sexta-feira, 23 de março de 2012

OBSTÁCULO AO PROGRESSO NA PALAVRA

Vós corríeis bem; quem vos impediu de continuardes a obedecer à verdade? Gálatas 5:7.

A vida cristã é comparada a uma corrida. Estamos participando de uma maratona espiritual, que envolve desafios e impedimentos, mas é firme e perseverante. Na peregrinação, patrocinada pelo reino de Deus, não há hotéis de beira de estrada nem pousadas de descanso. Somos chamados para uma jornada contínua e duradoura. Não há lugar para desistência e desânimo. A marcha do peregrino comprometido é incessante. Se tropeçar, não fica enleado com as circunstâncias. A raiz de toda tenacidade está na razão dos valores absolutos que norteiam seu alvo. Se alguém quiser acertar na sua caminhada, precisa ter um objetivo indiscutível e de estimação eterna. A salvação de Deus não é uma gambiarra para solucionar um acidente, mas é um dom de proporções eternas. Assim, o salvo, uma vez salvo, não pode ficar no meio da estrada. Deus não inicia uma obra que não complete. Estou plenamente certo de que aquele que começou a boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus. Filipenses 1:6. Deus não dá uma salvação que seja provisória. O plano de Deus para salvação não é uma deliberação para consertar uma situação inesperada, pois ela antecede a obra da criação, e, uma vez outorgada ao pecador, não pode ser retirada, pois se trata de uma salvação eterna. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão. João 10:28. Não é possível se perder uma vida que é eterna, e ninguém poderá arrancar uma ovelha das mãos do Pastor. Esta é a apólice segura da Palavra de Deus.

Por outro lado, a Bíblia também nos garante que aqueles que foram salvos pela graça não fazem parte dos desertores. Não há fugitivos nas fileiras do reino de Deus. Nós, porém, não somos dos que retrocedem para a perdição; somos, entretanto, da fé, para a conservação da alma. Hebreus 10:39. A renúncia da salvação não faz parte da obra da graça, nem do caráter sadio de uma decisão moral. Ninguém que é são quer desistir de sua saúde. Também o salvo não quer abandonar a sublimidade de sua libertação. Não é normal alguém preferir a dor do sofrimento. O retorno à vida de escravo denuncia a insanidade do caráter que contraria fundamentalmente a essência da salvação. Um salvo que quer voltar ao domínio do pecado é semelhante a um náufrago que, retirado das águas, insiste em querer morrer afogado. Está totalmente transtornado, o que foge, por completo, ao espírito da salvação. A desistência da salvação é uma aberração incompreensível para a mente sã. Não é possível ser salvo e querer se perder.

Entretanto, na estrada da experiência autêntica, exitem muitos obstáculos. Jesus mostrou, com clareza, na parábola do semeador, que há pelo menos seis estorvos ao progresso na Palavra, na vida do ser humano. Cada barreira visa impedir a obra plena da salvação e garantir uma grande confusão no discernimento do assunto. O diabo sempre prefere pescar em águas turvas e agitadas. Sendo assim, os embaraços servem, também, para dificultar toda a compreensão da obra perfeita da salvação.

Jesus mostrou que o diabo é o primeiro oponente do progresso na Palavra. Sua ardilosa missão visa furtar a semente da Palavra de Deus, que foi lançada no coração do homem. Com toda a esperteza do inferno, ele insiste em retirar a palavra primeiro, para que esta não crie raízes. A todos os que ouvem a Palavra do reino e não a compreendem, vem o maligno e arrebata o que lhes foi semeado no coração. Mateus 13:19. Satanás, como um esperto ladrão, retira do coração a mensagem da verdade e procura disseminar o germe do engano. Geralmente, ele busca impedir que a boa semente germine, antes de plantar o joio da falsidade. O uso da falsificação é o método mais natural usado por Satanás para resistir aos propósitos de Deus, depois que ele conseguiu afastar a pessoa do entendimento, conseqüente da verdade de Deus.

A segunda resistência, que atrapalha o progresso espiritual na Palavra, está vinculado às pressões da perseguição. Não tanto o acossamento violento, mas o desdém. É muito difícil suportar a zombaria dos amigos e o desprezo dos familiares. É angustiante passar por ridículo no mundo dos valores humanistas. A perseguição com desmerecimento é muito mais fulminante do que a perseguição com atrocidade. Mas, certamente, as duas exercem grande força na paralisia do viajante. Muitos ficam entrevados quando sofrem os vexames da atormentação. À margem do caminho, há uma multidão de aleijados sofrendo o medo da desconsideração e do sofrimento. A que caiu sobre a pedra são os que, ouvindo a Palavra, a recebem com alegria; estes não têm raiz, crêem apenas por algum tempo e, na hora da provação, se desviam. Lucas 8:13.

Em seguida, Jesus mencionou, de acordo com três evangelistas, quatro barreiras que sufocam intensamente o desenvolvimento na Palavra. Mateus, Marcos e Lucas fazem referência a duas trincheiras que são comuns a todos. Eles mostram que os cuidados do mundo e a fascinação das riquezas acabam por asfixiar o andamento do caminhante. Não resta dúvida que, muitos, que pareciam vibrantes quando abraçaram a fé, hoje se encontram desalentados e sem qualquer interesse. Os tentáculos surpreendentes das preocupações com a subsistência e a sedução empolgante das riquezas têm exaurido toda a energia que seria necessária para o envolvimento com a Palavra. Alguém já disse que os cuidados com o mundo empanam nossa visão de Deus. Enquanto miramos os holofotes do sucesso, ficamos encandecidos para percebermos a revelação de um Deus humilde. O encantamento alucinante das riquezas também tem mutilado muitos andarilhos, que hoje se encontram com os bolsos cheios e pesados, mas com pernas fracas e estropiadas para poder andar na via do progresso espiritual. Lesados e atrofiados, não conseguem carregar o peso dos cuidados deste mundo e da alucinação pelo acúmulo das riquezas. As areias douradas do mundo são areias movediças que atolam até a cabeça. Nada pode abafar tanto a vida com Deus quanto a sangria cativante do feitiço da fortuna e do fausto. O que foi semeado entre os espinhos é o que ouve a Palavra, porém os cuidados do mundo e a fascinação das riquezas sufocam a Palavra, e fica infrutífera. Mateus 13:22.

Marcos ainda acrescenta, nesta lista, uma quinta barreira, que ele denomina de as demais ambições, ou seja, ambições demais. A ambição, como a morte, nunca se farta. O homem bem-aventurado, para Jesus, é o pobre de espírito. É aquele que tem um só anelo, uma única aspiração: Deus mesmo. Mas as muitas ambições estrangulam o contentamento. O ambicioso está sempre com dispnéia espiritual, porque nada pode satisfazer o excesso dos seus desejos. Foi neste contexto que A. Raine pontuou: Você pode atingir o topo da escada e então descobrir que ela não está apoiada na parede certa. O descontentamento é a dívida que contraímos por não estarmos satisfeitos com a suficiência de Cristo. Quem é pobre de ambições é rico de satisfação, mas quem ambiciona sempre mais nunca se agrada do que tem. As ambições em demasia sufocam a evolução na Palavra; por isso muitos se encontram desaprovados nos testes da caminhada.

Por fim, Lucas apresenta o sexto entrave ao aperfeiçoamento na Palavra: os deleites da vida. Muitos pensam que estão gozando a vida com os seus regalos, quando, na realidade, estão sendo glosados pela vida; isto é: estão sendo rejeitados e anulados pelos seus próprios prazeres. Há um risco muito sério quando gastamos nosso tempo e dinheiro na compra dos deleites desta vida; podemos estar nos vendendo como escravos de sentimentos insaciáveis. O homem mais realizado é aquele que não precisa sair de seu lugar para se divertir, uma vez que seu coração, cheio da presença de Cristo, encontra a fonte das verdadeiras delícias.

Entretanto, os obstáculos ao progresso na Palavra não são suficientes para destruir a objetividade da graça. Sabemos que muitos ficam caídos, se contorcendo nas sarjetas da história. Há muitos raquíticos que não conseguem continuar a jornada, mas os que esperam no Senhor renovam as suas forças, sobem com asas como águias, correm e não se cansam, caminham e não se fatigam, porque estes representam a boa terra que frutifica: Mas o que foi semeado em boa terra é o que ouve a Palavra e a compreende; este frutifica e produz a cem, a sessenta e a trinta por um. Isaías 40:31 e Mateus 13:23. Cremos seriamente que a compreensão da Palavra passa pelo mistério de Cristo crucificado, onde, pela graça de Deus, ganhamos a revelação de nossa morte juntamente com Cristo, a fim de, ressuscitados com a vida de Cristo, podermos, na verdade, frutificar no desenvolvimento da Palavra. Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto. João 12:24. Todo progresso na vida cristã é decorrente da substituição de nossa vida, pela vida de Cristo. Esta é a única vida capaz de alcançar maturidade.


Solo Deo Glória

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