sábado, 16 de junho de 2012

DEUS FRUSTRA OS SEUS AMIGOS

Fizeste com que os homens cavalgassem sobre as nossas cabeças; passamos pelo fogo e pela água; mas nos trouxeste a um lugar espaçoso. Salmos 66;12.
Em razão do seu amor por nós, o Senhor permite que sejamos frustrados por circunstâncias e por pessoas, com o propósito de revelar a nossa completa falência. E também, por muitas vezes, o nosso Senhor permite que caiamos em fraquezas, de tal modo que nos falte todo suporte sobre o qual possamos nos apoiar.
O próprio Senhor nos adverte, pois o confiar em si mesmo ou em outrem, se constitui numa maldição, conforme o que foi dito pela boca do profeta Jeremias: Assim diz o Senhor: Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do Senhor. Jeremias 17:5.
O texto base deste estudo nos permite afirmar que Deus usa circunstâncias adversas para nos levar a uma total falência de nós mesmos, para que Ele seja o único suporte de nossa vida. Deus quer nos despir de tudo para que Ele seja o nosso Tudo.
O propósito de Deus é tirar todo o ponto de apoio, interno e externo para que Ele seja o nosso único apoio e esperança. Nas palavras do mestre Eckart: “Senhor dá-te a mim, mas somente Senhor, não me dês nada, exceto o que tu quiseres, e faz, Senhor, o que quiseres e como quiseres de qualquer modo”.
Todo o mover de Deus para aquele que Ele mesmo chamou é para que este O tenha como a única porção. Para Leibniz, filósofo alemão do século 18, “a razão final para as coisas chama-se Deus”. Para tanto, Deus precisa nos frustrar, fazendo com que os homens cavalguem sobre as nossas cabeças, porque somos propensos a confiar em nossas próprias forças. Ele não faz isso por qualquer outra razão, que não seja por amor aos seus “amigos” pois, quanto mais despido e desprendido o homem for de si mesmo, mais profundamente ele entrará no universo de Deus - um lugar espaçoso.
O mestre Sêneca pergunta qual é o propósito no sofrimento e na adversidade, e responde: “é que o homem aceite todas as coisas assim como se ele as tivesse desejado dessa forma e por elas tivesse rogado; pois tu também as terias desejado, se soubesses que todas as coisas acontecem a partir de Deus, com Deus e em Deus”.
Muitas vezes nós nos queixamos de Deus. Estamos passando por dores que achamos que não são dores merecidas. E nos perguntamos: Por que eu? Por que tenho que passar por isso? Na verdade, nós somos pessoas nascidas com a tendência para a autopiedade.
Contudo, o programa celestial sabe o que está fazendo; nós não sabemos, por essa razão, gememos. Gememos porque há muita força em nós mesmos. Para quem tem 100 mil dólares no bolso fica difícil dobrar os joelhos. Mas, para quem não tem nenhum centavo no bolso, os joelhos ficam muito maleáveis.
Quando Deus nos frustra, isto significa que Ele nos levou ao fim de nós mesmos; ao fim das nossas forças naturais, não restando outro recurso a não ser dobrar os nossos joelhos e orar. Quando alguém realmente dobra os seus joelhos significa que está dizendo: “Eu me rendo, eu me entrego”.
Dentro do programa celestial, o propósito de Deus em nos frustrar, ou permitir que soframos, tem em si dois princípios básicos. O primeiro é o princípio da desconstrução, isto é, nos levar ao fim de nós mesmos por completo, derrubando toda a nossa autoconfiança, e toda e qualquer dependência externa. E, num segundo plano é nos fazer parecidos com o Seu Filho. Por isso, o nosso Pai celestial não descarta nenhuma oportunidade para que essa semelhança seja concretizada, uma vez que, “todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus”. Não há na terra e nem no céu algo mais sublime do que ser semelhante a Jesus Cristo.
O profeta Jeremias anteviu por revelação divina o conteúdo do programa celestial, no que diz respeito à crucificação do nosso Senhor Jesus Cristo: Olha que hoje te constituo sobre as nações e sobre os reinos, para arrancares e derribares, para destruíres e arruinares e também para edificares e para plantares. Jeremias 1:10.
Nestes quatro verbos - arrancar, derribar, destruir e arruinar – estão contidos o sentido do verbo desconstruir. Dentro do princípio da desconstrução, Deus não viu outro remédio para o homem a não ser crucificá-lo. Tirar o homem de si mesmo e substituí-lo é uma tarefa divina. É um milagre.
Deslocar o eixo de confiança do homem, isto é, tirá-lo do centro de si mesmo, não é uma tarefa da religião, da sociologia, da psicologia ou da filosofia. Não está em mãos humanas tal tarefa.
No entanto, o apóstolo Paulo, inspirado por Deus, revela ao mundo que o ponto de mudança do eixo de confiança do homem para Deus, se dá na morte: Mas já em nós mesmos tínhamos a sentença de morte, para que não confiássemos em nós, mas em Deus, que ressuscita os mortos. 2 Coríntios 1:9.
A sentença de Deus para nossa autossuficiência é a morte. Morte de cruz. E, sendo crucificados, não temos mais nenhuma intenção de viver por nós mesmos. Portanto, já não vivemos mais, mas o Senhor é quem vive em nós. A partir deste momento, não precisamos despender esforços para viver a vida cristã.
O que é de fato a vida Cristã?
Apenas isso, nas palavras de Lance Lambert: “A chave verdadeira para a vida transbordante, para a vida mais abundante, a vida de ressurreição, não é quanto eu a vivo, mas quanto eu morro. (...) O problema não é como viver a vida cristã; o problema é como morrer. Se você tiver o segredo de morrer com Cristo, você não terá de aborrecer a mente sobre como viver a vida cristã” (The Paradox of Spiritual Life).
Quanto ao segundo principio, encontramos dois verbos - edificar e plantar - os quais podem ser substituídos pela palavra semelhança. Tornar-se parecido com Jesus não acontece num passo de mágica, mas sim, num processo que começa no novo nascimento.
Neste processo não temos nenhuma participação; é um trabalho exclusivamente da graça de Deus. O propósito de Deus é que alcancemos esta semelhança, mas, não podemos por nós mesmos fabricar essa semelhança. Consciente deste fato, que nada podemos fazer, o que nos resta é nos ajoelharmos perante o Senhor e confessarmos a nossa total incapacidade.
É de crise em crise, num processo longo que o Espírito Santo escreverá a biografia e bordará a imagem do nosso Senhor Jesus em nossas vidas. E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito. 2 Coríntios 3:18.
Dentro do programa traçado por Deus na vida de Jó, quando Deus falou com ele, mencionou o ninho de uma águia: É acaso por tua ordem que alça voo a águia, e faz alto o seu ninho? Jó 39:27. Qual é a lição e a natureza desta analogia?
Todos nós sabemos que a águia constrói o seu ninho em penhascos, em lugares altos. Isto significa que os filhotes nascerão numa posição alta. Assim é com aquele que nasce de Deus, ou seja, nasce do alto. A primeira sensação é que nos encontramos no calor do ninho. De fato estamos numa posição de descanso.
No entanto, algo de estranho acontece. Os filhotes não entendem o que está acontecendo. Num movimento estranho, a águia começa a mexer no ninho. Ela começa a balançar o ninho, e os filhotes da águia nada entendem. Assim acontece conosco. Nascemos de novo, e de repente Deus começa a mexer com a nossa “estrutura”.
Mas quando o vento começa a soprar todo o ninho começa a balançar, e por causa desse balanço, os espinhos usados na construção do ninho, e que estavam cobertos pelas penas, começam a espetar os filhotes. Os filhotes começam a sentir pontadas. Eles acham que estão sendo maltratados pela mãe.
Contudo, chegou a hora dos filhotes alçarem voo. Chegou a hora dos filhotes aprenderam a voar. Estavam no ninho, no mundo limitado, agora, conhecerão um mundo até então desconhecido. A mãe águia vai ensiná-los, eles começam a cair do penhasco, a mãe águia vai por baixo deles, as aulas de voo começam, e desta forma, eles aprendem a voar, a se desenvolver.
Esta é a natureza e a lição da águia. O novo nascimento é um ato, porém, tornar-se semelhante a Jesus é um processo longo. Nascemos de novo e achamos que atingimos o alvo, mas na verdade, o novo nascimento é só o começo, pois, no programa celestial da salvação do homem está incluído o mais belo e sublime propósito: que todo aquele que foi salvo seja parecido com Jesus.
No programa divino caminhamos dentro destes dois princípios: desconstrução e semelhança. Quebrantamento e formação. Porta e caminho. Vemos como Deus vem nos conduzindo por todo o caminho. Por um lado, vemos a “riqueza da graça de Deus”, e por outro, vemos também o quanto somos difíceis.
Este poema foi escrito em 1886, o autor o compôs após a morte do seu primeiro filho. Fruto de uma crise repentina que o abateu. Embora ele não soubesse o porquê de Deus ter levado o seu filho, ele expressou assim a sua adoração:
“Dás com bondade, e com bondade tiras. Quem conhece o Teu coração, oh Deus, pode confiar em Tuas mãos. Moldas o vaso sabiamente e sabiamente o quebras; O entender é Teu; nosso o confiar.
Oh Pai! Teu grande amor a cruz nos mostras. Não conhecemos todo plano Teu. Mas a ti nós conhecemos. Teu Filho Tu nos deste. Nada bom Tu nos negarás. É o Teu amor que nos levanta. É o Teu amor que nos prostra.
Tudo está servindo o plano de amor. Dia, noite, vida, morte, bem ou mal. Com poder incessante e um alvo firme, Tu operas Tua bondade cabal. Tua vontade boa é perfeita. Tudo é Teu, tudo nosso. Agora e para sempre, completa é a Tua obra, mas simples é o Teu amor. Bem conhecido, no entanto, inescrutável. Nunca falha, em toda parte, aqui, em cima. Oh, gozo, paz, louvor”. Amém.

Solo Deo Glória.

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