sexta-feira, 23 de março de 2012

A SALVAÇÃO DA MINHA SALVAÇÃO


Ó Deus, salva-me pelo teu nome, e faze-me justiça pelo teu poder. Sl. 54:1
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Davi estava fugindo da ira de Saul e se escondeu em Horesa, nas cavernas da região de Zife. Subiram os zifeus, clã da tribo de Judá, habitantes de Zife, e foram denunciar a Saul o refúgio de Davi. Eles se ofereceram para levar o rei até o local e assim dariam cabo no adversário do rei.
Parece que o assunto envolvia uma questão de inveja. Davi, igualmente, pertencia à tribo de Judá e os zifeus estavam com o cotovelo inchado. Dor de cotovelo mata.
       O cardeal de Nova York, Fulton Sheen dizia: a inveja é o tributo que a       mediocridade paga ao mérito

Tiago, o discípulo de Jesus, que em outros tempos queria atear fogo nos samaritanos que se opuseram à permanência de Jesus em seu território, sustentava ainda, com a consistência da verdade eterna, este ponto básico:
pois onde inveja e sentimento faccioso, aí há confusão e toda sorte de coisas ruins. Tiago 3:16.


Davi encontrava-se aparentemente protegido no seu esconderijo. A região era deserta, difícil e as grutas profundas e sinuosas. Seria muito complicado encontrá-lo naqueles confins se não fossem os zifeus. Saul foi à caça do genro jurado de morte, com a pretensão de pegá-lo e tirar-lhe a vida, mas a salvação do Senhor não é a caverna de Horesa, mas Javé.

Davi percebeu a trama e fugiu para o deserto de Maom. Saul saiu a perseguir Davi, mas um ia por uma banda do monte e o outro saía pela outra banda. A mão do Senhor separou o caminho de ambos. Não obstante, Saul e seu exército cercaram o bando de Davi. Parece que não haveria mais saída. Parece, porém a salvação do Senhor não é o monte, mas Javé.


 Então veio um mensageiro a Saul dizendo: apressa-te, e vem, porque os filisteus invadiram a terra. 1 Samuel 23:27.
O rei precisava defender a nação de um inimigo maior e abandonou o seu desafeto. Davi viveu uma temporada de férias.
Mas vieram os zifeus a Saul, a Gibeá, e disseram: não se acha Davi escondido no outeiro de Haquilá defronte de Jesimom? 1 Samuel 26:1. O olho gordo não pára de invejar e o invejoso nunca dá trégua. O invejoso é um criador de caso por natureza e um câncer na coletividade. A inveja é um fogo que consome por dentro e chamusca o que acha por fora.


Saul voltou furioso ao encalço de Davi e o seu exército se acampou no outeiro de Haquilá, defronte da toca onde Davi se abrigava com o seu grupo. Foi provavelmente por essa ocasião que o salmista recebeu do Senhor o cântico 54 do livro dos Salmos, e entoou: Ó Deus, salva-me pelo teu nome, e faze-me justiça pelo teu poder. Davi compreendeu aqui e lá, em Horesa, que a salvação de Deus contra o seu inimigo, não era um buraco na rocha, mas a própria Rocha eterna, a pessoa de Cristo. Deus, porém, é meu socorro, o Senhor é quem sustenta a minha vida. Salmo 54:6. BJ.

Naquela noite Davi e Abisai, seu ajudante mor, saíram da cova, do abrigo protetor e vieram ao arraial de Saul. Todos dormiam em sono profundo. Davi passou pelos soldados e veio até o lugar em que o rei Saul e o seu general Abner ressonavam. O sono não foi por sedativo. Havia alguém por traz do coma coletivo, ninguém o viu, nem soube, nem se despertou, pois todos dormiam, porquanto da parte do Senhor lhes havia caído profundo sono. 1 Samuel 26:12b.

Abisai sugere que Davi mate o seu adversário. Ao contrário disto, ele ora para que o Senhor o guarde de tocar nos seus ungidos. Em seguida, Davi apanhou a lança que estava fincada próxima à cabeceira de Saul e a bilha d’água, saindo outra vez daquele local para um ponto estratégico. Os homens de Deus não são vingativos nem perseguidores.

Lá do alto ele bradou para Abner dizendo: não é bom isso que fizeste... vede agora onde está a lança do rei e a bilha d’água, que tinha à sua cabeceira. 1 Samuel 26:16. Saul, Abner e toda a corporação acordam perplexos e intuíram que Davi teve chance de assassinar o rei, mas não o fez. A nobreza do homem de Deus aponta para um caráter esculpido pelo Senhor.

Por outro lado, Davi entendeu que sua salvação não estava em suas mãos, nem na sua estratégia, mas na pessoa do próprio Deus. Então, mostra-se dependente da estima do Senhor e não do favor humano, citando para Saul:
Assim como foi a tua vida hoje de muita estima aos meus olhos, assim seja a minha aos olhos do Senhor, e ele me livre de toda tribulação. 1 Samuel 26:24.
Esta história salienta alguns pontos interessantes: por exemplo, a salvação de Deus é o próprio Deus salvando. Um dos grandes problemas do povo de Deus é confiar numa salvação relacionada ao seu desempenho. A salvação da minha salvação significa libertar-me de todos os recursos que dependam da minha atuação pessoal. Davi enxergou: ó Deus, salva-me pelo teu nome, e faze-me justiça pelo teu poder. Não era a toca a salvação de Davi, mas o toque do Senhor em sua vida.
 
Muitos se apóiam em doutrinas, conhecimento, rituais, montes, cavernas e coisas visíveis e concretas. Outros se preocupam com o que fazem no dia a dia, como orações, leitura bíblica, evangelização, boas obras, justiça, contribuição, conduta, santidade e um montão de expedientes práticos da nossa realidade espiritual. Todas estas coisas são importantes, porém tudo isto não é propriamente a nossa salvação. Ainda que reflita um procedimento salvo, não é a salvação do Senhor.

A salvação de Deus também não é participar no meio do seu povo. Houve uma época na história da igreja em que se dizia: não há salvação fora da igreja. Embora os salvos sejam membros do corpo de Cristo, não é o convívio ou a membresia com os eleitos de Deus que garantem a salvação. Os salvos em Cristo são a Igreja de Cristo, mas nem todos que estão na igreja são salvos por Cristo.
 
O profeta da Antiga Aliança, de caráter evangélico, apreendeu muito bem o significado da salvação de Deus.
Eis que Deus é a minha salvação; confiarei e não temerei, porque o Senhor Deus é a minha força e o meu cântico; ele se tornou a minha salvação. Isaías 12:2.


Está claro aqui que a salvação de Deus não é uma doutrina, nem um sistema, mas uma pessoa. O próprio Deus é a salvação de Deus. Ele não tem um método ou um modelo de salvação. Ele mesmo é a salvação.

Todos nós precisamos ser salvos da nossa salvação, quando esta for qualquer coisa que não seja a pessoa do próprio Deus. Só Deus poderá salvar o pecador de sua arrogância pecaminosa e só ele nos fará dependentes dele mesmo. Assim, a Trindade definiu o Verbo divino como o Salvador e a salvação da espécie humana. A salvação da minha salvação é a minha desistência de me salvar.

A Bíblia nos assegura que no princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. João 1:1. Cristo é o Verbo do Pai, o Salvador e a salvação do pecador. As religiões pregam a salvação pelo desempenho humano, o evangelho pela suficiência da pessoa e obra de Cristo.

Cristo, no princípio, era o Verbo que era Deus, mas no acontecimento da salvação, o Verbo, que é Deus, se fez carne para habitar entre nós, assumir o nosso pecado, morrer em nosso favor e nos incluir no seu sacrifício, a fim de nós morrermos juntamente com ele, uma vez que,
não salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos. At.4:12.


A salvação de Deus requer a morte do pecador. A lei exige a pena de morte para o transgressor e o réu tem necessariamente que morrer. No juízo de Deus não há comutação para a sentença. Isto aqui não é uma peça de teatro no sertão de Pernambuco na Semana da Paixão. A cruz é o tribunal de Deus e o infrator da lei tem que morrer juntamente com Cristo. Não há alternativa.

A salvação de Deus é Cristo Jesus; a santificação de Deus é o crescimento da vida de Cristo em nós, enquanto a glorificação de Deus é a nossa transformação à semelhança de Cristo. Ele é o único caminho que nos leva ao Pai. Ora, se Cristo é o caminho, por que perder tempo em outras estradas? Eu preciso ser salvo da minha salvação baseada em meus valores. Eu preciso sair da caverna e andar no arraial do inimigo, sabendo que só Jesus é a garantia da minha segurança.

Isto não significa que eu deva permanecer o tempo todo inativo. A salvação de Deus requer uma co-participação do crente. No entanto, esta colaboração é patrocinada e promovida pela graça. No reino de Deus não há lugar para vadiagem, mas também não há espaço para executivos, visto que, Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade. Filipenses 2:13. Os filhos de Aba não são desocupados, todavia não são workaholics frenéticos.

A graça de Deus na vida dos santos é operante e ninguém pode ser mais ativo do que os verdadeiros filhos de Deus. Paulo tinha conhecimento do que falava. Quando alguns o acusaram de apostolado inoperante, ele respondeu: mas, pela graça de Deus, sou o que sou; e a sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã, antes trabalhei muito mais do que todos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus comigo. 1 Coríntios 15:10.

A vida cristã é demarcada por intensa operosidade e profunda ociosidade. Isto parece contraditório, mas não é. Mesmo que o ócio seja o oposto do negócio, no reino de Deus o ócio é o tempo de intimidade com Cristo, exatamente de quem procede toda a ação dos filhos de Deus. Aqui estão os efeitos eternos da salvação: comunhão com o Filho e dependência total dele. Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor. 1 Coríntios 1:9. A salvação da minha salvação acontece na comunhão plena com Cristo, onde reside tudo o que significa a salvação de Deus. Amém.


Solo Deo Glória

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