sexta-feira, 30 de março de 2012

CONTRASTES PERIGOSOS DO CRISTIANISMO ATUAL



E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos. Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade. Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos. AT.2:42-47.


Quando lemos o relato bíblico sobre os primeiros passos da Igreja Primitiva, imaginamos uma igreja perfeita. Todos perseveravam na doutrina dos apóstolos, isto é, de Cristo; havia comunhão, o partir do pão, a adoração e oração. Havia alegria e singeleza, louvor e bom testemunho diante do povo. Esse era o perfil da igreja chamada Primitiva.

No entanto no capítulo 5 e 6 de Atos, percebemos que alguns problemas começaram a aparecer. Na leitura do texto chegamos à conclusão que a igreja do primeiro século não era perfeita. A Igreja Primitiva tinha problemas, assim como temos hoje. A questão da distribuição de alimentos, por exemplo, para as viúvas de origem judaica (de fala hebraica) e as de origem helenista (de fala grega), pode até ter como causa a barreira do idioma. Isso foi resolvido com a instituição dos diáconos.

Porém, a Igreja recém formada passava por problemas de ordem interna e externa. A Igreja estava inserida num contexto teológico e filosófico contrário à revelação da Pessoa e Obra de Cristo. A Aliança da Graça em Cristo Jesus era resistida pelo enraizado costume legalista dos fariseus. Em aproximadamente cinco décadas após o início da Igreja, a Igreja de Corinto situada numa das maiores cidades do mundo romano e uma das mais corruptas, também sofria de problemas internos e externos.

Além dos problemas de divisões internas por alguns se acharem mais espirituais do que outros irmãos, a igreja sofria também ataques em relação à doutrina e à moral, fruto de pressões de ideologias do contexto mundano. O orgulho espiritual, a falta de amor e de firmeza bíblico-teológica eram questões cruciais que o apóstolo Paulo precisava tratar.

Através dos séculos a Igreja vem sofrendo desses mesmos problemas básicos: a falta de amor, o desequilíbrio teológico e a sedução do mundo e de suas filosofias. O Iluminismo surgido na França do século XVII acreditava que o pensamento racional deveria ser levado adiante substituindo as crenças religiosas e o misticismo que, segundo eles, bloqueavam a evolução do homem.

O homem deveria ser o centro e passar a buscar respostas para as questões que, até então, eram justificadas somente pela fé. Para os filósofos iluministas, o homem era naturalmente bom, porém, era corrompido pela sociedade com o passar do tempo. Eles acreditavam que se todos fizessem parte de uma sociedade justa, com direitos iguais a todos, a felicidade comum seria alcançada.

Esse pensamento subsistiu durante muitos séculos, até que após a Segunda Guerra Mundial houve um colapso geral da confiança no Iluminismo, no poder da razão para proporcionar os fundamentos para um conhecimento universalmente válido do mundo, incluindo Deus. A partir desse colapso da confiança nos critérios universais e necessários à verdade, tem florescido o relativismo e o pluralismo – a pós-modernidade.

Enquanto o relativismo afirma que as verdades (morais, religiosas, políticas, científicas, etc.) variam conforme a época, o lugar, o grupo social e os indivíduos de cada lugar, o pluralismo num sentido amplo é o reconhecimento da diversidade onde todos tem verdades.

A pós-modernidade é definida por muitos autores como a época das incertezas, das frustrações, das desconstruções, da troca de valores. O pós-modernismo nega a existência de qualquer verdade universal e ataca o conceito de verdade, alegando que a mesma só é válida se funciona para você.

 
Na corrente filosófica atual absolutos não existem e o pragmatismo exclui a fé, isto é, não se deve dogmatizar em temas como teologia bíblica, divórcio, aborto, relacionamentos sexuais fora do casamento, céu e inferno, porque o pós-modernismo é a rejeição de toda expressão de certeza.

No relato da Igreja Primitiva em Atos 2 qual era o sentido da reunião dos cristãos? Para que se reuniam? Reuniam-se para ouvirem o ensino central sobre a vida e obra de Cristo, com foco em sua morte e ressurreição e a chamada ao arrependimento. Reuniam-se para a comunhão baseada na mesma fé, no mesmo amor e no mesmo Senhor. Reuniam-se para o partir do pão na Ceia do Senhor no templo e também em casa, louvando e adorando, buscando a intimidade com Deus através das orações em todo o lugar e em todo tempo.

O primeiro contraste que podemos perceber está no motivo central pelo qual muitos buscam se reunir. Enquanto a Igreja Primitiva se reunia por causa de Cristo, na igreja contemporânea muitos buscam um grupo social, outros um lugar com bons valores éticos, outros ainda buscam alívio da consciência através da religião.

Enquanto na Igreja Primitiva a koinonia significava literalmente “ter em comum”, na Igreja Contemporânea a prática é buscar os próprios interesses. Valores como a mutualidade podem até soar bonito, mas na prática há muitas panelas fechadas. O pão até é partido, mas somente entre os queridos e não com os verdadeiramente necessitados da comunidade.

As orações na Igreja Primitiva não tinham lugar nem hora, mas eram feitas por causa do desejo da comunhão com o Senhor, da intercessão e confissão de pecados. Na Igreja Contemporânea, a oração ocupa quando muito o momento antes da refeição.

Sabe, porém, isto: nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis. 2Tm.3.1.
O pós-modernismo com seu relativismo e pluralidade, sutilmente prega que a Igreja se adapte às novas culturas. Sugere que os cultos devam ser mais “modernos” sem aquele toque de reverência e temor diante de Deus e que ao invés da centralidade do louvor ao Cristo que morreu e ressuscitou, tenhamos músicas com estilos musicais globais que tragam prazer e agrade a todos.
 

O grande perigo está quando a verdade objetiva da centralidade de Cristo não existe mais e as teologias e liturgias passam a ser dirigidas pelo gosto do tempo presente. Neste caso é o “sentir” que tem impulsionado a tomada de decisões e não o transformar do evangelho puro e simples da graça de Deus em Cristo. A ausência da fé radical na Palavra de Deus como verdade absoluta leva as pessoas ao relativismo teológico-moral que passam a aceitar ideias contraditórias e mundanas como normais.
O pós-modernismo se caracteriza por um espírito de pluralidade e aceitação em detrimento da suficiência de Cristo. É a relativização da verdade das Escrituras que passa a ser estudada e discutida nos termos da cultura e não como autoridade inerrante de Deus. Neste sentido a mulher submetendo-se ao marido é coisa cultural daqueles tempos, marido como cabeça da mulher tem de ser redefinido como outra coisa, mas não cabeça.

Na sociedade em que vivemos, o que antes era convicção, hoje é opção e na Igreja de nossos dias a santidade passou a ser sugestão e não algo devido à Nova Vida no nascido de novo em Cristo Jesus. O velho “aceite a Jesus Cristo” ainda está presente para aliviar a consciência e “dar poder” ao aceitante que não precisa negar-se a si mesmo e nem arrepender-se.

A igreja é orientada pelo pragmatismo, por aquilo que dá certo e não por aquilo que é certo. Por isso hoje o significado da oração e seu espaço na reunião da igreja foi esvaziado. Confiamos mais em nossos recursos e menos em Deus. As ferramentas tecnológicas tornaram-se mais eficientes que a comunidade e a comunhão.

Ao contrário dos de Beréia citados em Atos 17:11, em nossos dias somos forçados a não querermos nos aprofundar no estudo da Palavra de Deus, mas obtermos conhecimento de forma fácil, prática e rápida, sem necessidade de estudo e verificação das Escrituras.

 
De uma maneira geral podemos pontuar que no contexto social pluralista a verdade é relativa e não absoluta, onde a autoridade é sinônimo de opressão; onde não há padrão de certo e errado e prezamos mais o estético do que o ético. Ser politicamente correto é melhor do que afirmar uma convicção bíblica e a melhor espiritualidade é a mística e esotérica.

O individualismo hedonista valoriza a experiência e o sentir-se bem como critério de decisão. Todos têm suas verdades e a busca pelo novo é contínua para satisfazer seus anseios insaciáveis. A bênção é um produto conquistado pela justiça própria.

Nesta linha afirma-se que Jesus Cristo é o Salvador, mas não que a cocrucificação com Ele é a única maneira do homem ser salvo. Nesse ambiente pluralista a suficiência de Cristo como verdade absoluta não é fundamental, pois uma pessoa pode ter outras experiências que também lhe proporcionam felicidade.

Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim. João 14:6. Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo. 1 Coríntios 3:11. Qual é o centro da doutrina dos apóstolos? Jesus Cristo é o centro da doutrina dos apóstolos! De onde procede todo referencial da vida cristã? Nas Escrituras Sagradas. Onde o regenerado encontra plena satisfação? Na pessoa de Cristo, pois incluído na morte de Cristo para o pecado, para si e para o mundo agora não vive mais a velha vida.

Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
Romanos 12:1-2.

 

A Igreja deve ser uma comunidade de contraste de Deus no meio da sociedade. Não uma ambiguidade, não um contraste de desprezo, de discriminação ou de mera oposição, mas de plena certeza de fé. Por causa de Cristo e de Sua obra, que tem por essência o amor, a Igreja carrega as marcas de Cristo em sua vida. Por causa do seu chamado, cada um de nós tem o encargo de ser “sal da terra” e “luz do mundo”, pois para isso mesmo a Igreja existe no mundo.

Entretanto, o firme fundamento de Deus permanece, tendo este selo: O Senhor conhece os que lhe pertencem. E mais: Aparte-se da injustiça todo aquele que professa o nome do Senhor.  2Tm 2:19.


 

Solo Deo Glória

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