Porque a nossa luta não é contra o sangue e a
carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste
mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes.
Portanto, tomai toda a armadura de Deus,
para que possais resistir no dia mau e, depois de terdes vencido tudo,
permanecer inabaláveis. Efésios 6:13-14.
1876. Don Capricio, bispo
católico romano, ministrava a palavra inicial na convenção regional hospedada em
Taranto, sul da Itália, quando afirmou que A Missio Dei, pela sua supremacia
bíblica, dispensa a Missão da Igreja. Somos apenas contempladores das maravilhas
do Deus que faz . Apesar da ênfase deísta gostaria de, após 122 anos,
contestar esta proposta eclesio-missiológica que apoderou-se etogenicamente da
nossa consciência cristã pós moderna. A Igreja não é um membro contemplativo do
Reino de Deus, excluída da Missio Dei e chamada a ser exangue, alienada,
sem vida e sem paixão. Ela é parte do Projeto de Redenção escrito pelo Senhor
para a salvação de todo aquele que crê.
Don Capricio entretanto não se
distância muito da errática tendência cristã atual que tenta incluir-se nas
bênçãos do evangelho e auto excluir-se de sua prática: a anti bíblica vontade de
ver a terra arada sem por as mãos no arado.
Revestida
de Autoridade. Mas para que ?
1ª Cena: Lucas 11:21,22 expõe
sobre o valente – ischuros: alusivo a Satanás – o qual bem
armado – kathoplismenos: pronto para guerrear, guarda a sua própria
casa mantendo suas posses em segurança quando surge então o mais valente
– ischuroteros: o próprio Jesus, o qual luta e derrota o inimigo e
tira-lhe a armadura panoplian: proteção na qual confiava passando a dividir os
despojos.
2ª Cena: Efésios 6:12,13.
Enfatiza que a nossa luta não é contra sangue e carne aima kai sarka’: o
conjunto das tendências humanas, mas sim contra toda uma nefasta manifestação
espiritual do mal tais como principados archas: tiranos que se auto
nomeiam príncipes; potestades exousias: forças de combate e dominadores
deste mundo tenebroso kosmokratoras:estrategistas do mal; e logo após
exorta-nos a tomar a armadura panoplian: proteção de Deus para termos
vitória até no dia difícil.
Lucas 11 e Efésios 6. São os
dois únicos textos onde armadura Panoplian aparece no Novo Testamento
neste sentido. Panoplian entretanto não se refere a uma simples armadura.
No contexto romano soldados comuns usavam armaduras elekoi para proteção, forjadas de metal que cobriam
parte do corpo do guerreiro. Porém Panoplian refere-se a armaduras usadas
por oficiais com o brasão do Imperador que além da proteção indicavam a
autoridade daqueles que representavam ali os interesses do Império. É fácil
imaginar que esta marca de autoridade possuía mais que um objetivo simbólico. Em
meio ao afã da batalha o brasão do Império lembrava porque estavam ali.
Inspirava. Indicava o caminho. Concedia um motivo pelo qual lutar, ou morrer.
Mas, acima de tudo, trazia sobre si todo o peso da própria pessoa do Imperador e
a letalidade do seu Império. Levantar uma espada contra um oficial de César
seria uma afronta ao próprio César pois por César havia sido enviado. Residia aí
toda a raiz de autoridade e confiança dos que vestiam a Panoplian de César numa
guerra romana.
Estes dois textos chamaram-me a
atenção quando traduzia o livro de Lucas para o Limonkpeln, um dos
dialetos Konkombas e, após realizar a primeira prova de leitura para os
líderes nativos da nossa igreja em Koni, um deles perguntou-me: temos
autoridade do Senhor em nossas vidas porque Jesus venceu. Isto eu entendo. Mas
autoridade para que ? Em nossa cultura somente revestimos alguém com a
autoridade do chefe quando ele é enviado a uma missão especial como adentrar uma
aldeia inimiga, representar o seu povo no nyuinn (uma festa para
guerreiros de todas as aldeias da região) ou quando alguém, durante um conflito
tribal, vai até a terra rival dar uma mensagem de paz. Quem não corre riscos não
precisa de autoridade”. Era um presbítero, representante de um povo até quatro
anos atrás totalmente intocado pelo evangelho que, mesmo sabendo apenas os
rudimentos da Palavra, percebia que a autoridade do Senhor sobre a Igreja tem um
objetivo: proclamar o Reino de Deus; e assim perguntava: autoridade para
que ?
Para
chamar, até a última fronteira:
A Igreja do Senhor Jesus foi chamada
a exercer, e não contemplar, sua autoridade. Fomos revestidos da
Panoplian de Deus não para nos tornarmos um corpo fechado em si próprio
residindo em terra firme, mas para uma Missão como forasteiros e peregrinos em
lugares incertos. A Palavra nos incita a arar, salgar, iluminar, transformar,
proclamar, instar, pregar a tempo e fora de tempo tanto aos de perto quanto aos
de longe, chamar até à última fronteira. Precisamos desregionalizar a Igreja e o
compromisso com o evangelho, e para isto é necessário sacramentalizarmos mais os
santos e menos os templos. Missões não pode ser um programa eclesiástico – é a
forma de viver da Igreja.
A Palavra expõe que muitos são
chamados e poucos escolhidos. As vezes creio que é necessário discutirmos
menos sobre a Missão de Deus – escolher – e exercermos mais fidelidade sobre a
Missão da Igreja – chamar. E chamar com autoridade tanto os de perto quanto os
de longe. É certo porém que há muito o que chamar.
Longe. Há ainda em nossos
dias cerca de 8.000 PNAs (Povos Não Alcançados), 300 milhões de
aborígenes que nada sabem de Jesus (e isto é quase o dobro da população de todo
o Brasil), mais de 300 ilhas onde mais de 90% de seus habitantes nunca receberam
sequer um testemunho do evangelho de Cristo e 4244 línguas sem sequer João
3:16 traduzido em seu idioma.
No norte africano e mundo oriental há em média apenas 1 missionário para cada 7 milhões de habitantes, em diversos países mais de 200 grupos nômades permanecem ainda intocados pelo evangelho e apenas ao meu redor, entre os Konkombas, posso nomear pelo menos 40 aldeias com uma população total de 50.000 pessoas que nunca, sequer uma só vez, ouviram o nome Jesus. É necessário chamar.
Perto.
Em
Santidade de vida:
Voltando ao Brasil em 1996 após 3 anos na
África vi pela primeira vez
A autoridade cristã baseia-se
naquilo que somos e naquilo que somos chamados a ser: nação santa. É necessário
desassociarmos a Panoplian, autoridade de Deus, da figura única de uma
Igreja lutando face a face com o Diabo. A Panoplian de Deus antes de mais
nada deve ser exercida quando nos trancamos em nossos quartos, confrontamos a
nossa fé com aquilo que experimentamos em nossas vidas, tratamos o pecado como
pecado, choramos as lágrimas amargas do pecador, somos perdoados, transformados,
nos renovamos no Senhor, o Espírito Santo aponta o caminho, seguimos, saímos do
quarto novos e limpos outra vez. Somente uma Igreja santificada em seu quarto
alcançará os homens no mundo.
Antes de servir para expor o
evangelho de Deus, a Igreja foi revestida de autoridade para ser santa, fiel e
viver toda a plenitude do evangelho. Não somos abages gauleses sujeitos às
intempéries dos astros. Somos servos de um Deus que sabe o que quer. E ele quer
usar um povo que seja santo.
Contra
Principados e Potestades:
A Palavra diferencia o Império
das trevas e Reino da luz
onde Império pressupõe um poder imposto, usurpado e mantido pela tirania
enquanto Reino retrata um poder reconhecido e legitimamente instalado.
Efésios 6:12 expõe que a raiz da luta na qual estamos inseridos
não é contra as expressões humanas mas sim contra as raízes malignas. Pinta-nos
o quadro do Império satânico: a guerra pela ilegítima possessão daquilo que
nunca lhe pertenceu: o coração do homem.
Três anos atrás estava evangelizando
uma nova área entre a tribo dos Konkombas, ao norte de onde estamos, em
uma região na época totalmente isolada e remota chamada Molan. Após um
culto pela manhã conversava com os recém-convertidos quando subitamente um homem
possesso veio ao nosso encontro. Labuer, um dos presbíteros da igreja em
Koni, levantou-se dizendo para continuarmos que ele lidaria com o
assunto. Levantei-me surpreso quando, atônitos, percebemos que aquele homem não
estava falando em Limonkpeln, o dialeto Konkomba da região.
Aproximei-me e ele passou a falar comigo em um belíssimo inglês com sotaque
britânico. Em que língua ele está falando ? – perguntavam todos ao redor. Em
Likal – respondi. Likal para os Konkombas é a língua do
Ukalja – homem branco – e era nestes dias totalmente desconhecida na
região de Molan. Aquele homem olhou para mim e lançou-me duas perguntas:
Você pensa ser o único que estudou teologia ? Você pensa ser o único que estudou
grego ? Eu também entendo de teologia e grego !
Após uma palavra de autoridade o
homem foi liberto e fomos à sua palhoça orar por ele e sua família. Sentado
entretanto na canoa de volta para Koni fiquei a pensar. O demônio que
falava inglês britânico conhecia até mesmo minha formação teológica e
lingüística. Veio à minha mente Efésios 6:12, os dominadores deste
mundo tenebroso – Kosmokratoras.
Kosmokratoras é um termo
grego que se refere a grupos de estrategistas helênicos que reuniam-se durante
épocas de guerra, sentados em uma mesa redonda, com o objetivo de estudar as
informações e traçar planos de sabotagem contra o exército inimigo. O Espírito
Santo decidiu usar esta mesma palavra, Kosmokratoras, para seres
espirituais a qual foi traduzida pomposamente como dominadores deste mundo
tenebroso em português e que aponta para um grupo de seres malignos o quais,
cientes da situação do inimigo no caso o Reino de Deus traçam planos de
sabotagem contra a Igreja que avança.
Funcionalmente Kosmokratoras
expõe um grupo maligno organizado contra a expansão do evangelho e não um grupo
desatinado de demônios voando aleatoriamente para todos os lados em atitudes
impensadas. Porém até mesmo neste quadro temos a Panoplian de Deus sobre
nós.
Neste contexto seria fácil cairmos
na tentação de espiritualizarmos toda a Missão da Igreja, entretanto o
verso 20 coloca novamente os nossos pés no chão: Paulo preso, em
prisão humana, almejando tão somente abrir a sua boca e falar a outros do
evangelho de Cristo. Lembra-nos que nossa luta não é contra o sangue e a carne
mas é pela libertação do sangue, carne e espírito que lutamos, para a glória de
Deus.
Solo Deo Glória
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O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
domingo, 3 de junho de 2012
A ARMADURA DE DEUS E O PANOPLIAN DE DEUS
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