domingo, 17 de junho de 2012

LIBERTANDO DE CADEIAS INVISÍVEIS

Disse, pois, Jesus aos judeus que haviam crido nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. João 8:31-32.
Muitos contemporâneos de Jesus creram nele. Segundo a Bíblia, a filiação divina começa com a fé na pessoa de Jesus, isto significa que, alguém só é filho de Deus, se nascer de novo. Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. João 1:11-13.
Todos os seres humanos são criaturas de Deus, mas só os que crêem em Cristo são seus filhos. Isto é radical, mas é a única alternativa bíblica. Sei que esta posição não é politicamente correta neste mundo ecumenista, entretanto é o que a Bíblia ensina. Por isso, prefiro chocar com o radicalismo bíblico a negociar acordos para sair bem na foto. Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus; Gálatas 3:26.
Aqueles religiosos judeus que haviam crido em Cristo certamente se tornaram filhos de Deus, pois a Bíblia não pode se contradizer. Antes desta experiência de fé eles eram apenas judeus religiosos, mas não eram regenerados. Eram pessoas moralmente justas, mas não salvas. Então foram vivificadas pela graça e creram em Cristo, sendo, portanto, feitas filhas de Deus, todavia ainda não tinham sido libertas.
Jesus enfatizou para estes crentes que haviam crido nele a necessidade de permanecerem na sua palavra, a fim de torná-los seus verdadeiros discípulos. Somos filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus e seremos discípulos autênticos de Cristo se nós permanecermos firmes na sua palavra. O Senhor mostrou claramente que é a conservação na palavra que leva ao conhecimento da Verdade e a Verdade é quem nos liberta.
Escrevi aqui Verdade com letra maiúscula para coligar o termo com a personalidade de Cristo Jesus. Ele disse: Eu sou o caminho a verdade e a vida e ninguém vem ao Pai senão por mim. João 14:6. A Verdade é o próprio Cristo que é também a nossa alforria. Se pois o Filho vos libertar verdadeiramente sereis livres. João 8:36.
A história da humanidade é o relato da escravatura do pecado. Somos uma raça dominada pela altivez e nada neste mundo é capaz de nos emancipar do anseio de chefia e dos desejos de prestígio. O medo do ostracismo e a aspiração ao pódio geram um conflito agudo em nosso íntimo que nos mantém prisioneiros dos jogos políticos mais ardilosos para nos equilibrar na corda bamba do sucesso. Somos uma casta de arrogantes aprisionados ao egoísmo. Não se iluda, até os salvos estão encarcerados em si mesmos.
Jesus foi categórico com os judeus que creram nele: se vocês permanecerem firmes na minha palavra, sinceramente serão meus discípulos e, por isso mesmo, conhecerão a verdade do verdadeiro Deus que os libertará. Só Jesus Cristo é capaz de nos libertar de nossas algemas invisíveis.
A alma é uma entidade cativa de tradições, preconceitos, sentimentos possessivos, ambições egoístas, traumas marcantes, juízos de valores e o culto à personalidade, e tem muita dificuldade de compreender e receber a libertação plena em Cristo. O ego vive encastelado em seu egoísmo e dominado pela necessidade de singularidade e importância. Vivemos presos às criticas e escravos dos elogios. Somos doentes por aplausos e sofremos desesperadamente com a desconsideração.
Há muito mais gente vivendo nas cadeias invisíveis das tradições vazias do que criminosos enjaulados nas penitenciárias de segurança máxima. As grades imperceptíveis destes cárceres são extremamente mais complicadas de serem detectadas e demovidas do que as barras de ferro dos sistemas penitenciais que podem ser serradas.
O Senhor tratando do problema relacionado aos rigores dos usos e costumes do seu povo, que preferia cumprir ritual a obedecer aos mandamentos de Deus, em que os filhos devem cuidar dos seus pais, afirmou com ênfase: E assim invalidaste a palavra de Deus por causa da vossa tradição. Mateus 15:6b.
As tradições religiosas com freqüência são traições ao evangelho. A comunhão da igreja é uma festa de contentamento que tem decência e ordem, mas não é nem tradicional nem protocolar. O formalismo é uma máscara de engessamento das emoções e uma camisa de força para a vida espiritual. Ainda que possamos ter tradição na ortodoxia nunca podemos ser tradicionalistas na celebração. A vida tem processo, mas não é processual ou cheia de processualismo.
Os preconceitos ridículos são também algemas impalpáveis que aprisionam as almas nas teias das prevenções. Uma multidão tendenciosa vive contida pelas implicâncias grotescas da intolerância mesquinha e muita gente inocente sofre com a segregação que avilta a personalidade, descartando qualquer tipo de relacionamento. A antepaixão é uma causa gravemente adoecedora no convívio social.
Um prejulgamento é um prejuízo que sempre achaca e empobrece a vida comunitária. Por isso o Senhor foi muito claro quando afirmou: não julgueis segundo a aparência, e, sim, pela reta justiça. João 7:24. As lesões morais causadas pelos preconceitos do apart-aide espiritual financiam os cismas na estrutura da sociedade. Por trás destas grades imateriais existe muito material asqueroso sufocando as decisões subjetivas.
As ambições egocêntricas e interesseiras nascem, muitas vezes, destes úteros apertados do convencionalismo caricato. Quanta gente vive num calabouço de aspirações imponentes, sonhando com a notoriedade, em razão das sementes de amargura plantadas pelos sistemas repressores dos preconceitos e desconfiança!
Não restam dúvidas que o anseio pelo crescimento é uma coisa legítima, mas as pretensões pelos postos da grandeza são grilhetas que abafam toda a expressão de uma vida psicologicamente normal. Não há saúde emocional numa pessoa que vive tentando escalar o lombo dos mais elevados para poder se distinguir dos demais. A ambição individualista de altar é o estado-maior-de-grades que aprisiona, invisivelmente, no mais baixo degrau, os pigmeus morais da maior periculosidade.
A teomania apadrinha os projetos mais ambiciosos da soberba humana ao pretender transformar grãos de areia em super-stars no panteão do mundo. Essa areia inchada do tamanho de uma estrela é um perigo, quando não recebe os louvores que almeja pelo reflexo de sua chama. O rompante do vaga-lume que quer brilhar como se fosse o sol ao meio dia é menos presunçoso do que as ambições do pó que almeja a consignação de divindade. Por isso, o culto à criatura é mais arriscado do que a ausência de culto ao Criador. Não há prisão mais insinuante do que o narcisismo disfarçado do solidário.
Um ego altivo e possessivo arrasta uma corrente com elos pesados e paralisantes. A marcha de um escravo atado ao peso de seus bens é lenta e gemida. O desgosto com as perdas e a vontade de ter cada vez mais constrói um xilindró de aparência em que se passa o dia tentando edificar o patrimônio e a noite é consumida pela preocupação com aquilo que se amealhou. O servo das coisas é o escravo mais barato no mercado, pois vale menos que um cara comum, ao ser estimado apenas pela que tem.
Os sentimentos possessivos são presídios de almas atoladas. O ciúme ou a dor de cotovelo, a inveja ou o olho gordo são demonstrações da patologia na psiquê escrava de si mesma. Ninguém pode viver no pátio da liberdade quando cultiva a autocomiseração destas emoções viscosas que destroem qualquer sinal de comemoração. Uma pessoa que não consegue celebrar de coração o sucesso dos outros vive num cubículo estreito.
Outra prisão corriqueira é viver sob custódia da opinião dos outros. Um sujeito autônomo é insuportável em seu amor-próprio, mas um fulano heterônomo é candidato aos caprichos da vassalagem. Submissão é um atributo elevado de gente obediente, mas o servilismo é algema que aprisiona um povo carente. Muita gente é negociada por dinheiro no mercado dos escravos, outros são comprados por elogios e conceitos favoráveis. A alma que está amarrada aos cuidados especiais é vitima de muitos escravagistas espertos que conquistam a subserviência com confetes.
Os traumas também fecham as portas de prisões complexificadas e levam multidões para os labirintos escuros de um cativeiro asfixiador. A história da humanidade tem mostrado um bando de traumatizados apalpando nos corredores apertados de suas vidas, em busca de uma saída honrosa para o estigma que os enclausura.
Somos uma raça com alma prisioneira de tradições, preconceitos, ambições egoístas, sentimentos possessivos, opiniões favoráveis, culto à personalidade e traumas que nos arrebentam interiormente e precisamos com urgência de libertação. A ciência tem alguns paliativos, mas só Jesus pode de fato nos libertar.
A proposta do evangelho é de real libertação. Cristo veio ao mundo para nos vivificar em nosso espírito e nos alforriar em nossa alma. A salvação implica em nova vida espiritual e libertação pessoal. Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão. Gálatas 5:1.
Um espírito regenerado requer uma alma liberta. A obra da santificação visa desenvolver a vida de Cristo em nosso interior a ponto de podermos viver sem a dependência dos cuidados humanos. Ainda que vivamos em comunidade e isto é saudável para o desenvolvimento das relações, uma pessoa liberta em Cristo não está sujeita aos tratamentos humanistas, nem fica esperando cuidados especiais.
A maturidade emocional demanda crescimento. Uma vida mimada e cercada de atenções exageradas nunca amadurece. Uma criança deve ser protegida, mas pôr blindagem numa pessoa a vida inteira é uma sabotagem no processo do seu desenvolvimento emocional. Precisamos de salvação eterna e de libertação terrena. Uma alma alforriada não se prende aos sentimentos de vítima e não vive requerendo tratamento vip.
Para o crente não basta ter o passaporte carimbado para o céu, é preciso também uma carta de alforria para a escravatura aqui na terra. A lamentação dos escravos denuncia o desgosto pelo seu cativeiro, mas as ações de graças e os louvores dos libertos falam de uma realidade mais excelente. Celebrai com júbilo ao SENHOR, todos os confins da terra; aclamai, regozijai-vos e cantai louvores. Salmos 98:4.
Não há cadeia mais terrível do que o descontentamento íntimo. Uma alma insatisfeita vive sempre na prisão da infelicidade, murmurando e criticando tudo e todos, mas uma pessoa liberta dança na fornalha e canta no cárcere com uma alegria que nunca murcha. Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: alegrai-vos. Filipenses 4:4.

Solo Deo Glória.

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