segunda-feira, 26 de março de 2012

OS CONVIDADOS DA FESTA

O reino dos céus é semelhante a um rei que celebrou as bodas de seu filho. Mateus 22:2



O velho mundo, o mundo imundo desse lixo das ambições, das competições, das paixões cegas, da política sórdida e dos pódios imponentes divide os sujeitos que se sujeitam às suas regras sujas e nojentas nesse jogo baixo, em heróis e vilães; em vencedores e derrotados; em bem sucedidos e fracassados; em iluminados e obscuros.

Essa é uma divisão baseada na hierarquia do mérito, que classifica as pessoas de acordo com as conquistas e valores alcançados. Foi neste contexto rico de virtudes humanas, que Jesus apresentou uma parábola focalizando a “graça vulgar”.

A religião judaica, pós Babilônia, se constituiu numa estrutura fenomenal de peso na excelência, sob a sombra do humanismo satanista de Ninrode, o caçador das almas na fortaleza de Anu, ou no palácio das trevas. Esta é a ditadura da meritocracia.

Segundo Jesus, Satanás é o personal trainer do humanismo, valorizando a autocompaixão da vítima e o desempenho arrogante do ego, acima de tudo. Jesus, porém, voltou-se e, fitando os seus discípulos, repreendeu a Pedro e disse: Arreda, Satanás! Porque não cogitas das coisas de Deus, e sim das dos homens. Marcos 8:33. Pedro havia se enredado nas malhas do direito sindical do velho Adão.

Satanás é o advogado dos direitos humanos do humanismo. Ele insiste na tese da divinização humana. Seu projeto é provar que o ser humano pode se tornar, de fato, independente de Deus. Para isso, ele faz algumas concessões. Por exemplo: permite até uma pregação da graça, desde que seja condicional. É graça sim, mas...

O evangelho é a favor da redenção do ser humano total, porém, é contra tudo o que for de cunho humanista em essência. Deus ama apaixonadamente todos os seres humanos, jamais as suas pretensões de autossuficiência ensoberbecida. Um ser pessoal realmente finito e independente do Deus onipotente é um perigo permanente. Um dos traços que caracteriza essa pretensa independência é a escassez de oração.

O humanismo, em seu fogo teomaníaco, isto é: em sua tendência narcisista de se autovalorizar, ao contemplar sua beleza no espelho do poço, bem como o seu desejo apolíneo de perfeição, sempre aprova, como convidados de honra em suas festas, os iluminados, os bem sucedidos, os vencedores e os heróis. Esse é o padrão do mundo e da religião ilustrada com os lubrificantes humanistas.

Essa casta inchada não gosta da graça plena. Como já disse, até admite a graça vigiada e protegida nos bastidores. Mas será sempre uma graça sob custódia. Para essa gente esnobe é inconcebível uma aceitação incondicional, baseada apenas no amor furioso do Pai. Mas foi exatamente nesse contexto de altivez que Jesus contou essa parábola das bodas, onde o Rei enviou convite para essa turma preconceituosa e a mais maquiavélica que existe neste planeta: os religiosos em todos os seus matizes.

Ninguém pode ser mais velhaco do que um humanista com a máscara polida nas oficinas da religiosidade. Veja que não foi um súdito qualquer que enviou o convite. Foi nada mais e nada menos do que o próprio Soberano. Então, enviou os seus servos a chamar os convidados para as bodas; mas estes não quiseram vir. Mateus 22:3.

E por que não quiseram? O que estava por trás dessa recusa? Não se tratava de um convite de Sua Majestade, o Rei? Como um vassalo pode rejeitar a convocação do seu Soberano? Tem piruá em excesso neste saco de pipoca.

No contexto judaico antigo, pós babilônico, os convidados costumavam pagar pelos custos da festa e, ainda hoje, em algumas comunidades sionistas eles mantêm este hábito de excelência e gentileza. Mas a festa das bodas do filho do Rei não pode ser subvencionada. O assunto em pauta aqui é a graça plena de Deus, que é definida como sendo um favor imerecido e sem qualquer reciprocidade do beneficiário.

Essa rejeição ao convite do Rei cheira à justiça própria. O orgulhoso não recebe esmola alguma, nem o soberbo acolhe a graça em sua plenitude. O rabino Menachem Mendel Schneerson chamava tudo aquilo que era de graça, como se fosse o “pão da vergonha”. Foi exatamente isso que levou os convidados do Rei a recusar o convite.

Jesus insiste na persistência da graça. Deus não desiste do rebelde facilmente, por isso, há sempre um novo convite divino sendo despachado pelo correio dos céus. Enviou ainda outros servos, com esta ordem: Dizei aos convidados: Eis que já preparei o meu banquete; os meus bois e cevados já foram abatidos, e tudo está pronto; vinde para as bodas. Mateus 22:4.

Agora, a coisa ficou bem clara. O banquete tinha um patrocinador exclusivo e a festa tinha o seu dono. O cardápio foi preparado pelo próprio Rei, o “Chefe” da cozinha, que usou como ingredientes o que ele mesmo produzia e, “tudo estava pronto”. Então, o que cabia aos convidados era vir e banquetear-se. Isto aqui é graça plena.

O que aconteceu em seguida é, de fato, muito estranho: Eles, porém, não se importaram e se foram, um para o seu campo, outro para o seu negócio; e os outros, agarrando os servos, os maltrataram e mataram. Mateus 22:5-6.

Como pode? Que reação bruta essa, diante de um convite tão generoso? O Rei estava apenas oferecendo tudo graciosamente. É uma loucura essa atitude. Mas, essa é, sim, a real resposta do mérito diante da graça imerecida. Perseguição.

Uma parte dessa turma do merecimento se tornou indiferente e foi cuidar dos seus afazeres; a outra, mais ensandecida, ficou fula de raiva e atacou feito fera ferida quem estivesse por perto anunciando a graça plena. Eu não sei bem o que gera essa revolta, todavia, a coisa é realmente feia. Já vi bem de perto algo parecido, não igual, mas é de arrepiar uma estátua de pedra. A fúria dos religiosos acuados é horrorosa.

A graça ofende tanto o mérito, que acaba desencadeando indiferença crônica, por um lado, e revolta aguda, pelo outro. Agora, só uma manifestação soberana do Rei, a fim de intervir nesta situação absurda. O rei ficou irado e, enviando as suas tropas, exterminou aqueles assassinos e lhes incendiou a cidade. Mat 22:7.

Tudo indica que não há remédio para a antigraça. Para essa religião sem graça, só a morte dos assassinos dos que pregam as boas novas e fogo nas muralhas dos indiferentes. Aqui, me parece, tem um indício apontando para a cruz de Cristo. É imperiosa a morte do velho Adão em Cristo crucificado. Mas, só um milagre! Saulo de Tarso foi um destes antigraça conquistado pelo milagre da suficiência da graça plena.

A graça é assunto para os fracassados. É coisa para falidos. Nada melhor do que uma boa dose de insucesso para prover a falência total do ensoberbecidos.

Os desqualificados não têm dificuldade em receber a esmola da graça. Eles são os verdadeiros convidados para a festa. Então, disse aos seus servos: Está pronta a festa, mas os convidados não eram dignos. Ide, pois, para as encruzilhadas dos caminhos e convidai para as bodas a quantos encontrardes. Mat. 22:8-9.

No salão da festa, no banquete da graça plena, a dignidade dos convidados é a total ausência de méritos. Por que o Rei afirmou que os primeiros convidados não eram dignos? É exatamente pela absoluta falta de indignidade. Somente aqueles totalmente indignos são dignos de participar do ágape da graça.

O Rei então manda buscar nas marginais, os marginais; nas vielas, os vilães; nos becos, esquinas e ruas todos quantos encontrassem, fossem maus ou bons, vadios e ativos, mas que não fossem dignos de méritos, e que enchessem o salão da festa. E, saindo aqueles servos pelas estradas, reuniram todos os que encontraram, maus e bons; e a sala do banquete ficou repleta de convidados. Mateus 22:10.

Na celebração das bodas do Filho do Rei é tudo gracioso. Até a roupa de todos os convidados era presente do Rei. Ninguém poderia entrar no recinto da festa com as suas próprias vestes. Os trajes, na Bíblia, tipificam a justiça. Por exemplo: a justiça do ser humano é vista pelo profeta Isaías como trapos de imundícia. Deste modo, como poderíamos participar desta festa nobre, vestidos com os andrajos da justiça própria?

Foi assim que o Rei percebeu um penetra no salão, quando estava saudando os convidados. Entrando, porém, o rei para ver os que estavam à mesa, notou ali um homem que não trazia veste nupcial. Mateus 22:11. Vejam que os inimigos da graça de Cristo não são apenas os indiferentes e os agressivos, mas também os fingidos. Como pode esse sujeito “esperto” ter entrado pela portaria sem ser visto? É aqui que reside um grande problema. A aparência: o disfarce do lobo em pele de cordeiro.

Muitos usam suas túnicas de justiça humana de tal modo parecidas com a legítima vestimenta da justiça de Deus, que conseguem ludibriar até os seguranças treinados. Nada pode ser mais enganoso do que um fariseu vestido com as roupas do Cordeiro. Contudo, não passa no controle de qualidade. Basta só uma olhadela do Rei, e tudo fica totalmente esclarecido. E perguntou-lhe: Amigo, como entraste aqui sem veste nupcial? E ele emudeceu. Mateus 22:12.

O Reino do Pai é o Reino da graça plena. Neste caso, ninguém participará na festa das Bodas do Cordeiro vestindo seus trajes sujos de justiça própria, nem jamais poderá enganar Àquele que conhece as entranhas da alma e as entrelinhas da moda.

A grande confusão na portaria do salão foi, sem dúvida alguma, a cor do branco e do quase branco da túnica. As cores semelhantes confundem até os mais preparados de todos os porteiros. Mas não se deixe enganar; o Rei não come gato por lebre.

O limite da graça é a sua rejeição deliberada. Agora já não resta opção. Então, ordenou o rei aos serventes: Amarrai-o de pés e mãos e lançai-o para fora, nas trevas; ali haverá choro e ranger de dentes. Porque muitos são chamados, mas poucos, escolhidos. Mateus 22:13-14. O que adianta tentar passar por bom moço?

O chamado da graça é abrangente. A escolha é seletiva. Muitos são conclamados e poucos selecionados. Então, qual será o critério? Com toda certeza é a indignidade. Foi assim que o filho caçula, da parábola do Pai pródigo de amor, entrou na festa.

Considere este texto com todo cuidado de quem ama a verdade no íntimo. Veja você, por esse exemplo, quem são os convidados da festa. Peste atenção nos detalhes da história. E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. O pai, porém, disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa, vesti-o, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés; trazei também e matai o novilho cevado. Comamos e regozijemo-nos, porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado. E começaram a regozijar-se. Lucas 15:21-24.
O convite para a festa, diz: vem. A confirmação do convidado, assegura: eu não sou digno. Então, a ordem na portaria é: entre, bendito de meu Pai. Celebre. Aleluia!

Solo Deo Glória

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