quinta-feira, 22 de março de 2012

O DÍNAMO DE DEUS

Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego; visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé. Rm 1.16-17

Para o apóstolo Paulo, foi um grande privilégio anunciar a boa nova de salvação, embora, ciente do desprezo e da rejeição de muitos que o ouviam, não hesitou em dizer: não me envergonho do evangelho de Cristo. A impopularidade de um Cristo crucificado tem levado muitos a apresentar uma mensagem ao gosto dos incrédulos. Ao afirmar que não se sentia envergonhado em relação ao evangelho, ele insinua que o mesmo era, de fato, desprezível aos olhos do mundo. Contudo, em contrapartida, o expõe aos salvos como sendo o poder de Deus.

A figura de linguagem que Paulo emprega aqui é lítotes, “não me envergonho do...”, que consiste numa frase suavizada ou negativa para expressar uma afirmação. É uma figura de linguagem em que uma suavização é feita pela negação do contrário. Em vez de dizer que “se orgulha”, ele diz que “não se envergonha”. E dizer que não se envergonha do evangelho é outro modo de dizer que se gloria nele. Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo. Gálatas 6:14. Ele se gloriava na cruz. Ele se gloriava na pregação da cruz.

“Pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê”. A boa nova é o poder de Deus que tem como propósito salvar o homem de seu estado de miséria. A palavra poder, no grego é “dunamis”, que é a mesma palavra no português para dinamite. Isto significa que o evangelho é a dinamite de Deus que objetiva “implodir” a natureza perversa do homem e implantar uma nova natureza.

A palavra “evangelho” significa “boa nova”, boa notícia. Notícia dada pelo anjo aos pastores: Havia, naquela mesma região, pastores que viviam nos campos e guardavam o seu rebanho durante as vigílias da noite. E um anjo do Senhor desceu aonde eles estavam, e a glória do Senhor brilhou ao redor deles; e ficaram tomados de grande temor. O anjo, porém, lhes disse: Não temais; eis aqui vos trago boa-nova de grande alegria, que o será para todo o povo: é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor. Lucas 2:8-11. A boa nova não é uma nova idéia, uma nova filosofia. Não se trata de meras idéias ou um conjunto de dogmas. Não, o evangelho é uma Pessoa, é Cristo. “Hoje vos nasceu... o Salvador, que é Cristo, o Senhor”, diz o mensageiro celeste aos pobres pastores. Era, com efeito, a notícia do nascimento do Filho do homem, Deus em pessoa, manifestado em carne. E cujos louvores celestes ressoaram na ocasião da comunicação feita pelo anjo aos pastores, que resumia assim: Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem. Lucas 2:14.

Esta presença de Jesus sobre a terra revelou o amor de Deus para com os homens. Numa palavra, era o poder de Deus presente em graça na Pessoa do Filho de Deus, tomando parte na natureza e interessando-Se pela sorte de um ser que se afastou Dele, e fazendo desse mesmo ser a esfera do cumprimento de todos os Seus desígnios e da manifestação da Sua graça e da Sua natureza a todas as Suas criaturas.

“Para salvação de todo aquele que crê”. Esse é o motivo pelo qual o apóstolo não se envergonha: é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê. Isto não significa que a fé é a condição da salvação, mas sim pela a operação do poder de Deus na vida do homem. Isto quer dizer que, sempre que a boa nova do evangelho for anunciada, o poder de Deus estará atuando para a libertação dos homens, libertando-os de si mesmos e do domínio das trevas e trazendo-os para o reino de luz. A salvação do homem é o resultado do amor de Deus, que dá de graça a justiça de Cristo, e não uma salvação resultante de algum esforço do homem.

“Porque nele se revela a justiça de Deus”. O evangelho é o poder de Deus para salvação, porque nele existe a revelação dinâmica de uma justiça singular, diferentemente da justiça legal, pela qual o homem procura, em vão, atingir uma posição correta diante de Deus através da obediência pessoal à lei. Bem que eu poderia confiar também na carne. Se qualquer outro pensa que pode confiar na carne, eu ainda mais: circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu, quanto ao zelo, perseguidor da igreja; quanto à justiça que há na lei, irrepreensível. Filipenses 3:4-6.

A justiça divina é aquela posição que Deus confere aos salvos sem obediência pessoal, porque Ele atribui ou lhes imputa a obediência de Cristo. O conhecimento de tal salvação nunca poderia ser derivado da operação natural da razão humana. Esta extraordinária justiça exige uma revelação, na qual a provisão inimaginável da graça não é apenas comunicada objetivamente pela Palavra de Deus, mas também transmitida e aplicada subjetivamente na experiência daqueles que crêem. Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé. Filipenses 3: 7-9.

“Visto que a justiça de Deus se revela no evangelho”. A palavra “revelada” é uma das palavras básicas da fé cristã e, em certo sentido, uma das mais importantes. Não há vida cristã sem a revelação. Não há cristianismo sem revelação. Muitos de nós confundimos conhecimento intelectual com revelação. Uma pessoa pode ter um volume de conhecimento muito grande da Bíblia, mas não ter a revelação da Pessoa de Cristo. O conhecimento das Escrituras sem revelação é como uma lâmpada, com todo o seu mecanismo pronto para funcionar, mas sem a energia.

O evangelho não é algo que nos convida para que nos juntemos numa grande busca pelas verdades bíblicas, num sentido especulativo. Acima de tudo, é uma proclamação. É uma revelação, um desdobrar. É a revelação da Pessoa de Cristo. O evangelho é caracterizado, de uma maneira especial, pela revelação da Pessoa de Cristo. No seu evangelho, João chama Jesus de Verbo e depois de Vida. ... “E o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”. E na epístola: “A vida se manifestou”. Assim, o Verbo que estava com Deus e que era Deus, é o mesmo Verbo da Vida que se manifestou. O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos, e as nossas mãos apalparam, com respeito ao Verbo da vida (e a vida se manifestou, e nós a temos visto, e dela damos testemunho, e vo-la anunciamos, a vida eterna, a qual estava com o Pai e nos foi manifestada). 1João 1:1-2.

A verdadeira vida, que vindo ao mundo, se manifestava para todos os homens – e não somente para os judeus, mas também para os gregos. O Verbo veio ao mundo, a um mundo, como um “vale de ossos secos” e em trevas, para trazer vida. Assim, nós vimos o Verbo na Sua natureza: Ele é perfeitamente Deus e completamente Homem. A graça se manifesta com o poder de dar a vida e levar o homem a recebê-la. Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens, educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente. Tito 2:11-12.

“De fé em fé”, como está escrito: “Mas o justo viverá por fé”. Aqui não é dito, de fé em obras, nem, de obras em fé; mas, de ‘fé em fé”, isto é, somente pela fé. Do princípio ao fim, a salvação é pela graça, mediante a fé, na retidão justificadora de Cristo. Uma vez que o apóstolo Paulo não está propondo algo novo, ele confirma este fato, fundamentado no Velho Testamento, mostrando que não é algo de que nunca se ouvira falar antes: Eis o soberbo! Sua alma não é reta nele; mas o justo viverá pela sua fé. Habacuque 2:4. Assim a fé da pessoa a quem Deus aprova e tem como justa é oposta ao espírito de orgulho que desconhece a Deus.

No capítulo 11 de Hebreus, encontramos diferentes aspectos da fé na vida de várias testemunhas do Antigo Testamento. Em Abel, vemos a fé se apropriar da redenção, ao oferecer a Deus um sacrifício aceitável, o qual, em figura, apontava para a Pessoa de Cristo. Pela fé, Abel ofereceu a Deus mais excelente sacrifício do que Caim; pelo qual obteve testemunho de ser justo, tendo a aprovação de Deus quanto às suas ofertas. Por meio dela, também mesmo depois de morto, ainda fala. Em Enoque, vemos o andar pela fé em direção ao alvo celestial. Pela fé, Enoque foi trasladado para não ver a morte; não foi achado, porque Deus o trasladara. Pois, antes da sua trasladação, obteve testemunho de haver agradado a Deus. Hebreus 11: 5. Juntos, vemos a fé que se inicia em Abel e a fé que termina em Enoque. A vida cristã é caracterizada pela fé, do princípio ao fim: de “fé em fé”.

A fé em Cristo é o único fundamento que nos permite ver o invisível e transpor o impossível. A fé em Cristo é a força interior que nós dá a habilidade de triunfar sobre todos os obstáculos. Sejam quais forem as circunstâncias, tenhamos o olhos fixos no Senhor Jesus, autor e consumador da fé. Olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus. Hebreus 12:2. O nosso Senhor tinha um propósito diante de Si, que suplantou a dor da separação lá na cruz, a vergonha e o sofrimento: era a “plenitude de alegria”.

Qualquer que seja a forma de provação – tribulação, angústia, perseguição -, em todos os casos, da multiforme graça do Senhor, se manifestará de maneira infinitamente diferente. Para cada tipo de sofrimento, corresponde um tipo particular de amor. E, quando tivermos terminado a nossa jornada neste mundo, então permaneceremos, para toda a eternidade, como objetos de amor de Deus. Amém.


Solo Deo Glória

Nenhum comentário:

Postar um comentário