sábado, 30 de junho de 2012

A MEDALHA DE BRONZE

"Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo." Filipenses 2:3.
Os seres humanos, violentados no jardim do Éden por um sentimento de grandeza, ficaram intoxicados por um profundo anseio de projeção. A raça adâmica, daí em diante, tornou-se fascinada por um lugar de destaque no pódio. Somos uma espécie caçadora de troféus, que não se contenta com o segundo lugar.O gênero do pecado é um modelo de excelência à cata de notoriedade. Na medicina pode-se perceber a virulência de uma enfermidade pela temperatura do corpo. Quanto mais alta for a febre, mais aguda é a infecção. Do mesmo modo, a grande excitação emocional em busca de reconhecimento próprio revela a gravidade espiritual de qualquer sujeito. Se você quiser diagnosticar a seriedade do pecado em sua vida ou de outra pessoa qualquer, observe o nível de rebeldia e a nota de destaque que fervilha no seu íntimo ou dessa outra pessoa. Sei que, do ponto de vista do pecado, ninguém é mais pecador do que outro, assim como nenhum cadáver é mais morto do que qualquer outro defunto. Contudo, um cadáver em putrefação é bem mais repugnante do que um corpo ainda quente.O agravamento do pecado pode ser mais percebido nos rompantes da auto-estima. Quanto mais necessidade de consideração alguém exibe, mais se pode considerar grave o quadro da teomania. Toda pessoa que necessita de lambidela ou requer alguma forma de palanque para ostentar seus méritos está profundamente inchada de si mesmo.A carência emocional sempre se volta para as táticas de manipulação. Muitas vezes os lobos se convertem em cordeiros e os sujeitos mais arrogantes se transformam em vultos aparentemente humildes. Não é raro encontrar um povo avarento disfarçado em trajes de mendigo e gente soberba com cara de piedosa. Mas a questão é mais profunda. Todos nós precisamos, à luz da palavra de Deus, analisar as verdadeiras intenções do nosso coração. Há muitos atos corretos movidos por atitudes suspeitas. Sendo assim, precisamos urgentemente da graça de Deus para examinar o nosso interior. Porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. 1 Coríntios 11:31. Sei que muita coisa espiritual tem na sua base um carnegão hediondo, que só o Espírito Santo pode revelar e remover.Veja o ponto que o apóstolo Paulo está martelando no texto que serve de alicerce para o nosso estudo. Qual é a motivação do meu e do seu desempenho? O que está por trás da minha e da sua conduta? Qual é a verdadeira intenção do meu e do seu papel na edificação da igreja?Ele usa duas palavras: partidarismo e vanglória. Aqui vemos a marca de um câncer comunitário. A igreja de Jesus Cristo é um só corpo, e só a paz de Cristo pode arbitrar a unidade desse corpo. "Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração, à qual, também, fostes chamados em um só corpo; e sede agradecidos." Colossenses 3:15. Cristo não tem uma multidão de corpos. Ele tem apenas um corpo, a sua igreja. O partidarismo é o sinal de uma concorrência sintomática de criancice. Na intensidade da competição há sempre um desejo maior de preferência que denota a birra da imaturidade e da falta de visão do que é a unidade espiritual. Paulo mostra a presença desse jogo sujo no seio da igreja de Corinto, denunciando as contendas de um povo egocêntrico e deformado. "Refiro-me ao fato de cada um de vós dizer: Eu sou de Paulo, e eu, de Apolo, e eu, de Cefas, e eu, de Cristo." 1 Coríntios 1:12. Esse sectarismo é visto pelo apóstolo como uma desfiguração do corpo de Cristo, e ele faz uma pergunta instigante: Acaso, Cristo está dividido? Foi Paulo crucificado em favor de vós ou fostes, porventura, batizados em nome de Paulo? 1 Coríntios 1:13.Todas as vezes que nos rebelamos contra o princípio do amor, caímos na via dolorosa do desconcerto. Não estamos falando de uniformidade nem de unanimidade, mas de coesão. Sto. Agostinho foi genial quando disse: Nas coisas essenciais – unidade; nas coisas não essenciais – liberdade; em todas as coisas – caridade, ou amor. D L Moody afirmou certa ocasião: Há duas maneiras de união intrínseca da matéria: o congelamento e a fusão. Os cristãos, contudo, precisam ser unidos em amor fraternal. A prostituta, mãe da criança que foi levada a Salomão, para julgar sobre a maternidade, não permitiu que o bebê fosse despedaçado. O amor não favorece as desavenças e divisões mesquinhas que as mentes estreitas, lamentavelmente, promovem.O facciosismo não é característica dos filhos de Deus. Tiago foi muito enfático quando sustentou: "Se, pelo contrário, tendes em vosso coração inveja amargurada e sentimento faccioso, nem vos glorieis disso, nem mintais contra a verdade. Esta não é a sabedoria que desce lá do alto; antes, é terrena, animal e demoníaca." Tiago 3:14-15.Está claro que o espírito contencioso é um estímulo do inferno. Por outro lado, a apreensão com a medalha de ouro é uma forte excitação à vanglória. Atrás do partidarismo encontra-se o vírus da proeminência e sob o pálio da supremacia vibra a vanglória.A serpente envenenou a espécie humana com o desejo de ser o primeiro. Vivemos lutando com o instinto de privilégio, por isso a medalha de ouro exerce um fascínio para o raquitismo de nossa alma. Queremos o primeiro lugar. "Jesus reparando como os convidados escolhiam os primeiros lugares, propôs-lhes uma parábola:" Lucas 14:7. Temos uma obsessão pelos lugares de destaque e sofremos com a medalha de prata. Mas no Reino de Deus a medalha de ouro pertence apenas ao Senhor. Ele é o primeiro e o último. Assim diz o SENHOR, Rei de Israel, seu Redentor, o SENHOR dos Exércitos: Eu sou o primeiro e eu sou o último, e além de mim não há Deus. Isaías 44:6. Jesus Cristo é o único Senhor que ocupa o lugar de honra. Ele é o detentor da medalha de ouro, por isso, toda glória seja dada a ele.A medalha de prata pertence aos outros. O apóstolo disse: considerando cada um os outros superiores a si mesmo. O cristianismo resumiu os mandamentos de Moisés a dois: amar a Deus, em primeiro lugar, acima de tudo e de todos e, o segundo ou novo mandamento, amar o outro como Jesus nos amou. O meu próximo é o detentor do segundo lugar, e, conseqüentemente, da medalha de prata. "Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros." Romanos 12:10. Então, o que sobra para nós é a medalha de bronze. Aqui estão as normas da premiação: primeiro, a glória de Deus. "Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus. 1 Coríntios 10:31. Sabemos, através de Jesus, que o Reino de Deus é preferencial. "Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Mateus 6:33.Logo depois vem a honra aos outros. "Tratai todos com honra, amai os irmãos, temei a Deus, honrai o rei." 1 Pedro 2:17. O protocolo da diplomacia divina privilegia os outros com as deferências especiais do amor que edifica. Aquele que ama trata com distinta consideração todos os homens e principalmente os irmãos. Em terceiro, surge a nossa alegria de poder viver glorificando ao nosso Senhor e servindo aqueles, por quem o Senhor morreu e que nós, por sua causa, também amamos. Na lista da estimação nós ocupamos a terceira colocação. Nas Olimpíadas de Atenas do ano passado, o maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima deixou o mundo admirado, com o seu fair-play, diante do transtorno causado por um irlandês pirado, que conseguiu detê-lo por alguns instantes. Cordeiro, nome sugestivo, que vinha dominando a prova com vantagem, ficou na terceira posição, com a medalha de bronze, mas entrou no estádio como o vencedor. A sua modéstia foi ressaltada mundialmente como o grande troféu dos jogos olímpicos de 2004.A gramática faz a flexão das pessoas do discurso em três categorias. A primeira pessoa é a que fala, representada pelo pronome pessoal eu, no singular, e nós, no plural. A pessoa, com quem se fala, tu ou vós, é a segunda pessoa ou o receptor; enquanto a terceira pessoa, de quem se fala, além do número exibe também o gênero, ele, ela, eles, elas.A ordem gramatical aqui é muito autocentrada, já que o "eu" encabeça a lista e o individual vem antes do coletivo. Ainda mais, essa ordenação não é nada elegante, uma vez que "ele" vem na frente "dela". Talvez devamos sugerir uma nova arrumação dos pronomes de acordo com a avaliação na estrutura celestial. Do ponto de vista da relação com Deus, me parece que Tu, apesar de ser a pessoa com quem se fala, é a primeira na composição. E por sua vez, também não tem plural. Mesmo sabendo que Deus é trino, sua trindade é triuna. Não há três deuses na revelação bíblica. Tu, pois, representa a medalha de ouro da unidade divina.Os outros são o coletivo da segunda pessoa, nessa nova disposição. A igreja é formada de muitos membros e a unidade do corpo, produzida pelo Espírito Santo, é baseada na estima que nós temos uns pelos outros. Para Paulo há dois pontos importantes na manutenção da unidade. "Esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz; acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição." Efésios 4:3 e Colossenses 3:14.Não há unidade sem paz e amor. Não há paz sem humildade e não há amor sem mansidão. Ninguém pode ser dono da verdade, mas todos podem, mediante a graça, se colocarem à disposição do Espírito para serem sempre parte da resposta dos problemas e nunca parte dos problemas. O novo eu, isto é, a vida de Cristo dirigindo a minha existência é a terceira pessoa desse modelo descongestionado da arrogância sufocante. A medalha de bronze não é um prêmio de consolação, mas o maior galardão de uma vida crucificada.

Solo Deo Glória.

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