quinta-feira, 15 de março de 2012

VIDA EM CRISTO

“Porque, se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu filho, muito mais, estando já reconciliados com Deus, seremos salvos pela sua vida.”
Romanos 5:10


O nascimento de uma criança é um verdadeiro milagre. Cada pulsão de vida que entra neste mundo anuncia que o fluxo da criação ainda continua. Para os pais, as quarenta semanas de espera, de repente, se transformam em explosão de alegria contagiante. Para a criança é apenas o início de um tempo repleto de possibilidades de ser, fazer e ter. Um mundo inteiro para ser conhecido e uma vida inteira para ser vivida. Estamos falando do nascimento natural porém, quando se trata do nascimento sobrenatural as coisas não são muito diferentes.

A Bíblia afirma que existem dois tipos de nascimento: o terreno e o espiritual. O terreno nos capacita para viver e interagir com o mundo concreto. Enquanto o espiritual nos possibilita viver e agir no mundo sobrenatural. A fonte dessa nova vida está fora e acima de nós, em Deus. A vida cristã é mais do que um sistema ético que nos ensina a viver neste mundo. Trata-se de um relacionamento vivo com Deus. Aquele que está infinitamente acima de nós, passa a estar também dentro de nós. Ocorre uma vivificação interior que nos coloca em uma realidade totalmente nova.

O apóstolo João ao escrever o seu evangelho sobre Jesus deixa bem claro o seu objetivo: "Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome." João 20:31. Jesus não apenas nos ensina a vida cristã, Ele a cria em nosso ser pela ação do seu Espírito. Por seu poder nos restaura à semelhança divina e nos faz filhos de Deus. "Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; a saber, aos que crêem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus." João 1:12.

Jesus Cristo é a fonte de vida sobrenatural, tanto para trazer libertação do pecado quanto para uma vida de vitória e de "... boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas." Efésios 2:10. No capítulo primeiro do evangelho de João encontramos João Batista apontando Jesus como Salvador. Aquele que iria morrer na cruz como expiação dos pecados. "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!" João 1:29. Porém, o mesmo João Batista testificou de Jesus também como Aquele quem dá o Espírito Santo: "Aquele sobre quem vires descer e pousar o Espírito, esse é o que batiza com o Espírito Santo." João 1:33.

Muitas vezes nos fixamos apenas em um dos lados da obra de Cristo. Normalmente enfatizamos a sua morte e deixamos de compreender e experimentar a sua vida de ressurreição. Jesus disse: "Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância." João 10:10. A vida que Cristo nos trouxe é a sua própria vida, como Filho de Deus. E, devido à sua ressurreição, recebeu o poder de comunicar a todos nós o seu Espírito. Quando Cristo envia o seu Espírito ao nosso espírito, sua presença é manifestada e torna-se para nós a fonte de vida nova, uma nova identidade e um novo modo de agir.

Quando falamos de "vida em Cristo", segundo a frase de Paulo, "Eu vivo, não mais eu, mas Cristo que vive em mim." Gálatas 2:20, não estamos falando de auto-alienação, mas da descoberta de nossa verdadeira identidade diante de Deus. Vida centrada em Deus e não em nós mesmos.

O pecado trouxe a supremacia do "eu", a vida humana passou a girar em torno de si mesma. O homem sem a vida de Cristo é um escravo, não tem vontade própria. Ele está entregue às suas compulsões, idiossincrasias e ilusões, de modo que jamais consegue fazer o que realmente quer. Seu espírito não está no comando e, por isso, não pode dirigir sua própria vida. O apóstolo Paulo descreve os resultados trágicos deste viver sob a escravidão do pecado: "Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto... Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita em mim... vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros." Romanos 7:15-23

O diagnóstico de uma pessoa não-regenerada, segundo as Escrituras, não é nada animador. "Obscurecidos de entendimento, separados da vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza do seu coração." Efésios 4:18. Quando uma pessoa que está separada da vida de Deus nasce do alto, pela fé em Jesus Cristo, recebe uma nova vida. A salvação é mais que o perdão de pecados. É implantação de uma nova natureza. "Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo". Efésios 4:4-5. João Wesley afirmou que o novo nascimento é "a grande transformação que Deus opera na alma quando lhe dá vida; quando a tira da morte do pecado para uma vida de justiça".

A nova vida surge da morte. Na cruz de Cristo houve o aspecto substitutivo e o aspecto identificatório. A nossa participação na morte com Cristo pôs fim ao reinado do "eu", enquanto que, a nossa participação na Sua ressurreição, fez do nosso coração lugar de Sua habitação. "Porque se fomos unidos com ele na semelhança da sua morte, certamente o seremos também na semelhança da sua ressurreição." Romanos 6:5.

Sem a morte de cruz não é possível a vida da ressurreição. A aceitação da cruz por parte do crente, e a morte para o eu que ela inclui, são fatos relacionados ao recebimento do Espírito Santo. "Sabendo isto, que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos." Oswaldo Chambers afirma que diante da verdade de nossa co-crucificação com Cristo é preciso uma decisão moral em relação ao pecado. "Terei tomado essa decisão sobre o pecado – que ele deve ser totalmente destruído em mim? Leva muito tempo para chegarmos a uma decisão moral sobre o pecado, mas o grande momento de nossa vida é quando decidimos que, assim como Jesus morreu pelos pecados do mundo, assim também o pecado deve morrer em mim; não apenas refreado ou suprimido ou contrariado, mas crucificado".

De fato não é possível ao cristão considerar- se "morto para o pecado" a menos que tenha passado por essa radical decisão da vontade, diante de Deus. Estar crucificado com Cristo é estar identificado com a morte de Jesus, até que não sobre espaço algum para o pecado em sua vida, mas, apenas para a vida de Cristo. A prova de que fui crucificado com Jesus é a gradativa semelhança com Ele. A infusão do Espírito de Jesus em mim ajusta a minha vida com Deus. A ressurreição de Jesus deu ao Espírito autoridade para transmitir–me a vida de Deus, e minha vida, deve ser construída sobre a base da vida Dele. "Porque , se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já reconciliados com Deus, seremos salvos pela sua vida."

Romanos 5:10. Posso ter agora a vida ressurreta de Jesus, a qual se manifestará em santidade e frutificação.

Para o cristão, a vida da ressurreição é também uma questão de escolha. Isto porque, enquanto em Deus habita a plenitude de toda a realidade e perfeição, em nós não acontece o mesmo. Tendemos para o nada, para a não-existência. Nossa vocação para sermos aquilo a que fomos destinados implica, portanto, uma prova de vontade, um teste em que somos interrogados por Deus sobre nossa livre opção. Parece que nossa vida toda será esse teste, ou seja, de escolhas, de optar viver uma vida rasteira ou uma vida em um plano mais alto.

Viver como pessoas livres na ordem sobrenatural é fazer escolhas espirituais livres. Isto é possível porque Deus infundiu o Seu Espírito na vida dos seus filhos. "Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis." Ezequiel 36:27. Agora, podemos obedecer a Deus por amor. Somente compreenderemos a obediência pregada por Cristo se nos lembrarmos sempre de que, Sua obediência não é mera justiça, mas amor. Não é simplesmente a submissão de nossa vontade à autoridade de Deus, mas é a livre união de nossa vontade com o amor de Deus. Jesus é o maior exemplo de obediência de um filho em relação ao Pai celestial.

Nosso Pai celestial não está muito interessado no trabalho que realizamos para Ele, mas sim, no tipo de filhos que somos para Ele. Ele nos libertou do cativeiro do pecado e da morte para vivermos sob um novo governo. "Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte." Romanos 8:1-2. O Espírito de vida, não somente dá uma consciência livre da culpa do pecado, mas também, poder para uma vida de libertação e frutificação. O Espírito Santo purifica a imagem de Deus em minha alma, pela fé. Ele cura minha cegueira espiritual, abre meus olhos para as coisas de Deus. Ele toma posse de minha vontade, de forma que eu não seja mais escravo de minhas paixões e compulsões, podendo agir na tranqüilidade frutífera da liberdade espiritual. Ensinando-me gradativamente o amor, ele me aperfeiçoa à semelhança de Deus em minha alma, conformando-me com Cristo.

Em tudo isso, Deus tem um propósito. Deus quer se expressar através dos seres humanos, tanto através da pessoa do cristão quanto pela Igreja. Jesus Cristo nos batiza com seu Espírito a fim de que sejamos testemunhas do caráter e do amor de Deus. "Recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas." Atos 1:8. Recebemos a incumbência de tornar Deus conhecido por meio da proclamação do Evangelho, como também pelo nosso estilo de vida. Jesus rogou ao Pai: "A fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste." João 17.21.

Não há como separar regeneração de discipulado, apesar de muitos tentarem. Mas se estamos cansados de uma vida cristã de "segunda categoria", precisamos nos comprometer existencialmente com o Senhor Jesus de corpo, alma e espírito. O Senhor Jesus disse: "Se alguém quer ser meu discípulo, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me." Mateus 16.24. Mais tarde, o apóstolo Paulo reitera o convite com outras palavras: "... levando sempre no corpo o morrer de Jesus para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo." 2 Coríntios 4:10. Se temos dificuldades em nos acertar com Deus é porque não queremos nos decidir definitivamente sobre o pecado. Assim que decidirmos, a vida plena de Deus nos invade. Jesus veio para nos dar todos os suprimentos da vida sobrenatural, "para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus."

O chamado para "viver em Cristo" é um privilégio que demanda uma vida de decisões e escolhas deliberadas. E isto deve ocorrer em todas as circunstâncias do dia a dia: nas alegrias, como também nas tentações, provações e tribulações. Pois, qualquer resquício de nossa própria energia, turva a vida de Jesus. Quando tomamos a decisão moral de, não mais eu, mas Cristo a energia e o poder que se manifestaram em Jesus, manifestar-se-ão em nós, pela ação do Espírito. Temos que estar sempre nos rendendo, para que, lenta e seguramente, a majestosa vida de Deus inunde cada parte de nosso ser. Assim, não só nós seremos aperfeiçoados, como também outros terão o privilégio de conhecer o Senhor Jesus Cristo, redundando em glória para Deus.


Solo Deo Glória

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