando Abraão, com certeza nos ajuda a redefinir a nossa
compreensão e a nossa resposta ao chamado de Deus. A Bíblia apresenta Abraão como um exemplo do
que a graça pode fazer, e de como atua silenciosamente, de dentro para fora,
infundindo fé na alma humana e a desenvolvendo
em meio aos embates da vida. Em Gênesis capitulo 12 encontramos o
que se chama de Aliança Abraâmica. Ela está ligada ao plano redentor apresentado
em Gênesis 3.15. O Redentor deveria vir do descendente da mulher, depois dos
descendentes de Sete, de Noé e agora de Abraão. Aproximadamente um quarto do
livro de Gênesis é devotado à vida deste homem. São feitas mais de 40
referências a Abraão no Velho Testamento. O Novo Testamento de forma nenhuma
diminui a importância da vida e do caráter de Abraão. Há aproximadamente 75
referências a ele no Novo Testamento. Paulo escolheu Abraão como o melhor
exemplo do homem que é justificado diante de Deus pela fé e não pelas obras
(Romanos 4). Já o escritor aos Hebreus aponta Abraão como exemplo de um homem
que andava pela fé, dedicando mais espaço a ele do que a qualquer outro
indivíduo no capítulo onze (Hebreus 11:8-19).
Nas férteis
terras da Mesopotâmia havia uma bela cidade.
Era a cidade capital de nome Ur,
também conhecida como “Ur dos
Caldeus”. A sua população vivia
mergulhada
Abrão era
mais um na multidão, um anônimo para o mundo. Todavia a Graça de Deus o
alcançou. Não é de se
estranhar que Deus ordenasse a Abrão para deixar a sua terra, a sua parentela e a casa de seus
pais (Gênesis 12:1)! Era preciso romper o cordão umbilical com qualquer
mentalidade corrompida pela ausência de Deus. Assim também é conosco. Antes de
conhecermos o verdadeiro Deus, podíamos buscar consolo, sentido e proteção em
muitas outras coisas ou pessoas - ídolos de nossa devoção. Porém, quando nos é
revelado a Glória de Deus no rosto de Jesus, o Espírito Santo inicia um processo
de iconoclastia em nosso viver, fazendo com que nada possa receber maior devoção
do que o Senhor Jesus
Cristo.
O chamado de Deus envolve renúncia.
Muitas vezes significa ser desalojado da zona de conforto, deixar a estabilidade
e a segurança, para trilhar o caminho da fé onde a provisão e o cuidado vêm
direto das mãos de Deus. A partir de relatos paralelos de Gênesis 12 podemos
concluir que Abrão teve dificuldades em obedecer prontamente o chamado divino.
De acordo com o descrição de Estevão, o primeiro mártir cristão, Abrão teve uma
visão celestial.“O Deus da glória
apareceu a nosso pai Abraão, estando na Mesopotâmia, antes de habitar em Harã, e
disse-lhe: Sai da tua terra e de entre a tua parentela, e dirige-te á terra que eu te mostrar. Então
saiu da terra dos caldeus, e habitou
O
resultado desta comunicação é
apresentado em Gênesis capitulo 11.31.
“E tomou Terá a Abrão seu filho, e a Lo filho de Harã, filho do seu filho, e
a Sarai sua nora, mulher de seu filho Abrão, e saiu com eles de Ur dos Caldeus,
para ir à terra de Canaã; e vieram até Harã
e habitaram ali... e morreu Terá
Abraão somente se pôs a caminho
depois da morte de seu pai. Foi a morte que quebrou o laço pelo qual a natureza
o prendia à terra de Harã. Do mesmo modo, no nosso caso, foi a morte de Cristo
que operou a nossa separação deste mundo. “... o qual se entregou a si mesmo pelos nossos pecados, para nos
desarraigar deste mundo perverso.” Gálatas 1.4 Portanto, devemos compreender a verdade que,
a morte de Jesus significou a nossa morte e que a sua ressurreição é a nossa
vivificação. O Filho de Deus suspenso na cruz, entre o céu e a terra, foi a
forma que Deus usou para atrair os pecadores para Si mesmo, removendo o pecado e
os colocando dentro dos seus propósitos eternos. Jesus crucificado é a maior
benção de Deus para os pecadores.
O chamado de Deus em Cristo inicia
com a cruz e continua sob a cruz. Segundo
C. H. Mackintosh, a cruz é a base
de nossa adoração e a base do nosso discipulado, da nossa paz e do nosso
testemunho, da nossa afinidade com Deus, e da nossa relação com o Mundo. A Cruz
de Cristo está presente nas duas grandes
fases fundamentais do supremo chamado. A primeira fase é a obra da cruz, a qual
estabelece a paz com Deus. Pela cruz
Deus tratou com o pecado de tal maneira que Se glorifica a Si Próprio,
infinitamente. Nesta primeira fase da vida cristã, a cruz aparece como o
fundamento da paz do pecador, a base de sua adoração, e do seu eterno parentesco
com Deus.
Na segunda fase, a cruz aparece como
base de nosso discipulado prático e testemunho. Tão perfeita como o primeiro
momento, a mesma cruz que me liga com Deus separou-me do mundo. Um homem morto
está morto para o mundo, porém, ressuscitado com Cristo, está ligado com Deus no
poder de uma nova vida, uma nova natureza. As duas coisas andam juntas. A
primeira faz dele um adorador e cidadão
do céu, a segunda torna-o uma testemunha e um estrangeiro na terra. A cruz
opera a separação entre mim e os meus pecados, e também opera separação
do mesmo modo entre mim e o mundo. O apostolo Paulo dizia que a sua glória
repousava somente “... na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o
mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo” Gálatas 6.14 Como seria diferente se todos os
cristãos compreendessem o poder prático destes dois aspectos da cruz de
Cristo.
Andar pelo caminho da fé foi um
aprendizado para Abraão . Não sabemos por quanto tempo Abraão se demorou em
Harã, mas sabemos que Deus esperou pacientemente pelo seu servo. Deus queria
aperfeiçoar a fé de Abraão e não poderia fazer isto se não lhe desse liberdade
para ele fracassar. C.H. Mackintosh escreveu. “Deus nunca nos arrastará ao longo do
caminho do verdadeiro discipulado. Isto não estaria de conformidade com a
excelência moral que caracteriza todos os caminhos de Deus. Ele não nos arrasta,
mas atrai-nos ao longo do caminho que conduz á bem-aventurança inefável nEle
Próprio”.
Nós normalmente calculamos os
sacrifícios, impedimentos, e as dificuldades em vez de corrermos ao longo do
caminho, com alegria e vivacidade de alma, como aqueles que conhecem e amam
Aquele cujo chamado tocou os seus corações. Existe verdadeira benção para a alma
em cada ato de obediência, pois a obediência é o fruto da fé, e a fé liga-nos a
Deus e leva-nos a uma comunhão viva com Ele. A fé à qual somos chamados não é
uma fé em um projeto, mas numa Pessoa. “ Pela fé, Abraão, quando chamado
obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança; e partiu sem
saber onde ia” Hebreus 11.8.Mas, o
que é viver pela fé? Viver pela fé é saber onde começa a jornada , mas não onde
termina. Ter que depender de Deus a cada passo e a cada momento. Abraão andou por fé e não por
vista.
Deus prometeu a Abraão uma terra,
uma grande nação através dos seus descendentes e uma bênção que alcançaria todas
as nações da terra (12.2,3). “... em ti serão benditas todas as famílias da
terra”. Essa é a maior de todas as promessas dadas a Abraão porque diz
respeito ao Senhor Jesus Cristo. Deus estava prometendo que um dos descendentes
de Abraão seria o Messias, e que todas as famílias de todas as nações seriam
abençoadas através do seu descendente. O Novo Testamento ensina claramente que a
última parte dessa promessa cumpre-se hoje na proclamação missionária do
evangelho de Cristo. “Ora, tendo a
Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o
evangelho a Abraão: Em ti serão abençoados todos os povos.” Gl 3.8.
Além disso, o chamado de Abraão
envolvia não somente uma pátria terrestre, mas principalmente uma celestial. Sua
visão do Deus da Glória fez com que enxergasse
as coisas da terra como mera ilusões. “Pela fé peregrinou na terra
da promessa como em terra alheia,
habitando em tendas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa;
porque aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e
edificador.” Hb. 11.9-
Solo Deo Glória.
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O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
quarta-feira, 20 de junho de 2012
O CHAMADO DE ABRAÃO
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