sábado, 23 de junho de 2012

A COR AGE NA CORAGEM

Porque Deus não nos deu o espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação. 2Timóteo 1:7.
Há muita gente reagente e paspalha. A vida passa sob os olhares amortecidos dos espíritos dominados pela inércia. São pessoas sem iniciativa, e que se deixam abater pelas circunstâncias avessas desta vida. Não são agentes na história, mas meros reagentes passivos no projeto da existência. São vítimas dormentes da marcha dominante na correnteza, que simplesmente se submetem ao conformismo determinado pelos governantes do processo. Meros fantasmas na sociedade.
Mas há muita gente agente e realizadora. São os bandeirantes da vida que solicitam o progresso com a iniciativa regida pela valentia. Estes cabeças da história não se deixam dominar pelos momentos adversos, pois sempre esperam uma nova perspectiva para o futuro. Assim, os homens de vanguarda jamais permitem o hasteamento da bandeira pessimista do insucesso, pois a sua confiança em Deus nunca fica paralisada nos limites da morte.
É neste contexto que somos levados a admitir que o verdadeiro cristianismo não tem lugar para os palermas e indolentes. O conformismo asfixiante e o comodismo estúpido não se coaduna com o espírito do evangelho de Jesus Cristo. Não estamos falando da tirania desenfreada do desenvolvimento a qualquer custo. Não é nosso objetivo confundir progresso integral com simples acúmulo financeiro. O progresso que deve merecer nossa atenção envolve o homem total. É preciso que nós encaremos o homem em todas as suas dimensões, para então considerar todas as suas etapas de evolução. Não basta enfocar o aspecto econômico ou intelectual apenas, pois o ser humano tem suas necessidades psicológicas e espirituais que carecem de uma abordagem ampla. Amado, desejo que te vá bem em todas as coisas, e que tenhas saúde, assim como vai bem a tua alma. 3João 2.
A vida cristã engloba o ser humano em todas as suas áreas. O desenvolvimento da experiência de salvação assume proporções integrais no homem total. Não é apenas o lado espiritual que passa por mudanças radicais, mas também a vida emocional e física de qualquer que se submete aos efeitos soberanos da graça de Deus.
Todos aqueles que foram marcados pelo poder miraculoso da perfeita regeneração em Cristo Jesus estão determinados a viver sob os auspícios de uma vida corajosa. Não estamos falando em desatinamento. Coragem não é afoiteza. Muitos confundem coragem com audácia disparatada. A coragem é uma virtude somente na proporção em que é dirigida pela prudência. Sem moderação, a coragem se torna num atrevimento perigoso e sem os requisitos do equilíbrio necessário para a conquista dos nossos objetivos. Ninguém é mais temerário do que aquele que assume uma posição de ousadia sem temperança. Há um risco fatal na intrepidez sem cautela. Porém, não se pode imobilizar a coragem na covardia. É muito comum vestir as atitudes de pusilanimidade e tentar mostrar que isto é uma real demonstração de prudência. Não é conveniente considerar o acanhado e tímido como uma pessoa recatada, nem a cobardice como um gesto de profunda serenidade.
A coragem é a postura de grande convicção diante dos valores mais significativos da vida, que assume uma atitude de enfrentar a crise da maneira correta, mesmo que isto lhe custe um preço muito alto. A coragem não significa viver sem medo, mas viver acima do medo, através da fé em Deus. Deste modo, os homens corajosos não ficam lívidos ou descorados, mas rubros de confiança e determinação. Eles não perdem o sangue com medo das reações e conseqüências, pelo contrário, se revestem de firmeza e buscam conquistar com poder, amor e moderação os objetivos superiores pelos quais estão lutando. O homem de coragem é um homem que não perde a cor nos momentos cruciais. É covardia calar quando se faz necessário falar, ou gritar quando se deve fazer silêncio. Assim, a coragem não consiste em arriscar sem medo, mas em estar decidido quanto a uma causa justa. Um cão late quando seu dono é atacado. Eu seria um covarde se visse a verdade divina ser atacada e continuasse em silêncio, sem dizer nada. Neste período histórico em que a Igreja cristã vem passando por momentos de grandes ataques e distorções, seria covardia de nossa parte assistir a este quadro de uma maneira conivente e passiva.
Há ocasião em que o silêncio é ouro, mas há outras em que é pura covardia.
Calar nos momentos impróprios é um desastre terrível. Não é normal ficar passivo quando o incêndio inicia o seu estrago. Não podemos dormir quando a ameaça do ladrão ronda a nossa casa. Não é sadio permanecer paralisado quando estes movimentos esdrúxulos se infiltram no seio da Igreja. Não resta dúvida que tudo aquilo que minimiza o valor do sacrifício de Cristo é algo completamente estranho e contrário ao evangelho bíblico. Aceitar a influência dos poderes latentes da alma em nome de Jesus Cristo é uma aberração que não comporta comodismo. Animação nunca significou vida espiritual autêntica. Movimento emocional jamais representou o mover do Espírito. Andar em círculos não é a mesma coisa que obter progresso. Há enorme diferença entre atividade
e progresso. A religião de algumas pessoas faz-me lembrar de um cavalinho de balanço, que se movimenta, mas não avança.
O cristianismo não é produto do esforço, mas da vida. A vida cresce por suas próprias leis. A grande necessidade da Igreja é o crescimento na graça. Antes, crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja dada a glória, assim agora, como até o dia da eternidade. Amém. 2Pedro 3:18. É melhor crescer em graça do que em dons. Quem busca experiências fora do descanso em Cristo, busca algo que não corresponde à verdade do evangelho. Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos anunciamos, seja anátema. Gálatas 1:8. O cristão é uma pessoa possuída por Cristo, que tem toda a sua suficiência na própria pessoa de Cristo. O cristão não é alguém que teve um novo começo em sua vida, mas aquele que perdeu a sua vida juntamente com Cristo na cruz e ganhou a nova vida de Cristo na ressurreição, para começar com ela um novo estilo de vida. Deste modo, se Cristo é a nossa vida, nós já temos tudo o que a vida espiritual autêntica precisa.
O cristão foi transplantado para um novo solo e um novo clima; tanto o solo como o clima são Cristo.
A verdadeira coragem neste mundo é o envolvimento completo e definitivo com a pessoa de Jesus Cristo. Não temo a tirania do homem nem o que o diabo possa inventar contra mim, mas o meu único receio fica demarcado nos limites reservados à parcialidade de minha dedicação ao Supremo Senhor de minha vida. Não tenho nenhuma evidência de maior coragem neste mundo do que a real entrega de nossas vidas a Cristo, ao ponto de perder os relacionamentos significativos, o patrimônio e até mesmo a vida. Desde que Cristo é tudo em todos, eu tenho o tudo que me basta, em Cristo.
A salvação do homem envolve três aspectos. O primeiro é a revelação do que Deus é: santo, santo, santo. O segundo aspecto é revelado no que nós somos: impuros. E o terceiro é o que Deus fez por nós: purificou. A realidade do que nós somos é satisfeita pela realidade do que Deus é. A crise do profeta começou por uma perda externa, a morte do rei Uzias, desencadeando uma crise interna: ai de mim. Isto trouxe à sua consciência o seu estado pecaminoso, porque sou homem de lábios impuros. A provisão de Deus é perfeita, a tua iniqüidade é perdoada. O homem é levado ao fim de si mesmo, para que Deus inicie seu trabalho. Depois disto, ouvi a voz do Senhor. Logo que o homem chega ao conhecimento do seu verdadeiro estado, não pode encontrar descanso fora de Deus. É impossível alguém ser salvo sem a revelação dada por Deus, por meio da sua Palavra, do seu estado de miserabilidade. Irei e voltarei para o meu lugar, até que se reconheçam culpados e busquem a minha face; estando eles angustiados, cedo me buscarão, dizendo: Vinde, e tornemos para o Senhor, porque ele nos despedaçou e nos sarará; fez a ferida e a ligará. Depois de dois dias, nos revigorará; ao terceiro dia, nos levantará, e viveremos diante dele. Oséias 5:15 e 6:1-2. E neste ponto, estamos muito distante de Deus, queremos enfiar os princípios maravilhosos da Palavra de Deus "goela abaixo" nas pessoas, forçando-as a cumpri-los, para que tenham uma vida santa. Como resultado, ‘domesticamos’ víboras. Como foi dito pelo nosso Senhor Jesus Cristo: Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da condenação do inferno? Mateus 23:33. Ou, no mínimo, fazemos proselitismo, que é a transferência da pessoa de uma igreja para outra, sem uma experiência de novo nascimento. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque rodeais o mar e a terra para fazer um prosélito; e, uma vez feito, o tornais filho do inferno duas vezes mais do que vós! Mateus 23:15.
O apóstolo Paulo fala de sua angústia ao tentar ajustar os princípios da Palavra de Deus à sua vida. O legalismo põe o homem, com o fardo dos seus pecados, a serviço de Deus, guardando a lei; por isso, a alma é mantida em constante tortura, e longe de encontrar o descanso de Deus. Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto. Ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço. Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim. Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em mim. Romanos 7:15–21. O que constitui a legalidade é o ato da velha natureza tomar os preceitos de Deus e procurar praticá-los. O legalista ensina que devemos renunciar ao mundo a fim de ganharmos o céu. A grande verdade é esta: o velho homem não tem prazer pelo céu. Alguém disse: Se fosse possível ao homem natural encontrar-se no céu, sentir-se-ia miserável.
A
revelação do que somos é satisfeita pela revelação do que Deus é. Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado. Romanos 7:24-25. Sua linguagem é a de um homem ofegante e desesperado, não cogita sobre quem o livrará, como se alimentasse alguma dúvida, mas a resposta é triunfante, graças a Deus. A libertação do homem repousa na graça de Deus e na convicção de que o sacrifício do nosso Senhor Jesus Cristo basta, e que nada neste mundo pode abalar este fato. Cristo, na cruz, mostra o fim de tudo que é humano. Na ressurreição, nos conduz para além desse fim e constitui a base eterna na qual a glória de Deus e a bênção do homem repousam para sempre. No momento em que o olhar da fé repousa num Cristo ressuscitado, há uma resposta triunfal a todas as interrogações quanto ao pecado, o juízo, a morte e a ressurreição. Aquele que enfrentou tudo isto está vivo de entre os mortos, e tomou o seu lugar nos céus, à destra da Majestade. Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas. Hebreus 1:3.
J
esus fala de dois homens, um fariseu e o outro publicano; o fariseu procurou ser justificado pelos seus próprios méritos. O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano; jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho. Lucas 18:11-12. O fariseu permanecia em pé sozinho, porque não era o tipo de homem de se misturar com a multidão. Sua oração mostra que se apoiava em sua moralidade para ser aceito por Deus, por isso, ignorou a justiça divina e tentou estabelecer a sua própria justiça, louvando a si mesmo. A sua religião foi a causa da sua própria ruína. Não somos tão diferentes, todos nós tentamos ser aceitos por Deus, confiando nos nossos próprios valores. O que era um publicano? Um judeu renegado, que trabalhava como cobrador de impostos romanos; envergonhava-se de levantar a sua face a Deus, tinha um sentimento de profunda contrição.O publicano nada tinha para oferecer a não ser seu pecado. O publicano, estando em pé, longe, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, pecador! Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado. Lucas 18: 13-14. E os resultados foram diferentes. Disse Jesus: Este desceu justificado para a sua casa, e não aquele. Os dois homens desceram para casa com um tipo diferente de justificação. O fariseu retornou envolto nas mesmas vestes da auto-justificação. Ao justificar-se, ele não foi aceito, nem aprovado. O publicano, por sua vez, voltou para casa divinamente justificado, portanto, voltou para casa com alegria.

Deus, em Cristo, desceu ao grau mais baixo da condição humana, para que, inclinando-se, pudesse elevar o homem ao grau mais elevado, para a intimidade com o próprio Deus. Atraí-os com cordas humanas, com laços de amor; fui para eles como quem alivia o jugo de sobre as suas queixadas e me inclinei para dar-lhes de comer. Oséias 11:4. O pecado foi julgado e os nossos pecados foram tirados. Foram completamente apagados pelo precioso sangue de Cristo. Crer nisto é entrar no perfeito descanso da alma. D. M. Lloyd-Jones disse: O cúmulo do pecado é a pessoa não sentir necessidade da graça de Deus. Não existe pecado maior do que esse. Infinitamente pior do que cometer algum pecado da carne é você achar que é independente de Deus, ou achar que Cristo jamais precisou morrer na cruz do Calvário. Não há maior pecado do que esse. A auto-suficiência final, a auto-satisfação, é o pecado dos pecados: é o cúmulo do pecado, porque é pecado espiritual. Deus nos deu tudo que podia nos dar. Deu-nos a sua própria porção. Chamou-nos para sentarmos consigo à mesa, em sua companhia. Comamos e alegremo-nos. Com uma consciência pura e sem nenhum sentimento de culpa. Que mais poderia o amor de Deus fazer por nós? E, para quem fez tudo isto? Para aqueles que estavam mortos em delitos e pecados. Para os estranhos, inimigos rebeldes, culpados. Para aqueles que estavam longe dele, sem esperança e sem Deus no mundo. Para aqueles que não mereciam nada mais que as chamas do inferno. Não podemos fazer nada mais do que expressar a nossa gratidão a Deus por tudo o que fez por nós.

Solo Deo Glória.

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