Estavam ali seis talhas de pedra,
que os judeus usavam para as purificações, e cada uma levava duas ou três
metretas. João 2:6.
O Senhor Jesus
realizou muitos milagres durante o seu ministério terreno. Este, a transformação
da água em vinho, foi escolhido pelo Espírito Santo para dar início a um
conjunto de oito milagres registrados no Evangelho de João. A riqueza da
mensagem e a sua significação, que estão desenhadas nas entrelinhas, são-nos
reveladas durante a narrativa. Para uma melhor compreensão do texto,
consideraremos sete aspetos do milagre.
Primeiro: Encontramos
uma notável figura da regeneração do pecador. Na ilustração das seis talhas de
pedra, vemos aqui a condição do homem antes da sua regeneração; ele é como uma
talha de pedra: vazio, frio, sem vida e inútil. Essa é a condição de todos os
homens, revelada plenamente nesta figura. O homem nasce destituído da vida de
Deus. Por isso, todo o seu ser está comprometido, destituído de entendimento
espiritual, em profundas trevas. Toda a cabeça está doente, e todo o coração,
enfermo. Desde a planta do pé até à cabeça não há nele coisa sã, senão feridas,
contusões e chagas inflamadas, umas e outras não espremidas, nem atadas, nem
amolecidas com óleo. Isaías 1: 5-6. O coração, na Bíblia, deve ser entendido
como a pessoa integral do homem: é o centro moral de toda a sua atividade
intelectual, emocional e volitiva. Por isso, este coração está completamente
enfermo.
Segundo aspecto: Vemos
a inutilidade da “religião dos homens” para salvar e purificar o pecador. A
religião é fruto do esforço centrado no homem para encontrar-se com Deus. Estas
talhas estavam intencionadas para o cerimonial de purificação. Um ritual
simplesmente externo desprovido de poder para tocar no coração dos homens. O
homem encontra-se numa total incapacidade para fazer qualquer contribuição para
tornar-se aceito diante de Deus. O coração do evangelho está no fato de que, na
cruz, Deus publicamente propôs Cristo como a oferta pelo pecado, e, por esta
oferta, todo homem tem acesso à presença de Deus.
Para o apóstolo Paulo, que era completo na sua religiosidade, ocorreu uma mudança radical. O seu antigo ganho tornou-se perda. Cristo tornou-se tudo para o apóstolo. Não era o mal que desaparecia, mas desaparecia tudo o que se ligava a ele como vantajoso para a carne. Era agora outra Pessoa – e não ele próprio – que lhe era preciosa. Que mudança profunda e radical em todo o seu ser. Outrora, na sua religião, ele era o centro. Quando esta cessa de ser o centro da sua própria importância, um outro, que é digno de ser, torna-se o centro de sua existência: uma Pessoa Divina, um Homem Celestial, Cristo. Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé. Filipenses 3:8-9. O apóstolo Paulo podia, se fosse preciso, vangloriar-se em tudo o que dizia respeito à carne. Tudo o que constituía privilégio judaico ele o possuía no mais elevado grau; ele tinha ultrapassado todos os outros num santo zelo contra os inovadores. Mas, uma única visão mudou por completo a sua vida. Paulo viu o Cristo glorificado. Desde então, tudo o que ele possuía segundo a carne foi lançado por terra. O pior de todas as imitações é uma religião que não muda o coração: uma religião que tem tudo, menos o amor de Cristo entronado na alma. F. Whitfield Terceiro: Pela palavra de Jesus, as talhas foram cheias com água. A água é um dos símbolos da palavra de Deus. E é por meio da Sua palavra que somos vivificados. O Espírito Santo usa a palavra de Deus para vivificar o espírito do homem outrora morto por causa do pecado. A palavra de Deus não só nos regenera, como também nos sustenta em momentos difíceis. A nossa salvaguarda contra a tentação é a palavra de Deus quando usada com discernimento para aplicá-la às circunstâncias presentes.
Horas negras
chegam para todos. Quando pedras são lançadas, ondas perturbadoras nos atingem,
a menos que tenhamos aprendido a confiar na presença perpétua Daquele que pode
formar e manter uma grande tranqüilidade dentro da alma. Pela palavra de Deus,
somos guardados das ciladas do diabo. É pela palavra de Deus que se efetua a
separação da alma e do espírito. Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e
mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de
dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os
pensamentos e propósitos do coração. Hebreus 4:12. O Bispo Jewel disse: A
palavra de Deus é a água da vida; quanto mais a colhemos, mais ela se renova. É
fogo da glória de Deus; quanto mais a sopramos, mais brilha ao se queimar. É o
grão do campo do Senhor; quanto mais a moemos, mais produz. É o pão do Céu;
quanto mais é partida e distribuída, mais sobra. É a espada do Espírito; quanto
mais polida, mais brilha.
Quarto
aspecto: A água produziu vinho, “bom vinho”. O vinho é símbolo da alegria. Aqui
não se refere a uma alegria produzida pelo efeito da química do vinho, nem
tampouco no otimismo natural, mas como fruto decorrente da presença de Cristo em
nossos corações. A autobiografia de Teresa de Ávila está cheia das descrições
dos êxtases arrebatados nos quais ela sentia uma alegria indescritível na
presença de Deus. Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: alegrai-vos.
Filipenses 4:4. Alegrar-se sempre no Senhor, e é Nele que encontramos tudo
aquilo que nada pode mudar. Para os cristãos, o Senhor é a fonte de alegria cujo
caudal, mesmo na angústia, jamais se esgota. Tu me farás ver os caminhos da
vida; na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias
perpetuamente. Salmo 16:11. Somos colocados no relacionamento com uma Pessoa
incomparável: o amado Filho de Deus, e, na Sua presença, podemos viver numa
atmosfera de uma profunda e interminável alegria.
Quinto: Nós
lemos: Assim iniciou os milagres de Jesus. Isto é precisamente o que o novo
nascimento é: um milagre. Do início até o fim. A regeneração começa por um
milagre, fruto da graça, e, por esta mesma graça, somos conduzidos dia a dia. A
vida do homem, no estado de pecado e fora da graça, é, de acordo com a palavra
de Deus, uma vida de ofensas e pecados. Essa é a vida do homem sem a graça de
Deus: ela está corrompida, vivendo nos desejos da carne. O homem foi criado com
o propósito de viver sob o governo da graça, mas ele se apartou disso, saiu da
sua verdadeira posição.
Sexto aspecto: E manifestou Sua glória, isto significa que é na regeneração do pecador que a glória do nosso Senhor e salvador é manifestada. A gloriosa substância do que estava escondido sob as figuras manifestou-se na Pessoa do nosso Senhor Jesus. A glória da Pessoa de Jesus Cristo não só se manifestou, mas se manifestará por toda a eternidade. O que mais nos surpreende é que Deus nos fez participantes dessa glória. Pela queda, perdemos a glória de Deus, isto é, perdemos a presença de Cristo no nosso íntimo, mas, na redenção, essa glória é-nos restituída, e, por ela, somos transformados conforme a Sua imagem. O chamamento de Deus é a garantia de que aqueles que Ele ressuscitou para uma nova vida em Cristo não deixarão de alcançar a glória futura, pois aqueles que foram conquistados pela graça e forjados na bigorna da graça de Deus não podem ser esquecidos no meio da jornada. A visão do cristão deve transcender a tudo: ele é um homem celestial vivendo aqui na terra. Isto significa que o nascido de Deus deve olhar todas as coisas sob o ponto de vista de Deus. Pois, o nosso grande Deus está reunindo todas as coisas para nos fazer parecidos com o Seu Filho. Alguém expressou assim: Que as nossas dificuldades sejam bem-vindas.
Sétimo: Os
seus discípulos creram nele. O homem morto não pode crer. A primeira reação da
alma renascida é voltar-se para Cristo. É da obra da regeneração que procede o
ato de crer
O que a palavra de Deus está afirmando aqui é que estávamos mortos, isto é, absolutamente sem vida, à semelhança de Lázaro que jazia no tumulo há quatro dias, sem uma centelha de vida. A primeira coisa que nos é necessária, é que nos seja transmitida a vida, para que sejamos vivificados. E, foi exatamente isto que Deus fez por nós. E a pergunta é esta: pode um morto reviver? Veio sobre mim a mão do SENHOR; ele me levou pelo Espírito do SENHOR e me deixou no meio de um vale que estava cheio de ossos, e me fez andar ao redor deles; eram mui numerosos na superfície do vale e estavam sequíssimos. Então, me perguntou: Filho do homem, acaso, poderão reviver estes ossos? Respondi: SENHOR Deus, tu o sabes. Disse-me ele: Profetiza a estes ossos e dize-lhes: Ossos secos, ouvi a palavra do SENHOR. Assim diz o SENHOR Deus a estes ossos: Eis que farei entrar o espírito em vós, e vivereis. Ezequiel 37:1-5. Acaso podem reviver estes ossos? Há uma única resposta: sim, pela graça. Chegamos, pois, a esta inevitável conclusão: somos cristãos, neste momento, única e inteiramente pela graça de Deus. Quando éramos inimigos, alienados e completamente mortos espiritualmente, Deus buscou-nos como resultado da Sua bondade. A primeira coisa que o homem precisa é de vida. O preço para ser vivificado foi a cruz. Ele nos vivificou juntamente com Cristo. Portanto, a jactância é inteiramente excluída e o gloriar-nos até da fé, também tem que ser excluído. A salvação é inteiramente de Deus. A fé é o canal, o instrumento através do qual esta salvação, que é pela graça de Deus, vem a nós. Somos salvos pela graça por meio da fé. A fé é simplesmente o meio através da qual a graça de Deus nos introduz
Solo Deo Glória
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