Havia certo homem rico que se vestia de púrpura e de linho
finíssimo e que, todos os dias, se regalava esplendidamente. Havia também certo
mendigo, chamado Lázaro, coberto de chagas, que jazia à porta daquele; e
desejava alimentar-se das migalhas que caíam da mesa do rico; e até os cães
vinham lamber-lhe as úlceras. Aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos
anjos para o seio de Abraão; morreu também o rico e foi sepultado. No inferno,
estando em tormentos, levantou os olhos e viu ao longe a Abraão e Lázaro no seu
seio. Lucas 16:19-23.
Jesus contou esta parábola que salienta dois homens. Dois
homens, com dois rumos. São duas vidas que seguem sentidos contrários. Estes
homens são da mesma raça, filhos do mesmo pai, Abraão. Ambos são judeus. Vivem
no mesmo país e na mesma cidade. Os dois tinham algumas semelhanças, mas várias
diferenças. A última semelhança foi a morte. Ambos morreram. Embora fossem tão
diferentes em suas vidas, os dois chegaram ao mesmo fim. Este é o destino de
todos os homens.
Eles eram muito diferentes. Um era rico, o outro mendigo. Um
comia com fartura as iguarias requintadas, enquanto o outro se satisfazia com o
sobejo, com as migalhas que caíam da mesa do rico. O nobre se vestia com roupas
de grife, o mendigo com os seus andrajos. A pele do homem rico era lustrosa e
sadia, mas a de Lázaro era coberta de chagas. Com muita probabilidade, mãos
macias, de criadas treinadas, massageavam, com cremes do mar Morto, o corpo
nédio do ricaço, enquanto a língua dos cães lambia as feridas do pobre
indigente. Nas diferenças, aqui na terra, só no nome o pobre levou vantagem.
Jesus chama um de rico, e o pobre de Lázaro. O rico parece que tinha tudo, mas
não tinha nome. O pobre era destituído de quase tudo, mas era conhecido pelo seu
nome. Lázaro era a forma grega de Eleazar, no hebraico, Deus nos auxilia. Lázaro
era pobre, mas tinha nome e tinha Deus como seu arrimo. O rico se bastava, porém
ficou incógnito. Era apenas um rótulo. Valia pelo que tinha. Não era um
substantivo próprio, apenas um adjetivo.
Mas, como falamos anteriormente, ambos morreram. A morte não
poupa ninguém. Morreu primeiro o mendigo, mais fraco, debilitado pela vida.
Porém, foi carregado pelos anjos para o Paraíso. A Bíblia não fala de seu
sepultamento. Não tinha dinheiro para comprar caixão e terreno em cemitério. Não
tinha parentes nem aderentes. Morreu como indigente. Contudo, teve um séquito de
anjos. O céu estava presente no seu transporte. Morreu também o rico, e foi
sepultado. Certamente, teve enterro com pompas. Teve gente importante carregando
seu esquife. Velório de bacana é concorrido. Mas não tinha a carruagem de Deus
fazendo o transporte. Foi direto para o inferno. Que paradoxo há entre aqui e
lá!
Ambos morreram, Lázaro e o rico. Entretanto, Lázaro foi para o
Paraíso e o rico para o inferno. Os destinos são diferentes. Um foi salvo e o
outro estava perdido. Será que a pobreza salva e a riqueza manda para o inferno?
Esta é uma questão muito apreciada por alguns. Há um grupo de religiosos que
pensa que a pobreza e o sofrimento servem para purificação dos pecados. Ser
pobre é uma virtude e ser rico é um defeito. Já vi pregação que sustenta a
pobreza como meio de salvação. Alguns defendem que é impossível um rico se
salvar, baseando-se na palavra de Jesus: É mais fácil passar um camelo
pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus. Marcos
10:25. É verdade. Um rico que confia em sua riqueza como fonte de
merecimento, ou que depende de sua riqueza para negociar a salvação, está
totalmente perdido. Jesus foi específico: Filhos, quão difícil é para os
que confiam nas riquezas entrar no reino de Deus! Marcos 10:24b. Porém,
não há perdição de rico por causa de sua riqueza, nem salvação de pobre por
causa de sua pobreza. A salvação, do ponto de vista bíblico, é totalmente pela
graça, sem qualquer ingrediente humano. Deus não salva uma pessoa por ser pobre,
nem condena alguém por ser rico. A salvação de Deus é obra absoluta da graça
imerecida e do seu amor incondicional.
Lázaro foi salvo porque confiou totalmente na suficiência da
graça de Deus. O rico foi para o inferno por causa do seu pecado de
incredulidade. Lázaro dependeu das misericórdias de Deus. O rico era um
auto-suficiente. Humildade e orgulho nada têm a ver com pobreza e riqueza. Há
muitos pobres orgulhosos, como também, há ricos humildes. O orgulho fala de uma
pessoa que se basta, que se apoia em seus próprios méritos. A humildade aponta
para aquele que, se vendo indigno, depende completamente da graça de Cristo. Por
isso, a Bíblia ressalta: Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos
humildes. Tiago 4:6b. A humildade... é simplesmente a percepção da
completa nulidade, assina Andrew Murray. O grande contraste existente
entre os dois homens da parábola não é a riqueza e a pobreza, mas o orgulho e a
humildade. Um era incrédulo e não confiava na graça de Deus, o outro dependia
totalmente da suficiência da graça. Do ponto de vista de Deus, o rico era pobre
e o pobre era rico. Há valores que enriquecem os pobres e outros que empobrecem
os ricos. Não basta ter uma grande fortuna, é preciso ser afortunado com as
riquezas soberanas de Deus. O homem sem nome armazenou muito tesouro, mas quando
as coisas boas desta vida lhe foram tiradas, ele não tinha nada com que
atravessar o portão. O pobre mendigo só conseguiu, aqui na terra, ajuntar moscas
sobre suas chagas, mas ainda assim, sua fé tinha crédito nos bancos celestiais.
Os melhores amigos de Deus são os homens humildes.
A história dos dois continua atrás das cortinas. Jesus deu uma
pala do que acontece depois do desenlace. O que sabemos do outro lado da vida
foi contado por Jesus. Lázaro, de férias eternas, goza as delícias da plenitude
divina. No seio de Abraão, ele usufrui de todas as bênçãos que a graça faculta.
Mas o pobre rico, que parece nunca ter erguido os olhos, de repente levanta sua
cabeça e lamenta-se com a quentura do aquecedor. O termostato do inferno vive
quebrado e a estufa assa sua alma. O calor o atormenta. Ele, que teve tanta
mordomia, agora, em razão da secura, suplica pelos favores de um mendigo, que
viveu desprezado em sua porta. Orgulho, no inferno, é patético. O comando da
terra se torna em queixa e lamentação, ainda que em tom de autoridade:
manda a Lázaro... Apreciador de boa bebida, tenta refrescar sua
garganta com uma lambida na ponta do dedo do pobre pedinte, umedecido com gotas
de água. Que tragédia! O inferno é desolador. Tanta fartura na terra e tanto
tormento nesta sauna sem suor. Seu clamor por misericórdia veio tarde demais.
Não há ponte do inferno para o céu e o abismo entre os dois é intransponível.
Por outro lado, a misericórdia só liga o céu e a terra. Não há qualquer
transação entre o Paraíso e o inferno, pois a misericórdia está associada aos
homens falidos em suas chances. Não existe habeas-corpus para prisioneiros
eternos. O tempo da oportunidade fechou sua porta e não há chave que abra esta
fechadura. Tudo que precisamos decidir, com relação à salvação, fica por conta
da existência na terra.
O tolo ainda continua tentando alternativas para o seu egoísmo.
Lembra de sua família, de seus cinco irmãos, e propõe uma solução fantástica:
Pai, eu te imploro que o mandes à minha casa paterna... a fim de não virem
também para este lugar de tormento. Lucas 16:27-28b. A pedagogia do
inferno sempre quer mudar a metodologia de Deus. A reivindicação advogava a
transigência dos propósitos divinos. Mas, a resposta do céu é categórica:
Eles têm Moisés e os profetas; ouçam-nos. Lucas 16:29. Não há
trambiques nos critérios espirituais. A salvação de Deus será sempre pela graça
e por meio de sua Palavra imutável. Deus não faz concessões: Se não ouvem
a Moisés e aos profetas, tampouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite
alguém dentre os mortos. Lucas 16:31. Da mesma forma que Jesus é a única
pessoa que pode salvar os homens, a Bíblia é o único livro que revela,
claramente, Jesus como a salvação. Ignorar as Escrituras é ignorar Cristo e a
salvação. Não há alternativa: O caminho mais curto para entender a Bíblia é
aceitar o fato de que Deus está falando em cada linha. A Bíblia é um livro
escrito com o sotaque de Deus e, se não damos crédito a este livro, não temos
outra escolha. O destino destes dois homens foi traçado pela acústica. Um ouviu
a Palavra de Deus, o outro nada ouviu. A fé vem pelo ouvir, e ouvir a
Palavra de Deus. Romanos 10:17.
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Solo Deo Glória
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