quarta-feira, 14 de março de 2012

O CAMINHO DA ADORAÇÃO: A ADORAÇÃO NA HUMILHAÇÃO

Recordar-te-ás de todo o caminho pelo qual o SENHOR, teu Deus, te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar, para te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias ou não os seus mandamentos.
Deuteronômio 8:2

Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus.
Mateus 5.3

O caminho da Adoração nos conduz por lugares não muito agradáveis à natureza humana que, pelo medo da dor, não queremos percorrer. A natureza humana rejeita qualquer tipo de ação que tenha por objetivo tirar sua autoconfiança, algo de valor que pensa ter em si mesmo.

O povo de Israel foi por Deus tirado do Egito, onde por mais de 400 anos viveu como escravo, sob opressão. Deus então faz uma aliança com Israel e promete ter o povo como propriedade exclusiva Sua, de ser o seu Deus abençoador, amoroso e misericordioso. Yahweh libertou o povo do Egito, mas o povo ainda não havia sido liberto de si mesmo. Havia soberba no coração que precisava ser exposta para que entendessem a profundidade e a amplitude da separação que tinham de Deus assim como a profundidade e a amplitude do amor de Deus por eles. No deserto Deus provou e humilhou a Israel para saber/mostrar o que estava em seu coração.

Segundo a Enciclopédia Wikipédia, “humilhação é literalmente o ato de ser tornado humilde, ou diminuído de posição ou prestígio”. A humilhação não é geralmente uma experiência agradável, visto que diminui o ego. A humilhação não precisa envolver outra pessoa; ela pode ser um reconhecimento da própria posição de alguém, e pode ser um modo de lançar fora o falso orgulho.

O século XVIII foi chamado de século de luzes. O Iluminismo, que já estava surgindo desde o fim da Idade Média, foi baseado nas ideias de filósofos da época tais como: Francis Bacon, René Descartes, Isaac Newton (cientista), Thomas Hobbes, John Locke e Benedito Espinosa. As questões mais debatidas nessa época foram o racionalismo, empirismo, a lei natural e ainda, o liberalismo, direitos naturais e democracia. Afirmava-se que a razão é capaz de produzir evolução e progresso sendo o homem um ser perfectível. “O homem é o centro do Universo”.

René Descartes disse: “só se pode dizer daquilo que for provado”. No Discurso do Método, Descartes cunhou a frase Cogito ergo sum – penso, logo existo – a afirmação da fé no poder da razão humana. Filósofos e economistas procuraram novas maneiras de dar felicidade ao homem. O princípio organizador da sociedade deveria ser a busca da felicidade; ao governo caberia garantir direitos naturais: a liberdade individual e a livre posse de bens. Para encontrar Deus, bastaria levar uma vida piedosa e virtuosa. Nesse período há um grande interesse pelas artes, pois elas revelam o que o homem tem de “melhor” em si. O doutor David Martyn Lloyd-Jones, teólogo protestante do século XX disse: “Por toda a parte manifesta-se essa trágica confiança no poder do conhecimento e da esmerada educação como tais, como se fossem meios de salvação do ser humano, meios capazes de transformá-lo e torná-lo um indivíduo decente”.

Mesmo em deplorável situação o orgulho faz com que o homem não se dobre e clame por misericórdia. O intolerável egocentrismo alavanca o pensamento positivo para a altivez, de tal modo que prefere executar o Harakiri do código de honra do Samurai, de que ser liberto pela misericórdia. O Iluminismo, chamado de Era da Razão, colocou o homem numa posição de exaltação, contrária à que o Deus encarnado, Jesus Cristo, assumiu. O homem por natureza não quer ser humilde e quando quer mostrar por si só algo diferente, oculta o real desejo de ser exaltado.

Vemos na Palavra de Deus que não é possível ser humilde sem humilhação. Jesus Cristo disse em Mateus 5.3 Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus. Temos nesta verdade alguma coisa que o mundo não somente não admira como também despreza. Pelo contrário, a autodependência, autoconfiança e auto-expressão controlam os aspectos da vida fora da pessoa de Cristo. Friedrich Wilhelm Nietzsche, um filósofo do século XIX, filho de família Luterana, coloca a humilhação como um jogo político religioso repressor. Ele não entendeu que a religião não humilha, mas exalta o ego. A religião escraviza e subjuga o homem na sua própria ambição, por isso quando a Igreja falhou em libertar o homem, esse buscou sua libertação na Razão. Então Nietzsche disse “Deus morreu”. Sim, se o seu deus morreu o homem precisa se virar sozinho! Se Deus não é o centro de todas as coisas, o homem será o centro de todas as coisas, adorado e exaltado. Esse é o pensamento filosófico Iluminista antropocêntrico. Protágoras de Abdera - (Abdera, 480 a.C. - Sicília, 410 a.C.) foi um filósofo da Grécia Antiga, responsável por cunhar a frase: "O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são."

Entretanto, contrariando a arrogância iluminista, a Palavra de Deus afirma: Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz. Filipenses 2.5-8. Os judeus esperavam um Salvador exaltado e não humilhado. A religião sem nenhum Salvador insultado e humilhado não suportará insultos e humilhação. A religião está destinada a tentar realizar a impossível tarefa de defender uma honra sem a humilhação da morte de Cruz. Mas, ser cristão significa que os seguidores de Cristo devem ser desejosos de ter a “participação dos seus sofrimentos, conformando-se a Ele na sua morte” (Filipenses 3:10)

Quem a si mesmo se exaltar será humilhado; e quem a si mesmo se humilhar será exaltado. Mateus 23.12.
Porém a humilhação de Cristo tem sido sutilmente rejeitada pela igreja contemporânea. A “humildade de espírito” não é popular nem mesmo dentro da igreja. No entanto, o Caminho da Adoração começa quando somos solapados pelo fracasso do desempenho de nossa vida. Deus sabe o que está no meu e no teu coração e precisa nos expor para nos rendermos a sua Justiça. Somente podemos ser cheios do Espírito de gratidão e louvor ao Senhor, se somos esvaziados da arrogância, do senso de direito da justiça própria. Queremos nossos direitos, nossas vontades realizadas, o nosso EU no trono. Enquanto o EU estiver no trono, é o EU que será adorado e não o Senhor Jesus Cristo.

O que significa ser “humilde de espírito”? Ser “humilde de espírito” não significa ser retraído ou covarde. Também não significa reprimir sua verdadeira personalidade, fazendo coisas para parecer humilde. A falsa humildade se revela no desejo de exaltação pessoal, mascarada pela modéstia. Tende o mesmo sentimento uns para com os outros; em lugar de serdes orgulhosos, condescendei com o que é humilde; não sejais sábios aos vossos próprios olhos. Romanos 12:16. Humilhação é ser categorizado abaixo de outros que são honrados ou recompensados. Que tipo de sentimento cresce em nosso coração quando isto acontece conosco? Que tipo de sentimento temos quando isso acontece com os outros? Se tivermos a perspectiva da Cruz, veremos que ser humilhado e tratado por Deus produz posterior honra e também glórias a Deus, mas se veladamente alimentamos o desejo de exaltação, estamos no centro e Deus não está sendo glorificado.

Não há humildade sem humilhação. A humildade autêntica parte do coração tratado pela Cruz; parte da convicção íntima e profunda da própria insignificância diante de Deus. Enquanto Jesus se humilhou, esquecendo sua dignidade de Filho de Deus, o homem, para ser humilde, deve considerar o que é: criatura subsistente não por virtude própria, mas somente pela graça de Deus. Criatura que, por causa do pecado, se tornou um miserável moral. Só a graça proveniente da humilhação de Cristo pode tornar-nos humildes de espírito.

O deserto é algo inevitável quando Deus trata com a motivação do nosso coração. Enquanto resistirmos ao trato de Deus, mais doloroso será o tratamento. Quanto mais obstinado for o nosso coração, maior será a aflição. João Batista entendeu que embora sendo o enviado por Deus para anunciar a vinda do Senhor Jesus Cristo, não deveria se gabar disso. O qual vem após mim, do qual não sou digno de desatar-lhe as correias das sandálias. João 1:27. O verdadeiro adorador é conduzido pelo Pai amoroso no mesmo caminho percorrido por Jesus. O caminho da adoração é o caminho do esvaziamento (Fp 2.7), da humilhação (Fp 2.8), de quebrantamento e da exaltação divina (Fp 2.9).

Não somos capazes de produzir humildade. Humilhai-vos (ou seja, tenha uma correta visão de si mesmo a partir de Cristo), portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte. 1 Pedro 5:6. Somente um coração quebrantado que clama ao Senhor reconhecendo sua indignidade, pode ser feito humilde.

Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Mateus 11:29.
Se o meu Jesus deixou-se humilhar se fazendo homem e assumindo o meu pecado; logo Ele que tinha todas as prerrogativas para não aceitar tal humilhação, por que eu, que creio ser um cristão, tento defender a todo custo minha reputação?

Compartilho os versos de Lloyd-Jones:“Nada trago em minha mão. Só na tua cruz me agarro. Vazio, desamparado, nu e vil. Entretanto, Ele é o Todo-suficiente – Sim, tudo quanto me falta em Ti encontro. Oh, Cordeiro de Deus venho a Ti”. Somente quando chegamos ao fim de nós mesmos, podemos nos prostrar e adorar ao Cordeiro, o único digno de toda adoração.

Solo Deo Glória

 

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