sexta-feira, 23 de março de 2012

VIVENDO SEM PESO

A vida cristã legitima é leve. No cristianismo de Cristo não há cargas nem coação. O evangelho da graça se caracteriza pelos afazeres da Trindade e a lide do cristão é um artigo agenciado pela suficiência do Senhor. Porque desde a antiguidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu Deus além de ti, que trabalha para aquele que nele espera. Isaías 64:4.


No âmbito do evangelho não é o homem que trabalha para Deus, mas é o Deus todo-poderoso quem trabalha para aquele que nele espera. Isso é um grande absurdo para a mente natural, entretanto é uma declaração perfeita do que significa a graça.


A vida autêntica do cristianismo, sem mistura, é uma conseqüência da graça. Ora, se a definição de graça é Deus dando e fazendo tudo a quem nada merece, logo estamos diante de algo ainda mais incompreensível. Vemos aqui o Deus da graça, o soberano Senhor do universo, sendo servo dos homens dominados pelo pecado.


Um grande disparate, na observação do evangelho, é ver um pecador indigno, que mediante a operação da graça plena, acaba se tornando num verdadeiro patrão de Deus, quando espera totalmente na sua graça. Se Deus trabalha para aquele que nele espera, fica parecendo que a pessoa que nele espera, se torna chefe de Deus. Na verdade a obra da graça é um espanto inconcebível para a mente operária.


Os religiosos não gostam da graça. A mente de estivador não suporta a vida sem peso. Por isso, os líderes religiosos no tempo de Jesus viviam sobrecarregando as pobres almas com cargas pesadas. Atam fardos pesados e difíceis de carregar e os põem sobre os ombros dos homens; entretanto, eles mesmos nem com o dedo querem movê-los. Mateus 23:4.


O prazer dessa gente é jogar peso nos ombros dos outros. Parece que, quanto mais pesada for a caminhada cristã, mais merece o reconhecimento dessa turma desvairada pela prática do halterofilismo religioso. Jesus, porém, mostra uma alternativa diferente. Como vemos no texto do salmo que serve da base para essa meditação, o Senhor se propõe a levar o nosso fardo, dia a dia, e posteriormente nos oferece o seu fardo, que é leve. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve. Mateus 11:29-30.


O Senhor se apresenta para levar o nosso fardo, que é pesado, e nos oferece o seu fardo, que é leve. Ele remove a carga pesada e nos capacita a levar o seu fardo que é verdadeiramente leve. A carga pesada que ele carregou sobre o seu corpo é constituída de todos os nossos pecados. Carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes sarados. 1 Pedro 2:24. Ele, que não tinha pecado, carregou os pecados de todos os eleitos de Deus, e isso era muito duro.


O fardo leve que ele nos oferece é a cruz dia a dia, como expressão de nossa renúncia pessoal. Dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me. Lucas 9:23. A nossa cruz é de fato aquela em que nos fez morrer juntamente com ele. A dor, ele a suportou por nós, e agora, nós podemos experimentar os efeitos da cruz, mediante a fé na sua palavra.


O pecador tem uma forte luta no sentido da negação de si mesmo, mas uma vez efetivada essa negação, não há mais peso na consciência, pois a obra da cruz é uma redenção consumada e eterna. A vida cristã apresenta-se sob um campo de batalha. O cristão peleja com tenacidade o combate da fé. Mas o fardo da fé não é de chumbo. Ainda que as tribulações nesse mundo sejam fortes, a carga não é mais pesada, e o apóstolo Paulo denomina essas tribulações, aqui


e agora, leves e passageiras. Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação. 2 Coríntios 4:17.


Muita gente na igreja vive sob o peso constante de uma expectativa de êxito. Segundo Larry Crabb, no seu livro Chega de Regras esse é o velho caminho em que B pressupõe A. Se você for obediente às leis de Deus, vai receber os resultados dessa conduta.


É verdade que há um princípio de reciprocidade no universo, mas no reino de Deus essa norma não é mecânica. A lei da causa e efeito tem efetivamente grande precisão em muitos aspectos, mas não é assim tão exata, quanto se imagina, pois a graça se manifestou para superabundar, onde o pecado abundou.


Como expõe Crabb, o velho estilo da linearidade pretende mostrar que tudo na vida cristã é uma questão de sintonia com a lei da semeadura, levando as pessoas a se empenharem nos resultados. Sendo assim, quando há sucesso, o sujeito da ação fica orgulhoso com sua participação, e quando há fracasso, ele fica deprimido pela sua falta de fé, ocasionando em ambos os casos, uma carga pesada para o cristão.


A existência pautada pela via da linearidade passa por grande pressão, uma vez que "a pessoa decidiu que aquilo que mais deseja na vida está ao seu alcance e se empenha em fazer o que acredita ser necessário para obtê-lo". Por outro lado, enquanto caminha na lei da liberdade "a pessoa compreendeu que aquilo que mais deseja está além do seu alcance e vai confiar em Deus para a satisfação que almeja. Ela quer Deus. Nada menos – nem sequer a sua bênção – irá buscar".


Todos aqueles que insistem em uma jornada espiritual pautada pela lei de causa e efeito acabam cansados sob o peso intolerável dessa religião dos escravos do êxito. Mas aqueles que andam com o Senhor diariamente vêem seus fardos em braços poderosos.


A ênfase da fé cristã é basicamente relacional. Não somos executivos procurando um melhor desempenho, mas filhos desenvolvendo um relacionamento mais íntimo. Como Moises, nós precisamos mesmo é da presença de Deus, para gozarmos o repouso da fé. Respondeu-lhe: A minha presença irá contigo, e eu te darei descanso. Êxodo 33:14.


O lazer espiritual dos filhos de Deus é fruto da intimidade com o Pai, e a grande luta travada no coração é contra a comunhão. Quando o Espírito da graça convence o cristão que o seu alívio é o próprio Deus, então uma nova vida relacional assume o sentido da existência. A Bíblia mostra que Deus mesmo é a nossa salvação. Não somos salvos por uma doutrina nem pelos nossos esforços. A extraordinária mensagem do evangelho da graça revela Deus carregando os nossos fardos e se manifestando como a salvação completa e eterna. Eis que Deus é a minha salvação; confiarei e não temerei, porque o SENHOR Deus é a minha força e o meu cântico; ele se tornou a minha salvação. Isaías 12:2.


O cristão tem muitas lutas nesse mundo, mas ele tem garantia divina e seguro eterno. Ele sofre tribulações, mas tem descanso interno. O Senhor Jesus Cristo é a sua salvação e é também o transportador dos seus fardos, por isso a sua jornada é sem peso e sem pesar, apesar de suas muitas dificuldades. Ele me faz repousar em pastos verdejantes. Leva-me para junto das águas de descanso. Salmos 23:2.


Solo Deo Glória

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